Bianca ainda estava totalmente tensa com essa situação. Primeiro, ela soube de toda a verdade sobre Jason, o que era ótimo.

Agora toda aquela a sua frieza foi explicada. Era hereditária, óbvio. Afinal, descendia dos Sforza, e ela aprendera muito sobre eles quando tivera um breve treinamento com Ezio.

Mas, agora significava que ela e Jason corriam perigo. Perigo de vida. Não queria perder mais ninguém, e estava realmente morta de medo de isso acontecer novamente. Perdera Kayla e Kevin... Sua mãe... Seu pai estava desaparecido. E se o pior tivesse acontecido? E se Nico Auditore não houvesse passado no teste da Ordem e...

Não! Ela pensou firme e confiante. Um contratempo deve ter acontecido, só isso. Meu pai não morreu!

Bianca decidiu focar o pensamento em outra coisa. Qualquer coisa! Mas não poderia se deixar levar pelas insanidades de suas preocupações.

Então, focou o pensamento no que estava acontecendo neste exato momento.

Foi aí que seus nervos chegaram a flor da pele. Um frio percorreu a sua espinha quando ela se lembrou do que estava acontecendo.

A Ordem estava sendo invadida.

Mas como? Como descobriram a sua localização? E, mais. Ezio queria tirar ela de lá. Mandar ela pra sei lá onde, para protegê-la. Ela ficou estarrecida.

- Não! – Ela disse furiosa. Ezio, Desmond e Jason se assustaram com a sua reação. Mas ela não estava nem aí. O que eles pensariam? Que depois de tudo isso ela ficaria fugindo? Se de uma coisa que Bianca não fugia era da luta. Poderia morrer, mas morreria lutando.

- Como, Bianca? – Ezio ergueu as sombrancelhas.

- Eu disse que não vou para lugar algum, Ezio. Não com vocês precisando de minha ajuda. Vou ficar.

Ezio cruzou os braços. Discutir com um Auditore era difícil, ela tinha certeza. E ela não iria desistir fácil.

Desmond, postado a frente de Ezio, se sentia pouco a vontade. Não queria fugir da raia... Mas ainda assim, não se sentia atraído a contestar uma ordem do Líder.

Mas Bianca não se importava com isso. Tudo o que ela queria era ajudar. Sabia que poderia fazer isso, afinal conseguira (com a ajuda de Jason, mas era outra história) assassinar Henrique. Não era completamente inútil.

Por fim, Desmond suspirou. Já estava cansado de ficar escondendo segredos e parecia que o clima ali estava subindo. Quando dois teimosos (ele não se atreveu a dizer isso em voz alta, afinal sua vida já estava arriscada o bastante) começavam a brigar, era melhor tentar separar. Principalmente se fossem dois Auditore.

Afinal, Ezio era bastante maduro, mas ainda assim a sua aparência e alguns fragmentos de sua mente tinham quase a idade de Bianca. Ele retornara com dezessete, dezoito anos. Nessa época, Ezio era bastante fútil e incontrolável, como ela.

- Muito bem. – Ele disse cautelosamente. – Vamos tentar esclarecer algumas coisas. Primeiro, Bianca, ninguém aqui está dizendo que você é inútil. Muito pelo contrário. Agradecemos a sua ajuda e a de Jason, muito mesmo. Se não fosse por vocês dois, Henrique ainda estaria vivo.

Ezio assentiu, concordando. Bianca e Jason entreolharam-se com o elogio. Mas foi Jason quem quebrou o silêncio.

- Ah... bem... Eu não fiz nada. Foi Bianca a grande heroína. Foi ela quem matou Henrique, se não fosse por ela, eu nem sei se estaria nessa sala.

Bianca deu um grande abraço em Jason, mas continuou segurando sua mão.

- Sem essa, Hank – Ela riu. – Você sabe que também deu uma grande surra nesse desgraçado. Sem a sua ajuda, eu também não teria conseguido. E, cale a boca! – Ela disse quando este tentou argumentar. – Estou falando que ajudou, então ajudou. E se contestar, vou brincar de Bianca Auditore e Henrique de’Pazzi com você!

Jason gargalhou. Ezio e Desmond também riram, afinal ela sabia como quebrar a tensão.

Satisfeita, Bianca percebera que agora poderia conseguir ficar. Afinal de contas, a luta estava no seu sangue. Tire-a dela mesma, e você verá o estrago enorme que fará.

Mas ela estava enganada. Desmond ficara sério rápido demais. Olhando para Ezio, ele fez um sinal. Ezio assentiu. Bianca conseguiu entender, por mais impossível que fosse.

É a hora.

As portas foram fechadas mecanicamente. Bianca levara um sobressalto.

Por essa eu não esperava. Ela pensou, apreensiva.

Desmond sentara a frente deles, e sem cerimônias, indicou que sentassem.

- Não temos muito tempo, mas tenho que conversar com vocês dois. – Ele olhou diretamente para Jason e Bianca, e esta se sentiu bastante amedrontada. Mais segredos?

- Primeiramente, eu queria contar uma coisa. – Desmond olhou para eles, com seus olhos enevoados e sombrios. – Como vocês sabem, os Templários sabem de tudo o que acontece por aqui, certo?

Todos assentiram.

- Bem, - Desmond continuou. – Vou começar com uma história. Há milênios atrás, nós, os Assassinos, fomos presenteados com um presente dos Deuses. Um artefato que poderia mudar gerações e destruir o mundo. Ou salvá-lo.

Ezio ficou sombrio. Estava, aparentemente se lembrando de algo do passado.

- Então, este presente nos foi dado como uma forma de preparação para tudo isso. Este artefato, primeiramente estudado por Leonardo da Vinci, descobriu-se que ele poderia ser mais perigoso do que aparentava. Ele permite que quem o tocar (isso tem que ser feito por a mão encoberta) veja mais do que deveria. Veja o futuro. As possibilidades. O presente momento e o futuro inevitável. Ou não.

- Por muito tempo, ficou em posse dos Templários, guardado em uma Câmara Secreta do Vaticano. Mas ninguém sabia como usar este artefato, até Ezio o possuir e entregar a Leonardo. Juntos, eles conseguiram desvendar de vez esse mistério. Isso, nas mãos de homens despreparados, poderia fazê-los pensar que dominariam o mundo. Que seriam deuses!

- Ezio foi destinado a manusear este monumento, e por muitos anos (depois de recuperá-lo duas vezes dos Templários) ele conseguiu. Mas, quando o Vaticano já estava em mãos amigas, Minerva apareceu para ele (da mesma forma que apareceu para dá-lo ao Assassino) e disse que faria uma última visão pelo aparelho. Depois, ele teria que ser destinado ao próximo que ela escolhesse.

- E, assim foi feito. A Maçã, como era chamada o artefato, foi guardado no Vaticano, sob proteção dos Assassinos a espera da convocação da Deusa novamente.

Bianca ofegou. Ela estava com um mau pressentimento em relação a isso. Alguma coisa lhe dizia que este artefato poderoso estava em posse dos Templários novamente.

- Séculos depois, esta pessoa, que seria a convocação da Deusa nasceu. Mas, quando a Maçã lhe foi destinada, os Templários conseguiram mais uma vez, tomar posse dela.

Bianca tremeu. Seu medo fora confirmado. Agora, a esperança afundou em seu coração. Por isso, os Templários sabiam sobre ela, Desmond, Jason e o diabo a quatro. Por causa disso. Eles eram invencíveis.

- Em uma fortaleza dos Assassinos, aqui também nos Estados Unidos, a Maçã estava protegida. Muito bem protegida. Mas, como eu aleguei para Ezio sobre meus sonhos, temos um espião entre nós. E foi ele quem provocou tudo isso.

A visão de Bianca ficou vermelha. Além de tudo, haveria um espião entre eles. Os olhos dela lacrimejaram de raiva. Não podia ficar pior.

Mas Desmond não terminara de contar a história. Por um segundo, ele refletiu. Mas ainda assim, a parte mais importante da história estava por vir.

Ele respirou fundo. Depois olhou fundo nos olhos de cada um.

- Vocês sabem por que estão aqui? – Ele começa, sem rodeios.

Eles franziram as sombrancelhas, mas Bia resolveu arriscar.

- Para ajudar a Ordem?

- Sim, claro. – Desmond suspirou. – Mas não é totalmente isso, vocês sabem. Vou contar a vocês a última parte de toda a verdade. Espero que compreendam.

- Você sabe Bianca, que tudo aqui se focava em você, não é mesmo? – Ele olhou para ela, mas com um sinal, pediu que esperasse. – A Escolhida de Minerva para realizar tais fatos para a Ordem. Assim como eu. Assim como Jason. E, acima de tudo, assim como Ezio.

- Há milênios de anos, Minerva traçou um plano para conseguir vencer as forças inimigas que nem haviam surgido ainda. Os Cavaleiros Templários.

- Ela havia traçado uma espécie de seita, de reunião, uma legião. Ela traçou com a sua mente aberta, certa de que iria acontecer e também que poderia ou não dar certo.

- Um círculo, digamos assim. E como um círculo não possui extremidades ou vértices, não haveria diferenças. Seus membros trabalhariam como um todo. Não haveria superioridade e nem inferioridade. Todos seriam tudo e seriam nada. Dependeriam da vontade e da aceitação de seus membros.

- Nas profecias, estava escrito, mesmo antes do nascimento desses membros qual seria o destino deles. Vocês podem imaginar o círculo como se fossem partes de um corpo humano. Até agora, foram denominados algumas partes. Como sendo a função de cada um deles.

- Famílias importantes, como os Auditore e os Sforza foram denominadas para preencher este círculo. O que explica, porque vocês todos estão aqui.

Bianca finalmente entendeu. Ela era mais do que uma escolhida dos planos da deusa da sabedoria. Ela era, literalmente, o seu plano.

- Estamos aqui – Ela murmurou – Porque fazemos parte deste tal círculo, certo?

Desmond assentiu. Pela primeira vez naquele dia, Bianca sentiu calafrios. Já não bastava ter que entrar para a Ordem e desistir de toda a sua vida, ainda teria que fazer parte de uma profecia maluca sobre tal forma geométrica – ela estava batendo bem da cabeça? – sobre salvar o mundo de vez?

- Exato. O primeiro a ser escolhido foi Ezio. – Ele virou-se para o Líder e sorriu. – Durante todo o término de sua adolescência e sua vida adulta, este cara aqui foi o responsável pela estabilidade e pela formação de toda a Ordem. Nunca, alguém deu o seu coração, como ele. Por isso, a sua função chama-se liderar. Ele é o responsável pela formação do Círculo. Comandar seria a palavra mais específica.

- Mas Dez, - Bianca respondeu – Eu não estou reclamando nem nada, muito pelo contrário. Mas você não disse que este círculo não possui superioridade e nem inferioridade?

- Sim, eu disse Bianca. – Ele sorriu. – Mas não estou dizendo de mandar, de ser superior. Mas o cérebro não comanda o corpo? E eu não disse que o círculo pode ser comparado ao corpo humano? Então, Ezio, ele irá meio que comandar os objetivos, mas com o consentimento de vocês. Afinal, o cérebro não trabalha sozinho.

Bianca assentiu. Aquilo era muito confuso, mas ela decidiu escutar.

- Bem, - Desmond continuou. -  O segundo membro do Círculo escolhido foi eu. O mais bonito e mais inteligente, claro.

- Arrã – Ezio tossiu. – Não vou nem comentar esse último contexto.

- Calado! – Disse Desmond. – Bem, continuando, eu fui o segundo membro escolhido. Depois de muitos anos, Minerva resolveu colocar mais uma artimanha dentro do Círculo. Mais um membro para completá-lo. Ganhei a função da visão, ou seja, os olhos do círculo. Por isso, tenho o dom dos sonhos. Sonho com o que aconteceu, o que poderia ter acontecido e o que acontecerá. Além disso, eu sou o escolhido para manusear um dos artefatos materiais que pertencem aos Assassinos. A Maçã.

- Você? Você é a segunda pessoa para manusear a Maçã? – Bianca estava incrédula.

- Sim, ele é – Ezio respondeu sorrindo. – Eu já sabia disso há muito tempo, mas como não tive filhos, Desmond é descendente de um parente próximo a mim, e você também. Mas ele foi determinado a ser muito antes de eu nascer. Eu aprendi a usar a Maçã, mas quem foi realmente o escolhido para manuseá-la foi ele. Por isso, ele é os “olhos” do Círculo.

Bianca estava boquiaberta. A sua cabeça parecia um rodamoinho de confusão. Estava cada vez mais confuso.

Desmond sorriu. Mas aquilo dizia que não acabava por ali. Mais revelações estavam por vir.

- Entretanto, garotos, eu e Ezio não somos os únicos membros do Círculo. Para falar a verdade, ao todo, são sete membros. Cada um com uma função importante. E vocês dois, estão dentro, não é mesmo?

Ele olhou para Jason com expectativa.

- Você, meu amigo, também faz parte deste Círculo. – Ele sorriu. – Presumo que queira saber qual a sua função, não é mesmo?

Jason assentiu aturdido. Bianca o entendia. Assim como ela, a sua vida havia virado de cabeça para baixo.

- Minerva o escolheu como sendo o senso, Jason. O senso de direção, sabedoria e propósito do Círculo. Você possui uma mente aberta, apesar de tudo, é fiel e inteligentíssimo. Não é só em combate que você é bom, Hank. Como Leonardo da Vinci, você ama criar, inventar e discutir. E como sua descendente, Caterina Sforza, você não desiste do que quer. Independentemente do que aconteça.

Jason ficou vermelho. Não era elogiado com freqüência, mas Bianca nunca sentiu tanto orgulho do namorado como sentia agora. Ela acariciou sua mão e sorriu docemente para ele. Ele a abraçou e beijou o topo de sua cabeça.

- Assim como a Maçã – Desmond completou desapontado – Os Templários possuem outro artefato poderoso em mãos. Os Novos Códex.

Ezio fechou os olhos com decepção. Desmond colocou a mão em seu ombro.

- Ei, cara, não se culpe! Você é o de menos que precisa se culpar. Desdobrou-se e ainda se desdobra por essa Ordem. Se a culpa aqui é de alguém, acredite, sua é que não é.

Ezio sorriu.

- Obrigado, Dez.

- Por nada. Enfim, Bianca, Ezio já deve ter lhe contado sobre os Códex, não?

Ela assentiu. Sabia sobre os pergaminhos que continham as fórmulas (muito avançadas para aquele tempo) que muitas delas se transformaram em armas para Ezio. Como a braçadeira, a lâmina oculta, a lâmina envenenada e as pistolas.

- Bem, estes Novos Códex contém muito mais que armas. Contém revelações do futuro. Simplesmente, são revolucionários. Os Templários estão em posse deles, mas não sabem como fazer, porque não tem o engenheiro perfeito. E você Jason, é o escolhido para decifrar e construir o que está escrito nesses Códex.

- Eu? – Jason soou incrédulo. – Tudo bem, admito que sempre gostei de engenharia, mas isso? Eu não sou capaz de fazer algo grande, sou uma criança praticamente! Como alguém como eu poderia decifrar fórmulas revolucionárias?

- Da mesma forma que alguém como eu poderia ver o futuro de tudo. Ou seja, Jason, não escolhemos isso. Fomos escolhidos. E, acredite, você é a pessoa certa para isso. Você descobre, você constrói. Você é capaz.

Bianca assentiu. Ela olhou para Jason com orgulho.

- É verdade. Jason é uma pessoa insistente e persuasiva. Ele constrói tudo da forma que ele quer, e por incrível que pareça, ele faz acontecer. Por isso, me apaixonei por ele – Ela admitiu envergonhada. – Jason conseguiu transformar possibilidades em realidade. Por isso, estamos juntos.

Jason a abraçou. Ele nunca estive tão apaixonado por Bianca como agora.

- Eu te amo, ok? – Ele sorriu. – E mesmo sem essas habilidades, eu ainda faria acontecer. Como sempre teve de ser.

Bianca ficou vermelha. Ela nunca estivera, também, mais apaixonada por ele. Mesmo dentro dessa confusão, ela nunca desistiria dele. E nem ele, dela.

- Entendeu agora, Jason? – Desmond sorriu. – Ou precisa de mais alguma explicação?

- Tudo bem, Miles, entendi – Ele sorriu. – Senso. Vai ser divertido.

- Isso se recuperarmos os Novos Códex. Pelos meus sonhos, eu descobri que estão na Fortaleza 29, na Rússia. Estão fortemente guardados, e eu ouvi falar que essa Fortaleza é bem violenta.

Ezio sorriu de expectativa. Violência era com ele mesmo. E, tentando evitar, Bianca sorriu também. Era uma marca dos Auditore, admita-se de passagem.

Mas tudo de repente ficou mais frio. Ela sentia que o pior estava por vir. Desmond olhou para ela.

- Imagino que você esteja imaginando qual seria a sua função, não é mesmo Bia? – Desmond ergueu as sombrancelhas. – Você foi a última escolhida dos Sete. Especialmente porque a sua função é como o órgão mais intenso e mais vital de nosso corpo. O coração.

- Você foi destinada a segurar o Círculo. Por isso, seu sangue é precioso. Por isso, os Templários o querem. Eu sonhei com isso. Legião, como é chamado o Círculo, é basicamente sustentado por nós todos. Mas como eles possuem a Maçã e os Novos Códex...

Bianca sentiu como se o mundo fosse tirado de seus pés. Era ela. Ela era a última parte dos Templários para serem invencíveis.

Desmond olhou para ela com compaixão.

- Imagino que saiba o que falta, não é mesmo? – Ele ergueu as sombrancelhas.

- Sim, eu sei. – Ela fechou os olhos e soltou um longo suspiro, como se seu destino estivesse selado e seu túmulo, cavado.

- Meu sangue.