Bianca sabia que a conversa com o pai não seria tão difícil quanto a conversa que ela estava pretendendo ter com Kevin.

Contar ao pai que estava namorando? Bem, isso parecia perigoso, alegando que ela sua única filha, mas contar a Kevin que a sua irmã gêmea havia morrido? E, ainda mesmo que todos negassem, por sua culpa?

Ela estremeceu diante da possibilidade e, soltando a mão de Jason, se abraçou fortemente.

- Se você continuar apertando seus braços desse jeito, seus dedos vão cair. – Jason brincou, soltando delicadamente o aperto que ela causava a si mesma e a envolvendo em um abraço. – O que está acontecendo, Bia?

Ela enterrou o rosto no peito de Jason. Estava muito nervosa.

- É que... Eu... Não sei ainda... Como contar para... Para... – Ela respirou fundo. – Kevin.

Jason a apertou por um momento, e depois a soltou. Bianca levantou a cabeça e fitou seus olhos. Estavam totalmente escuros e sombrios. Era assim que Jason ficava quando estava preocupado ou nervoso.

A emoção sumiu totalmente de seus lindos olhos azuis, dando lugar a uma frieza vívida e sombria.

- Vamos enfrentar isso, ok? Juntos. – Ele disse finalmente. – Sempre fomos unidos uns com os outros. Não vamos abandonar ninguém, nem agora e nem nunca.

Bianca assentiu. Iria ser difícil, mas ela iria ajudar Kevin. Prometera a Kayla. E, quando cumpria uma promessa, por mais difícil que fosse, ela cumpriria.

Como foi com Henrique, ela pensou. Eu prometi que iria matar o assassino de minha mãe. E, eu não iria dormir nem uma só noite enquanto não mandasse aquele filho da puta pro Inferno pessoalmente

Erguendo a cabeça determinada, Bianca aceitou o desafio. Kevin precisava deles. Eles iriam até Kevin.

Bianca e Jason se dirigiram até o andar Sub-11, onde ficava o hospital. Ela estava preocupada com a saúde de Kevin, mesmo sabendo que não era tão grave quanto fora a de sua irmã.

Chegando ao mesmo local onde foram perguntar por Kayla, disseram o nome de Kevin e se apresentaram como amigos.

A recepcionista disse a eles que Kevin, felizmente, já havia recebido alta e Ezio Auditore pessoalmente o levara até a sua casa.

Respirando mais aliviada, Bianca sorriu e agradeceu a recepcionista e disse que ela estava fazendo um grande e ótimo trabalho.

Segurando na mão de Jason para ganhar mais confiança, eles seguiram até o andar Sub-29, onde chegariam até a mansão de Ezio.

Bianca tremia, com toda aquela adrenalina guardada se esvaindo como um gás se esvai quando é solto no ambiente. Jason segurava sua mão com força, mas percebia que ele estava igualmente nervoso.

Kayla e Kevin eram os melhores amigos de Bianca e Jason. Os quatro faziam tudo juntos, e Jason estava sofrendo bastante com a morte de Kayla também.

O elevador parou no andar Sub-29, e mecanicamente, Bianca e Jason seguiram até a casa de Ezio. Chegando à Área de Elite do andar, as grandes portas duplas os recepcionaram e, andando até a sala de estar, encontraram Kevin repousando, lendo um livro tranquilamente.

Pelo  seu estado, Bianca tinha certeza de que ele não sabia de nada ainda, exceto que sua irmã poderia estar internada. Ela não queria fazer todo o trabalho, mas sentia que devia isso a Kevin.

Caminhando lentamente, com Jason ao seu lado, eles sentaram um de cada lado do garoto e pegaram as suas mãos.

 Kevin olhou para cima surpreso com a atenção inusitada dos amigos. Mas depois, seus olhos ficaram sombrios, como se houvesse resgatado uma lembrança. Olhando para Bianca, ele disse:

- Você me deve uma explicação, lembra?

Por um momento a menina ficou confusa, pensando que ele se lembrara da verdade. Mas depois ela se lembrou.

               - Na sala de vídeo. Quando eu prometi a você que depois explicaria tudo, não é mesmo? – Ela ergueu as sombrancelhas.

               Kevin assentiu solenemente. E, com a expressão séria ficou esperando Bianca responder.

Ele era um menino divertido e extrovertido, não parecia em nada esse menino quieto e sombrio. Kevin era muito parecido com Kayla, com seus cabelos castanhos lisos e finos, um corte meio repicado na altura das orelhas. Era mais alto que Kayla e quase tão forte quanto Jason.

A única diferença era que ele possuía os olhos verdes, em vez de castanhos como os da irmã.Bianca respirou fundo, e olhando para Kevin com um olhar de piedade, contou toda a verdade a ele. Menos a da morte da irmã. Ela queria esperar ele absorver aquela história toda, antes de dar o golpe final.

               Olhando para Jason, este assentira como se fosse à hora. Colocando os braços em volta de Kevin, Jason inspirou profundamente e começou:

               - Tem mais uma coisa que você precisa saber, Kevin.

               Surpreso com a dor daquelas palavras, Kevin olhou para Jason confuso. Jason ia começar a falar, mas Bianca o interrompeu. Era ela quem deveria fazer isso.

               - Kevin... – Ela começou. – Nós precisamos ser completamente honestos com você. Agora que sabe o porquê de estar aqui, precisa saber de toda a verdade.

               - Como assim? – Ele ergueu as sombrancelhas, confuso. – Já não me falaram toda a verdade? Há mais segredos sobre você, afinal? Algo que possa colocar ainda mais minha irmã, eu e Jason em risco? – Ele terminou essa frase com um grande veneno na voz. Estava com uma raiva imensa de Bianca por ter omitido tudo isso por muito tempo, por causa disso, eles terem passado por isso tudo.

               - Kevin, eu... – Bianca começou chocada.

               - Ei! – Jason a interrompeu. – Bianca não fez isso tudo de propósito, Kevin. Ela foi forçada a fazer isso, por tudo o que aconteceu com a mãe dela, você sabe! Ela só omitiu por mais um tempo, para nos mantermos em segurança.

               - Bela segurança! – Kevin explodiu. – Minha irmã está gravemente internada em um hospital desconhecido, você quase morreu naquele dia e eu estou sem saber o que fazer! Sinto muito pela sua família, Bianca, de verdade. Mas também essa situação está prejudicando a minha família.

               Ela não conseguiu conter as lágrimas. Kevin nunca fora tão agressivo com ela dessa forma. Ele devia estar seriamente perturbado. Talvez, se soubesse da verdade depois...

               - Você está errado. – Jason disse sombriamente.

               - O que? – Ele olhou para ele de forma acusatória. – Você a está defendendo? Está na mesma situação que Kayla e eu!

               - Você está errado. – Jason repetiu amargamente. Estava com um olhar feroz para Kevin por ter ofendido Bianca daquela forma. Mas Bianca não estava com raiva de Kevin, ela entendia. E não queria que Jason fosse tão cruel com ele também.

               Mas quando ela percebeu o que Jason estava tentando fazer, sacudiu nervosamente a cabeça, preocupada com a situação do menino. Jason a ignorou.

               - Sua irmã não está internada em um hospital. – Ele cuspiu as palavras.

               - Jason! – Bianca berrou.

               - O que você está querendo dizer, Hank? – Kevin levantou de forma estúpida, derrubando o livro que estava lendo (um exemplar de Percy Jackson e os Olimpianos, O Último Olimpiano) e encarou Jason de uma forma maligna.

               - Kevin – Jason segurou o menino pelos ombros. – Eu sinto muito, mas...

               - Jason, espere! – Bianca gritou apavorada. Kevin não estava com as suas faculdades mentais completamente perfeitas.

               - Cale a boca, Bianca! – Kevin explodiu. – Diga, Jason. Minha irmã está bem, não está? – Ele cerrou os dentes.

               - Kevin, ela está... – Jason o encarou firmemente e abriu a boca.

               - PARE, POR FAVOR! – Bianca chorava desesperada. Não queria magoar mais um amigo, não desse jeito. Já estava cansada de os Templários destruírem sua família.

               - DIGA! – Kevin berrou!

               - PARE!

               - MORTA! – Jason explodiu em lágrimas, a dor irrompendo em seu rosto. – Kayla está morta!

               Kevin vacilou um passo para trás. Seu rosto ficou em uma expressão estática.                         

               - Não... Não... – Ele sussurrou. – MENTIROSO. – Ele pegou um vaso de porcelana e lançou na direção de Jason. Este, felizmente, teve o bom senso de se abaixar.

               Instintivamente, Kevin começou a quebrar tudo pela sala. Quadros, móveis e vasos todos voavam pelos ares.

               - Kayla! – Ele gritava. – Kayla, Kayla, Kayla, por que? Por que, meu Deus? Kayla!

               Kevin se atirou no chão e começou a soluçar. Agarrava o tapete com as suas mãos fortes e esperneava como uma criança, gritando.

               Bianca estava em choque, como da vez em que vira Kayla morrer. Não era isso o que ela havia prometido a Kayla, não era isso o que ela queria ver.

               Encontrando forças para ir até Kevin, ela caminhou em sua direção, e, agachando-se no chão abraçou o menino desamparado.

               Kevin ficou tenso na hora com o ato. Erguendo-se abruptamente, empurrou Bianca com toda a força no chão. Por sorte, ela não se machucou nos cacos de vidro espalhados.

               Jason se lançou para Kevin em uma atitude defensiva, mas Bianca se colocou  na frente.

               - Jason, não. – Ela disse sombriamente. – Não é culpa dele, por favor.

               - Claro que não é, sua vadia estúpida! – Ele berrou, indo em direção a Bianca. – A culpa é sua, totalmente sua! Você não salvou a minha irmã a tempo!

               Bianca ofegou. Ela não acreditara no que estava ouvindo.

               - Talvez – Ela disse para Kevin de uma forma sombria. – Seja minha culpa mesmo. Mas só porque eu estava tentando salvar vocês e meu pai, juntos!

               - GRANDE MERDA O QUE VOCÊ FEZ, VOCÊ NÃO PASSA DE UMA INÚTIL! – Ele berrou, lançando o livro na direção da menina. – Por sua causa, minha irmã está morta, Bianca Auditore. POR SUA CAUSA E DE POR CAUSA DE SEU SOBRENOME IMUNDO QUE VOCÊ CARREGA.

               - CHEGA! – Jason berrou. – Cara, você está fora de si. Pare, por favor.

               - NUNCA, NUNCA VOU PARAR! – Ele gritou. – Minha irmã está morta, Jason. Morta! E, tudo por causa dela. Por causa do que a envolve. Ela estragou a minha vida, estragou a vida da minha família por causa da merda da família dela.

               Bianca não agüentava mais ouvir insultos daquele porte. Tudo bem a culpar. Ela também se culpava e muito. Mas não envolveria sua família de novo. Ela não aceitaria.

               - Kevin – Ela disse entredentes. – Fale o que quiser de mim, mas não envolva minha família nisso. Acha que para mim está tudo bem? Acho que não amava Kayla? Eu tentei, Kevin. Juro que tentei. Eu poderia ter dado a minha vida por ela, você sabe disso. Mas, se quiser me culpar, não irei te restringir. Tem todo o direito de estar bravo comigo, mas se você meter a minha família novamente nesta situação, eu não responderei por meus atos.

               - Culpada. – Ele grasnou, soluçando. – A culpa é sua.

               Bianca ignorou estes dois últimos comentários. Ele já dissera que ela era culpada o suficiente, não a afetava mais. E Kevin, por pior que fosse neste momento, ele ainda era seu amigo e estava passando por um momento difícil. Não era justo pressioná-lo.

               Jason estava olhando de uma forma mortalmente horrível para o menino, mas algo dentro do garoto o fez entender que Kevin estava louco.

               Ele levantou-se abruptamente e seguiu para a porta, chutando cacos de vidros do seu caminho como se fosse simples bolas de papéis.

               - Para mim já chega de toda essa merda – Ele disse determinado, sem olhar para trás.

               Bianca se assustou. Esperava toda a reação nervosa de Kevin, mas isso?

               - Onde você vai? – Ela perguntou com a voz embargada.

               - Nada que seja da sua conta, Bianca. – Ele se virou com um olhar mortal para a menina. – Este será um aviso. A próxima vez que eu ver essa sua cara na minha frente novamente, eu juro – Ele piscou – Que não serei condescendente com você novamente.

               Lançando um olhar raivoso a Jason, mas não tão raivoso como foi para Bianca, ele pegou e saiu da sala estupidamente.

               Bianca e Jason correram até a porta e apenas tiveram tempo de ver Kevin correndo para os elevadores e sumindo para sabe-se lá onde.

               Bianca virou-se nervosa para Jason. E, andando furiosamente para dentro, pegou o último vaso de Ezio e lançou na parede.

               - Templários imundos! – Ela berrou. – Não basta destruírem minha vida e minha família, acabam destruindo os meus amigos também.

               - Bianca... – Jason luta para tentar controlá-la, mas não consegue.

               - Chega! – Ela explodiu. – Não aguento mais. Para mim já deu, Jason.

               Ela caminhou para a porta e gritou a plenos pulmões:

               - Se é isso que vocês querem, Assassinos, eu estou dentro! Já dei adeus a minha antiga vida mesmo, não faz diferença mesmo.

               - A partir de hoje, abro mão de meus sonhos, de meus desejos, de minha segurança e de minha vida! – Ela gritava. – Vou servi-los, como deve ser. Vou ajudar a Ordem e eu prometo... – Ela inspirou. – Eu prometo que enquanto eu não destruir cada um de vocês, Templários malditos, eu não descansarei em paz. Nunca!

               - Bem, - Disse uma voz desconhecida atrás de Bianca e Jason. – Então eu presumo que devo ter chegado na hora certa.

               Eles olharam para o desconhecido cheios de alarme e surpresa, mas ele apenas sorriu e acenou com a mão, de uma forma divertida.

               - Que bagunça, não é mesmo? – Ele olhou para os cacos no chão com um ar de riso. – Ah, como eu sou rude. Esqueci de me apresentar. Prazer em conhecê-los, Bianca Auditore e Jason Hank. Eu sou Desmond.

               Ele sorriu de uma forma arrogante e divertida.

               - Desmond Miles.