Gravity escrita por Princess


Capítulo 1
Jus like gravity


Notas iniciais do capítulo

Diva, eu espero que você gostee! oo *~*



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No começo, quando todas as pétalas ainda estavam onde deveriam estar, aquela rosa era deslumbrante. Suas pétalas eram tão vermelhas quanto sangue e exalava um perfume magnifico. Só que elas começaram a murchar... Coloquei-as na agua, mas não funcionou. Me desesperei. Ela era tão linda! Observando-a por algumas horas, percebi que ela começava a morrer.

Como algo tão bonito poderia morrer? Decidi acabar com o sofrimento daquela flor que tanto me inspirava. Retirei suas pétalas uma por uma, e semeei-a no canteiro da sacada de meu apartamento.

Quando a bela rosa voltasse a produzir vida, ela seria a primeira a ver e a primeira a se deslumbrar com sua beleza.

–-


Cheguei mais uma vez cansado, mas não pude resistir à tentação de vê-la. Precisava ver minha rosa... Minha Rose. Fui em direção à sacada e parei observando o apartamento dela, mas as persianas estavam fechadas. Poderia ela já estar dormindo? Não... Não era habitual que fosse se deitar tão cedo. Não passava das 21h. Pensei em ligar – a vontade me consumia -, mas não podia. Não podia discar aquele número que tanto me seduzia e ouvir sua voz.

Maldita hora em que me apaixonei por ela.

Maldita hora em que ela mentiu para mim.

Maldita hora em que sua família interferiu em minha felicidade.

–-

Nos conhecemos há dois anos. Eu estava no segundo semestre da faculdade de Direito e ela estava começando o primeiro semestre. Há vi pela primeira vez na recepção dos veteranos aos calouros. Estava tão perdida! Minhas colegas de classe disseram coisas maldosas a respeito das roupas e o cabelo dela. Tão fúteis... Recebi alguns calouros e expliquei a eles como seriam as dinâmicas nesse primeiro dia. Atrás deles, notei que as garotas haviam se aproximado dela. Suspirei e pedi que alguém terminasse de passar à eles as informações, então fui até ela.

Notei que seus olhos se arregalaram e ela apertou com força seu material contra o peito. Os olhos extremamente azuis demonstravam medo e insegurança. Seus traços finos combinavam com a pele clara, que fazia um belo contraste com os cabelos ruivos.

Pedi para que a deixassem comigo, e foram o que fizeram. Elas sempre faziam...

Mostrei tudo à ela. O campus, as salas que usaríamos e outros lugares importantes da faculdade. Durante todo o percurso ela não disse nada, apenas escutou. Me senti desapontado, pois apesar de tê-la livrado da humilhação que provavelmente passaria, ela continuou me tratando de maneira indiferente. Como se eu não existisse. De qualquer forma, me despedi dela e voltei até onde os calouros estavam concentrados.

No dia seguinte a procurei. E no outro, no outro, no outro... Eu sempre a via durante as aulas, com seu material apertado contra o peito. Sua insegurança e medo eram visíveis... Tentei falar com ela algumas vezes, mas foi somente no dia de meu aniversário que tive coragem para pronunciar as palavras.

Eu estava voltando para casa, já era um pouco tarde – havia ficado tirando duvidas com meu professor de Direito Trabalhista – quando passei pelo estacionamento e a vi. Lá estava ela, sozinha no estacionamento deserto indo para casa à pé.

Perguntei se ela morava longe... Ela apenas balançou a cabeça.

Não tem medo? Dessa vez ela negou.

Parei o carro, fazendo-a parar também.

– Entre, vou te dar uma carona.

–-

Descobri muito sobre ela nessa noite.

Primeiro, seu nome era Rose Granger.

Ela havia dito com tanta graça... Céus! Ela havia falado! E sua voz era tão linda, melodiosa, harmônica, doce... Parecia como a música mais linda do mundo. Nunca ouvi uma voz tão linda quanto à dela.

Por alguma graça divina de Deus, ela havia se mudado há alguns dias para o mesmo condomínio que eu... Seu apartamento ficava no bloco paralelo ao meu e – Deus seja louvado – tinha uma visão perfeita de minha sacada.

Rose pareceu assustada com a possibilidade de haver um homem do outro lado da sacada, pronto para ataca-la. Mas eu a tranquilizei.

– Não vou deixar ninguém te machucar... – eu disse.

Por alguns instantes, um sorriso cresceu no canto esquerdo de seus lábios. Meu coração bateu mais forte. O que era aquilo? Porque esse sorriso me importava tanto? Porque essas sensações só começaram agora? Por que...? Por quê?! Tantas perguntas, tantas sensações... Eu estava confuso. Apertei o volante com mais força e evitei falar muito até que chegamos. A ruiva ao meu lado pareceu apreensiva quando desci do carro e abri a porta para que pudesse sair.

– Bem... Muito obrigada pela carona. – disse, apertando o material contra o peito novamente – Tenha uma boa noite. – e então se virou e saiu andando.

Primeira tentativa: fracasso total!

Mas não me desanimei... Outras oportunidades surgiriam.

E surgiram! Várias... Mas eu acabava sempre frustrado. Ela era evasiva em suas respostas, grossa em suas atitudes e nunca me dava brechas... Até aquele dia.

Era um dia comum na faculdade e, de repente, ela passou por mim em um dos corredores. Oh! Ela estava linda! Vestido florido, sapatilhas, cabelo solto... Tinha algo diferente em seu olhar. Estava determinado, cheio de foco. Suspirei. Porque ela simplesmente ignorava todos os sinais que deixei durantes esses dois meses?

Estava a beira da loucura! Como podia Scorpius Malfoy estar se apaixonando por uma garota que nem se importava se ele continuava respirando?!

– Burro, isso que eu sou. Um burro! – eu disse chutando o pneu de meu carro e pensando em como fui idiota em não elogia-la antes.

– Scorpius...? – ela me chamou.

Parecia um sonho, onde eu flutuava por nuvens feitas de algodão doce e ela sorria docemente para mim.

– Pode me dar uma carona? – pediu corando fortemente enquanto torcia as mãos.

– Cl-claro. –gaguejei, mas logo me recompus - Entre. – completei abrindo a porta do carro.

– Obrigada. – Rose agradeceu sorrindo.

Ela não costumava tomar atitudes como está. O que estaria acontecendo? Será que ela precisa de algum favor? Estaria com algum problema na faculdade? Tantas perguntas... E todas sem resposta.

Depois de algum tempo de silencio, desci dizer algo.

– Você está muito bonita hoje, Rose.

– Ah, obrigada... – a ruiva ao meu lado respondeu com desanimo.

– O que há de errado? Você está estranha... – observei.

– É que... – ela disse retorcendo as mãos enquanto corava.

Eu conhecia aquelas reações... Ela estava envergonhada. Mas por quê? Havíamos nos aproximado bastante nesses cinco meses. Bem, talvez eu estivesse exagerando, mas ela não se envergonhava com tanta facilidade. A não ser...

Céus! Como pude ser burro! Ela havia se arrumado demais, pedido carona e agora agindo dessa maneira. Rose estava tentando dizer que sentia algo por mim! Era óbvio demais!

– Diga... Prometo não rir. – eu disse sorrindo.

– Tudo bem. – ela disse depois de suspirar – É que... Tem um cara e eu quero que ele conheça minha família. Acha que é ir rápido demais? – completou fechando um dos olhos com força, enquanto mantinha o outro bem aberto.

– Vocês já saíram antes? – perguntei, mas já conhecia a resposta.

Não.

Sim. – ela disse.

– O que? – perguntei atordoado. Ela disse sim?

– Nós já saímos. Várias vezes e, Deus, foi perfeito! Ele é educado, gentil, inteligente...

Ela continuou falando, mas eu me concentrei na rua à minha frente e tentei me desligar de suas palavras desapontadoras.

Ele poderia ser tudo... Poderia te dar tudo... Mas nunca – nunca! – se compararia ao que eu poderia ser... Ao que eu poderia te dar.

– Scorpius...? Você está bem? – Rose perguntou e notei que havia preocupação em sua voz.

– Sim... É só que... – limpei a garganta – Estava pensando na viajem que terei que fazer. – inventei.

– Oh... Ficara fora por muito tempo? – ela perguntou, acreditando em minha mentira.

– Não, não. Dois ou três dias, no máximo. – eu disse com os olhos fixos nos carros a minha frente; não queria ter que encara-la.

– O que acha? – Rose perguntou.

– O que acho sobre o que? – perguntei, me distraindo por um momento e encarando seus olhos azuis.

– Acha que devo apresentar Lysander à minha família? – minha ruiva perguntou novamente.

– Lysander? Lysander Scamander? – perguntei me sentindo mal.

– Sim. Você o conhece?

– Ele era meu melhor amigo. – respondi com a raiva e a amargura embrulhando meu estomago.

Desde que eu me entendia por gente Lysander e Lorcan, seu irmão gêmeo, estiveram ao meu lado. Ao contrario de Lorcan que era mimado e sempre reclamava das coisas, Lysander sempre me ajudava em minhas travessuras. Não só na infância, mas também em boa parte da adolescência ele esteve ao meu lado. Eu o conhecia melhor do que seu irmão, e ele me conhecia melhor do que ninguém. Um sabia quando o outro aprontava e sempre encobria a sujeira. Nos afastamos quando tínhamos 17 anos... Ele foi expulso de nossa escola e começou a estudar em outra que ficava ligeiramente longe da minha. Com o tempo, fomos perdendo o contato... Hoje, conversamos muito pouco, mas ainda o considero meu melhor amigo.

Ou melhor, considerava.

Como... Como o destino poderia ser tão cruel? Perde-la para alguém que eu considerava tanto...

Quando cheguei em casa, me joguei em minha cama. A gravidade havia me derrubado; me mostrado que Rose era como fumaça. Estava ao meu alcance, mas eu nunca poderia pegá-la, ou chama-la de minha, como eu tanto queria.

Fiquei pensando nela durante várias horas. Já era madrugada quando me sentei na cama. Havia tomado uma decisão.

Poderia me machucar, doer... Mas eu não ficaria por perto para vê-la ser feliz com outro. Principalmente se esse outro fosse Lysander. Eu me afastaria, manteria distancia.

Sim. Era o melhor a se fazer.

–-

Como havia dito à Rose, viajei. Não fui muito longe. Passei dois dias na casa de praia de meus pais e depois voltei. Não conseguia me concentrar em fazer mais nada. Tudo parecia estar errado. A gravidade... Ela parecia me puxar de volta até Londres. Até meu apartamento. Até ela. Era tão ridículo! Ela não me queria – queria Lysander – e eu não parava de pensar nela!

O que estava acontecendo comigo? Eu nunca me senti tão preso à uma garota dessa maneira! Elas nunca me fizeram me sentir dessa maneira... Porque logo Rose tinha que fazer isso comigo?

Eu me apaixonei por ela... Não podia negar. Mas ela não havia se apaixonado por mim.

Quando cheguei em casa de minha pequena viajem, estava cansado. Todos os músculos de meu corpo doíam, pois passei aqueles dois dias surfando. Aquilo me acalmava... Liguei algumas luzes, deixei minha mochila no chão e fui direto até meu quarto. Me joguei no colchão. A gravidade não era tão má. Me permitiu chegar com leveza até a superfície macia... Meus olhos estavam pesados, quase completamente fechados quando ouvi a campainha tocar.

Bufei. Não iria atender. Estava cansado demais para isso. Mas quem disse que a maldita gravidade permitiu? Ela me puxou para fora da cama, e me guiou até a porta. Havia preparado diversas respostar para a infeliz alma que me perturbava, fosse ela quem fosse, mas não estava preparado para aquilo.

Rose estava parada ali, em minha porta, chorando. Estava pronta para sair, era obvio. Usava um vestido que julguei ser de festa e sapatos de salto. Seu rosto que deveria estar maquiado, estava manchado por algumas listras que desciam de seus olhos até o queixo.

Ela não me disse nada, apenas me abraçou enquanto chorava. Aquilo me arrasou. Porque ela estava assim? O que poderia ter acontecido? A apertei contra meu peito e afaguei seus cabelos.

– Vai ficar tudo bem... – eu disse tentando conforta-la.

–-

Depois que se acalmou um pouco, levei-a até meu quarto.

Não pense que “a levei para o quarto”... Eu não tinha muitos moveis em meu apartamento e o mais confortável era minha cama. Não iria deixa-la de pé naquele estado.

Conforme seu choro diminuía, ela me contou o que havia acontecido.

O idiota do Lysander havia terminado com ela há menos de vinte minutos. Parecia que ele estava bêbado e disse coisas estranhas a respeito da família dela...

– Ele... Ele ficou dizendo que não queria se misturar à escória. – Rose disse entre soluços.

Escória? O que ele entende de escória? Não sabe nem o que significa essa palavra! Ele deveria ser classificado como escória. Não se trata uma pessoa dessa maneira... Olha para você, Rose. Você não deveria ser tratada assim... – eu disse olhando-a nos olhos.

– Você é tão... Doce, Scorpius. – ela disse sorrindo.

Aquilo fez a gravidade me puxar para baixo. Não de um jeito ruim. De um jeito bom. Me fez ver a situação com outros olhos. Ela estava ali, em minha frente por algum motivo. Confiança... A gravidade me disse. Ela confia em você.

Ela me olhava de um jeito estranho, o que me fez me abaixar – já que estava sentada em minha cama.

– O que está olhando? – perguntei apoiando meu queixo nas mãos.

– Você é bonito... – ela disse mexendo em meu cabelo loiro.

Meu estomago se contraiu. O que... O que ela estava dizendo?

– Seus olhos... Eles parecem o céu no inverno. – continuou – Eu amo o inverno.

Suas palavras saíram melodiosas... Como uma cantiga de ninar. Senti seu rosto mais próximo ao meu. Meus olhos se fecharam ao sentir o toque de seus lábios. Eles eram macios e doces, faziam meu corpo reagir... Não pude me conter mais, eu a queria. Queria seus beijos cada vez mais, queria seu toque, suas carícias. Quando recuperei meu juízo, estava deitado sobre ela, segurando seus cabelos enquanto lhe beijava os lábios.

– Eu... Preciso ir... – Rose disse entre beijos.

Me afastei dela. Eu havia ido longe demais... Aquilo não deveria ter acontecido. Não dessa maneira.

– Você... Quer ir comigo? – me perguntou, fazendo com que eu me assustasse.

– Ir? Ir aonde? – perguntei.

– A um jantar de família.

–-

Realmente não sei onde estava com a cabeça quando aceitei aquele convite. Minha velha amiga gravidade só me trouxe de volta quando aquela porta foi aberta.

Até aquele momento eu estava preparado para ser recebido pelos Granger, a família simpática de Rose. Depois que a porta foi aberta por aquele homem ruivo que eu conhecia muito bem, a gravidade retirou todo o ar que havia a minha volta.

– Ronald Weasley... – eu disse sentindo minha garganta se fechar.

– Malfoy...? – o homem disse olhando para mim e depois para Rose e então para nossas mãos – O que está fazendo com a minha filha? – completou fechando a porta atrás de si e avançando para minha direção.

– Sua filha? – perguntei soltando a mão de Rose.

– Sim. Minha filha. O que está fazendo com ela? – perguntou novamente.

– Você é uma Weasley? – perguntei à Rose.

– E você um Malfoy. De que importa o meu sobrenome? – respondeu defensivamente.

– O que está acontecendo aqui? Porque você trouxe um maldito Malfoy até nossa casa Rose? – Ronald exigiu aumentando seu tom de voz.

– Não se refira a mim como maldito... – eu disse entredentes.

– Como não? Você e sua família só trouxeram desgraças para essa casa! E você ainda ousa se aproximar de minha filha, seu insolente! – o ruivo estava prestes a me agredir, mas Rose o impediu.

– Papai, não! – ela gritou segurando o braço do pai.

– Como você pode mentir para mim, Rose?! – eu disse me sentindo enjoado – Porque não me disse que era uma Weasley? Eu fui honesto com você! Te protegi, te amparei, consolei... E é isso que eu recebo de volta? Ser apunhalado por você? Justo você?

– Scorpius... Me escute. – ela disse soltando seu pai, tentando se aproximar de mim – Eu me assustei quando te vi na faculdade, mas logo percebi que você era uma boa pessoa. E... E eu me apaixonei por você! Tentei me envolver com Lysander para te esquecer, só que não consegui! Eu realmente...

– Não diga. – eu a cortei – Não diga que me ama logo depois de mentir para mim... Você Rose Weasley é a minha maior decepção.

–-


Engraçado, não? Como a vida dá voltas, mas leva sempre para o mesmo lugar...

Me envolvi com os Weasley quando eu tinha dez anos. Meus pais estavam em crise e aquilo estava me prejudicando. Como uma criança de dez anos reagiria à discussões constantes? Pensando nisso eles me levaram a um psicólogo. Essa era Hermione Weasley.

A Sra. Weasley sempre foi gentil comigo. Me dizia que era comum que casais brigassem e sempre me dava um pirulito ao final de nossas seções. Um dia, meus pais se excederam na discussão. Minha mãe atirou um jarro em meu pai e ele acabou se machucando. Como não poderia me buscar, minha mãe perguntou a Hermione se ela não poderia me levar até em casa. Estava chovendo... Eu sempre odiei chuva. A Sra. Weasley não me deixou sentar no banco da frente naquela noite.

– É perigoso... – ela disse.

Realmente, era muito perigoso. Em um cruzamento no centro, a Sra. Weasley se virou para me tranquilizar por apenas dois segundos e então um caminhão atingiu o carro.

Eu nunca poderia me esquecer daquilo. Sua mão... Ela estava segurando a minha. Ouvi alguns médicos dizendo que ela não resistiu porque foi ferida perto do coração. Aquilo só foi possível porque ela estava virada na minha direção.

A culpa... A culpa se tornou minha companheira desde então.

Os Weasley processaram minha família. Eles tinham esse direito, mas não conseguiram que saíssemos como culpados. Meu pai era um excelente advogado. Apesar de tudo, o Sr. Weasley – Ronald – sempre me culpou. Eu era uma criança, mas ainda assim era tachado como assassino por todos daquela família.

Eu sabia que a Tia Mione tinha filhos – ela disse que me levaria para brincar com eles um dia -, mas nunca imaginei que Rose Granger na verdade fosse Rose Weasley.

–-

Depois que saí da casa dela, fui para um bar perto da casa de meus pais. Eu sempre fui lá. Era um lugar tranquilo. Não havia confusões, bêbados ou barracos. Apenas pessoas que gostavam de tomar uma dose ou outra depois do trabalho. Apesar da aparência rustica, era um bar de elite, pois ficava na parte “rica” da cidade. Então eu não sentia medo de estar ali tão tarde da noite.

– Hey, Ruby! Quero uma dose de whisky. – pedi à garçonete que trabalhava ali nas quartas e sextas a noite.

Ela era linda. Morena, olhos claros, um corpo bonito e sempre jogava charme para mim, mas eu nunca lhe dei esperanças. Então quando se aproximou, não fez como fazia com os outros clientes... Me tratou como um velho amigo.

– Noite difícil, Scorp? – perguntou servindo minha bebida.

– Você não imagina...

– Quer conversar?

– Acho melhor não. Eu acabaria te perturbando... – eu disse bebendo aquele líquido que tanto me acalmava o espirito.

– Tudo bem. – ela disse sorrindo – Se precisar de algo é só chamar. – e saiu deixando a garrafa de whisky ao lado de meu copo com gelo vazio.

Aquela foi a primeira garrafa de muitas... Eu contei três até não saber mais o que estava fazendo. Me lembro de deixar cerca de quinhentas libras no balcão e sair com uma garrafa debaixo do braço.

Normalmente eu não fico bêbado. Isso aconteceu apenas uma vez, quando fui a uma festa em Ibiza e acabei tomando uma bebida batizada por engano. A única diferença entre um Scorpius são e um Scorpius bêbado é que eu falo com coisas que não existem. Na ultima vez eu discuti com Gollum, meu elfo, sobre a expansão marítima da Inglaterra e como somos superiores nesse ramo do mercado.

Meus pais me acharam no gramado de casa na manhã seguinte, dormindo tranquilamente.

Não seria diferente dessa vez, eu tinha certeza. Uma das minhas poucas lembranças daquela noite foi de uma conversa com a gravidade e em como ela me odiava. Depois, eu só me lembro de ouvir meu pai me chamando.

–-

Era estranho estar sentado em uma mesa com meus pais me encarando como se eu houvesse cometido um crime. Eu não os culpo, nem eu me lembro o que fiz na noite passada. Mas ter minha mãe preparando panquecas era algo raro. Normalmente um dos empregados se encarregava por isso, não ela. Minha mãe detestava estar na cozinha, principalmente cozinhando.

Enquanto comia as deliciosas panquecas, me preparei para o sermão que viria. Era obvio que um sermão viria! Meus pais não se calavam tão facilmente quando eu estava em casa.

– Podem começar. – eu disse deixando as panquecas de lado.

– Filho, o que houve? – minha mãe disse imediatamente.

– Querem mesmo saber? – eu disse me encostando na cadeira de maneira deselegante –principalmente para um futuro advogado.

– É claro que sim, meu filho. – meu pai respondeu apertando a mão direita de minha mãe.

– Eu me apaixonei por uma Weasley... – respondi olhando para o sorriso de chantilly em cima das panquecas.

– Querido, você não teve culpa. – minha mãe disse franzindo o rosto – Foi um acidente.

– Diga isso aos Weasley mãe. – eu disse ainda encarando as panquecas sorridentes.

Pelo menos elas estavam felizes...

–-

Estava chovendo. Ah, como eu odeio a chuva! Ela trazia lembranças ruins... E não ajudava em nada eu estar a 48 horas sem dormir, pois na única oportunidade que tive a maldita chuva não deixou que meus olhos se fechassem. Os relâmpagos... Eu os odiava, tanto quanto a chuva.

Luke – meu primo mais velho – pediu que eu o ajudasse com um caso complicado. Eu sabia que meus pais o obrigaram a fazer isso, estavam cansados de me verem deprimido pelos cantos. Eu sabia que eles tinham razão, eu não devia deixa-los preocupados. Não era certo. Então comecei a passar horas e mais horas no escritório de Luke e na faculdade. Tudo para evitar meu apartamento – e minha vizinha.

Mas isso não era um problema, na verdade. Rose não abria mais as persianas. Eu estava começando a pensar que havia se mudado quando ela abriu a janela. Foi apenas por um segundo. Eu estava na sacada, mexendo nas rosas que eu havia plantado quando ela abriu a janela. Assim que me viu, fechou-as imediatamente. Parecia loucura, mas eu tinha absoluta certeza de que ela estava chorando. Porque? Porque ela choraria?

Suspirei e me sentei na cama. Saber que Rose esteve em meus braços nessa cama também não contribuía muito para uma boa noite de sono. Parecia que o cheiro dela – um cheiro parecido com o de rosas e algo fresco, como menta – não saía de minha cama. Eu havia trocado de lençóis duas vezes, mas ele continuava a me perseguir. Era... Tentador.

Me levantei e fui até a cozinha, tomei um copo de agua e me sentei no sofá. Eu havia comprado um.

Eu me sentia tão triste... Desolado. Cinco meses. Cinco meses desde que descri quem ela era, cinco meses de profunda tristeza. Estar apaixonado era uma grande merda! Não tinha outra palavra para descrever o que eu achava disso. Desse sofrimento insano. Rose estava tão pregada em meu coração e meus pensamentos que era impossível – e insuportável – tentar esquece-la. Suspirei novamente.

Eu estava assistindo a um filme qualquer, com o volume no máximo para tentar não ouvir a chuva e não percebi a campainha tocar. Me arrastei até a porta, abrindo-a sem checar quem estava do outro lado. Meu coração se contraiu – e aquilo doeu.

Era Rose.

E ela estava chorando.

Aquilo fez meu coração se contrair novamente – mais dor.

– Me desculpe te incomodar, mas é que vi a luz ligada... Precisava conversar. – disse fungando – Eu posso entrar? – perguntou.

Meu coração se contraiu novamente. Eu deveria deixa-la entrar? Permitir que ela me enchesse com suas mentiras e depois me magoasse? Mas eu seria capaz de deixa-la na porta de minha casa chorando, molhada e com frio? Não... Eu a amava demais para permitir que isso acontecesse.

Amar? Eu a amava? Sim... Não havia como negar.

– Entre... – eu disse com a voz um pouco falha.

Ela entrou e trouxe junto com ela seu cheiro de rosa e menta misturada com o cheiro da chuva. Suspirei. Ela seria minha ruina.

– O que houve? – perguntei.

Não queria que ela ficasse mais tempo que o suficiente perto de mim. Rose trazia sentimentos ruins, pois eu estava apaixonado... E ela partiu meu coração.

– Você comprou um sofá... – a ruiva disse pensativa enquanto acariciava o tecido – Pensei que era sintético...

– Desculpe, o que disse? – eu perguntei um pouco confuso.

– Eu sinto a sua falta. – Rose respondeu um pouco mais alto, me surpreendendo – Sei que é estúpido, mas eu não consigo ficar longe de você. Meu pai... Ele disse coisas horríveis sobre você. Mentiras... E eu continuei com você na minha cabeça. Ele quer que eu tranque a faculdade, vá para outro país... Mas eu não quero ficar longe de você Scorpius... Eu não quero.

Ela chorava enquanto partia meu coração novamente. Sim... Porque, apesar de tudo, não queria vê-la sofrer. Não queria que ela sentisse o mesmo que eu sentia. O coração bater tão forte a ponto de quase cortar sua respiração, as mãos suarem, uma dor desconfortável na boca do estômago... Os sintomas eram tantas, mas indicavam um mesmo problema: coração partido.

Nós dois sofríamos com o mesmo problema.

– Diga que me quer aqui, que não quer que eu vá embora. Diga que essa dor... Que você também a sente. Diga que me ama, por favor... Eu preciso ouvir. – ela desabou.

Sentou-se no chão, chorando e tremendo. Frágil como as rosas que começava a brotar em meu canteiro. Porque eu não fazia nada? Porque eu estava parado, imponente, olhando-a sofrer por mim?

– Eu queria... Queria poder ir embora, te esquecer. Mas você me puxa de volta. Eu estava no aeroporto, pronta para deixar tudo – deixar você – para trás, mas me arrependi e voltei. A gravidade parecia estar me puxando de volta, me puxando para perto de você.

Ela chorava e soluçava a cada frase. Aquilo parecia me matar aos poucos. Lentamente. Oh, gravidade, porque você a fazia sofrer dessa maneira? Porque não a deixou ir embora, se isso ia a deixar feliz?

– Scorpius... Por favor, não me deixe aqui dessa maneira. Eu preciso de você... Eu preciso de você para me manter aqui. Eu preciso de você como eu preciso da gravidade para permanecer na Terra. Por favor, não me deixe. Não me deixe cair.

Ela se encolheu no chão de meu apartamento, abraçando as pernas e chorando como uma criança que precisava de proteção. Eu queria protegê-la, abraça-la e dizer que tudo iria ficar bem. Quando seus soluços ficaram mais altos e notei que ela apertava suas unhas com força demais em seus braços, percebi que ainda estava de pé. Longe dela... Sem protegê-la, sem abraça-la, sem dizer que tudo ficaria bem.

Lentamente caminhei até ela. Me sentei ao seu lado, afrouxando suas mãos com delicadeza. Não queria que ela tivesse uma marca como aquela no corpo. Beijei o topo de sua cabeça e a puxei em minha direção, consolando-a de maneira desajeitada. Quando minha boca finalmente se abriu, as palavras vieram naturalmente, sem que eu planejasse as dizer...

– Eu preciso de você, Rose Weasley, como eu preciso do ar para respirar; como eu preciso do sol para aquecer meu corpo; como eu preciso de alimento, de carinho, compreensão, amor... E eu sei que você é como a gravidade para mim, sem duvida. Você me mantém aqui, ao seu lado e se eu estiver aqui, tenho tudo o que preciso para sobreviver.

Ela soluçou mais três vezes, se afastou um pouco de mim e limpou seu rosto. Seus olhos azuis penetrantes estavam mais lindos do que jamais os vi. Carregavam uma certeza. A certeza de que minhas palavras eram sinceras, que eu precisava dela e não deixaria que ela fosse a lugar algum – e se fosse, me teria grudado nela como cola.

– Eu te amo, Scorpius Malfoy. – ela sussurrou, bem próxima ao meu rosto.

– Eu também te amo, Rose Weasley. – sussurrei de volta, beijando seus lábios levemente.

Após esse breve beijo, ela se aconchegou em meu peito e ficamos juntos ouvindo o som dos trovões e relâmpagos. A chuva, que havia tirados de nós dois uma pessoa importante, agora nos unia. Assim como a gravidade, que nos mantinha um perto do outro. Nos aproximando cada vez mais, impedindo que nos separássemos. Impossibilitando a dor de prosseguir em nós dois.

A gravidade, minha amiga de tanto tempo atrás, que antes me trouxe tristeza, agora mantinha a razão do meu sorriso constante ao meu lado. Eu enfrentaria quem fosse – todos os Weasley, mesmo não podendo conta-los já que eram muitos – principalmente Ronald. Eu permaneceria ao lado de Rose, custasse o que custasse, e o convenceria de que o amor que sentia por sua filha era verdadeiro. Eu o faria esquecer o passado e apenas ver que o futuro era brilhante para mim e Rose. Minha Rose. Minha rosa. Minha Weasley.




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Notas finais do capítulo

Gostou mesmo diva? '~' Outros leitores lindos que venham querer ler essa fic, vocês gostaram? Mereço reviews? *-*
Obrigada, de qualquer forma! oo
ScorpBeijos ;*



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