E Se Não Tivéssemos Ido Para Os Jogos? escrita por Bia Vieira
Me sento ao lado de Phoebe que olha pra mim séria.
-Me desculpe...
-Tudo bem, não precisamos falar nisso.
-Não, eu quero. Olha eu só acho que você não deveria tratar uma pessoa que você ama de uma forma daquelas, isso não é amor Clove!
-Phoebe...
-E você devia mesmo falar pra ele que o ama, um garoto como o Cato com uma garota como você? Os dois se merecem, não podem ser o contrário quando duas pessoas más ficam juntas acaba se tornando bem...
-Olha eu...
-... e você vai fazer isso agora mesmo! - ela se levantou e me fitou com uma mão estendida.
-Senta aí e deixa eu te contar o que aconteceu.
-Não, você vai contar ao Cato que...
-Senta! Tem a ver com ele.
-Ah agora fica interessante. - ela se sentou e pareceu uma criança ouvindo histórias. Contei tudo a ela.
O mais engraçado foi as caras e bocas dela, hilário, no final ela ficou com uma expressão meio preocupada.
-O que foi?
-Clove, não acha que o Cato só te beijou por querer alguma coisa?
-Não sei...
-Deveria saber. Tá suspeito.
-Eu vou resolver isso, tá? Agora é melhor eu ir, devem falar as notas dos tributos agora.
Me despeço da Phoebe e vou pra casa, entro e vejo que Caesar ainda está tagarelando.
-Vamos as notas!- ele diz.
Um garoto com um pescoção aparece na televisão, seu nome é Marvel, nota 9. Uma garota loira com cara de piriguete aparece logo depois, ignoro. Quando chega em Jack eu me surpreendo com um 10 e Bianca idem. Explodo de alegria, pulo e abraço meus pais, eu fico feliz que ela tenha conseguido uma nota assim, foi bom.
Comemoramos até anunciarem o distrito 5, vemos o resto e não nos surpreendemos com a fraqueza, ao chegar no 12 eu acho um absurdo a nota do garoto ser 8, ele não aparenta ter algum talento além de aparecer. A garota tira um 11.
-O que?! - minha mãe grita.
-Não acredito. - diz meu pai.
Eu não suporto ver a cara da garota, pego o controle e de imediato taco na televisão, causa um buraco, fiz um grande estrago pelo menos não vejo mais a cara da garota.
-Clove! - meu pai berra irritado, me encolho no sofá e o encaro com uma expressão surpresa.
-Se controle, minha filha, você não pode sair quebrando as coisas! - diz minha mãe, rígida.
-Eu não consegui.
-Tá errada! Vai pro quarto, você tá de castigo.
-Eu não tenho mais dez anos pai! - berro.
-Mas mora debaixo do meu teto e é minha filha!
-Ah então o que acha de eu sair de casa?! - estamos de pé um na frente do outro, ele ergue a mão pra me bater mas eu a seguro com força, sua mão é pesada demais...
-Henrique, pare! - minha mãe diz chorando, ela puxa meu pai que está explodindo de raiva.
-Acho que a sorte não esteve ao seu favor quando tentou me bater. - provoco rindo, ele corre atrás de mim mas eu me tranco no quarto rapidamente, vou arrastando com rapidez uma mesa bloqueando a passagem, ouço os barulhos dos socos del na porta e morro de medo, a porta começa a tremer e eu fico desesperada, pego uma mochila, ponho roupas, armas, o Coisa, um tênis (além do que eu estou usando) e pulo pra fora da janela. Tento parecer cautelosa.
Quando olho pra janela perto da sala da minha casa, vejo que minha mãe está apanhando demais, eu queria ir alí e bater nele mas eu não sou nada comparada a ele, ele é bruto, descontrolado e minha mãe... bom ela é como eu mas ela não consegue bater no amor de sua vida.
Aquilo não era mais eles.
Agora era o Cato que batia em mim, eu estou começando a suar frio, vejo o rosto de Cato perfeitamente. Só consigo me concentrar em achar um local escuro e seguro, daqui a pouco vai chover, os trovões denunciam isso.
-Vá dormir, garota. - tomo um susto e me viro dando de cara com o loiro brutamontes que eu estava imaginando.
-Que susto!
-Tá na hora de criança ir dormir.
-Cato, sério, eu não tô pra papo e afinal... o que tá fazendo aqui?
-Eu tenho passeios noturnos.
-Mata o tempo assim? Aposto que fica subindo em árvores na floresta.
-Não, não consigo mais, estou pesado. Eu fico é sei lá... me escondendo pra não ser visto pelos Pacificadores.
-E dá certo?
-Bom, uma vez não deu certo, eu tenho agora uma dívida, mais duas e eu viro um Avox ou um Pacificador.
-Seria triste... pra você.
-É... e você, o que tá fazendo aqui?
-Quebrei a televisão quando vi a nota da garota do 12 e meu pai tentou me bater.
-Até que a garota do 12 é gata... a do 1 também. - olho fulminante pra ele. - Mas eu prefiro as baixinhas nervosas.
-Por favor, não tô com cabeça pra brincadeira.
-E pra onde planeja ir?
-Sei lá, casa de alguém.
-Tenho um lugar melhor, venha. - ele pegou na minha mão pela primeira vez e me levou a um canto entre duas casas, havia uma porta pra um porão, ele entrou e eu também. - Esse é o porão da minha casa, pode ficar aqui se quiser.
-Não eu fico na casa de outra pessoa...
-Ei, já deu o limite de andar nas ruas, vai ficar lá mesmo com risco de ter que ter uma dívida com a Capital? - ele ergueu as sobrancelhas esperando uma resposta.
-Tá eu fico.
-Pode dormir naquele sofá alí.
-Aqui tem muitas aranhas?
-Não muitas. Quando faço o que não devo, minha mãe manda eu limpar isso aqui.
-Por isso que tá sempre limpo. - ri pra ele e ele riu de volta. - Não é meio estranho você ter 18 anos e morar com os pais?
-Só saio depois de casar, foi o meu trato.
-Que trato?
-Longa história, vá dormir. - ele se aproximou e beijou minha testa. - Boa noite, Baixinha.
-Boa noite, bebê da mamãe. - ele riu.
-Se contar pra alguém eu te mato. - nós rimos e ele saiu do porão, apaguei a luz e me deitei no sofá.
Sem hesitar nem olhar ao redor, dormi.
Não passou nem um minuto e eu ouço passos, vejo alguém descendo a escada e acendo a luz. Dou de cara com Cato descendo na surdina.
-Cato? - sussurro esfregando os olhos.
-Foi mal, eu tive um problema lá em cima.
-O que?
-Um Pacificador quase me viu.
-Então essa é sua desculpa pra dormir aqui? - pergunto irônica.
-É, chame do que quiser, dá espaço aê. - eu chego pro lado e me encolho na direita, ele não se encolhe na esquerda, ele apenas se senta meio deitado totalmente relaxado. - Vem pra cá.
-Não, valeu.
-Sério, tá frio, não vai ser nada demais.
-Não confio em você.
-Poxa... eu deixei você dormir aqui.
-Então vou pra outro lugar.
-Não, quer ser vista?
-Tá.
Eu me aproximo dele e me permito descansar, Cato me envolve com seus braços quentes e fortes e eu relaxo muito facilmente.
-Até que é confortável ficar assim com você, achei que cortaria meus pulsos. – ele diz.
-Pensei que iria me esmagar.
-Só pelo tamanho do meu braço? Anda reparando né...
-Cato, seu braço tá em volta de mim, como não repararia?
-Tá... fecha os olhos e dorme, você tá segura aqui.
-Não confio muito.
-Eu também não, só estou tentando te acalmar. – sorrio mas ele não deve ter percebido. Fecho meus olhos e adormeço com o calor que ele transmite atrás de meros e musculosos braços.
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