E Se Não Tivéssemos Ido Para Os Jogos? escrita por Bia Vieira


Capítulo 5
Coração de ouro.




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Cato começa a ri e as patricinhas também, Shal continua me olhando com as sobrancelhas arcadas e um sorriso maligno. Vagabunda.

-Isso não é meu. - digo.

-Prove. - ela diz.

-Não é a minha letra.

-Não? - diz uma das patricinhas me estendendo uma caneta. - Escreva então.

Pego a caneta, mas não escrevo, cravo a caneta no braço de Shal e pego o Coisa e saio correndo. As garotas ficam horrorizadas com a tamanha força que eu enfiei a caneta em seu braço, ela pode morrer... dane-se eu não ligo, trabalhar na Capital ou ser Pacificadora não é tão ruim.

Corro para o quarto ignorando minha mãe. Me tranco lá e tento não chorar, procuro um abrigo pro Coisa ficar e ninguém conseguir tocá-lo.

Percebo que atrás de um quadro do meu quarto, um quadro com preto e branco de sei lá quem, escolha da minha mãe, bom ele tem um buraco. Não penso muito. Saio pela janela, pego a maior pedra que vejo e volto para o quarto, ignorando os olhares confusos das pessoas em volta.

Bato a pedra com força na parede e ela racha um pouco, bato com mais força mas não acontece nada. Cato e a Shal. Penso neles e então bato com toda força que tenho e faço um buraco maior, suficiente pra guardar o Coisa. O guardo e deito na minha cama.

-Minha vida é uma droga. - eu tento não chorar, mas tem tanta coisa... eu finjo não estar mas estou preocupada com a minha irmã. Eu estou preocupada com o que Shal vai fazer e como Cato vai me humilhar... cadê as respostas?

Vou até a sala e vejo que só minha mãe está em casa.

-Cadê meu pai? - pergunto.

-Trabalho.

-Ué, mas e a folga por causa dos Jogos?

-Era uma coisa importante. - me viro e pego o telefone. - Clove, espere. Senta aqui comigo.

Me sento quieta ao seu lado e encaro seus olhos, torço pra não estar com lágrimas nos meus pois se eu tiver ela saberá que eu quase chorei. Quase. Eu sou forte, não posso dar o luxo de chorar.

-Você estava chorando.

-Não, não estava. - digo rapidamente.

-Então por quê está falando rápido?

-Porque não é a verdade. - ela me fita por um tempo e então pega minha mão.

-Pode me contar qualquer coisa.

Não eu não posso! Amo minha mãe mas ela é fofoqueira, barraqueira e sensível. Ela era do Distrito 1, mas passou demais os limites e conheceu meu pai, ela fugiu pro 2 por causa dele e sem ninguém saber, ela mora aqui. O relacionamento dos meus pais não tem andado muito bem há uns dois mêses, eu sempre estranhei a quantidade de brigas por dia que eles tiveram, uma vez minha mãe levantou uma faca pra ele, uma vez ele bateu nela mas no final acabam se desculpando. Não gosto de vê-los brigando, mas procuro me manter quieta e fazer o que sempre fiz, engolir a dor e pensar em coisas mais importantes. Só que eu fazia isso quando eram coisas bobas, essa já é forte e a descoberta do Coisa de Shal... aquilo poderia fazer eu perfurar milhões de braços com canetas, que tentassem me humilhar.

-Mãe... eu não tenho nada a dizer.

-Quem é o garoto?

-Hã?

-Você nunca ficou assim, me diz.

-Não tem garoto nenhum.

-Sei... só digo uma coisa. Não deixe homem nenhum te pôr pra baixo, você é superior, sempre foi e sempre será, e todo garoto que causa mal a uma garota deve ser porquê a ama. - ela beija minha testa, sorri e sai da sala.

Fico olhando para minhas mãos e vejo que há um coração de ouro. Não sei o que aquilo quis dizer. Acho que... ela está insinuando que Cato me ama? Não, de modo algum! Ele é um brutamontes, babaca... somos agressivos e nervosinhos mas... exceto isso nada.

Decido andar pelo distrito, havia movimentação, pessoas entrando e saindo de lojas e eu passeando. Enquanto andava, vi um pássaro, um gaio tagarela, ele estava alí. Fui na direção dele, vi o seu bico se mover e produzir a voz do Cato.

"Não fala nada dela, coitada, vai ser mais humilhada do que já é"

"Não, Cato!" era voz de Shal "Ela é uma baixinha irritante, ela me furou!"

"Mas eu te ajudei"

"Nada feito."

"O que eu preciso fazer pra te convencer?" até eu responderia essa.

"Nada, eu vou entregar a nanica pro prefeito" fiquei de olhos esbulhados, assustou o pássaro mas ele continuou "falando".

"Por favor, olha, o que você vai ganhar? Não vai poder mais humilhá-la, não quer ver ela sofrer? Eu posso fazer isso."

"Como?"

-Ele vai fazer besteira. - solto.

"Ele vai fazer besteira". O pássaro me copia e depois voa na direção da floresta. Nunca mais vou saber o que Cato fará pra me humilhar.

Olho para os lados e vejo que não há ninguém, vou andando devagar pela floresta enquanto o sol se põe. Admiro a vista mas logo me escondo no enorme buraco em que caí com Cato. Me espremo contra o buraco e tento esvaziar a cabeça.

Bianca, Clove. Sua irmãzinha nos Jogos, não seria bom vê-la vencer? E vai ser! Pense nela!ecoa na minha cabeça.

Não, eu preciso descobrir o que o Cato vai fazer.Penso simbolizando meu coração.

Quero fazer o que o meu cérebro manda, eu penso, fecho os olhos e sorrio imaginando Bianca matando o último tributo e se tornando a vencedora. Mas aí não é mais ela, sou eu. E Cato está no chão, morto. Balanço a cabeça e tento me concentrar no rosto de Bianca, sim, ela vencendo. Uma ótima visão. Mas abro os olhos com medo de acontecer de novo.

Não tem mais a luz do sol se pondo, está escuro agora, tento ver o que está bloqueando a luz e vejo um garoto loiro e forte me olhando fora do buraco, agachado.

-Eaí, Baixinha. - ele sorri e entra no buraco.

-Ah, tô de saída. - tento sair.

-Não, espera, quero falar com você.

-Eu não quero....

-Senta aí que eu vou falar, caramba. - ele diz duramente, me sento e fico observando ele com cara de tédio. - Olha, eu sei que a Shal estava de implicância...

-Ela sempre está.

-É, mas olha pode guardar pra si mesma que gosta de mim, não tem problema.

-Enfia - eu chego perto dele e cutuco a cabeça dele - nessa mente desorientada que eu não gosto de você! - em afasto.

-Sim ou não, por que você correu pra longe e enfiou uma caneta no braço da garota? Sabia que ela vai ficar um bom tempo tomando remédio e usando casaco só pra ninguém ver e ela não te dedurar?

-O que você fez pra convencê-la? O de sempre...

-Não, eu só pedi. Ela disse que não vai fazer nada.

O encaro por pelo menos um minuto.

-Sério, o que você fez?

-Nada eu te juro!

-Prove!

-Quer que eu a chame aqui?

-Não! - eu falo rapidamente antes dele se levantar.

-Você gosta de ficar sozinha comigo não é?

-Confesso que sim, mas não significa que gosto de você. Daríamos bons amigos.

-Só isso? Ah...

-Cara, porque eu? Você poderia ficar irritando com essas suas cantadas qualquer garota mas eu?!

-Clove você é especial...

-Para com essa babaquice! - tento manter a voz dura, mas se eu exagerar vou gritar.

-Garota, acha que eu tô mentindo? - ele agora não está de brincadeira, está realmente sério e apertando meu braço.

-Acho! - estremeço.

-Eu não minto sobre sentimentos!

-Duvido!

-Como tem certeza que eu minto?

-Ué, você não tem sentimentos!

-Claro que sim.

-Mentira! - estamos quase gritando quando ele me olha com raiva, ele aberta meu raço com muita força mas faz mais uma coisa, ele agora está colado em mim, se jogou praticamente e colocou seus láios nos meus. Fiquei completamente assustada com isso, nunca esperaria isso dele, mas eu não sei... senti algo estranho, estou tão nervosa... nervosa a pensar que estou odiando ele. Lanço o punho na sua cara e ele se afasta com a mão no rosto. -Não faz mais isso.

-Clove, é sério, não precisava me socar!

-Eu não sou aquelas garotas, Cato!

-E eu disse que você é? - ele agora está me olhando. - Você é na verdade uma garota que desconfia de tudo! De um pouco de alívio pras pessoas! Aposto que não fala mais com a Phoebe por desconfiar de que eu sou um idiota mas você só pensa isso porquê gosta de mim! - ele grita.

-Cato...

-O que?

-Melhor corremos de volta pro distrito, antes que os Pacificadores cheguem.

Saímos do buraco e corremos de volta. Já ouvimos passos de Pacificadores vindo do oeste então começamos a correr.

-Rápido! - ele diz e pega minha mão me fazendo correr mais rápido.

Passamos pela cerca e nos escondemos atrás de uma loja fechada, já está escurecendo.

-Parece que temos uma conexão de ficar juntos a noite. - disse ele.

-Chega de teatrinho.

-Espera. - ele pegou de novo meu braço, que agora tá dolorido. - Pensa no que aconteceu hoje, eu não estava mentindo.

Solto o braço e assinto, caminho de volta pra casa e vejo a Phoebe sentada em um banco perto de lá, me aproximo dela e me lembro das palavras de Cato.

“Eu não estava mentindo”. É, agora eu entendi o que o coração de ouro que minha mãe me deu quis dizer. Toco em meu bolso da calça e percebo que ele tá ali. Guardado, e eu o guardarei como se fosse um coração real, o de Cato.


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Notas finais do capítulo

Galera, não tava empolgada, prometo que o próximo vai ter inspiração :)
Recomendem e leiam O Ponto de Vista do Marvel :D