E Se Não Tivéssemos Ido Para Os Jogos? escrita por Bia Vieira


Capítulo 12
Dores parte 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/236959/chapter/12

Vou para casa e não me preocupo em entrar pela porta da frente. É estranho saber que não tem um pai maluco esperando pra te enforcar e te ameaçar… nunca mais vou ouvir aquilo. Não vindo dele.

Entro em casa e vejo tudo normal e arrumado. O rastro de sangue e as gotas de sangue haviam desaparecido, também né, minha mãe teve um bom tempo pra limpar tudo, mas parecia que não havia acontecido nada. Estava tudo em seu lugar. Não tenho medo de entrar, cambaleando. Me sento no sofá e espero um pouco a dor amenizar. Meu pé piorou.

- Ai. - solto um pequeno gemido de dor, corri muito e esforcei demais um pé machucado, a essa altura deve já ter quebrado, mas, acho que não quebrou. Ainda.

Depois de relaxar um pouco o pé, o esforço a “trabalhar”. Me levanto e pego curativos para meu pé. Acho uma injeção de morfina importada do distrito 6. Troco a agulha e aplico bem no pé, a picada dói um pouco mas depois eu paro. Já não sinto mais a dor. Faço o curativo e fico sentada esperando um pouco até acabar adormecendo escostada na parede do banheiro com o pé enfaixado e… dopado.

- Clove? Clove, querida, vá pra cama. 

Abro os olhos com uma voz calma e serena, sim, eu a reconheço.

- Mãe…

- Venha, eu te ajudo.

Minha visão está embaçada, como sempre fico todas as manhãs. Só sinto que estou andando e que o efeito da morfina já saiu há um tempo. Caminho devagar com a ajuda de minha mãe e ela percebe que estou machucada. Me deito na cama e ela me observa.

- Me desculpe. Eu sinto muito mesmo, querida.

- Sente o que, mãe? - pergunto zonza.

- Por te envolver nisso. Eu… eu não queria é só que…

- Mãe.

- Fale.

- Só me explica o que aconteceu, eu tenho o direito de saber.

Ela engole em seco e senta na minha cama. Pega minha mão e se prepara emocionalmente pra dizer. Se fosse comigo também não seria fácil.

- Seu pai estava tentando me explicar o que havia acontecido mas… não era a primeira vez que isso aconteceu, ele já me traiu antes e isso fere demais o coração de uma mulher.

Seus olhos lacrimejaram.

- Isso aconteceu há uns anos atrás, mas eu o perdoei… ele havia prometido que não iria fazer aquilo de novo mas ele fez e… ele jurou pela vida dele.

- Mas você não podia ter o matado por isso.

- Eu não o matei por causa disso! - ela elevou a voz e começou a chorar evitando me olhar, olhando fixamente pra parede. - Ele tentou me controlar mas sabe que seu pai estava em dias complicados desde a colheita, e ele começou a me obrigar a perdoá-lo.

Meu pai odeia os Jogos. Ele finge gostar mas eu lembro dele vendo fotos do tio Dayo. Meu tio tinha dezoito anos completinho quando foi selecionado para os Jogos. Era forte, dava medo, mas, não conseguiu ganhar por estratégia de jogo, morreu queimado… detalhes? Só sei que foi queimado. Desde a morte dele, meu pai nunca mais quis tocar nesse assunto, mas, sempre chorava ao lembrar dele e se trancava no quarto um dia depois da colheita. Dayo era mais novo, eu tinha só quatro anos quando ele morreu, ele sempre foi um cara legal e eu sinto falta dele. Ainda lembro do rosto dele… e imagino como deve ter sido difícil pra ele esses últimos dias, principalmente com uma das filhas na arena.

- Ele ainda sente falta do meu tio, não é? - pergunto.

- Sentia sim, e com a Bianca na arena as coisas não melhoraram nada pra ele.

Imagino como seria se Bianca morresse queimada e eu observando... sem fazer nada. É, seria difícil suportar a dor.

- Filha, você sabe que sempre foi difícil aguentar seu pai desde o início da colheita até o final dos Jogos. Mesmo que tenha um vencedor nativo do distrito 2 mas... é difícil pra ele, sabe? E bem eu o entendo mas ele me traiu e me agrediu, eu não fiz de propósito, não quero ser uma assassina, já basta os problemas da mudança de distrito. Mais alguma coisa e eu viro Pacificadora ou Avox. Não posso te deixar sozinha no mundo, além do mais agora com a probabilidade de eu te abandonar por obrigação e da Bianca morrer... - sua voz falhou ao mencionar Bianca, parece que isso era mais difícil do que ela virar Pacificadora ou Avox.

- Mãe, eu tenho que te contar uma coisa. - digo, culpada.

- O que?

- Eu... meio que fui descoberta.

Seus olhos saltaram e ela me olhou muito assustada.

- Alguém te viu enterrando seu pai? Algum Pacificador?!

- Bem... sim, mas eu escapei e eles não conseguiram me ver. Mas uma pessoa envolvida nisso me viu.

- Quem?

- Mãe... lembra do garoto repetente da minha sala, o Cato? - ela assenti. - Bem, a mãe dele era a amante do meu pai.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acham que a mãe da Clovelinda vai fazer?
A - Pirar e matar a Clove XD tá... isso não mas: Pirar
B - Ir atrás da família do Cato e arranjar briga
C - Algo diferente das opções acima (deixe o review achando o que ela vai fazer)