Bella Problema X Edward Solução escrita por Lunah


Capítulo 49
4ª Fase: Capítulo 13 - Lições Aprendidas


Notas iniciais do capítulo

Olá, hermanos e hermanas! Eu sei que vocês querem me matar pela demora, mas eu me dei ao luxo de curtir as festas de final de ano, né? Também sou filha de Deus. Boa leitura!



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4ª Fase: Capítulo 13 - Lições Aprendidas

Carlisle´s POV

De pé em frente à janela do meu quarto, observei a garoa molhar a relva do jardim. Atrás de mim, Esme descansava na cama. Ela tivera um mal súbito, o que me preocupou muito no início, mas seu estado agora era regular. No momento não parecia haver risco para ela e o bebê.

Não consegui tirar os olhos da entrada da casa, tinha esperanças de que minha filha voltasse. Os rapazes haviam saído para procurá-la. Eu, como médico, tinha obrigação de ficar com Esme. Inquieto, não consegui ter paz.

Olhei de relance para minha noiva, verificando se havia lhe dado soro suficiente. Nem isso eu estava fazendo direito. Depois, meus olhos automaticamente voltaram-se para a janela.

Era difícil administrar a preocupação e remorso que sentia naquele momento, por isso não pude deixar de pensar: sou um péssimo pai!

Encostei a cabeça na vidraça e, ao fechar os olhos, algumas lágrimas escorreram por meu rosto. Não sabia mais o que fazer com Bella.

Entendia que ela sofria e que tinha problemas, mas todas as vezes que lhe tentei ajudar no passado, até mesmo com ajuda profissional, ela se recusou e eu não podia forçá-la. É impossível ajudar quem não quer. Agora, sempre que tentava lhe transmitir algum carinho, ela se afastava, erguendo uma barreira entre nós. Simplesmente, não sabia como driblar essas barreiras sem invadir seu espaço. Tentava ser um pai firme, mas não autoritário, compreensivo, mas não liberal, presente e não controlador e, ao meu ver, estava falhando em tudo.

Não era fácil ser pai e mãe ao mesmo tempo. Com Rosalie, as coisas eram relativamente mais fáceis, pois ela sempre vira a vida sob uma perspectiva diferente. Já Isabella, era frágil e confusa. Toda sua rebeldia e jeito agressivo eram apenas uma armadura forjada à muita solidão e dor. Era exatamente por isso que eu ainda não havia casado com a mulher que amava, não queria lhe infligir mais sofrimento e tinha esperanças de que pudéssemos resolver nossas diferenças antes. Esperava pacientemente que ela aceitasse minha escolha.

Por que tudo tinha que ser tão difícil? Será que Bella não conseguia ver que estava sendo um tanto egoísta? Ela mesma estava começando a fazer escolhas na vida que não me incluíam, como; faculdade, carreira, namorado, talvez, futuramente um matrimônio. E eu? Ficaria solitário para sempre? Seria um daqueles velhos que moram sozinhos e os filhos só visitam em feriados? Eu também queria ser feliz! E isso nunca, absolutamente nunca mudou meu amor por ela e nem minha vontade de tê-la por perto. Talvez, um dia, quando Bella tivesse seus próprios filhos, finalmente me entendesse.

Enxuguei qualquer vestígio de lágrimas e fitei Esme. Lógico que fiquei chateado com o que ela e Edward fizeram. Bella não merecia ter sido enganada. Mas aquele assunto, eu conversaria com os dois em um momento propício, pois, sinceramente, não acreditava que tinham feito por mal. Por mais duro que fosse, Edward tinha razão. Aquilo mudara minha filha. Não tinha intenção de que isso acontecesse, apenas queria que fosse mais compreensiva.

Ficamos felizes com a atitude de Bella ao pedir para Esme adotar Nessie, era uma das provas tangíveis de seu amadurecimento, que, infelizmente, aconteceu em más circunstâncias. Todos ficamos esperançosos, pois ela demonstrara o quanto havia bondade em seu coração. Gostaria de poder dizer a ela o quanto me orgulhei de seu ato.

Se Bella não voltasse até o anoitecer, eu varreria o Estado atrás dela, precisava ter minha menina em meus braços. Bella sofria e, por isso, eu sofria!

Esme´s POV

Permaneci de olhos fechados, fingindo dormir, para não ter que encarar Carlisle. A culpa mal me deixava relaxar. Não conseguia entender como meu plano, que naquela altura pareceu-me tão bom, acabou se virando contra todos nós. Realmente desejava que Bella e Edward se acertassem. Eles brigavam muito na Itália e sofriam, incapazes de levar aquele romance de verão adiante. Achava que ambos precisavam de um choque de realidade e ver como seriam suas vidas, longe um do outro. Eles podem até ter descoberto que não serão felizes separados, mas o preço que pagamos acabou sendo alto demais. Temo que Bella nunca me perdoe, Carlisle me culpe pelo sofrimento de sua filha e Edward seja infeliz. Ainda assim, eu tenho esperanças, tenho fé de que tudo terminará bem.

Deus, como queria que ela entendesse que nunca usei Edward par persuadi-la! Nunca foi minha intenção manipular suas ações. Tu conheces meu coração e sabe que isso é a mais pura verdade. Por favor, ajude Bella a entender que nenhum de nós está contra ela e sim, com ela. Nessa história, não existem vilões ou mocinhos, somos todos seres falhos. Cada um tentando fazer seu melhor do jeito que pode, às vezes acertando, às vezes errando, mas no final, estamos todos certos e todos errados. Senhor, ajude Bella a perceber isso. Ajude-a a se encontrar.

Rob Thomas - Ever the Same

Edward PDV

Eu e meus irmãos procuramos Bella por todos os lugares possíveis. Era lamentável voltarmos para casa de Carlisle de mãos vazias. Enquanto Emmett dirigia, me mantive quieto, observando a chuva através do vidro. Na estrada fria e vazia de Forks, minha consciência trouxe-me lembranças de Verona, da conversa que tive com minha mãe. Um momento em minha vida que desencadeou uma série de acontecimentos incontroláveis e imprevisíveis. Aquela não era a hora certa para tais lembranças, mas elas insistiam em me confrontar. A voz de Esme ecoava na minha cabeça, misturando-se ao rosto que eu via sempre que fechava os olhos. Sim, o rosto de Bella.

...

– Irão discutir e se reconciliar várias e várias vezes até que, um dia, um de vocês ou ambos irão desistir. Não tem amor que resista a tanto conflito. Já vi isso acontecer antes.

...

Passei as mãos pelos cabelos, torturado demais para manter uma linha de raciocínio coerente.

...

– A menina está travada, por causa dos traumas e medos. Ela precisa quebrar essas correntes que a envolvem ou nunca conseguirá ser feliz. Isabella precisa se confrontar e decidir o que é mais importante, a redoma que criou em volta de si ou os sentimentos por você...

...

Bati a cabeça contra o encosto do banco, muitíssimo frustrado.

Na época, achava que Swan era forte como rocha e suportaria minha escolha, meu erro. Eu não tinha outras opções, nós nunca conseguíamos dialogar porque acabávamos brigando. Como eu podia adivinhar que aquele plano idiota, no final, seria motivo de tanta angústia? E pior: como eu podia adivinhar que Bella sofreria tanto a ponto de chorar? Ela nunca chorava. Me culpei por não ter enxergado todos os possíveis resultados de minhas ações. Estava concentrado em não perdê-la e acabei perdendo-a de várias formas.

Suspirei e outras lembranças vieram à tona. Agora, a voz em meus pensamentos transtornados, era da própria Bella.

...

– Você...me partiu ao meio! Me fez sofrer tanto que... que passei a te querer de qualquer jeito, não importando as circunstâncias ou as loucuras que teria de fazer, só para acabar com o vazio no meu peito! O pior é que aceitei, me conformei, abandonei tudo que eu acreditava só para te ter de volta!  

...

Irônico! Sentia-me exatamente como ela. Fiz de tudo só para estar perto de Bella, mesmo que isso significasse entrar nas confusões que ela atraía. Assim como Swan, me sentia dividido. Existiam dois de mim. O primeiro era aquele que sempre se colocava à frente de tudo, tentando solucionar os problemas, achando que era forte o suficiente para arcar com as conseqüências. No entanto, agora, não conseguia ajudar a si próprio. Sentia-se totalmente deslocado. O segundo era o viciado, o qual não ligava para mais nada além de Bella e todas as suas facetas, pois a amava igualmente: fosse a rebelde, a encrenqueira, a tímida, a sexy, a madura, a medrosa, a sarcástica, a sensível, a carinhosa e a problemática... todas elas ainda eram a minha pirralha, ainda eram o meu frango!

– Pára o carro. – Falei quando já estávamos perto da casa.

– O quê? – Emmett ficou confuso.

– PÁRA O CARRO! – Precisei gritar para ele perceber que eu falava sério.

O bisonho freou abruptamente e, sem pensar duas vezes, falei, já abrindo a porta.

– Saiam!  

– Edward, o que foi? – Questionou Jazz.

Eu tinha consciência dos meus erros, mas não ia me esconder atrás deles. Bella podia desistir de mim, mas eu não ia desistir dela.

Dei a volta no carro e abri a porta do motorista. Arranquei Emmett de lá, dizendo:

– Estou indo para Hanover, avise ao Carlisle!  

– Edward, ficou doido? Bella não vai voltar para casa! É melhor esperar ela entrar em contato. – Jasper tentou me persuadir, preocupado.

– Cabeçudo, se acalma aí!  

Dei ré, sem querer ouvir o que falavam.

– EDWAAARD! – Jazz gritou, enquanto eu me afastava.

Em segundos, acelerei o suficiente para que eles e todas as dúvidas ficassem para trás. Não conseguia conviver com aquele vazio dentro de mim, incomodava e me deixava fraco. Assemelhava-se à fome, só que mil vezes mais doloroso. De repente, me lembrei do dia que contei à Pirralha porque a chamava de meu frango.

Na auto-estrada, fiz o Mercedes atingir os 180km/h. Como eu sabia que Swan voltaria para Hanover? Simples, eu podia não conhecê-la completamente, mas a conhecia mais do que qualquer um. Bella podia lutar, resistir, demorar, mas voltaria. Não podia fugir do que vivemos, não podia esquecer as marcas que deixamos um no outro.

Bella´s POV

Pilotei sem rumo por um longo tempo, atordoada demais para notar qual caminho seguia. Só quando a chuva se tornou uma grossa cortina de água à minha frente, foi que parei em um motel barato de beira de estrada. Minha localização era um mistério até para mim mesma, porém, devia estar mais perto de New Hampshire do que de Forks.

No quarto simples, joguei sobre uma mesa as chaves da moto, meu celular desligado e o pouco dinheiro que ganhei no Cadillac Ranch. Não tinha documentos e nem sabia para onde ir. O mais estranho é que não me importava com isso. Despi-me lentamente. Em seguida, me escondi embaixo das cobertas.

After Forever - Alone (Heart Cover)

Tentei fugir das vozes que emanavam de minha memória e enchiam o quarto, como se gritassem para mim. Sozinha, meu coração me levou à uma viagem ao passado. Ali estava eu, refém de meus próprios sentimentos.

Contorci-me, ao recordar momentos que fizeram a diferença em minha história.

 ...

– Querida, esses rapazes são os filhos de Esme. – Carlisle nos apresentou em Forks.

...

Eu bem lembrava do dia em que bati a cabeça ao tentar limpar o banheiro do Cullen por causa de sua chantagem boba.

...

– Eu estou legal, eu não me importo... – Dei de ombros. – Ninguém se importa!  

– Eu me importo.

...

Por um momento, até me senti na ponte Pietra, quando fiz um acordo com meu rival que mudaria minhas motivações de vida.

...

– Simples, você só tem que deixar minha mãe e meus irmãosem paz. Nãointerferir no relacionamento de nossos pais.

...

Coloquei as mãos no rosto, tentando não lembrar do beijo que ele me dera aquele dia.

...

Edward aproximou ainda mais seu rosto do meu, seus lábios roçaram nos meus, em um toque sutil, despertando sensações em mim que jamais sentira. Sua mão direita percorreu vagarosamente meu braço até chegar a minha nuca, e seus dedos entrelaçaram-se em meus cabelos me fazendo estremecer. Pude sentir a ponta da língua dele em meu lábio inferior. Em seguida, ele sugou levemente meu lábio, meus olhos fecharam-se, quando me entreguei a aquela sensação...

...

Sentei-me, com vontade de gritar por ser incapaz de lutar contra as recordações. Minha reação causou um típico espasmo de angústia em meu peito, fazendo cair sobre mim, uma torrente de frases ditas por ele, frases que me castigavam.

...

– Que encontro? Fui eu que fiquei com o frango. É MEU FRANGO!  

...

– Duvido que Jake note como você ruboriza quando está envergonhada, ou como mente mal só para não dar o braço a torcer; não sabe que você pisca os olhos rapidamente ao ficar confusa; ele não reconhece seu olhar melancólico, ou como fica engraçada quando fala palavrão, jamais perceberia que gagueja nos momentos em que fica constrangida. Ele não sabe que você estremece quando é beijada.

...

– Quero dizer que... estou apaixonado por você!  

...

– É mesmo estranho estarmos aqui hoje, juntos. Parece até que estamos desafiando o destino.

...

– ...Vou pedir carne, porque é mais a minha cara. Daí,o sujeito da mesa ao lado pede frango. Quando o pedido dele chega, percebo o quão lindo e tentador é aquele frango. No início, podia ser um pouco de inveja ou algo parecido. Mas depois que roubei e provei o frango dele, notei que nunca havia comido nada tão gostoso. Me satisfez, deixou-me feliz. Passei a adorar frango, mais do que qualquer coisa. Se eu ficar sem ele, sentirei fome, sabe?...Aquele vazio, que te perturba a todo segundo? Você é bem assim, te odiava no início, Rosalie fazia mais o meu estilo. Porém, quando começamos as aulas para você conquistar Jake, percebi o quão linda e encantadora é. Não havia mais como resistir, te queria para mim, e fui atrás disso. Consegui a minha pirralha, e, uma vez que estou contigo, ficar longe de ti é como abrir um buraco dentro de mim.

...

– Relacionamentos não dão certo sozinhos, Swan! Exigem cumplicidade e compreensão...

...

– Caramba! E daí que eu te decepcionei? Me desculpe, não fiz de propósito. Isso não significa que vou ser um cretino sempre. E você consegue enxergar isso? Claro que não! Porque insiste em ficar focada no passado...Sua mãe morreu já faz bastante tempo, supere isso,...aprenda a lidar com perdas, porque, de um jeito ou de outro, elas sempre existirão...Não complique, olhe pro seu futuro, poxa!  

...

– Vou te mostrar o que precisa saber. O que palavra nenhuma conseguiria explicar!  

...

– Também sofri, você não imagina o quanto! Te deixar foi a coisa mais difícil que já fiz!  

...

– Eu te amo!  

...

Era desesperador tentar odiá-lo e não conseguir. Eu podia gritar em plenos pulmões que odiava todos, porém, não era o que sentia. Estava ferida e quebrantada, no entanto, não conseguia nutrir a ira que explodiu em Forks. Como era possível? O que estava acontecendo comigo?

Não consegui esquecer as coisas ruins que me fizeram, nem as boas. A idéia de que nenhum deles aceitava quem eu era, imperava sobre mim, me mantendo prisioneira naquele quarto. Eles forçavam-me a ser e dar o que eu não podia. O pior é que a frustração de não alcançar tais expectativas feria-me. Tinha medo de me olhar no espelho e já não me reconhecer. O que eu era agora? O fruto das conseqüências das vontades deles? Submissa à ponto de não conseguir odiá-los? E o bebê de Esme? Como podia abominar uma criatura que não tinha culpa de nada, mesmo que eu ainda não o visse como meu irmão? Esperava sinceramente que a criança estivesse bem, talvez ela se encaixasse melhor naquela família do que eu.

DROGA! ESQUEÇA TODOS!

Enfiei o rosto no travesseiro, enquanto as pequenas partes de mim duelavam ferozmente. Uma tentando sufocar a outra. Naquela guerra interior só quem perdia era eu.

Jasper´s POV

Na Terça pela manhã, estacionamos em frente ao nosso prédio, em Hanover. Vimcom Emmett no jipe e os demais vieram atrás com Carlisle. Assim que saí do carro, avistei Alice e Jake, do outro lado da rua, papeando. Sentindo-me traído, me lembrei de todos os conselhos dados por Edward e Emmett e resolvi abordá-los. Caminhei lentamente enquanto o restante de minha família adentrava o prédio, ainda preocupados com o sumiço de Bella.

Alice, que estava de costas para mim, não notou minha presença até que o idiota do Black a avisou.

Alice´s POV

– Jake, por favor, entenda, você é um cara muito legal, mas não posso retribuir o que sente, pois... – Eu não sabia como explicar a ele minha relação especial com Jasper.

– Shhh... aí vem seu namoradinho. – Me alertou, contrariado.

Aturdida, me virei rapidamente. Não pude reagir, ainda buscava o antigo Jasper nos olhos daquele novo Jazz.

O cabelo dele estava escuro, suas roupas eram diferentes das que eu estava acostumada. No entanto, a maior diferença era em sua fisionomia. Sua face jovial e concentrada, deixou-me sem palavras. Sem dúvida, ele ficara lindo. Só que eu estava confusa demais para expressar isso.

– Jas...per?

– Olá. – Cumprimentou sério, sem tirar os olhos do Black.

Fiquei entre os dois, tensa. O que eu deveria fazer diante dos olhares raivosos de ambos?

– Eu já sei o que está havendo por aqui. – Disse meu ex-loirinho, agora meio moreninho, com um tom de acusação. Meu coração se apertou diante da mágoa estampada em seu rosto.

– Posso explicar! – Me encolhi, tentando achar as palavras certas.

– Espero que sim. – Encarou-me.

– Ela não precisa explicar nada! – Jake deu um passo à frente e eu me apavorei.

Jasper parecia não ter mais o tórax enfaixado e os curativos haviam sumido, mas eu não tinha dúvidas de que ele ainda estava machucado.

– Tudo bem, gente... – Sorri sem graça, tentando diminuir o estresse. Não queria que acontecesse uma briga boba por minha causa. – ...vamos manter a calma, certo?

Jasper´s POV

Manter a calma? Como? A fitei, tristonho, seus olhos castanhos eram doces e sinceros como sempre foram. Não havia vestígios de falsidade em Alice, o que tornava tudo mais difícil.

– Você está com ele? – Fui direto, na esperança de tornar a situação menos dolorosa.

– Não! – Respondeu de imediato. Aflita, trocou olhares entre mim e Jake.

Encarei Black e a gota d´água foi ele ter afagado o ombro de Alice, apoiando-a de forma estúpida. Ela deu um passo para o lado, distanciando-se dele. Porém, não foi isso que me fez estreitar os olhos, surpreso, e sim, o pulso de Jake, onde havia um bracelete prateado com o desenho de um lobo gravado. Eu já vira aquele bracelete antes...

### FLASHBACK JASPER ###

Já eram quase 23:00h quando saí da biblioteca de Dartmouth. O campus estava escuro e pouco movimentado, por isso, caminhei rápido para o estacionamento. As nuvens escuras anunciavam a tempestade que logo cairia. Encolhi-me quando o vento frio soprou e caminhei ainda mais rápido. De repente, parei, mergulhado na estranha sensação de que estava sendo seguido. Olhei para trás e nada vi, além da copa das árvores balançando ao vento e as folhas secas no chão úmido. Suspirei e voltei a andar. Quando já estava próximo ao meu destino, percebi alguns vultos movendo-se rápido demais. Demorei alguns segundos para me dar conta de que eram homens, vindo até mim por todos os lados. Parei, sem saber para onde fugir, pois estava cercado. Imaginei que eram assaltantes e estava disposto a lhes entregar meus pertences. Aquela era uma briga que eu não podia ganhar, e nem queria tentar. Não era adepto da violência. 

Os homens encapuzados fizeram um círculo à minha volta e não entendi porque não tentavam pegar minha carteira e celular. O último homem se aproximou, ficando de frente para mim e fechando o círculo onde eu era a única vítima. Nervoso, puxei a carteira do bolso e o  telefone. Depois, os joguei ao chão, dizendo:

– Tudo bem, podem levar. É tudo que tenho.

Nenhum dos cinco homens se moveu. O que pareceu ser o líder, deu um passo à frente, me estudando. Paralisado, esperei. Ele andou lentamente à minha volta e deteve-se atrás de mim. O cara passou o braço em volta de meu pescoço, me imobilizando e impedindo-me de respirar. Desesperado, procurei me desvencilhar e, com força, tentei puxar seu braço, que me estrangulava. Em uma de minhas débeis tentativas, arranquei o bracelete dele, o qual caiu no chão. Meu agressor me empurrou ao solo. Quando caí, olhei deliberadamente para o bracelete e nele vi um lobo gravado no aço. Não tive tempo de raciocinar, pois os chutes e socos me atingiram cruelmente. Encolhi-me, tentando resistir. Me forcei a ficar de pé e minha tentativa foi frustrada pelo chute no estômago dado pelo líder, o que ergueu-me pelos cabelos. Ele me fez ficar de pé, depois, socou meu rosto com força suficiente para me fazer desabar, sem nenhuma resistência. Meu estado passivo os motivou a continuar me agredindo até que eu perdesse a consciência.

###FIM FLASHBACK ###

Balancei a cabeça, incrédulo. Quando me prepararei para falar, Edward chegou. Devia ter sido alertado por algum dos meus familiares que me vira conversando com Alice e Jake.

– Está tudo bem? – Questionou meu irmão, preocupado.

Analisei Black, que mantinha seus olhos fixados em mim. Meus punhos automaticamente fecharam-se.

– Foi você. – Murmurei. Pude ver minha expressão sombria refletida em seus olhos prepotentes.

O semblante indiferente e confiante de Black aderiu um meio sorriso provocativo.

– Do que está falando? – Retrucou.

– O que está acontecendo? – Edward, confuso, tentou intervir.

– Foi Jake e não Vincent, quem me espancou em Dartmouth.

– Não! – Alice não quis acreditar ao balbuciar diversas vezes. – Não pode ser... não!  

– Jazz, isso não tem nada a ver. Nós já resolvemos isso. – Pude sentir a dúvida no tom de voz de Edward.

– O bracelete. – Indiquei. Black entendia muito bem ao que me referia. – O idiota subestimou nossa inteligência. Eu sei do que estou falando, foi o Jake! – Rosnei.

Edward´s POV

Jasper estava misturando tudo?

– Cara, fala para ele que não foi você! – Tive esperança de que a richa entre os dois fosse resolvida pacificamente.

– Ele está certo... – Suspirou. – ...posso ter subestimado a inteligência de vocês. Nunca pensei que o mané lembraria de um detalhe idiota como o bracelete, já que apanhou pra caramba. – Deu de ombros.

– Espera! – Dei um passo à frente, erguendo um braço para impedir que Jazz avançasse sobre Black. Recapitulei rapidamente a briga que tivemos com Carter e seus motoqueiros.

...

– Deveriam ter pensado nisso antes de agredir covardemente meu irmão! – Gritei para Lucy.

– Foi um infeliz incidente, querido... Venha aqui vamos conversar!  

...

Baixei a cabeça, constatando que em nenhum momento eles confessaram a agressão. O combustível daquela briga foi a raiva que eles nutriam por Jake ter roubado seus veículos e a iniciativa explosiva de Bella ao socar Lucy.

– Droga! – Gemi. – Não acredito que fez isso. – Era difícil aceitar.

– É verdade? – Alice soluçou, agarrando o braço do traidor. – Por favor, diga que é um mal entendido. – Era visível a decepção no rosto da garota.

Jacob ergueu a cabeça, se recusando a olhar para as lágrimas de Alice. Então, confessou frio.

– Foi preciso.

Senti a dor de mil punhaladas nas costas. Meu velho e melhor amigo me traira e jogara anos de cumplicidade e amizade fora por causa de uma conquista. Logo agora, quando achei que as coisas não poderiam piorar!

Minha cunhada, em prantos, expressou exatamente o que eu sentia.

– Não acredito que fez isso! – Socou inutilmente o peito dele. – Nós éramos amigos, eu confiava em você, Jake, como pôde?

Ele deu um passo atrás e, após engolir seco, disse sombriamente:

– Eu nunca perco, nunca!  

Coloquei uma mão na testa me sentindo um idiota.

– Planejou tudo, não é? Roubou as motos do pessoal do Carter para ter em quem pôr a culpa. – Quis espancá-lo, mas fui impedido por um sentimento maior que a raiva e, outra vez, me vi em Black. Isso me desarmou de uma forma que eu não esperava.

Tive vontade de chorar, pois agora realmente entendia porque Bella fugira. Sentia-se traída, da mesma forma que eu me sentia naquele momento. Não éramos apenas amantes, não era outra briga tola de namorados, nós éramos amigos, uma família, e eu a traíra, escondendo a verdade e mentindo para alcançar meus objetivos. Como podia julgar Jake e sua falta de princípios se eu tinha agido da mesma forma? Que diferença fazia se ele tinha espancado Jazz e eu ferido Bella? Ambos não medimos esforços para satisfazer nosso coração. Tive vergonha do que nos tornamos. Não queria ser daquele jeito!

Caramba, eu ia ter que me desculpar com Vincent. Ah, não!

– Não quis magoá-la. – Jake murmurou, tentando tocar Alice. Ela se afastou, revoltada.

– Você estava lá comigo, me abraçou, me consolou, sendo que você mesmo foi  quem provocou minha dor. Acreditei que fosse melhor do que mostrava ser. Achei que existia um homem sincero e bom atrás dessa máscara de lobo solitário que sustenta! Mas, quer saber? – Enxugou as lágrimas. – Eu estava enganada. Você merece exatamente o que tem, ou seja, nada! Nem amigos, nem amor... nada! Porque não se importa com ninguém.

Se eu bem conhecia Black, ele ia preferir sair daquela história como um vilão do que como um pobre coitado. Ele ergueu a cabeça e deixou que seu super ego o dominasse.

– Não preciso de sua amizade, hipócrita. Se prefere ficar com esse otário, ao invés de um homem de verdade, o problema é seu. Acredito que não estou perdendo muita coisa. – Afastou-se dela e Jasper quase passou por cima de mim, tentando chegar até Jake. O detive. – Já você, Edward, não me faça essa cara de sofredor, não é muito melhor do que eu e sabe disso. Mesmo assim, sempre haverá um lugar para você no meu grupo. Só não me faça engolir essa sua família ridícula novamente. Vou é me mandar dessa cidade... – Fitou mais uma vez Alice. – ...onde nada vale realmente a pena.

– Não creio que possamos voltar a ser amigos. – Informei magoado.

– E por quê? – Vociferou. – Vai me dizer que realmente está chateado com toda essa merda? Nós já fizemos esse joguinho muitas vezes, e daí? Quem se importa? Sempre existirá uma nova conquista. Ontem Bella, hoje Alice... quem sabe amanhã? – Riu pondo uma mão no meu ombro.

Não pensei duas vezes. Pronunciei as palavras que machucariam Black mais do que qualquer surra:

– Eu me importo. E você também deveria, pois não interessa para onde vá ou em quantos lugares do mundo tente se esconder, você sabe que o jogo está no fim e que se tornou uma cópia de quem você mais odeia. Sim, Jake, você é igual ao seu pai!  

Minha declaração teve exatamente o efeito que eu esperava. Meu ex-amigo afastou-se com os olhos marejados e rosto contorcido. Deu-me as costas, caminhando em direção à sua moto, estacionada há alguns metros dali.

Respirei fundo antes de fazer o mesmo. Caminhei lamentando todas as circunstâncias que tinham dado fim à nossa amizade, mas, no momento eu não conseguia administrar todas as perdas e só podia me concentrar em uma delas, meu frango. Sempre que lembrava que sob a ótica da Pirralha eu era um traidor, um nó se formava em minha garganta. Queria reverter a situação, mas não sabia como. Subi a calçada, já quase entrando no prédio. Então, olhei para trás e observei Jake, parado em frente à sua moto. A frase que pronunciou instigou meu raciocínio.

– Ontem Bella, hoje Alice...

Ontem Bella?

A imagem dela quando a conheci povoou meus pensamentos. Uma Bella rebelde, cheia de energia e determinada. Hoje era uma garota magoada e perdida. Foi difícil admitir para mim mesmo que eu era um dos fatores que causara sua mudança. Primeiro, por causa das aulas. Depois, por tê-la forçado a lutar por mim. Talvez a própria Swan tivesse se perdido durante seu trajeto por tantos caminhos tortuosos. Era possível que ela acreditasse que nós não a aceitávamos como era, sempre querendo que ela nos desse mais do que podia.

Merda, Edward, você é um idiota! É isso!

Corri para dentro do prédio o mais rápido que pude. Dentro do elevador, não consegui ficar quieto até chegar em meu apartamento. Empurrei a porta e, na sala, estavam todos: Carlisle, Esme, Emmett, Rose, Nessie e Marius. Perturbado, anunciei:

– Temos feito tudo errado! – Me olharam, aturdidos. Tratei de explicar. – Nós achávamos que estávamos ajudando Bella, exigindo um amadurecimento, só que isso é errado! Deveríamos ter esperado que ela mesma decidisse por isso, que a própria tivesse escolhido. Não me admira que tenha fugido. Bella acredita que não aceitamos quem ela é. Problemática ou não, deveríamos tê-la amado incondicionalmente! É isso que as famílias fazem, não é?! Nós aceitamos uns aos outros e não os forçamos a se adaptarem a nós.

Meus olhos percorreram o rosto de cada um deles. Pessoas que estiveram comigo e Bella, assistiram nossa história. Podia ver em suas expressões que entendiam o que eu estava falando, pois a palavra família e todos os seus significados era o que ainda nos mantinha unidos.

– Edward tem razão. – Rosalie pronunciou-se. – Nós a colocamos contra a parede desde o início das férias.

– Eu sei. – Carlisle baixou a cabeça. – Gostaria de dizer a ela que podíamos recomeçar.

– Que droga de raxa sumida – Murmurou Marius. – Vamos continuar procurando a galáctica.

– GENTE – Berrou Emmett. – Eu tive uma idéia!  

– Qual? – Ergui uma sobrancelha.

Meu irmão veio até mim e, sem mais nem menos, rasgou as mangas da minha camisa e colocou sobre minha cabeça seu boné.

Jasper´s POV

Fitei Black e ele ainda não havia ido embora. Compenetrado, observava sua moto.

– Vamos conversar lá dentro. – Murmurei para Alice.

Ambos caminhamos em silêncio em direção ao prédio e foi nesse momento que senti o impacto em minhas costas. Meu corpo automaticamente projetou-se para frente, caindo no chão. O golpe provocou dores em minhas costelas não saradas. Gemi tentando levantar-me. Olhei para cima e vi um Jake irado me provocar.

– Não vou sair daqui assim. – Pareceu que o cara queria descontar toda sua frustração em mim.

– Por favor... – Alice correu para me ajudar a ficar de pé. – ...Jake, essa conversa está encerrada. Vá embora, vá embora agora! – Vociferou.

Ele revirou os olhos e, com uma mão, a empurrou para longe, fazendo-a cair sentada em uma poça de lama. Minha visão ficou turva, um ódio que eu nunca senti antes percorreu meu corpo, acompanhado pela adrenalina.

– Nunca mais toque nela. – Protestei.

Impulsivo, Black tentou me socar e eu desviei, agarrando seu braço com toda minha força. Com o outro punho, ele acertou meu estômago. Curvado, me afastei tentando respirar, mas a dor tornava aquilo quase impossível. O canalha se aproveitou da minha falta de defesa e chutou meu rosto.

Caí ao solo e, com minha audição afetada, ouvi um zumbido distante. Demorei a perceber que se tratavam dos gritos de Alice. Com muita dificuldade, fiquei de joelhos, e só quando olhei para baixo notei que pingava sangue de meu nariz. Jake, parado à minha frente, falou:

– Isso é patético, não vale nem a pena brigar com você. Não é um homem, é um fraco! – Ajeitou sua jaqueta e lançou-me um olhar de desdém antes de sair.

Limpei o nariz. Em seguida, me coloquei de pé, respirando pela boca. Passei toda minha vida sendo considerado fraco e tímido, não queria mais ser merecedor de tais palavras. Eu era bem mais que aquilo. A parte corajosa e guerreira dentro de mim implorava para sair, desejava ser ouvida e respeitada.

– Espere. – Falei altivo. – Ainda não acabou.

Black virou-se para mim, surpreso. Esperou por uns segundos, então correu em minha direção. O cara teria ficado em vantagem se eu não tivesse me jogado no chão e lhe dado uma rasteira. Ele caiu com a cara na lama, mas logo se recompôs. Joguei-me sobre o corpo caído e, com toda minha força, dei-lhe uma cotovelada no rosto. Aproveitei a vantagem e lhe apliquei um merecido e esperado soco no nariz. Infelizmente, ele reagiu, agarrando meu braço no exato momento em que ia lhe golpear novamente. Com o braço imobilizado, minha única alternativa foi usar a cabeça, literalmente. Violentamente, choquei minha cabeça contra a de meu rival. Jake gemeu, pondo as mãos na testa. Tonto, porém bem mais capaz que ele, me levantei e chutei suas costelas, ao lembrar-me das minhas. No quarto chute, Black deteve minha perna e a girou fazendo-me cair. Rolei pelo afasto, mais rápido do que podia esperar. Coloquei-me de pé, já Jake teve dificuldades em fazer o mesmo. Podia tê-lo atacado, só que não o fiz. Não me igualaria a ele. Não sei dizer o que o motivou, mas o sujeito ergueu as mãos, rendendo-se.

– Tudo bem...vou considerar isso um... empate. – Falou com contra sua vontade.

Balancei a cabeça me recusando a retroceder.

– Não Jake, dessa vez você vai perder!  

Avancei sobre ele e lhe dei um soco no maxilar e outro no peito. Jacob pôs as mãos no machucado caindo de joelhos no asfalto.

Meu impulso inicial foi continuar a esmurrá-lo, só que fui detido por uma vontade incontrolável de dizer:

– Você precisa rever seus conceitos sobre o que é ser um homem, pois pode ter músculos e dinheiro, mas eu tenho caráter e força de vontade. E é por isso que eu sou o homem certo para Alice!  

Black bufou de ódio, me encarou raivoso enquanto erguia-se. Mantive meus olhos nos dele disposto a continuar a briga se assim ele desejasse, mas ao contrário do que eu esperava, ele fitou Alice, decepcionada, uma última vez e mancou até sua Yamaha. O motor da máquina rugiu e o pneu traseiro queimou no asfalto produzindo uma fumaça. Jake sumiu por entre a fumaça e apenas o som do motor era ouvido se distanciando.

Virei-me na direção de Alice, seus olhos castanhos e marejados eram os mesmo pelos quais me apaixonei: doces, meigos e altruístas.

– Me desculpe. – Murmurou.

– Vai ser preciso muito mais que um bad boy para me fazer desistir de você. – Me aproximei. – Posso ter sido um bobão por muito tempo, posso não te ter valorizado o suficiente, mas estou agora te pedindo uma segunda chance, pois posso não ser um cara perfeito, mas por você... vale à pena tentar. – Dei um meio sorriso. – Eu te amo, Alice.

– Você é perfeito, Jasper, aos meus olhos apaixonados, sempre será. Eu também te amo. – Ela deu uma passo em minha direção, porém deteve-se ao perceber o quão suja estava. – Desculpe! – Tentou limpar o rosto. – Sinta-se beijado.  Lançou-me um singelo beijo. Ri de sua atitude.

Por um momento perdi-me na beleza de seu rosto, em cada detalhe sutil que me fizeram desejar aquela garota desde a primeira vez que a vi. Então, sem nenhum receio, encurtei a distancia entre nós, coloquei uma mão em sua nuca e outra em sua cintura e a beijei com todo o meu amor. Não foi como os beijos gentis que costumávamos trocar, esse era o beijo. Um ato de desejo e cumplicidade que selava nosso recomeço... O meu recomeço.

Mesmo machucado, ergui Alice em meus braços, carregando-a como a princesa que eu tinha certeza que ela sonhava ser.

– Você está ferido! – Alertou.

– Eu agüento! – Afirmei caminhando com ela para dentro do prédio.

– Não acredito que me beijou mesmo eu estando toda suja de lama – Vibrou. – Você é o meu herói! – Brincou.

– Isso não foi nada, não vai acreditar é nas coisas que farei com você! – Apartei-a ainda mais contra meu peito.

– Que coisas? – Riu timidamente.

– Lições que aprendi com Emmett nesse final de semana. Cancele seus compromissos, amor, esta noite você será toda minha.

Ri satisfeito, pois pela primeira vez na vida consegui deixar minha garota ruborizada.

Emmett´s POV

16:00h de Terça-feira, este era o dia, esta era a hora. Dirigia o jipe pelas ruas do campus, acompanhado por minha comitiva de caras de pau: Rose, Nessie e o sem pregas. Todos vestíamos as camisetas da campanha do meu camarada. O que pretendíamos? Coisa básica, né? Só uma boca de urna bem discreta.

Estacionei em frente a um dos prédios principais onde rolavam soltas as votações. Olhei para a galera e gritei:

– TODO MUNDO JÁ SABE O QUE FAZER, VAMOS LÁ, RURAL!  

Nessie saltou do carro carregando o toicinho acima de sua cabeça para que todos os vissem. Rosalie foi para o lado dela vestindo seu antigo uniforme de líder de torcida do colegial. Agitou os pompons a valer. A bandida não queria colaborar, mas como a grife dela estava patrocinando a campanha, foi forçada. O maldito viado foi logo subindo no capô do carro armado com um megafone. Tudo bem, aquilo fazia parte do plano.

– MEU POVO TPM DE DARTMOUTH, HOJE TÁ LIBERADO! NINGUÉM PAGA PRA CHUPAR! – A gritaria chamou a atenção de muitos. Ele tirou um pirulito do bolso o exibindo. – SÓ NÃO CHUPA QUEM NÃO QUER! TEM DE UVA E MORANGUINHO, O PIRULITO DO EDZINHU! VOTE NO TOICINHO E VENHA PEGAR UM!  

Fui correndo pegar uma caixa cheinha de pirulitos que tinham a cara do Cabeçudo impresso na embalagem. A Samara e o EDZINHU faziam o maior sucesso na internet e toda a galera da universidade estava acompanhando os vídeos do Romance do Poço, e eu que não sou fraco me aproveitei daquilo.

Admito, sou um gênio!

– Anda, grita mais sem pregas!  

– Já estou gritando! – Berrou no megafone. – Não me pressione. Sou uma estrela! Tenho que me concentrar, TÁ LEGAL?

– VOTE ANIMAL, VOTE RADICAL, VOTE DIREITINHO, VOTE NO TOICINHOOOO! – A bandida rebolou com os pompons. – Anda gente, está funcionando. – Sussurrou. Ela tinha razão, uma porrada de estudante estavam nos circundando a fim de ver a baderna. EITA!

Marius´s POV

Porque meu bonequinho não tirava os olhos da sebosa? Que raxa maligna!

– VOTE ANIMAL, VOTE RADICAL, VOTE DIREITINHO, VOTE NO TOICINHOOOO! – A loira do mal continuou a se exibir. Tive que intervir.

– PÁRA, PÁRA, PÁRA!PELO AMOR DE DEUS! DESSE JEITO VOCÊ NÃO ANIMA NEM VELÓRIO DE SOGRA!   - Saltei do jipe e fui tomar dela os pompons. – ME DÁ ISSO AQUI! VOU TE MOSTRAR COMO É QUE FAZ!  

– Não – Reclamou, não querendo partilhar.

– Ô raxa egoísta... Cuidado se não uso meus poderes em você!   Puxei com força os pompons de suas mãos e dei uma megafonada na sua bunda.

– Tudo bem, vamos ver o que você sabe. – Cruzou os braços com a cara azeda.

Já havia pessoas lá pegando pirulitos das mãos de Emmett e eu aproveitei para jogar o alto astral lá em cima ensinando a mundiça como ser uma galáctica.

Joguei o megafone para lado segurei firme os dois pompons e comecei...

– É um, é dois, é um, dois, três – Cantei com todo o glamour dançando um can can pra lá de fashion. – VOTE ANIMAL, VOTE RADICAL, VOTE DIREITINHO, VOTE NO TOICINHO! – Saltei para um lado, depois para outro, por fim dei uma rodadinha e terminei com uma clássica abertura. – Tcharam – Abri os braços. – Viu só como se faz bruxa do mar? – Fitei Rosalie.

– NEEEEEEEM MORTA QUE VOU FAZER UMA BARBARIDADE DESSAS! – Berrou a dramática. – UÓ TOTAL!  

– Parem com isso! – Emmett reclamou. – Façam o povo votar no meu porco! Trabalhem, trabalhem!  

– Isso é escravidão gay! Exijo minha carta de alforria. – Coloquei as mãos na cintura.

Ele me ignorou e gritou para a ex-mini-pobre, agora mini-herdeira Cullen Swan:

– Erga o Toicinho mais alto, Nessie!  

Nessie´s POV

– Mais alto? Não dá, ele tá pesado, tá gordo!  

– ÊPA! – Arrancou o filhotinho das minhas mãos. – O Toicinho não está gordo, está rechonchudo! – Ele fez cara feia.

– Não, ele está gordo! – Bati o pé no chão.

– É mentira!  

– A droga do suíno está gordo, o que têm dado para ele? – A sebosa me defendeu.

– Não tenho culpa, não sei o que está acontecendo.

Coloquei as mãos para trás e fiquei quietinha. Devia contar que eu dava macarrão com batata para ele toda madrugada? Não! O Toicinho curtia ficar deitado de barriga para cima depois que comia, ele até balançava as patinhas de forma engraçada.

– Me da o gordinho aqui. – Peguei o filhote e o ergui o máximo que pude. O super-porco comilão estava feliz com sua camisetinha e boné maneiro.

Enquanto os malucos brigavam entre si por causa dos pirulitos que Marius enfiava nos bolsos, me lembrei da minha mãe Bella. Sentia saudades e torcia para que meu pai Edward a encontrasse. Todo mundo agora era meu pai e minha mãe, mas os que eu mais gostava eram a Pirralha e do Cabeçudo. Não seria o máximo se um dia se casassem e me levassem para morar com eles? Tudo bem, eu tava feita na vida, Esme e Carlisle tinham uma idéia bem legal para fazer todo mundo ficar junto.

Marius´s POV

– Já disse que não estou roubando! – Choraminguei. – Meu passado vai me condenar? Não querem logo me amarrar num tronco? Só quero pegar alguns pirulitos para mim, também quero chupar... – Respirei fundo. – ...o pirulito do Edzinhu. – Enfiei mais alguns nos bolsos.

– Chega de drama, Marius! – A mocréia ousou me dar ordens... De novo.

– NÃO VEM FORTE NÃO, HEIN?! FIQUE NA SUA OU TE FRITO COM MEUS RAIOS LASERS...TCHIZZZZZZZZZZZZN! – Chacoalhei as mãos perto da cabeça dela.

– Vocês... estão... ATRAPALHANDO! – Meu bofe escândalo chutou o ar, todo nervoso.

Respirei fundo e disse para mim mesma:

Concentra, poderosa, concentra que você precisa fazer esse porco carente ganhar essa eleição!

Peguei o megafone e comecei a marketear pesado.

– TEM DE UVA E MORANGUINHO, VOTE NO TOICINHO E GANHE UM PIRULITINHO! – Mais pessoas se aproximaram rindo de nós. Encarei umas dragas horrorosas e lhes disse com toda a sinceridade. – VOCÊ! – Apontei para uma delas. – JÁ QUIS PEGAR O GOSTOSÃO DA UNIVERSIDADE, MAS NÃO TEM CACIFE PARA ISSO? NÃO SE DESCABELE, DIABA PODRE, NÓS TEMOS A SOLUÇÃO! REALIZE SEU SONHO. VOTE NO TOICINHO, GANHE UM PIRULITO E CHUPE ATÉ O FINALZINHO... TEM EDZINHU A DAR DE PAU AQUI...HU!...OHOHOHOHOHO!  

Arregalei os olhos quando vi várias dragoas correndo em minha direção.

AÍ, MINHA SANTISSÍMA DOLCE & GABANNA, ESSE É MEU PIOR PESADELO! SOCORRO!

(...)

Emmett´s POV

O salão de festa da faculdade tava lotado. Muitas pessoas usavam as camisetas da campanha do meu porco. Tinha chegado a hora, era agora ou nunca! Todo mundo fazia barulho como podia. Os outros donos de candidatos tentavam motivar seus cães, gatos e papagaios, mas a torcida do meu amigão era, sem dúvida, a tal. A zoeira foi geral até que o reitor apareceu, tomou um microfone e começou a falar alguma coisa que eu não entendi. Pudera! Ele falava com aquele sorrisinho todo educado e engravatadinho. Ninguém nem sequer tinha visto ele por causa da baderna. O reitor tentou mais algumas vezes, até que perdeu a paciência, e quase se descabelou ao berrar:

– CALEM A BOCA, BANDO DE MACONHEIROS E ANALFABETOS!  

Cara! O que foi aquilo?

O choque e o silêncio absoluto foram inevitáveis.

Logo depois, ele alinhou a gravata, tomou a mesma postura de antes, ajeitou o cabelo e continuou:

– Obrigado pela cooperação. – As pupilas se moveram para um lado e para outro, como se procurassem algum engraçadinho sobrevivente. Como o silêncio permaneceu, prosseguiu:

– Bem, as votações para mascote do renomado time de futebol de Dartmouth foram encerradas e agora saberemos quem foi o grande vencedor.

Meu estômago fez um barulho alto e todos olharam para mim. Disfarcei legal, apontando para o Marius, como se ele fosse o culpado. A assistente se aproximou com um envelope nas mãos. Aquele era o envelope do terror, envelope perverso. Tenho medo dele, pois era a única coisa que separava o Toicinho de seu título. Meu amigão estava tão tenso que mais parecia um presunto. Nem mesmo piscava os olhos.

O reitor tomou o envelope e o abriu, lendo só para si o nome do grande eleito. O miserável ainda fez aquele suspense nó na tripa.

– Olhem só para isso! Senhoras e Senhores, vocês não vão acreditar.

Saco! Sempre que uma única pessoa tem uma determinada informação que todas as outras não têm, ela se acha no direito de torturar as demais.

– O candidato vencedor é...

Que vontade de balear alguém!

– É... – olhou para a bicharada no salão. – ...TOICINHO CULLEN!  

O QUÊ?

– É ISSO AAAAAAAÍÍÍÍÍ – Berrei batendo no peito.

Todo mundo saiu pulando, foi a coisa mais legal que já me aconteceu. Eu me misturei à galera abraçando todo mundo, até quem nunca vi na vida.

– ELE É RADICAL, É RADICAL! – Nessie o exibia para todos.

– O dono do mascote, por favor, traga-o até o palco. – Pediu o velhote cafona.

Rapidamente, coloquei meu camarada embaixo do braço e marchei para a glória.

Fiquei de pé ao lado do reitor esperando minhas honras de guerra.

– Declaro este porco... – Tagarelou pegando uma faixa azul e vermelha. – ...mascote oficial do time de futebol de Dartmouth! – Colocou a faixa no Toicinho e uma outra em mim.

Ergui o danado lá em cima e nós dois fomos aplaudidos. DEMAIS!

– Discurso! Discurso! –Pediram em coro.

Sem a permissão do reitor, tomei o microfone de sua mão e fui para o centro do palanque.

– Só gostaria de dizer uma coisa... – Coloquei o Toicinho no chão. – ...É HORA DA DANCINHA DA VITÓRIA! – E eu arrebentei dançando. Lógico que todos ficaram me olhando.

Bella´s POV

Eram 6:00h da manhã de Quarta-feira. O dia de minha audição no Hippy Shake. O problema é que eu não tinha ânimo para sair daquele quarto. Para ser sincera, não tinha certeza se devia voltar a Hanover. Naqueles tempos difíceis o melhor era ficar sozinha. Rolei na cama e fitei o criado mudo onde estava meu celular desligado. Eu o estudei por alguns segundos, depois, sentei-me pegando o aparelho, temerosa. Não sabia exatamente o que esperar. Talvez notícias dos Cullen ou simplesmente nada, nenhum telefonema, nenhum contato. O que seria mais doloroso?

Não podia ficar escondida para sempre. Mais cedo ou mais tarde teria que enfrentar Carlisle, Esme e...ele...novamente. O que eu diria? Aquela era uma pergunta sem resposta.

Liguei o celular e haviam chamadas não atendidas e várias mensagens. Quase todos tentaram entrar em contato: Carlisle, a mosca morta, Alice, Rose e o Cullen. Não tive coragem de abrir nenhuma das mensagens, mas teve uma que me chamou a atenção. Era uma mensagem de Emmett. Motivada pela curiosidade abri e a li:

Para: Samara

De: Emmett

[Winizinha, se escondeu no seu poço? Vai voltar e matar todo mundo? MEDO! ... VAI LOGO VER O SEU SITE MULHER!!!

PS. Eu descobri o que é PS : Post Scriptum! Gostou?

P.S. 2º. Agora, só falta saber o que significa isso!]

IDIOTA!

Joguei o telefone na cama.

Site? Ele se referia ao “Eu Odeio Bella Swan”? Oh, meu Deus! O que será que aquele bisonho fez?

– Vou espancá-lo, ah se vou! – Sai da cama bem rápido.

(...)

Minutos depois eu já estava em um Cyber Café, roendo as unhas de tanta curiosidade. Temia que o serial killer tivesse dado fim ao que sobrou da minha reputação. Nervosa, acessei o site. A página abriu e eu procurei logo na sessão de vídeos. Arregalei os olhos quando vi que havia um vídeo recente com mais de dez mil exibições em poucas horas. Acredite, pensei o pior...

 PUTA MERDA, SOU EU PELADA!

Engoli em seco e minha mão suou quando apertei o botão do mouse dando play no vídeo.

Inclinei a cabeça tentando entender a imagem na tela. Um tênis velho estava em foco e aos poucos a câmera foi mostrando as pernas de uma calça detonada, depois foi a vez da blusa preta sem mangas. Por fim a câmera focalizou o rosto do individuo. Involuntariamente afastei-me, quase levantando do assento.

Edward? Aproximei meu rosto do monitor só para ter certeza, e sim, era o Cullen!

Balancei a cabeça me recusando a ver aquilo. No momento em que me levantei para ir embora ouvi:

– Espere, não fuja!  

Paralisei. Quando consegui reagir, olhei para os lados e não vi ninguém no Cyber Café com exceção de mim e o dono, pois ele acabara de abrir o local. Bestificada, voltei a encarar a tela.

– Bella, por favor, me escute. – Pediu Edward.

Como ele sabia que eu ia fugir?

– Só peço que me escute, serei breve, prometo.

– Hum...Não! – Porque motivo, razão ou circunstância eu estava respondendo para um computador?

– Eu sei que dirá não, mas o que tenho para falar é importante.

O.k! Isso é assustador!

Sentei-me intimidada. Então o assisti suspirar como se procurasse palavras para começar seu discurso.

– Fale logo! – Resmunguei para mim mesma.

– Tá certo! – Respondeu.

Mantive minhas mãos longe de computador, ele era sinistro.

– Sinto muito ter mentido e escondido algumas coisas de você. Não pense que não te entendo, pois te conheço mais do que pode imaginar.– Retirou o boné da cabeça com um semblante derrotado. Ficou em silêncio por alguns segundos e por um momento, achei que desistiria do que pretendia falar. De repente sua expressão modificou-se e passou a encarar a câmera com seriedade. – Quer saber, eu não sito muito! Não mesmo! –Eu já deveria esperar, ele nunca iria dar o braço a torcer daquela forma. Fiquei enojada. – Sabe por que eu não sinto muito?Porque antes de te conhecer eu achava que sabia tudo sobre a vida, até mesmo como seria o meu futuro.Só que depois de ter feito com você aquele acordo durante o verão tive a honra de conhecer uma Bella que se escondeu do mundo todo. Uma garota incrível, que tem o domde me enlouquecer de todas as formas possíveis.Quando te deixei em Verona, foi a primeira vez que realmente me senti sozinho... –Suspirou. – ...logo eu, que fui abandonado quando criança e me considerava auto-suficiente. Menti, manipulei e errei... mas todas essas coisas, mesmo tendo nos machucado, serviram para me mostrar que nem de longe sou o que precisa, mas sem dúvida... –Desviou o olhar como se disfarce a vontade de chorar. Seu rosto ficou em close. Cada detalhe de sua face ainda fazia a minha respiração enfraquecer. – ...sou o homem que mais te ama, porque mesmo com minhas trapalhadas eu continuo tentando ficar com você, cegamente, às vezes sem medir as conseqüências. Vou sempre fazer o que estiver ao meu alcance para te ter e se quiser me julgar por isso...e por todos os meus defeitos eu não me importo, desde que um dia você me dê a chance de acertar. E eu preciso acertar, Bella. Tudo isso tem um porém, eu preciso de ajuda, preciso da sua ajuda– Era a primeira vez que Edward me pedia ajuda daquela forma, geralmente era eu que corria para ele em busca de soluções. – Tem certas coisas que você é tão melhor do que eu.

– Ele tem razão! –Me surpreendi quando meu pai apareceu ao lado de Edward, vestido de forma estranha. – Do seu jeito, me mostrou generosidade e amor quando foi me procurarem NY. Vocêlutou contra seus sentimentos para me apoiar naquele dia e me consolou como ninguém mais poderia ter feito. É fato que muita dor poderia ter sido evitada se tivesse sido mais flexível no início do meu noivado, e eu, bem... poderia ter procurado me fazer mais presente e lutado contra a redoma que você criou em torno de si. Minha filha, todos nós temos aprendido comnossos errosEu preciso que me diga como posso ser um pai melhor, pois essa é uma das mais difíceis lições que alguém pode aprender.

Tive dificuldades de acreditar no que via, principalmente quando Esme, vestida como uma roqueira se posicionou ao lado deles.

– Bella, às vezes fico imaginado se teríamos sido amigas se tivéssemos nos conhecido em outras circunstâncias. Se tudo seria diferente... –Uma vez eu mesma já me fiz aquela pergunta. – O problema é que você me vê como uma usurpadora. Nunca foi minha intenção roubar o lugar de sua mãe ou lhe afastar do seu pai. Sei que essas palavras não irão te fazer entender isso completamente e que somente o tempo revelará a verdade, pois como deve ter percebido, mentira nenhuma perdura. Então, por favor, deixe que o tempo te mostre quem eu sou e aí, quem sabe, um dia possamos ser as amigas que sempre deveríamos ter sido. – Ela segurou a mão de Carlisle, como se falasse para nós dois. – Desculpe ter interferido em questões que eu não tinha o direito. Hoje te peço para reconsiderar todo o ódio que sente e se permita dar um voto de confiança à sua família... o restante do pessoal se juntou a eles. – ... que está aqui hoje para assumir seus erros e para perdoar os teus, pois tudo nessa vida passa: experiências, vitórias, derrotas, mas isso que temos juntos permanecerá se formos fortes o suficiente para lutar.

Minha face estava úmida, não tinha certeza de quando havia começado a chorar. Eu não estava seca por dentro, não era mais a garota que não se importava com nada. Desejava mudar o passado, duas ou três escolhas diferentes poderiam ter dado outro rumo à minha história.

– Bella, não deixe que o que aconteceu atrapalhe seu sonho. Vá para o Hippy Shake na Quarta à noite e nós estaremos lá para te apoiar. –Edward sorriu fraco.– Tem uma última coisa que gostaria de te dizer, algo que eu deveria ter dito desde o início em Verona: Pirralha... seja você mesma!  

O vídeo acabou e eu permaneci olhando para o monitor. Existiam muitas coisas que eu necessitava colocar para fora. Meu íntimo gemia, como se minha alma precisasse se expandir.

(...)

Robert Tepper - No Easy Way Out

Na recepção do motel arranjei uma folha de papel e uma caneta, sentei na calçada e comecei a rabiscar. Não era capaz de controlar a letra da música que fluía ali. Sabia exatamente em que canção encaixaria aqueles versos. Existia uma música que compus nas três semanas que passei em Forks depois das férias. A melodia sempre estava em minha cabeça, mas só agora eu tinha encontrado a letra perfeita para ela.

(...)

O som das minhas botas no asfalto era a única coisa que eu podia ouvir enquanto caminhava em direção a moto. A noite já havia caído e era provável que eu não chegasse a Hanover a tempo, pois já passavam das 18:00h.

Montei na Suzuki ciente de que ela era a única com potência suficiente para me fazer chegar ao bar a tempo. Nem mesmo minha Ducati seria capaz de tal proeza. Isso me fez questionar se eu realmente teria vencido o racha que disputei com Edward ou se ele me deixou cruzar a linha de chegada antes dele.

Dei a partida na moto e acelerei aos poucos. Sem capacete, documentos ou receio, deixei a máquina rugir abaixo de mim enquanto o ponteiro do velocímetro movia-se fazendo meus cabelos, agora em tons avermelhados, esvoaçar. Não demorei o dia inteiro para compor a canção, aquilo fiz em vinte minutos. O que roubou todas as minhas horas foi a busca por novos conceitos, que moldaram-se a antigos. Precisei encontrar a coragem necessária para perguntar a mim mesma no que havia me transformado.

Cansada de mudar pelas razões erradas, exausta de tentar satisfazer as expectativas de outros, abandonei a menina birrenta que existia em mim e lutei pela Bella humana, consciente e preparada. Eu já sabia que era o Country que desejava tocar, mas do meu jeito, com a minha manha.

Atingi os 240 km/h como objetivo de fazer uma única parada. Chegaria em casa, trocaria de roupa, pegaria minha guitarra e correria para Hippy Shake. O mundo precisava ouvir minha música!

Jake´s POV 

Parei minha moto no sinal próximo ao apartamento de Alice. Desejei vê-la pela última vez, mas fui impedido pelo orgulho. Certamente ela nunca mais iria querer falar comigo. Lamentei o fato de ela estar certa.

Sentia-me alvejado. Não pela briga, mas pelas palavras de todos eles. Bem, eu não iria choramingar por isso. Pegaria a estrada onde era o meu lugar.

Às vezes, tinha medo do que me transformei. Alguns dias nem me reconhecia. Eu tinha aprendido a viver da minha forma, sozinho, sem limites, sem regras, sem fronteiras, vivendo apenas o hoje. Um racha de cada vez, perdido em estradas sinuosas e desconhecidas. Quando isso mudaria? Quem sabe?! Ainda haveria esperança para mim? Talvez não importe, pois eu sou um lobo, um sobrevivente.

Meus pensamentos foram interrompidos pelo som do motor de outra máquina parando no sinal junto a mim. Levantei a viseira do capacete para fitar o motoqueiro e ele fez o mesmo.

– Oi. – Não era um homem, era a ex do Edward, Lucy.

– Oi. – Cumprimentei, vendo que o sinal já havia mudado e eu nem tinha notado. Acabei ficando preso em outro sinal vermelho.

– Indo embora? – Perguntou olhando para a bolsa atrás de mim.

– Sim. – Respondi a contra gosto.

– Eu também. – Ela fitou o horizonte.

– Bom para você... – Ri sem humor. – ...essa cidade é um lixo!  

– Nem me fale! Então, fugindo de Vincent?

– Rá! Não mesmo! Só... de mim. – Confessei amargo.

– Entendo perfeitamente. – Murmurou.

Não precisava ser um gênio para saber que a garota fugia de seus sentimentos por Edward. Era bem típico de mulherzinha mesmo. É, mas até parece que posso zombar.

Bufei.

– Vai pegar qual rota? – Lucy questionou.

– Talvez 66.

– Estrada limpa e boa de se pilotar em alta velocidade. – Suspirou. –  Acho que vou nessa também!  

Preferi me calar.

Ela acelerou a máquina trocando olhares entre mim e o semáforo que estava prestes a abrir. Então pensei:

Por que não? Talvez viajar acompanhado não seja tão ruim.

Aceitei o desafio girando o acelerador da Yamaha. O sinal abriu e nós partimos, velozes.

Edward´s POV

Já se passavam das 21:00h e o bar Hippy Shake estava lotado como eu nunca vi antes. Estávamos sentados em uma mesa a poucos metros do placo. Esperávamos por Bella, só que a banda havia começa a tocar já fazia um tempo. Me preocupei.

– Talvez ela não venha. – Comentou Emmett alisando o Toicinho.

Minha mãe encarou-me com dúvidas nos olhos. Percebi que ela não queria perder a esperança e nem eu.

– Vamos esperar pelo menos a banda terminar de tocar. – Pediu Carlisle.

Concordei assentindo.

– Fizemos tudo que podíamos. – Disse Rose.

De repente, ouvi murmúrios encherem o ambiente. As vozes misturavam-se e era impossível entender o que estava acontecendo. Então, eu a vi. Me levantei observando uma Swan confusa, com sua guitarra nas costas, romper por entre a multidão. Vestia uma jaqueta preta, jeans e as botas que lhe dei de presente. Seu cabelo estava vermelho?

Bella´s POV

Por algum motivo as pessoas afastavam-se para que eu passasse. Riam, murmuravam, apontavam-me e eu não compreendia o porquê. Muitas delas usavam as camisetas da campanha do Toicinho, as quais atrás tinham escrito o título de “O ROMANCE DO POÇO”.

Não pude deixar de me perguntar por que tantas mulheres chupavam pirulitos.

– VAI LÁ, BELLA! – Um desconhecido gritou.

Me concentrei no palco, pois foi a única forma que encontrei de fazer minhas pernas continuarem a se mover.

Subi pela lateral do palco e esperei que alguém da banda me desse a chance de explicar os motivos de meu atraso. Enquanto o vocalista terminava de cantar olhei para o meio do bar e vi o pessoal esperando por mim. Eles haviam cumprido a promessa. Isso fez meu estômago embrulhar. Por sorte o vocalista veio até a parte mais escura do palco onde eu tentava inutilmente me esconder.

– Está atrasada, perdeu sua chance. – Ele me avisou enquanto bebia um pouco de água.

– Eu sei, mas foi um sufoco chegar até aqui, tem que me deixar tocar.

– Lamento, mas nós não aturamos esse tipo de comportamento na banda.

Me aborreci.

– Deixe-me tocar ao menos as músicas finais. Não vão se arrepender!  

– Não vai dar. – Falou o guitarrista se aproximando. – Já até escolhi o cara que vai me substituir.

Passei as mãos nos cabelos sem saber o que fazer. Então, apelei.

– Olha aqui... – Agarrei a gola da camisa do vocalista, peitando-o. – ...Não sabe o que passei para ter essa chance e você não vai tirar isso de mim!  

O restante da banda veio socorrer o seu líder. Eu já até me via sendo jogada para fora do bar.

– Ei! – Berrou o baterista puxando-me para longe de seu amigo. – Qualé afobadinha! Esquece, ok? Já era!  

Me distanciei deles irada.

– Não vamos criar confusão, por favor, saia do palco. – Falou em voz alta o baixista.

Rejeitada, pus a mão no peito disposta a implorar. E foi aí, que alguém gritou do meio do bar:

– DEIXA ELA TOCAR! – Procurei e avistei Edward e Emmett de pé. Não consegui saber quem gritou aquilo.

Ri quando Marius subiu em uma cadeira e puxou o coro:

– RAXA, CADÊ VOCÊ? EU VIM AQUI SÓ PRA TE VER! DRAGA, CADÊ TU? SÓ SAIO DAQUI QUANDO EU DAR O... – Alice tapou a boca do infeliz.

Mesmo a bichona tendo sido silenciada, o pessoal que estava lá por causa dos vídeos do site Eu Odeio Bella Swan gritou repetidas vezes:

– BELLA, CADÊ VOCÊ? EU VIM AQUI SÓ PRA TE VER!  

Eu, que não sou besta, incentivei gesticulando com as mãos. A pressão da platéia era o meu único trunfo.

Os rapazes da banda não eram burros, sabiam que a galera de Dartmouth em peso estava lá por causa de mim e meus companheiros de confusão. Aquelas pessoas haviam assistido o vídeo que Edward e os outros fizeram, sabiam o que estava acontecendo e desejavam ver como aquilo tudo se resolveria.

Os caras discutiam entre si, indecisos. Então, os interrompi dizendo:

– Não precisam me aceitar como guitarrista, eu entendo as regras da banda, só quero cantar uma música, apenas uma e nunca mais vão precisar olhar pra minha cara, prometo! Por favor!  

A galera continuava a exigir que me dessem uma chance através de pequenas manifestações.

O vocalista encarou-me por um segundo, então falou no microfone:

– Tudo bem, uma música!  

ISSO!

Comemorei com toda a energia, mas isso nem se comparou com a comemoração do público.

– Estamos topando não só por causa da pressão. – o líder sussurrou para mim.

– É que nós também acompanhamos O Romance do Poço. – Confessou o guitarrista rindo.

Escondi o rosto entre as mãos, envergonhada. Hanover inteira já estava infectada pelas loucuras de Emmett. O que eu podia fazer? Tirar proveito da situação, lógico!

– Muito bem pessoal, vamos tocar! – Gritou o baterista.

Tirei minha guitarra do Gig Bag e liguei nela o cabo que o guitarrista gentilmente me ofereceu.

– Pessoal, eu sei que não ensaiamos, mas tentem me acompanhar. É um Country Pop, nós começamos com uma seqüência harmônica de Sol Maior, depois baixem dois tons e voltem ao original, ok?

– Deixa conosco! – Sorriu o tecladista.

Posicionei-me no meio do palco de frente para o microfone. Passei a correia da Fender por cima da minha cabeça, segurei firme o braço do instrumento e só quando centralizaram a luz do refletor em mim foi que senti o peso de todos os olhares. Então, a ficha caiu.

Todos os músculos do meu corpo petrificaram e minha respiração oscilou. Lá estavam elas, pessoas que eu conhecia e que não conhecia encarando-me no único momento de minha vida em que eu era o centro das atenções.

– Um, dois,... um, dois, três! – Disse o baterista fazendo sua parte eu não pude seguir em frente.

Em um súbito, dei as costas para o público, disposta a sair correndo daquele local. Eu me enganara, não estava preparada para aquilo. Tinha medo, muito medo!

– Não posso fazer isso. – Murmurei.

Tentei me livrar da guitarra e a banda não soube o que fazer. Passei rapidamente a correia da Fender por sob minha cabeça, desistindo. O balanço fez o colar de minha mãe, que estava preso do braço do instrumento, cair. Minhas mãos vacilaram e a Fender também foi ao chão.

Não quis olhar para trás, não podia encarar aquelas pessoas. Minha reação foi a pior possível. Fechei-me de tal forma, que tudo que podia ouvir era o som distante de vozes anônimas. Estava sucumbindo àquilo.

Balancei a cabeça, fechando os olhos. Ergui uma das mãos em direção aos músicos, os avisando que estava desistindo. Baixei-me lentamente para pegar o colar de Renné e, no momento em que o toquei, disse a mim mesma, baixinho:

– É a minha vida, são os meus sentimentos... Não os posso partilhar!  

Só de me imaginar abrindo minha alma naquele palco através da canção que compus, minhas forças se esvaíam.

Não sei dizer como isso aconteceu, mas fiquei presa em um curto momento, apenas um segundo. Talvez, devido às emoções, meu cérebro tenha trabalhado rápido demais, me fazendo imergir na ilusão de que o tempo havia parado só para mim. O brilho da jóia que eu tanto queria ser merecedora de usar me hipnotizou e não tive como tirar meus olhos dela.

### FLASHBACK ###

Minha mãe, doente, estava deitada na cama de seu quarto, na nossa casa em Forks. A doença já consumira a maior parte de suas forças e, mesmo que em alguns momentos ela parecesse bem o suficiente para passar algum tempo em casa, sempre pairava no ar o medo do futuro.

– Mãe, o que você acha que vai acontecer? – Perguntei, deitando ao seu lado na cama. Era pequenina demais, até para uma menina de 12 anos.

– Eu não sei, Bella. – Afagou meus cabelos.

– Você vai morrer? – Encarei seu rosto pálido e ela sorriu fracamente.

– Você tem medo disso?

Assenti.

– Não pode viver com medo, o medo neutraliza todas as nossas forças, nos deixa sem esperanças.

– Não posso evitar. – lamentei, tocando sua face. – Às vezes, eu sinto tanto medo que gostaria de me esconder. – Me encolhi. – Não entendo...

– O quê?

– Sempre diz que para todo o problema existe uma solução, mas... e para o seu problema?

Ela encostou minha cabeça em seu ombro.

– Sabe, minha filha..., a morte nem sempre é um problema. Às vezes, ela é o alívio para quem sofre. Existem tantas coisas mais, além do que vemos com os olhos carnais. É por isso que acredito no que te digo... sempre haverá uma solução, só que, às vezes, precisa se esforçar muito para vê-la. Ela nem sempre é entregue de bandeja, a maior parte das vezes tem que ser conquistada.

Eu era pequena demais para entender tudo aquilo. Porém aquele momento ficou gravado em mim.

– Bella... – Sussurrou.

– Sim?

– Esqueça todos os seus medos, esqueça tudo que te impede de viver bem. Apenas, deixe de lado. – Beijou minha testa.

###FIM FLASHBACK ###

Ainda presa na fenda que minha consciência abriu entre o passado e o presente, girei parte do corpo e, com os olhos, percorri o recinto até localizar o rosto de Carlisle. Depois da tempestade de acusações que fiz em Forks, agora podia ver algumas coisas claramente. Carlisle não era um mau pai, só um pai meio despreparado. Talvez solitário demais, pois quando se apaixonou por Esme voltou a agir como um adolescente. Não era de se admirar que, em algum momento, isso fosse acabar mau. Me lembrava muito bem de como éramos antes da chegada dos Cullen na nossa vida. Achava que tinha toda a sua atenção e carinho pelo fato de ele se preocupar com cada mínimo detalhe do meu cotidiano, até mais do que se preocupava com Rose. Muitas vezes, desejei que ele simplesmente me deixasse em paz para poder fazer o que eu quisesse. Quando meu desejo se tornou realidade, sofri, pois senti falta de nossos momentos juntos. O problema é que eu era muito leiga para notar que ele só queria amar novamente. Como eu poderia entender de um sentimento que até ali, nunca havia experimentado? A culpa nem era de Esme, qualquer mulher que tivesse se aproximado de Carlisle teria sido vítima de meu ódio irracional. Eu teria feito tudo igual, ou pior, porque temia as mudanças.

Quando soube o que Edward havia feito, juntamente com Esme, quase enlouqueci. Julguei aquela mulher a pior pessoa do mundo, até pior do que eu. Mas, se ela não tivesse feito as coisas que fez, certamente eu não estaria em cima daquele palco. A convivência me mostrou que Esme também tinha qualidades e a principal delas era o amor incondicional por Carlisle. Ela suportou todas as minhas afrontas, sabotagens e xingamentos, sem se alterar ou revidar. Qualquer pessoa em seu lugar teria se alterado e revidado. Não sei se ela realmente desejou minha felicidade, mas talvez com o tempo... eu possa descobrir.

Tempo... Meu tempo, seu tempo... Limitado demais para ser desperdiçado com sentimentos pobres que um dia não terão mais sentido.

Fui trazida de volta à minha realidade cheia de cor e vida, dor e amor. O meu momento especial que estava para escapar por meus dedos. Inspirei, piscando os olhos, quando o vocalista da banda perguntou:

– Ei, garota. Você está bem?

Peguei meus pertences e me levantei. Girei o corpo completamente, na direção dos meus medos. Todos eles estavam reunidos em um só lugar. O medo da rejeição e fracasso, o de perder o afeto de meu pai, o receio de Esme assumir o lugar da minha mãe nas nossas vidas, e o medo de nunca mais sentir por alguém o que sentia por Edward. Eu não podia perder aquilo!

– Estou bem. – Tranqüilizei a banda.

Recoloquei o colar no braço da Fender e ajustei a correia. Diante de centenas de pessoas, pus-me em frente ao microfone e lutei com todas as forças contra a covardia. Limpei a garganta, observando minha família apreensiva, então, simplesmente, falei:

– Hoje, dedico essa música a todas as pessoas que tem me ensinado...  – Suspirei. – ... a viver. Obrigada!  

Olhei para o tecladista e pedi para ele improvisar uma introdução com base nos acordes que lhe forneci. Era tempo suficiente para controlar minha respiração.

Carrie Underwood - Lessons Learned

Com a voz ainda tímida, comecei a cantar:

There's some things that I regret,(Há algumas coisas que eu lamento,)

Some words I wish had gone unsaid, (Algumas palavras que eu desejo não ter dito,)

Some starts,(Alguns começos,)

That had some bitter endings,(Que tiveram alguns finais amargos,)

Been some bad times I've been through,(Tendo atravessado maus momentos,)

Não tive dificuldades de encaixar a letra na harmonia, elas se encaixavam sozinhas. Sem nenhum efeito, para que a guitarra ficasse com o som limpo e puro, toquei com facilidade e entusiasmo.

Damage I cannot undo,(Os danos que eu não posso desfazer,)

Some things,(Algumas coisas,)

I wish I could do all all over again,(Eu desejaria poder fazer tudo, tudo mais uma vez.)

But it don't really matter, (Mas realmente não importa,)

Life gets that much harder,(A vida fica muito mais difícil,)

It makes you that much stronger,(Isso lhe faz muito mais forte,)

A banda me acompanhou bem. Meu coração vibrou enquanto cada palavra se moldava às pessoas que me feriram e a quem eu feri. Não existia melhor forma de confessar minhas culpas e assumir as minhas fraquezas. Não era vergonhoso, era parte da magia de ser humana.

Oh, some pages turned,(Oh, algumas páginas viradas)

Some bridges burned,(Algumas pontes queimadas)

But there were,(Mas haviam)

Lessons learned.(Lições aprendidas)

And every tear that had to fall from my eyes,(E todas as lágrimas que tiveram que cair dos meus olhos)

Everyday I wondered how I'd get through the night,(Todo dia eu imaginocomoconsegui passar a noite)

Every change, life has thrown me,(Toda mudança que a vida tem feito)

I'm thankful, for every break in my heart,(Sou agradecida por cada pedaço quebrado em meu coração)

Some pages turned,(Algumas páginas viradas)

Some bridges burned,(Algumas pontes queimadas)

But there were lessons learned.(Mas haviam lições aprendidas)

Quando cheguei ao refrão, a música já havia tomado conta de mim. Sentia como se as amarras que me oprimiam estivessem sendo rompidas. Agora eu podia cantar em plenos pulmões o que sentia.

There's mistakes that I have made, (Há erros que tenho cometido,)

Some chances I just threw away,(Algumas possibilidades que eu apenas descartei)

Some roads,(Algumas estradas)

I never should've taken,(Que eu nunca deveria ter pegado)

Been some signs I didn't see,(Muitos sinais que não vi)

Hearts that I hurt needlessly,(Corações que feri desnecessariamente)

Some wounds,(Algumas feridas)

That I wish I could have one more chance to mend, (Que gostaria ter mais uma chance para curar)

But it don't make no difference,(Mas não faz diferença)

The past can't be rewritten,(O passado não pode ser reescrito)

You get the life you're given,(Você fica com a vida lhe é dada)

Oh, some pages turned, (Oh, algumas páginas viradas)

Some bridges burned,(Algumas pontes queimadas)

But there were,(Mas haviam)

Lessons learned.(Lições aprendidas)

And every tear that had to fall from my eyes,(E todas as lágrimas que tiveram que cair dos meus olhos)

Everyday I wondered how I'd get through the night,(Todo dia eu imaginocomoconsegui passar a noite)

Every change, life has thrown me,(Toda mudança que a vida tem feito)

I'm thankful, for every break in my heart,(Sou agradecida por cada pedaço quebrado em meu coração)

Some pages turned,(Oh, algumas páginas viradas)

Some bridges burned,(Algumas pontes queimadas)

But there were lessons learned.(Mas haviam lições aprendidas)

And all the things that break you,(E todas as coisas que lhe destroem)

Are all the things that make you strong,(São coisas que lhe tornam mais forte)

You can't change the past,(Você não pode mudar o passado)

Cause it's gone, (Porque já se foi)

And you just gotta move on,(E você apenas deve seguir em frente)

Because it's all,(Pois tudo são)

Lessons learned.(Lições aprendidas)

Cantei parte da estrofe de olhos fechados, deixando fluir a letra que não precisou ser decorada, porque eram meus pensamentos em forma de versos singelos e verdadeiros. Ao abrir os olhos, minha concentração dissipou-se. Avistei Edward, de pé, assistindo-me. Ele se destacou em meio à multidão que sorria, dançava e curtia a música. O motivo é que ele era o único a manter-se imóvel, encarando-me intensamente como se me olhasse pela última vez, ou pela primeira. Minha voz ficou presa na garganta e não consegui continuar. A banda achou que a pausa era proposital e seguiu tocando, embora minha respiração descompassada pudesse ser ouvida ao fundo.

Desejava que não tivéssemos chegado àquela encruzilhada. Seria eu capaz de fazer a escolha certa? E o que era certo, afinal? Tentar reconstruir minha vida o mais longe possível daquele homem que me machucou tanto? Será que em alguns anos o terei esquecido completamente? Ele seria apenas um borrão vago em minha memória ou ainda estaria vivo em cada parte de mim? Naquele momento, eu era mais verdadeira do que jamais fui e essa Bella diferente dependia de um coração que já batia fraco de tanto lutar contra Edward Cullen.

Nós desafiamos todas as possibilidades, qualquer estatística mostraria que nosso romance de verão nasceu fadado ao fracasso. Um cara arrogante e uma adolescente problemática, quem apostaria nisso? Porém, lá estávamos nós, ainda lutando pelo que restava. E o que restava era mais amor do que muitas pessoas já sentiram na vida.

Fechei os olhos e me obriguei a terminar a música.

And every tear that had to fall from my eyes,(E todas as lágrimas que tiveram que cair dos meus olhos)

Everyday I wondered how I'd get through the night,(Todo dia eu imaginocomoconsegui passar a noite)

Every change, life has thrown me, (Toda mudança que a vida tem feito)

I'm thankful, for every break in my heart,(Sou agradecida por cada pedaço quebrado em meu coração)

Some pages turned,(Oh, algumas páginas viradas)

Some bridges burned,(Algumas pontes queimadas)

But there were lessons learned.(Mas haviam lições aprendidas)

Entreguei minha guitarra a um dos músicos, recebendo muitos aplausos. Era impossível não ficar feliz. Eu tinha conseguido! A energia que a platéia me transmitia era indescritível, como mágica! Naquele momento, eu soube que meu lugar era ali, em um palco. Não importava quantas pessoas me ouvissem cantar, eu só queria mostrar minhas composições, minha alma ao mundo.

Sim, haviam muitas lições aprendidas e algumas delas foram dificílimas. Mesmo assim, eu suportei, sobrevivi. Não era uma vítima e nem queria me intitular como tal. Sou apenas uma garota tentando conquistar seu lugar ao Sol.

Edward´s POV

Eu estava tão orgulhoso do meu frango. Ela surpreendera a todos. Era impossível não ficar tocado com sua canção. Eu não podia estar mais feliz! Eu a aplaudi com toda a sinceridade.

Havia um brilho espetacular em sua face, tentei imaginar como se sentia por dentro. Centenas de pessoas a aclamavam e a banda lhe parabenizou. A letra de sua música mexeu comigo de uma forma singular e todas as palavras ainda circundavam meus pensamentos. Pelo visto, o público ali presente sentia o mesmo.

Não queria estragar a noite de Bella. Ver-me ali depois de tudo que aconteceu, devia estar deixando-a desconfortável. Além disso, não havia mais nada que eu pudesse lhe dizer. Queria que minha pirralha saboreasse sua conquista completamente e, por isso, só por isso, resolvi me retirar. Antes, me dei ao luxo de observá-la mais uma vez, radiante e linda. Todas as melhores características dela estavam presentes em cada detalhe. Enxerguei em seu sorriso a Bella insana que conheci em Verona e, nos olhos, uma garota mais sábia e profunda. Seu cabelo era parte da musicista inspirada e as roupas, de uma roqueira independente. E... Poxa, como eu amava tudo isso nela! Sem me despedir do pessoal, apenas me direcionei até a saída.

– Edward, aonde vai? – Perguntou minha mãe, em voz alta.

Acenei sem olhar para trás, serpenteando por entre a multidão.

Bella´s POV

– Ei, você é muito boa. – Elogiou o vocalista. – A propósito, meu nome é Dick.

– Obrigada. – Respondi animada. – Cumprirei minha promessa e não vou mais incomodar. – Guardei minha guitarra.

– A vaga de guitarrista já era. – Lembrou o baterista.

– Eu sei. – Tentei não parecer decepcionada.

– Só que estamos precisando de um vocal feminino. – Sorriu, esperando minha reação. Arregalei os olhos, sem saber o que dizer. – Se quiser a vaga...

– Mas eu não tenho experiência! – Saiu mais alto do que pretendia.

– Você tem mais do que consegue ver. Tem presença de palco, retirando o pequeno vacilo inicial, mas é normal para uma iniciante. Tem uma voz bonita e carisma, até já tem seus próprios fãs.

Eu com fãs? Rá! Quem diria?

– Bem...acho que vou pensar no caso de vocês. – Fiz charme e os bobões acreditaram. – É ÓBVIO QUE ACEITO! – Ri maravilhada.

– Volte amanhã para conversar com a banda. – Falou o tecladista.

UAU, EU VOU CANTAR E TOCAR PROFISSIONALMENTE? ALGUÉM ME BELISCA!

Olhei para a mesa onde estava Edward, louca para contar-lhe a novidade e meu sorriso desapareceu quando não o vi lá. Vasculhei o bar com os olhos e não o encontrei. Ele tinha ido embora?

Em um impulso, corri para o microfone e quase gritei:

– Edward onde você está? Edward?

Confesso que fiquei nervosa. O que aquilo significava? Não tê-lo por perto era perturbador e eu já sentira aquela sensação por tempo demais. Não conseguia mais suportar.

– EDZINHU! – Chamei com mais vontade.

Minha atitude desencadeou questionamentos nos fãs do Romance do Poço. Todos passaram a procurá-lo pelo bar, curiosos com o desfecho do vídeo que assistiram. Um novo aperto em meu peito se formou. Eu precisava aproveitar aquele momento em que me sentia forte e capaz, necessitava confessar o que sentia.

De repente, uma garota gritou:

– ELE ESTÁ LÁ FORA, ESTÁ INDO EMBORA!  

The Calling - Wherever You Will Go

Arranquei o colar de Reneé da guitarra e pulei do palco. Saí, abrindo caminho por entre a multidão, tentando chegar à saída. Por sorte, alguns estudantes colaboraram. Rompi porta afora e muitos me acompanharam. Olhei para a direita e nada. Olhei para a esquerda e o vi andando sozinho na rua, distanciando-se cada vez mais.

Não queria infligir mais um segundo de sofrimento a nós, aquilo precisava acabar.NECESSITAVA DE UM FIM! Corri cerca de dez metros atrás dele, gritando:

– Edward, Edward!  

Para o meu alívio, ele se virou. Sua expressão foi a de mais pura surpresa e nervosismo. Olhei para trás e vi uma multidão nos assistindo, o que tornou tudo muito mais difícil. O Cullen não se moveu e eu também não. A distância ente nós não era grande, a única coisa grande ali era a barreira que eu mesma criei por meses.

– Bella, eu... – Murmurou.

– Shhh! – Coloquei o dedo junto aos meus lábios. Ele engoliu em seco, fitando o chão. – Tenho uma confissão a fazer. – Respirei fundo. – Sou culpada! Culpada por permitir que o medo que eu sentia distorcesse meus atos e dificultasse nossa vida.

– Acho que sou culpado pelo mesmo crime.

Eu tinha tanto para dar àquele homem que me levou a viver uma história de altos e baixos, risos e lágrimas! Se hoje alguém me perguntasse se valeu à pena toda a dor para chegar ao ponto onde estava, a resposta seria, sem dúvida, SIM! O sofrimento durou um tempo, mas o que eu conquistei e aprendi duraria até o resto dos meus dias. Eu tinha duas opções: a primeira era cultivar as mágoas e sofrimento, me distanciando das pessoas que eram importantes para mim, ou viver as loucuras da vida com aquele cara maravilhoso à minha frente.

Você acha que sou estúpida? Lógico que ia escolher a segunda opção!

Falei com determinação:

– Não vamos ficar nos lamentando pelo que houve e nem ficar buscando alguém para colocar a culpa. Posso fazer uma lista dos meus erros e dos seus e mesmo assim encontraria um número infinito de motivos para não desistir do que sentimos. Edward, estou pronta! – Ergui bem a cabeça. Até podia sentir a ânsia de nossos expectadores. – Agora eu consigo! – Me concentrei em seu rosto. – Consigo dizer que... – Apertei com força o colar de minha mãe. – ...que ...EU TE AMO! –Gritei a última frase. Eu precisava fazer aquilo, pois estava exausta de reprimir aquela declaração. – Eu te amo! – Repeti com a voz torturada. A sensação foi maravilhosa. Dizer a verdade colocou por terra toda e qualquer barreira que um dia eu já ergui. Eu estava livre! Podia, finalmente, amar e ser amada.

Observei um sorriso esplendoroso crescer na face do meu Cullen. Ele fechou os olhos, absorvendo as palavras sem pressa. Então, encurtou a distância entre nós rapidamente. Abraçou-me com força, fazendo meus pés saírem do chão.

– Eu também te amo. E muito! – Ele falou emocionado. Em seguida murmurou em meu ouvido. – Chegou a hora.

– De quê?

– Disto!  

Colocou-me no chão, segurou meu rosto entre suas mãos e, para o delírio de todos, me beijou. O alvoroço atrás de mim foi grande, haviam palavras de incentivo e muitos aplausos, mas eu não me importei com nada, apenas com o beijo libertador que EDZINHU e eu trocamos.

Como eu sentia falta daqueles braços, mãos, pele, lábios e tantas outras coisas que meu cérebro não era capaz de numerar. Edward, esfomeado, sugou meus lábios e eu, os dele. Minhas mãos foram direto para sua nuca e ele me envolveu em seus braços. Seu hálito me embriagou e a maciez de sua língua contra a minha fez meu coração bater forte e saudável. Era impossível não gemer com tanta satisfação. Então, só para me enlouquecer, ele deu pequenas mordidas em meus lábios; aquilo era uma das coisas que tornavam o beijo do meu Cullen inesquecível. Uma característica tão dele quanto o cheiro delicioso da sua pele.

Edward´s POV

Eu não a perdi! Bella me amava! Não havia mais segredos ou dúvidas.

Ofegamos, mas de forma alguma separamos nossos lábios. Meus braços a envolviam com vigor, destemidos, pressionando-a contra mim. Sua língua penetrou minha boca, me levando ao êxtase. Eu a senti trêmula e eu adorava isso. Eu a queria tanto que, feliz, abriria mão do meu fôlego só para continuar beijando-a por toda a noite.

Me esqueci de tudo, absolutamente tudo. Só existiam minha pirralha e eu. Ela era o meu fogo, me consumiria ali, se assim desejasse. Calor, vontade, paixão e força: palavras que pareciam ter sido criadas para nos descrever. Nunca nos senti tão inteiros, nenhum beijo trocado ou noite de prazer desfrutada se comparava àquele momento. Havíamos evoluído, traspassado todos os obstáculos. O que poderia nos separar agora? O ódio, orgulho, ciúme, mágoa, mentira, burrice? Nenhum deles, pois nós já havíamos confrontado todos. Agora seriam eles que se renderiam diante do amor que despertamos um no outro.

– VOU TE CONTAR, VIU?! TÔ ESPOCANDO DE INVEJA! – Berrou Marius.

A bichona nos fez rir e, consequentemente, perder a concentração. Separamos, com pesar, nossas bocas e encaramos, envergonhados, os expectadores. Todos eles sorriam para nós, mas nenhum membro de nossa família se pronunciou, não havia necessidade. A imagem valia mais que mil palavras.

Bella´s POV

Edward passou o braço em volta do meu ombro e sussurrou em meu ouvido:

– Vamos para casa?

– Pode crer que sim. – Respondi feliz.

– Eles já terminaram te trocar cuspe? Eca! – Perguntou a mini-mim com os olhos tapados.

– Sim, querida. – Respondeu a mosca não tão morta. – Pode olhar agora.

Sorri para Nessie, que me retribuiu, meiga.

Acenei para o pessoal timidamente e meu Cullen e eu partimos, caminhando pela rua pouco movimentada. O alvoroço ainda era audível atrás de nós e isso me fez rir. De repente, ouvimos incrédulos a voz de Emmett:

– MUITO BEM, PARA A DIREITA, QUEM APOSTOU QUE ELES FICARIAM JUNTOS E, PARA ESQUERDA, OS PERDEDORES! ANDA, MEU POVO, VAMOS DIVIDIR A BOLADA!  

Edward e eu olhamos para trás ao mesmo tempo. Em seguida, falei:

– Um dia ele ainda vai ser encontrado morto, prometo!  

O Cabeçudo apenas riu.

Voltamos a caminhar agarradinhos. Sentia-me muito tranqüila.

– Ainda sou seu namorado, certo? – Fingiu não saber a resposta.

– Você não me pediu em desnamoro,então, considere umsim.

– Isso é bom! – Deu uma risadinha. Então, começou a cantarolar. – Você me quer...você me quer...meu frango me quer...

– Ah, meu Deus...Edizinhu, cala a boca!  

Rimos juntos.

(Continua...)


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem essas páginas. Sei que não dá para agradar a todos, mas fiz nesse capítulo as melhores coisas que eu podia para a história. Agora eu vou batalhar pelo último capítulo e só quando terminar é que vou chorar pelo fim de uma época muito boa como autora dessa fic. Ela me divertiu por meses! E também me deu dores de cabeça e algumas lesões. kkkkkkkkkk

Preciso dizer que me senti muito feliz com os comentários do capítulo anterior e como ele mexeu com muitas de vocês. Acreditem, sou grata.

Beijos,

Lunah.

***

N/Beta: Lu Grando invadindo:
Palavras de uma Beta II não muito útil mas muito emocionada:
ESTOU SEM PALAVRAS! ................ Nada do que eu disser vai descrever o quanto esse cap foi MARAVILHOSOOOOOOO!!! Portanto, se vocês não comentarem MUITOOOO, eu mesma vou esfregar a cara de vocês na lama, raxas uó!!! Kkkkkk... GALERAAAA!!!! UM BJO A TODAS AS MINHAS COLEGAS CHORONAS!
Uma mensagem ao Beta-Love (o Beta I, bofe escândalo da nossa amada autora...rsrs): VOCÊ É O CARA! Hahueahuea... =)
E Lunaaaahh... Eu não mereço a honra de ser sua pífia Beta II....... VOCÊ É A MELHOR! GRANDE AMIGA! UM BJO NO CORAÇÃO!!!