Liguei a televisão no momento em que o hino foi tocado. Sentei-me no chão, bem perto daquele aparelho estranho, como me acostumei a fazer. Eu nem sempre assistia aos programas, mas as vezes era quase uma obrigação assistí-los. Eu estava um tanto ansiosa em relação ao Massacre, sabia que aconteceria alguma coisa. Na noite anterior, eu tivera vários pesadelos, onde estava de volta na arena, debaixo do corpo do meu parceiro, mas quando olhava para o lado, Mags estava morta, olhando para mim, e o corpo sem cabeça era de Finnick.
    Finnick.
    Ele me acordou várias vezes durante aquela noite e me aconchegou em seus braços, mas, mesmo assim, os pesadelos voltavam e voltavam. Eu sabia que alguma coisa iria acontecer esse ano. O terceiro Massacre Quaternário. Um arrepio percorreu minha espinha quando o hino terminou. O presidente contou toda a história dos Jogos Vorazes e relembrou tudo o que aconteceu nas edições anteriores do Massacre. E finalmente decidiu contar o que aconteceria do terceiro Massacre Quaternário. Eu sentia meu coração bater extremamente forte e comecei a soar frio. As imagens dos meus pesadelos vieram a memória.
    -E agora nós temos a honra de realizar o terceiro Massacre Quaternário - Disse Snow. Ele pegou um bilhete amarelo de uma caixa de madeira, que estava sendo segurada por um menino de branco, leu o que estava escrito no bilhete e nos contou, de forma firme e forte - No aniversário de setenta e cinnco anos, para que os rebeldes não se esqueçam de que até mesmo o mais forte dentre eles não pode superar o poder da Capital, o tributo masculino e o tributo feminino serão coletados a partir do rol de vitoriosos vivos.
    Rol de vitoriosos vivos.
    Rol de vitoriosos vivos.
    Eu teria que voltar para lá. Era eu. Eu sabia! Eu sabia!!
    - Não - Eu ainda olhava perplexa para a televisão. Me levantei e comecei a sacudir o aparelho com força, como se pudesse deixar a cabeça de Snow tão confusa quando a minha. Aquele pânico se instalou em mim e eu senti algumas lágrimas de medo e ódio brotarem de meus olhos - NÃO!
    Me afastei daquele aparelho que só servia para transmitir coisas horrorosas. Eu xinguei, gritei com toda a força que tive, com todo o medo, como todo o ódio. Eu não podia voltar para lá. Eu morreria. Finnick morreria. Com raiva, peguei o primeiro objeto ao meu alcance e joguei contra a televisão, mas uma mão segurou o meu braço antes que eu pudesse terminar o meu ato e quebrar aquele aparelho inútil.
    - Annie?!
    Eu gritei de novo e me desmanchei num choro alto e dramático.
    - O que foi, Annie? - Finnick ainda me segurava, porém com menos força e olhava no fundo dos meus olhos. Aqueles olhos verdes, transbordando carinho e preocupação, me acalmaram um pouco - Você está bem agora, não está?
    A última vez que eu estive realmente bem foi um dia antes da minha participação dos Jogos Vorazes. Eu ainda era considerada normal, ainda tinha o meu pai, ainda tinha minha sanidade e inocência. Eu não estava bem.
    - Não, Finnick - Respondi num gemido. Senti várias lágrimas percorrendo meu rosto, mostrando o pânico em que eu estava - Eu não quero voltar para lá. Você viu, não viu? A gente vai ter que voltar!
    A princípio, Finn parecia não entender, mas logo seus olhos tentaram desfarçar o pânico que eu sabia que ele também sentia. O homem me puxou para um longo abraço. Eu enterrei meu rosto em seu peito, ainda chorando
    - Shh - Ele dizia enquanto acariciava meu cabelo - Somos carreiristas, Annie. Vários aqui já venceram os jogos. Vários podem ser escolhidos e vários podem se voluntariar.
    Não era exatamente uma mentira, mas mesmo assim, eu sentia que não daria certo. Minha vida já era bem ruim com todos os olhares críticos, e o único que fazia dela suportável, era Finnick. Eu não podia voltar à arena, não podia deixar Finnick ir, não podia deixar que mais pesadelos tomassem conta das minhas noites. Aquela ideia era simplesmente issuportável e só de pensar em vivenciá-la, sentia tremores.
    Finnick me abraçou mais forte e continuou a acariciar meus cabelos. Ele era tudo o que eu tinha. Não podia perdê-lo.
    E mesmo assim, eu o perderia.