Mary~

– Com um anjo me olhando... – Dan apagou-se completamente.

Fiquei olhando para seu rosto calmo dormindo. Ficaria mais uma noite ali olhando para o seu rosto despreocupado, brincalhão e ao mesmo tempo maduro.

Depois de ele ter desmaiado, fui até ele. Inconsciente. Todos do jogo estavam a sua volta, menos Amy. Me virei e vi-a saindo do ginásio. Gritei perguntando o que ela ia fazer.

– Seguir meu coração! – respondera ela e logo entendi.

Mandei todo mundo se afastar e peguei Dan sem jeito e o joguei nas minhas costas como um boneco de pano. Todos do jogo, menos Lucas, se assustaram com a minha força descomunal. Geralmente tento esconder essa força, para parecer mais... normal. Mas no momento, nem liguei. Antes só ouvia a minha mente, meu coração nunca falara. Às vezes tinha até certeza de não ter um. Não me considerava humana mesmo. Mas, para minha surpresa, eu tinha um coração adormecido, que acordou ao ver o rosto do Dan sem vida no chão. Ele me mandava ajuda-lo.

Sai de lá ignorando os comentários de eu ser muito nova para minha força, de que sabiam que sempre eu tinha algo diferente dos outros e blá blá blá. Só pensava em uma coisa, ajudar Dan.

Cheguei à enfermaria e a enfermeira veio correndo me ajudar, dizendo que não deveria carrega-lo assim por motivo disso e daquilo. Só a ignorei e disse para ela passar logo um remédio para ele. Ela disse para eu esperar lá fora. Depois de um tempo ela voltou e disse que ela passou um remédio forte para ele. Dormiria pelo menos um dia. No mesmo segundo, sem pensar nas consequências, falei:

– Eu posso ficar observando ele até ele acordar?

A enfermeira estranhou, mas deixou. E fiquei lá, a noite passou e nada dele acordar. De vez em quando Amy aparecia para ver o irmão ou para me trazer comida. Ela sempre vinha com Lucas, mas percebi que ela apenas o via como um amigo. Seu enorme sorriso no rosto me disse que assim que ela ouviu o seu coração, deu tudo certo. Não perguntei.

Depois conversaria com ela. Ela ficava preocupada dizendo que era ela quem tinha que ficar com o irmão, não eu, que eu perdia a vida lá fora. Mas eu não aceitei sair dali. Sempre dizia a mesma desculpa:

– Sou eu quem tem que proteger vocês e eu vou cumprir meu papel. – mas, na verdade o motivo era outro. Parecia que a minha vida ficara trancafiada naquela enfermaria, sentia que não podia abandonar o Dan.

Então, ele acordou.

A conversa foi rápida, mas, estranhamente, já que não sinto medo de dizer nada nem para o governador ou para a “presidenta”, meu coração ficava acelerado a cada palavra que trocávamos. Mas eu quase tive um enfarte mesmo, quando ele segurou a minha mão... e me proibiu de soltar. Nunca senti isso antes. Confesso que gostei muito de ficar segurando a mão dele, mas teve uma hora que aquilo parecia errado e tentei soltar nossas mãos, mas ele não deixou. Me fez prometer não sair dali.

E foi o que eu fiz.

Senti alguém passar a mão em meus cabelos completamente bagunçados para tira-los do meu rosto. Estava dormindo com a cabeça apoiada no peitoral do Dan e percebi que era ele quem mexia em meu cabelo. Olhei para a sua outra mão e percebi que ainda estávamos de mãos dadas. Levantei-me devagar e meio vacilante. Não queria sair dali.

Olhei para o Dan que estava sorridente e muito melhor.

– Falei que você era um anjo... estou muito melhor! – sua voz não demonstrava mais fraqueza.

– Não foi porque eu estava aqui! O efeito do remédio que é demorado. Dormi aqui na noite passada também. – disse sentindo minhas bochechas queimarem.

Dan ignorou e disse:

– Cumpriu mesmo o que me prometeu.

Olhei para a direção que ele olhava e vi nossas mãos ainda juntas. Rapidamente soltei-as, deixando visivelmente Dan triste.

Nisso a enfermeira chegou:

– Daniel Cahill... Pelo visto esta bem melhor.Já pode deixar a enfermaria. Suas roupas estão naquela cadeira ao lado.

Nós dois olhamos diretamente para a cadeira com as roupas do Dan. Ele se levantou e andou em direção até a cadeira indicada. Ele pegou a calça e se virou para mim:

– Se importa? - no mesmo momento já estava do lado de fora da sala esperando.

O que era aquilo que estava sentindo? O que estava acontecendo comigo? Eu nunca sentira qualquer sentimento a não ser tristeza e o ódio. O que eu estava sentindo? Por que o meu coração, que para mim já estava sendo uma lenda urbana, resolveu bater agora?

Me sentia em estado de metamorfose. Uma bela borboleta surgindo de uma lagarta rancorosa. Mas, eu não queria deixar aquela metamorfose continuar. Estava tudo rápido demais. Por que não podia ficar a mesma Mary, a mesma aberração chamada Maria Luiza, de sempre? Resolvi não dar liberdade a minha borboleta sair do casulo.

Mesmo que para isso tivesse que ser mais rancorosa que era.

Dan saiu vestido e sorrindo.

– Obrigada por ficar e cuidar de mim. Foi muito importante para mim.

– Tanto faz... Vem, hoje tem escola.- disse dando de ombros com a voz dura de sempre em vez da voz mais preocupada e sentimentalista que usara na enfermaria.

Me virei para irmos até a escola, mas o braço de Dan agarrou o meu, me impedindo de prosseguir.

– Que foi? – perguntei me virando para ele.

– Vai voltar a ser a fria de sempre. Não vai continuar sendo... meu anjo? – senti uma pontada de tristeza na sua voz.

Por mais que meu novo coração me mandasse dizer que nunca deixaria de ser a anja dele, disse:

– Aquilo era um momento de sua fraqueza. Agora está forte, não precisa de mim. Agora vamos! – me virei de novo para sairmos dali, mas novamente ele me puxou, dessa vez para mais perto dele e ele sussurrou no meu ouvido me fazendo arrepiar:

– Eu vou conseguir fazer a borboleta que está ai dentro, eu sei que está, porque eu vi; sair do casulo.

Seguimos até a escola sem dizer mais nada.

Boa sorte, Dan. Eu estou tentando reverter isso que estar acontecendo em mim. Eu vou reverter essa metamorfose.