O som inesperado do telefone assustou Anne, e ela xingou baixinho, detestando ser interrompida.

- Alô? – atendeu de má vontade.

- Anne? Aqui é a Caitlin, tudo bem amiga?

- Oi, Caitlin. Na verdade, não estou tão bem. Estou tão confusa.

- Hmmm, deixa eu adivinhar. Tem haver com o Justin não tem?

Anne suspirou. – Sim, tem tudo haver com ele. Amiga, dá pra você passar aqui em casa? Preciso tanto desabafar.

- Ok. Estou indo.

Minutos depois, Caitlin chegou á casa da amiga.

- Me conte tudo. – disse Cait sentando na cama

- Ontem eu e ele fomos até Canadá, fizemos um piquenique no parque e, a cada segundo que passava eu me apaixonava mais e mais por aquele garoto. E depois, quando chegamos, Cait ele me beijou. Ele me beijou, agora não consigo tirá-lo da minha cabeça. Sou uma idiota, não sou?  Penso nele o tempo inteiro. Na certa, não passa de uma simples paixonite aguda, frustrante mas não eterno. Como catapora, que é horrível enquanto a gente está na fase aguda, mas que passa logo. Afinal, é impossível que eu esteja amando novamente alguém que me mandou embora á anos atrás e que em três dias já estava com outra. – Ela fez uma pequena pausa, depois acrescentou desanimada: - No entanto, se não é amor, o que é?

- Seja lá o que for, parece sério. Olhe Anne, eu não posso dizer se ama ou não Justin; isso é algo que você tem que descobrir sozinha. Você já o amou e tenho certeza que não seria impossível você estar amando ele novamente. Você já não perdoou ele?

Anne fez sinal que sim com a cabeça.

- Então Anne, corra trás dele. Não o deixe escapar. Tudo mudou Anne, naquela época você era jovem demais e não conseguia encará-lo depois do fim do namoro, mas agora, você já é uma mulher, já sabe como agir, certo? Admita. Você quer ficar com ele, só está com medo. Anne, o Justin é o homem da sua vida, você não pode deixar ele escapar.

O luar incidia sobre as arvores do jardim, criando sombras estranhas sobre a grama, e uma brisa leve sussurrava por entre as folhas, balançando-as de um lado pro outro. O silêncio entre as duas era total, e ela arrepiou-se, desejando que Justin estivesse ali para abraçá-la e pôr fim ás suas dúvidas.

“ Será que ele está pensando em mim como eu penso nele? Será que está com saudades e sente a mesma coisa que sinto por ele? “

Com um grito abafado de agonia, Anne jogou-se sobre a cama e agarrou o travesseiro tentando tirar tais duvidas da cabeça.

Sentindo-se confusa e atormentada, Anne vestiu a camisola e se deitou. Caitlin não sabia o que dizer á amiga nessa situação, só ficara lá conversando com Anne para tentar fazê-la tirar Justin de sua mente pelo menos por um segundo.

Depois que Caitlin foi para casa, ficara lá, olhando o teto, querendo que o sono viesse. No entanto, durante horas e horas continuou com os olhos abertos, na escuridão, á espera do sono que não veio.

No dia seguinte, Anne levantou-se um pouquinho mais animada. Tinha prometido á avó que a visitaria pela manhã. Anne tomou um demorado banho e se vestiu. Estava se sentindo ótima.

Depois de descer para o café da manhã, Anne foi até a casa da avó com a mãe. Ao chegar a grande e aconchegada casa da vó, Anne deitou-se no sofá que agora ficava pequeno para ela, mas quando pequena, parecia tão gigante. Elizabeth tinha preparado alguns docinhos para a neta e a filha, sempre paparicava as duas sempre que podia, já que não era sempre que elas iam visitá-la por causa da rotina agitada. Mesmo com a conversa descontraída, Anne não conseguia tirar Justin da cabeça, era como se tudo girasse em torno dele e nada mais importasse para ela, nada.

- Certo, combinado! – Diana desligou o telefone e sorrindo para a Anne e Elizabeth disse: - Noelle vem essa semana para cá.

Noelle era uma querida tia de Anne, irmã de seu pai, Jake. Depois que Jake faleceu, Noelle não visitara a família da cunhada, mas agora, depois de alguns meses após a morte do irmão, decidira visitá-las para passar uma semana com a cunhada e a sobrinha.

- É mesmo? –Elizabeth – Mas isso é maravilhoso.

- Eu também acho.

- E quanto tempo Noelle está pretendendo ficar por aqui?

- Ela disse que está pretendendo ficar pelo menos uma semana aqui na cidade e depois voltará para Londres. Ela terá que resolver uns negócios por lá. Noelle vai trazer Sophie e Mike, o sobrinho dela. Portanto, tenho que arrumar os quartos de hospedes o mais rápido possível. Lembra do Mike, mãe? - perguntou Diana.

Elizabeth fez que sim com a cabeça.

- Quando é que eles chegarão?

- Sábado, no final da tarde.

- Mas, assim tão depressa? – Anne finalmente perguntou alguma coisa após ficar prestando na conversa da mãe e da avó.

- Você conhece sua tia Anne, quando resolve fazer alguma coisa, não perde tempo. Ela vai pegar um avião e depois vai alugar um carro e vem direto pra cá.

- Mike vai vir mesmo?

- Sim, qual o problema?

- Eu não gosto dele, ele é tão chato, não suporto aquele garoto – Anne bufou.

A avó e a mãe riram. – Filha, você não vê ele á anos. Aquilo foi birra de criança, vocês eram tão pequenos.

- Mesmo assim, ainda continuo não gostando dele.

- Queridas, vou dar uma passadinha na cozinha, daqui a pouco eu volto, estou fazendo um bolo e se eu não for logo olhá-lo vai acabar queimando. – Elizabeth falou apressada ás duas e com passadas longas foi á cozinha.

Noelle fora a melhor amiga da mãe de Anne. As duas, muito unidas, freqüentaram a mesma escola e foi aí que Diana conheceu Jake, o pai de Anne.  Aquela amizade continuou por anos e anos, mesmo depois te terem se casado, as duas se tornaram cunhadas. Quando Anne nasceu, Noelle foi escolhida para ser madrinha dela. Depois foi a vez de Diana ser escolhida para ser madrinha da filha de Noelle, Sophie, que tinha apenas oito meses.

Noelle, Sophie e Mike chegariam dali a dois dias. Diana e Anne então arrumaram o quarto de hospedes para os familiares, Noelle e Sophie ficariam no quarto branco e Mike no azul.

A última vez que Anne e Mike se encontraram foi á anos atrás, quando ela tinha mais ou menos 14 anos e ele uns 16 ou 17 anos. Anne não gostava de Mike, sempre que os dois ficavam juntos sempre discutiam, era impossível haver uma conversa civilizada entre os dois, Mike sempre provocava Anne e ela o xingava até não querer mais, muitas vezes, o garoto fazia brincadeiras como jogá-la na piscina em pleno inverno canadense, ou trancá-la no quarto e muitas outras coisas. Anne também pregava umas peças no garoto, uma vez a garota pegou espuma de barbear, e colocou naquelas casquinhas de sorvete, deixou alguns minutos na geladeira e ofereceu para Mike, quando o garoto deu a primeira lambida, Anne começou a rir desesperadamente e correu, o garoto bravo começou a correr atrás dela quando percebeu o gosto ruim na boca.