Narcisa sabia que a noite, mesmo não sendo o trabalho de Lucius, ele vistoriava o castelo. Isso era papel do monitor chefe, Lucius era monitor da Sonserina, mas ostentava seu desejo pelo outro cargo.

Dessa vez, ele não estava pelos corredores, ao entrar no salão comunal, encontrou Thor com Eloá e aproveitou para perguntar sobre Lucius.

Estava feliz que afinal, sua amiga e o namorado estavam dando tão bem, ele parecia abobalhado e apaixonado por ela.

― Acho que Lucius esta no dormitório. ― ele disse.

Narcisa se adiantou para o lado dos dormitórios masculinos. Eles não podiam passar para o quarto delas, mas todas as mulheres transitavam tranquilamente em qualquer lugar.

A porta estava fechada. Ela bateu e ouviu um simples “entre”.

Ao entrar, Lucius deixou cair o livro que estava estudando, Narcisa em seu quarto, isso era uma surpresa.

― Oi pra você. ― disse.

Ele estava com uniforme, ou parcialmente com. Já que usava apenas a camisa branca, aberta. Calça social e meia. Estava tranquilamente deitado em sua cama.

― Ei. Espero não estar atrapalhando muito. ― ela disse se aproximando dele.

― Nam, venha aqui.

Ela sentou na ponta da cama, ele a puxou, logo beijando.

Lucius sabia que estava meio ausente, mas também estava se esforçando para outros objetivos. Queria reconhecimento, estava a um passo disso. E seu namoro podia aguentar um pouco de afastamento.

― Agora que me beijou, pode falar. ― ele disse sem soltá-la.

Narcisa mantinha os braços no ombro dele, debruçada na cama onde ele nem se deu o trabalho de levantar.

Uma mão dele passava de sua cintura para suas costas, repetidas vezes.

A outra tirava uns fios do cabelo loiro que fugia do rabo de cavalo que ela usava.

Era disso que Narcisa gostava. A cor, os olhos, o sorriso, o cheiro... Era dele.

― Estava com saudades é? ― ele perguntou com sorriso presunçoso.

― Nós mal ficamos juntos... ― ela disse com tristeza, deixando a frase morrer.

Se continuasse, falaria que possivelmente ele estava com outra em seu lugar, mas já estava muito magoada para abrir outra ferida.

Lucius porem parecia ler seu olhar... Sabia o que ela pensava.

― Ei, também senti sua falta, engraçado, visto que estamos no mesmo lugar. Mas sei que esta atarefada com o quinto ano e eu preciso ser monitor chefe ano que vem Ciça.

― Sei que vai ser. ― ela disse, olhando o pescoço dele.

Tudo para fugir de seus olhos.

― Narcisa eu não estou com ninguém, esta me ouvindo, ei. ― ele disse erguendo o rosto dela.

― Ok.

― Não esta nada ok, não acredita em mim?

― Não perguntei, entende? Tem algo acontecendo.

― Então isso pode esperar. Preciso que acredite em mim, não estou com ninguém Ciça, só com você, sim?

Por algum motivo ela sabia que ele dizia a verdade. Lucius nunca hesitou e nem hesitaria a deixar claro que tinha ficado com outra. Mas ele não o fez, porque não a traiu.

Constatar isso a deixou feliz, tanto que voltou a beijá-lo.

― Opa, vai com calma bruxinha. ― disse ofegante, ela também estava e ainda mais arrasada pelo beijo.

― Desculpe.

― Não se desculpe por isso. E olhe... Vou tentar não fazer, sabe. Não te trair. É difícil, tenho minhas necessidades, já te falei. Mas vou tentar.

Narcisa sentia os olhos encherem de lagrimas, não, não, não. Não iria chorar na frente dele.

― Obrigada. ― disse engolindo o choro e respirando fundo.

― Agora me fale o que esta pegando.

― Augustus.

― Augustus? Rookwood? O que tem ele?

― Augustus anda me abordando Lucius, me ameaçando.

Ele se endireitou, sentando finalmente. Augustus ameaçando Narcisa, isso era algo surpreendente.

― Pode explicar melhor?

― Há alguns dias atrás ele me abordou, tinha consciência que nós dois tínhamos viajado juntos, deixando claro que imaginava oque tinha acontecido algo entre nós.

Ela ficou vermelha. Lucius sabia que o “algo entre nós” ela queria dizer, sexo.

― Continue.

― Ele sempre foi meio a fim de mim, você sabe. Então ele marcou para que eu o encontrasse, Lucius, eu fui.

Lucius engoliu seco. Augustus tinha sido sim a fim dela, mas foi algo passado desde quando Lucius ganhou o posto de namorado dela. Ele sabia também que os dois não se falavam, mas imaginou que isso era coisa dela.

― Continue.

― Ele... Ele tentou me beijar. Disse que queria ficar comigo, beijar e outras coisas, na troca de não espalhar que tínhamos viajado juntos.

― Ele fez isso? ― o rosto dele estava ficando levemente vermelho.

― Fez. Eu falei sobre você. Ele disse que você se gabaria caso soubessem que tínhamos viajado juntos e que você sempre me traía, então não teria problema eu ficar com ele. Então vim correndo falar com você.

Agora estava explicado o porquê de ela entrar em seu dormitório.

Mas Augustus era outro departamento...

― Aonde ele esta?

― Num corredor no quarto andar.

Lucius já se levantava da cama e abotoava a camisa no mesmo tempo que calçava o sapato. Segurou em sua mão ao saírem, ela sentia como ele podia ser frio, tão frio como as paredes do castelo.

Seguiram em silencio as escadas, então Lucius percebeu onde seu amigo estava ao detectar a fumaça.

Augustus sorriu ao ver Lucius com semblante fechado se aproximar, a namoradinha estava com a mão presa na dele vindo junto, isso seria interessante.

― Lucius, veio dar um trago? ― disse.

― Sem brincadeira. Quero saber por que esta rodeando a minha mulher!

― Serio?

― Augusto você me conhece bem, sabe como sou impaciente... ― ameaçou.

― Ok ok. O que sua putinha disse?

Narcisa prendeu um grito. Lucius sentiu a raiva nublar sua visão.

―Respeita minha namorada.

― O que sua namorada disse?

Lucius repetiu prontamente. Palavra por palavra que ela lhe contou.

― E então? ― perguntou a Augusto.

― E então o que? Merlin, Lucius não acha mesmo que eu faria isso, sim?

― Então por que ela inventaria isso? ― perguntou com raiva.

― Ah isso tem que perguntar a ela, talvez esta querendo atenção, ou sentiu falta do que fizeram na viajem do iate... Mulheres, tão difíceis de entender.

― Não seja idiota Augustus, sabe que não inventei nada! ― ela respondeu.

― Lucius olhe bem para mim, crescemos juntos, juntos mesmo desde sempre. Acha que eu ameaçaria sua namorada, o namoro de vocês? Acha mesmo que eu daria em cima dela, cara?

Na mente de Lucius vinham tantos anos junto com Walden e Augustus. Claro que Walden tinha uma importância maior, mas... Com certeza seu amigo nunca faria isso.

Sua raiva estava destina agora para outra pessoa.

― Não pode ser... ― ela murmurou quando ele soltou sua mão.

― Não pode ser mesmo, quão baixa você pode chegar? ― perguntou friamente.

― Não acredito que esteja acreditando nele Lucius.

Ele soltou uma gargalhada fria, era horrível ver seu namorado assim, se tratava de uma pessoa irreconhecível.

― Merlin, claro que vou acreditar nele, Augustus nunca me trairia!

― E eu sim? Acha que eu inventaria uma mentiria para você assim?

Seus olhos ardiam, não gostava de chorar, muito menos na frente dos outros. Já estava guardando há muito tempo esse choro, mas não deixaria as lagrimas descerem na frente de Augustus.

― Mulheres são loucas e você não gosta dele. Isso é uma alternativa, mas dessa vez foi muito baixa Narcisa, quase acabou com minha amizade. É infantil, mentirosa e estou com vergonha em ter sido sincero com você mais cedo.

― Lucius...

― Sabe quando agirei daquele jeito novamente?

― Lucius me escute...

― NUNCA. Nunca mais serei tão sincero e idiota com relação a você.

Ela sentia o corpo pesar demais sobre o joelho, virou e saiu dali, correndo. Não aguentaria mais tanta humilhação e não poderia ver o olhar triunfante de Augustus quando levantasse a cabeça.