Hermione entrou em casa feliz da vida e foi direto para o escritório onde seu pai estava trabalhando. Entrou sem fazer barulho e disse:

- Papai?

- Oi? – respondeu o pai concentrado em uns papéis em cima da escrivaninha.

- Eu só queria te agradecer por hoje. – disse Hermione. – Você nem imagina como foi importante pra mim você ter conversado com o Ronald e não ter tratado ele mal...

O pai sorriu para ela e disse:

- Não precisa me agradecer por nada, filha. Eu julguei mal o Ronald da primeira vez que ele veio aqui, nem quis conhecê-lo e nem percebi o quanto ele significava pra você, porque sempre me preocupei com outras coisas, me esquecendo da minha família. Mas eu estou tentando mudar, quero participar mais do que acontece aqui.

- Muito obrigada, pai! – disse Hermione feliz.

- Mas eu quero que você faça uma coisa pra mim.

- O que?

- Quero que você tente se entender com a sua mãe.

Hermione fez cara de quem não gostou.

- Pai, a culpa não é minha. Ela mesma disse que me odeia desde que ficou grávida. Eu não posso fazer nada. – respondeu Hermione.

- Hermione, ela não te odeia. Sua mãe é uma pessoa difícil, sempre foi...

- Eu sei. – interrompeu Hermione. – Pra ser sincera eu não entendo como você pode ter se casado com ela, e ainda mais ter perdoado o que ela te fez. Ela não te merece, pai...

- Não diga isso, Hermione. – disse o pai sério. – Eu amo a sua mãe, mesmo ela sendo como é. E ela se arrependeu dos erros que cometeu...

- É, com certeza ela se arrependeu de ter deixado que eu nascesse... – disse Hermione.

- De jeito nenhum! Eu não quero que você fale isso nunca mais! Eu vou conversar com a sua mãe, mas me prometa que você também vai tentar se entender com ela?

Hermione olhou para o teto com impaciência.

- Prometa, Hermione. – repetiu o pai.

- Tudo bem. Mas eu não vou aguentar as grosserias dela. – disse Hermione antes de sair.

Ela passou na cozinha para tomar um copo d’água antes de ir dormir e se deparou com Cormac e sua mãe. A empregada colocava gelo no nariz do filho. Hermione mordeu os lábios para evitar rir.

- Pode ir dormir, mãe. Eu também já estou indo. – disse Cormac. Relutante, a empregada deixou o filho e foi embora.

- Eu não esperava isso de você, Hermione. – disse Cormac.

Hermione fingiu não ter ouvido e foi saindo da cozinha, mas Cormac a segurou pelo braço.

- Você quer um olho roxo pra combinar com o nariz? – disse Hermione tentando se livrar de Cormac.

- Há! E quem vai me bater? O seu namorado pobre? – caçoou Cormac.

- Não, eu mesmo posso te bater se você quiser! – Hermione ainda tentava se livrar dele, mas Cormac a apertava com mais força.

- Você não tem coragem, eu sei que você gosta de mim. – Cormac tentou beija-la a força, mas Hermione virou a cara e com a mão livre deu um tapa em cheio na cara dele.

No susto, Cormac a soltou. Com a mão no rosto ele a olhava indignado.

- Não chega mais perto de mim! – Hermione gritou antes de sair correndo para o quarto.

Assim que entrou no cômodo trancou a porta para evitar que Cormac entrasse de surpresa. Mas quando deitou-se na cama, a única coisa que tinha na cabeça era Ronald e tudo que tinha vivido com ele naquele dia. Parecia ter sido o dia mais longo de sua vida, mas sem dúvida foi o melhor de todos.

Hermione acordou no dia seguinte com o barulho da porta do quarto sendo esmurrada. Ela levantou sonolenta e abriu a porta para encontrar sua mãe com a cara amarrada como sempre.

- E o que foi agora? – perguntou a garota de mal humor.

- Por que a porta estava trancada? Por acaso aquele Ronald dormiu aqui com você? – perguntou a mãe entrando no quarto e olhando para todos os lados procurando Ronald.

- É claro que não. – respondeu Hermione com impaciência. – A porta estava trancada para evitar visitas indesejadas.

- Mas que falta de respeito! – exclamou a Sra. Granger. – Eu bem que disse pro seu pai que ele está te dando muita liberdade e agora você está se achando a rainha da carne seca!

- Eu estava falando do insuportável do Cormac. Ontem ele tentou me agarrar, foi você que mandou?

- O que? Eu não mandei ele fazer nada! Pare de inventar, Hermione. O Cormac tem namorada!

- E mesmo assim veio me agarrando. Eu já vou avisando que não vou tolerar mais nada. Se ele tentar mais alguma coisa, eu vou contar pro meu pai, então avisa o seu queridinho, ok? – Hermione saiu do quarto, mas a mãe a chamou:

- Hermione! Vem aqui, eu quero falar com você.

Hermione voltou de má vontade.

- Que é?

- Não seja mal educada. – começou a mãe. – Bom, seu pai conversou comigo ontem a noite...

- E?

- E eu quero te pedir desculpas se algum dia eu fiz com que você se sentisse rejeitada por mim, nunca foi minha intenção te deixar mal, afinal, você não tem culpa de nada...

Hermione continuou quieta. Não conseguia sentir sinceridade nas palavras da mãe. Sabia que ela só tinha dito isso porque o pai pediu.

- Quem era esse cara com quem você traiu o meu pai? – a pergunta saiu de sua boca sem que ela pensasse antes.

- Pra que você quer saber isso? Você não está contente com o pai que tem?

- É claro que sim. Quer saber? Não me interessa. – Hermione sentou-se na cama com os braços cruzados, olhando para baixo emburrada.

Devagar, a mãe se aproximou e se sentou na cama e suspirou antes de dizer:

- O nome dele era Severo Snape. Ele foi meu namorado na adolescência, antes de eu ter conhecido o seu pai. Ele era de uma família muito rica, assim como eu. Mas logo eu conheci seu pai, que era pobre. Mas eu me apaixonei por ele e larguei o Snape. Foi só depois que eu descobri que eles eram amigos. Depois de alguns anos eu e seu pai nos casamos e você sabe que desde então eu nunca mais falei com a minha família porque eles não aceitaram o nosso casamento. Enquanto isso seu pai montou a empresa e os negócios iam muito bem. Eu já tinha tido o Draco e o Harry quando seu pai chamou Snape para se juntar a ele no comando da empresa. Então nós começamos a nos ver cada vez mais e... acabou acontecendo. Quando seu pai descobriu tudo ele demitiu Snape e eles nunca mais se falaram e eu também nunca mais soube dele. Ele não sabe que você é filha dele.

- E não vai saber nunca. – disse Hermione.

Sem dizer mais nada, a Sra. Granger se levantou e saiu do quarto. Hermione não sabia o que estava sentindo com relação a ela. Desejou não ter perguntado nada. Agora que sabia como tudo tinha acontecido se sentia estranha, ainda era difícil para ela acreditar que era filha de um completo desconhecido. Mesmo assim, ela estava decidida a manter a felicidade que o namoro com Ronald tinha trazido de volta a sua vida. Lembrou-se que era sábado e que poderia passar o dia todo com ele e isso a animou.