Era sábado. Hermione acordou, tomou banho e demorou a se arrumar, afinal, agora que Cormac tinha voltado, ela tinha um motivo a mais para ficar bonita. Desceu para tomar o café da manhã e já ia perguntar onde ele estava, quando a empregada disse:

- Senhorita Hermione, tem um rapaz no portão que deseja falar com você. Ele disse que está com a sua carteira.

- Com a minha carteira? Bem, peça que ele espere na sala de visitas, vou tomar um suco e já vou.

Hermione tomou seu suco com a maior calma. Ela gostava de fazer as pessoas esperarem por ela. E, afinal, não devia ser ninguém importante mesmo, com certeza podia aguardar um pouco.

Hermione entrou na sala e logo avistou um rapaz alto e ruivo de costas, que observava os porta-retratos sobre a estante encostada na parede.

- Eu não acredito! – exclamou Hermione, sobressaltando o rapaz, que se virou com um sorriso para olhar para ela.

- Oi, Hermione Granger. Casa legal a sua. Parece até um castelo...

- Posso saber o que você está fazendo aqui? E com a minha carteira? Com certeza deve ter olhado todos os meus documentos, já que sabe até o meu nome.

- É que ontem quando você deu aquele escândalo no estacionamento, você deve ter deixado cair a carteira. Eu a vi no chão logo depois que você foi embora. E é claro que eu olhei os documentos, queria saber onde devolver isso. – ele olhava para ela de um jeito estranho em que se misturavam interesse e diversão.

- Você devia ter deixado com o porteiro, não precisava ter se enfiado aqui na minha casa. – disse Hermione estendendo a mão para receber a carteira. Mas o rapaz não a entregou.

- É, eu devia. Mas preferi entrar, queria ver você de novo. – disse ele com um sorriso torto.

Hermione ficou surpresa, não sabia o que dizer. “Mas que atrevimento”, ela pensou. Ele continuou olhando para ela, parecia estar avaliando sua reação.

- Me devolve a carteira e sai logo daqui. Não tenho tempo pra ficar de conversa. E nem espere gorjeta, você já deve ter tirado algum dinheiro daí mesmo. – disse Hermione em seu habitual tom superior.

- Você é realmente uma dama, hein? – ele disse. Parecia estar se divertindo muito com a situação.

Rindo, ele deixou a carteira em cima da mesinha de centro. Ao passar por Hermione, parada com os braços cruzados e olhar carrancudo, ele disse:

- E caso você esteja se perguntando, meu nome é Ronald Weasley.

- Não, eu não estou me perguntando. – ela respondeu, virando-se para ele. Ronald estava novamente sorrindo para ela. Hermione não sabia por que, mas aquele sorrisinho malandro a irritava ao extremo.

Ela ficou parada no mesmo lugar por alguns minutos. Depois, respirando fundo, voltou direto para a mesa do café, onde sua família já estava sentada. Cormac também estava lá. Seu humor, de repente, estava ótimo.

- Com quem você estava conversando lá, Hermione? – perguntou sua mãe.

- Ah, era só um pobre coitado que achou minha carteira e veio devolver. – respondeu a garota.

- E você foi falar com ele sozinha, sem nem saber quem era? Isso é perigoso. – Cormac disse.

Hermione abriu um sorriso do tamanho do mundo. Ele estava preocupado com ela!

- O Cormac tem razão. Aliás, eu pago segurança pra que? Não quero qualquer um entrando na minha casa. – concordou o Sr Granger.

Mas Hermione não estava mais prestando atenção. Olhava para Cormac de um jeito sonhador. Ele estava de volta, o seu Cormac estava de volta! Aquele que sempre se preocupava com ela e a defendia de tudo e de todos.

Quando ele se levantou da mesa e entrou na cozinha, Hermione foi atrás sem nem mesmo disfarçar.

- Ei, Cormac! Vamos dar uma volta no parque hoje, como nos velhos tempos? Eu tenho que levar o Bichento pra passear mesmo, ele precisa tomar um ar, sabe... – disse ela, pretendendo ser casual.

Cormac riu:

- Levar o Bichento pra passear? Desde quando gato precisa ir passear?

Hermione sentiu seu rosto arder. Parecia um pimentão de tão vermelha. Mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, Cormac falou:

- Quer saber? To com saudades de passear no parque também! Vamos sim. – ele estava sorrindo.

A garota teve que se segurar para não pular de alegria. Não acreditava que ele tinha aceitado, já tinha até se preparado para levar outro fora! Mas isso era bom, muito bom! Só os dois no parque, como nos velhos tempos... Seria a ocasião perfeita para tentar se aproximar mais dele.

- Então tá! Eu só vou trocar de roupa e pegar o Bichento! – disse Hermione, sem conseguir conter sua euforia.

Durante todo o caminho até o parque, sentada no banco do carona com Bichento no colo, Hermione não conseguia tirar os olhos de Cormac. Só de estar ali, do lado dele, enquanto ele dirigia, fazia Hermione se sentir extremamente feliz.

Quando o carro parou, eles desceram e Hermione soltou Bichento, que saiu correndo atrás de alguns passarinhos. Os dois caminharam, Hermione sempre olhando para Cormac e sorrindo. De vez em quando ele olhava para ela também e dava um sorrisinho tímido. Conversaram um pouco, Hermione quase não falava, só ficava escutando Cormac contar sobre a viagem, os lugares que conheceu e as coisas que aprendeu.

Depois de algum tempo de caminhada, eles compraram um refrigerante e se sentaram na grama, sob o sol, para descansar. Hermione havia se distraído observando Bichento correr atrás de uma borboleta. Quando olhou para o lado, Cormac estava deitado, com os olhos fechados. Era a visão do paraíso para ela. Ela observou seu corpo, seus cabelos, seus olhos, seu nariz. Sua boca.

Sem ao menos se dar conta do que estava fazendo, apenas seguindo seu instinto, Hermione se curvou e beijou a boca de Cormac. No instante em que ele percebeu o beijo, abriu os olhos, assustado, e empurrou Hermione para o lado, com mais força do que seria necessário.

- O QUE É ISSO HERMIONE? – ele estava gritando com ela.

- Eu... é que eu... – do chão ela olhava para ele, as lágrimas começando a se formar em seus olhos.

- Eu achei que você já tinha entendido. Eu não quero isso!

Hermione ficou em pé e tentava se aproximar dele, enquanto ele se desvencilhava dela.

- Cormac, não fale assim comigo, eu te amo, você sabe...

- Não ama coisa nenhuma! Você não tem limites, é esse o seu problema! Vê se cresce um pouco, pelo amor de Deus! – dizendo isso, ele foi se afastando dela, entrou no carro e foi embora, sem nem mesmo olhar para trás.

Hermione ficou ali, sem reação, apenas chorando. Olhou a volta e percebeu que algumas pessoas a estavam encarando. Era muita humilhação, ela não podia ficar ali. Agarrou sua bolsa, pegou Bichento e entrou no primeiro táxi que viu.

Quando o carro parou em frente a sua casa e ela abriu a carteira para pagar o taxista, percebeu que um pedacinho de papel dobrado caiu em seu colo. Desdobrou e leu o que estava escrito: “Se um dia você quiser fugir do castelo” e embaixo, um número de telefone, seguido pelas iniciais R.W.