Demorou um tempo até que Hermione tomasse conhecimento de onde estava e do que estava acontecendo. Depois que Ronald saiu, ela ficou parada no mesmo lugar. Sua mãe e a empregada entraram e falaram com ela, mas ela nem sequer percebeu que elas estavam ali. Foi só depois de algum tempo que ela se viu sentada no sofá ao lado da mãe, com um copo de água na mão.

– O que foi que aquele delinquente fez com você, minha filha? – perguntava a Sra. Granger desesperada, quase a beira das lágrimas.

– Nada, mamãe, ele não me fez nada. – respondeu Hermione atrapalhada.

– Como nada! Ele te bateu? O que ele te fez pra você ficar nesse estado? Eu vou chamar a polícia, vou ligar para o psiquiatra...

– CHEGA MÃE! – explodiu Hermione. – Ele não me fez nada, já falei! – Hermione se levantou. – Cadê o Cormac?

– Já falei, filha, ele não está...

– Então acha ele agora! Eu preciso falar com ele! – Hermione estava alterada.

– Calma, filha! Senta aí, procura se acalmar, eu vou ligar pra ele e pedir pra ele vir aqui urgente. – disse a mãe saindo apressada do escritório.

Hermione continuou lá sentada, balançando a perna, inquieta. “Não pode ser, não pode ser, não pode ser”, era a única frase que se formava em sua cabeça. “O Cormac não pode ter feito isso, não pode!”.

A Sra. Granger voltou dizendo:

– Ele já está vindo, Hermione! Vem, vamos almoçar enquanto isso, você está branca... – disse a mãe, puxando Hermione pelo braço para fazê-la levantar. Mas Hermione puxou o braço com força e continuou sentada.

– Vai você. Eu vou ficar aqui até aquele... até o Cormac chegar. Sai todo mundo daqui! – mandou a garota. A empregada não precisou ouvir duas vezes e saiu correndo, mas a Sra. Granger ainda ficou lá aflita com o comportamento de Hermione. – Mão, POR FAVOR! – pediu ela perdendo a paciência.

Então Hermione ficou ali sozinha, com a cabeça apoiada nas mãos e os olhos fechados, até que finalmente Cormac chegou.

– O que aconteceu, Hermione? Sua mãe está desesperada, disse que o cara veio aqui e que você ficou perturbada, sei lá. O que aconteceu?

Hermione ergueu a cabeça e olhou para ele.

– Sim! O “cara” veio aqui e me contou uma coisa muito interessante, Cormac. Ele me disse que você ofereceu dinheiro pra que ele me largasse. É isso mesmo? – perguntou Hermione.

Cormac pareceu espantado e por um momento não disse nada.

– É isso mesmo. Eu ofereci dinheiro a ele sim. – respondeu finalmente. O queixo de Hermione caiu.

– E você fala isso com essa cara de pau? Eu não acredito! Você não pode ter feito isso, Cormac! Que tipo de pessoa você é?

– O tipo de pessoa que estava desesperada vendo você se afundar nas suas atitudes, enquanto sua mãe estava angustiada e não sabia mais o que fazer! Você sumia de casa, ninguém sabia onde você estava, só sabíamos que você estava com um marginalzinho da terceira classe que com certeza queria só se aproveitar de você! Me desculpa, Hermione, eu errei, ok? Isso não foi certo...

– Minha mãe sabia disso? Foi ela que mandou você oferecer dinheiro pra ele? – interrompeu-o Hermione.

– Não! Claro que não! Sua mãe não sabia de nada. Isso foi uma ideia minha, eu estava desesperado, não foi nada planejado, foi um ato impensado. Me desculpa, Mione? Eu logo me arrependi, você me conhece, sabe que eu sou honesto.

– O Ronald disse que você o ameaçou, dizendo que ia contar tudo pros meus pais. E você tinha prometido que ia me ajudar, eu estava confiando em você!

– Eu disse isso, mas foi da boca pra fora! Eu nunca ia fazer isso com você, eu nunca contaria nada pros seus pais! Eu estava do seu lado, Mione, como sempre! Eu sempre estou do seu lado! – Cormac se aproximou e abraçou Hermione. Ela continuou com os braços cruzados mas não repeliu o abraço.

– Por favor, me perdoa Mione? – pediu Cormac com a voz doce.

– Tudo bem. – disse Hermione. Cormac sorriu.

– Isso já é passado mesmo. Você está comigo agora. E eu vou avisar os seguranças pra não deixarem esse cara entrar aqui.

– Não precisa, ele não vai mais voltar. – disse Hermione.

– Que é isso, Mione? Parece que você está triste por isso... – disse Cormac.

– Não, é que... sei lá, eu só queria que tivesse sido diferente. Ele não merecia...

– Pelo amor de Deus! Quem não merece isso sou eu! Você se arrependeu de ficar comigo, é isso?

– Claro que não, Cormac. – respondeu Hermione.

– Que bom. Hoje eu vou te levar ao cinema, que tal?

– Aham, pode ser... – respondeu Hermione.

– Então vamos logo almoçar.

Depois do almoço, Hermione estava um pouco mais animada. Se arrumou e foi para o cinema com Cormac.

– Oba! Quero muito ver esse filme! – disse Hermione apontando para o cartaz.

– O que? Homem Aranha? Por favor, Hermione! Isso é coisa de pré-adolescente ignorante. Já comprei nossos ingressos. Nós vamos assistir esse documentário sobre o dono de uma multinacional que em plena meia idade se vê no meio dos conflitos e armadilhas do mundo empresarial e precisa se reinventar para não perder seu lugar no mercado petrolífero.

– Nossa. Deve ser ótimo. – respondeu Hermione querendo morrer. Mas tudo bem, ela pensou, namorados não vão ao cinema para assistir o filme. Pelo menos era o que Parvati sempre dizia.

Entraram na sala de cinema. Além de Cormac e Hermione havia apenas três pessoas: um casal de aproximadamente oitenta anos e um cara barrigudo que dormia na última fileira. O filme começou e Hermione não aguentou assistir nem cinco minutos. Deitou a cabeça no ombro de Cormac e tentou beija-lo.

– Não, Hermione! Você tem que prestar atenção desde o começo, senão não vai entender nada. – disse Cormac, sem tirar os olhos da tela.

Depois de mais dez minutos que pareceram 2 horas, Hermione resolveu pegar uma pipoca. Quando voltou, Cormac nem percebeu que ela tinha saído.

– Hermione! Você está fazendo muito barulho com essa pipoca! – reclamou Cormac. Hermione parou, com a boca aberta e um punhado de pipoca na mão. Irritada, jogou a pipoca para o lado e encostou a cabeça na poltrona.

– Hermione! Hermione! – a voz de Cormac vinha de longe. Hermione abriu os olhos.

– Hermione, você dormiu? – perguntou Cormac.

– Claro que não! – respondeu Hermione, se arrumando na cadeira.

– Vamos então. – disse Cormac, levantando. O filme tinha acabado finalmente.

– E agora, onde nós vamos? – perguntou Hermione, segurando um bocejo.

– Pra casa, é claro. – respondeu Cormac.

– Mas, Cormac, ainda é cedo! – protestou Hermione.

– Mas de domingo eu gosto de descansar. Amanhã eu vou ter muito trabalho na empresa já que seu pai e seus irmãos não estão aqui.

Então eles foram embora. Hermione ficou com cara de emburrada o caminho todo, mas Cormac nem se deu o trabalho de perguntar o que ela tinha. Isso a deixou revoltada, odiava ser ignorada desse jeito. Imaginou que seu primeiro encontro com Cormac seria maravilhoso, mas não passou de uma grande porcaria.

Chegou em casa e foi direto para o quarto. Estava certa de que Cormac ia aparecer por lá antes de dormir para lhe dar um beijo de boa noite, mas sua espera foi em vão, ele não foi. Isso a deixou ainda mais irritada. Pensou em Ronald e no que ele estaria fazendo àquela hora.