Hermione ficou o resto do dia trancada em seu quarto, não saiu nem para comer. Ela estava com muito ódio de Cormac pelo jeito que ele aparecera na casa de Ronald e a levara embora. Também estava com ódio por ele ter resolvido se interessar por ela justo agora que ela estava começando a gostar de verdade de Ronald. Isso a deixava muito confusa.

Depois do jantar, Hermione ouviu uma batida na porta do quarto. Sentou-se assustada. Se fosse Cormac ela preferia pular pela janela do que olhar para ele.

- Quem é? – perguntou Hermione.

- Sou eu. – respondeu sua mãe do outro lado.

- Então entra.

A Sra Granger entrou e se sentou na cama. Hermione já sabia, pela cara dela, que vinha mais bronca.

- Então você me desobedeceu e saiu com o marginal outra vez. Muito bem, agora você está de castigo. Não vai mais sair de casa sozinha. E fique sabendo que eu só não contei nada pro seu pai ainda, porque ele tem muita coisa na cabeça e não precisa de mais uma para se preocupar. Mas se você não melhorar, eu vou contar e pode acreditar que seu castigo vai ser muito maior.

A Sra Granger nem esperou que Hermione respondesse e saiu do quarto. Não que ela pensasse em dizer alguma coisa, porque sabia que nada adiantaria. Então ela se deitou na cama e ficou olhando para o teto, enquanto as lágrimas escorriam dos seus olhos.

Quando eram quase 8 da noite, o celular de Hermione tocou. Ela correu para atender, pensando que fosse Ronald, mas era sua amiga Parvati.

- Oi, Mione! Você sumiu, hein! Vamos sair hoje? – disse Parvati animada.

- Ah, desculpa Parvati, mas eu estou de castigo, não posso sair.

- De castigo? Você? – riu Parvati. – Mas o que foi que você fez pra ficar de castigo?

- Ai, nada... eu te explico uma outra hora, juro. – respondeu Hermione, querendo terminar logo a conversa.

- Hum, ok. Mas eu vou querer saber mesmo, viu?!

Hermione desligou logo o telefone. Estava esperando que Ronald ligasse para ela a qualquer instante, tinha certeza que ele ligaria.

Mas quando já eram nove e meia, Hermione já não tinha mais tanta certeza assim. Será que ele tinha ficado bravo com ela? Será que, em algum momento, Hermione deixou transparecer algum sinal de interesse por Cormac e Ronald notou? Deitada de lado, olhando para o celular, ela adormeceu.

Hermione acordou assustada. Bichento miava muito alto do lado de fora da sacada do quarto. Ela levantou um pouco atrapalhava, não fazia ideia de quanto tempo tinha dormido. Foi até a sacada e abriu a porta para Bichento, que entrou correndo e se acomodou no meio da cama. Quando ia fechar a porta, Hermione viu uma moto parada do outro lado da rua. Seu coração deu um salto. Será que era a moto de Ronald? Ela saiu para olhar melhor e viu alguém se mexendo entre alguns arbustos do jardim. Hermione viu Ronald escondido no meio das folhas, olhando para cima como se procurasse alguma coisa. Desesperada, ela começou a acenar, tentando chamar a atenção dele. Finalmente ele a viu e deu um sorriso.

- Posso subir aí? – Hermione viu a boca de Ronald formar as palavras sem emitir som algum.

- Vem! – ela respondeu num sussurro, fazendo sinal para que ele fosse até ela.

Ronald olhou para os lados e correu até a sacada de Hermione. Mostrando uma habilidade incrível, ele escalou até ela, tendo como apoio apenas os vincos da parede. Pulou para dentro da sacada, ficando frente a frente com Hermione. Ela o puxou para dentro do quarto.

- Você é maluco? Como você conseguiu entrar aqui sem ser pego pelos seguranças? – sussurrou Hermione sorrindo.

- Não foi fácil. Fiquei escondido umas quatro horas até surgir uma brecha e eu poder entrar. – respondeu ele.

Ronald deu uma boa olhada a sua volta e disse:

- Uau! Seu quarto é bem maior que a minha casa, hein!

Hermione nem estava escutando. Ainda olhava para Ronald, incrédula.

- Por que você não me ligou? Eu achei que você estava bravo comigo. – perguntou a garota.

- Eu fiquei com medo que tivessem pegado seu celular, e se eu ligasse poderia causar mais problemas.

- Não pegaram. Não posso nunca mais sair de casa, mas ainda tenho meu celular... – respondeu Hermione, sentando-se na cama, aborrecida.

Ronald sentou ao lado dela e a abraçou carinhosamente. Depois ergueu o rosto dela, para que ela o olhasse e a beijou. Hermione o beijou de volta com vontade. Os dois se separaram e ela foi até a porta e a trancou.

- Tem gente nessa casa que entra sem bater. – explicou ela, voltando e se recostando no encosto da cama. Olhou para Ronald e ele deitou ao lado dela, chutando Bichento se querer, que pulou da cama irritado e foi se deitar na poltrona do outro lado.

Hermione se aproximou de Ronald e deitou a cabeça em seu ombro.

- E agora, o que a gente vai fazer? – perguntou ela.

- Não sei. Mas eu vou dar um jeito, não se preocupe. – respondeu ele, acariciando os cabelos dela.

Hermione o abraçou com mais força. Era tão bom estar ali com ele. Ela se sentia protegida como jamais se sentira em toda sua vida. Tinha muito medo que isso acabasse.

- Posso te perguntar uma coisa? – disse Ronald.

- Pode.

- Aquele Cormac. O que você tem com ele?

Hermione suspirou. Estava esperando que Ronald lhe perguntasse isso a qualquer momento. Ela se sentou e olhou para ele.

- É uma história muito longa e muito... difícil pra mim. – começou ela. – Mas eu acho que você merece saber.

Então ela contou tudo para ele. Como Cormac tinha sido criado em sua casa como um irmão, como ela nunca o viu como irmão e todas as rejeições que sofreu quando tentou demonstrar seus sentimentos para ele. Mas o que tinha acontecido pouco antes, aquele beijo, ela resolveu omitir. Não conseguiu reunir coragem suficiente para contar a Ronald. Ele a ouviu com atenção. Quando ela terminou, ele disse:

- E o que você sente por ele agora?

- Raiva. Muita raiva. Só isso. – Hermione disse depressa.

Ronald sorriu.

- Eu sei que não é só raiva que você sente. – Hermione abriu a boca para responder, mas Ronald a interrompeu. – Mas tudo bem. Eu imagino como deve ser difícil essa situação e você ainda ter que viver com ele na mesma casa. Eu sei que você está tentando deixar isso para trás. A única coisa que me importa – ele olhou fundo nos olhos dela. – é saber se eu tenho alguma chance contra ele.

Hermione olhou para ele, os olhos cheios de lágrimas. Queria dizer que ele era a melhor coisa que aconteceu com ela em muito tempo, e o quanto ela gostava dele. Mas ao invés disso, apenas fez que sim com a cabeça. Isto pareceu bastar para Ronald, porque ele abriu um sorriso e a puxou para mais perto dele para que ela se deitasse sobre seu peito de novo. E eles ficaram assim, Ronald acariciando os cabelos de Hermione até que ela dormisse.