Dreams, Fear, Disappear escrita por Ann G


Capítulo 5
Parte IV




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Através do vale que guia um homem cego, com ilusões

A besta aparecerá nos seus sonhos esta noite?

Ele correrá embaixo da claridade do luar que persegue arco-íris na noite?

Por favor, ajude o homem a matar a besta sem tristeza ou dor

Repentinamente, o sol aparece no vale para ele

Agora o homem cego pode ver, parece que a luz o cega

Disposto a andar pelo vale de mãos dadas com você

Tarja Turunen – Promises Under The Rain

Parte IV

O sonho veio em três cores: preto, branco e um vermelho mortiço.

Era uma noite fria. Estava descalço na grama, na lama. A chuva banhando meu corpo e lavando minha alma, trazendo o forte cheiro de terra molhada. Andei um pouco e esbarrei em uma grande pedra fria. Uma lápide.

Um estranho nevoeiro fino e triste de verão parecia como uma seqüência de fantasmas subindo. Até a lua, crescente encerada e delgada, se assemelhava a uma pálpebra caída. O cemitério se estendia infinitamente, as paredes do sonho espremiam o ambiente até se tornarem grotescos e assustadores.

Olhei para a lápide a minha frente e li as letras escritas cuidadosamente por alguém. Exaltei minha respiração. Haruno Sakura.

Assassino.

Olhei rapidamente em direção da voz e a vi. Estava em pé, me olhando fixamente. Os lábios franzidos em dor. Suas mãos estavam em sua barriga, vermelhas. O sangue pingava de todos os lugares do seu corpo.

Fechei os olhos para me libertar e quando senti uma respiração fria na minha nuca os abri ferozmente e me virei. Apenas para encarar dois orbes esverdeados sem luz. Sem brilho. Trêmulo eu queria escapar, fugir, correr e me esconder como se mil demônios estivessem me perseguindo.

Não há cor, não há luz, não há promessa de qualquer coisa senão o horror do outro lado.

Assas...

- Pare! – gritei exasperado

Segui seus olhos novamente e vi o que ela tentava enxergar. Minhas mãos em minha espada atravessada em seu coração. Sangue.

- Sasuke-kun... – ela murmurou falecendo em meus braços.


Caí em um abismo esquecido pela escuridão. Sufocado pelo meu grito que não parava de sair de minha boca.

O sussurro esganiçado conseguiu separar a ilusão da realidade. Abri os olhos e só consegui ofegar de surpresa.

- Sakura?! – minha voz saiu arranhada. Minha respiração ofegante e meu susto transformou o timbre da minha voz completamente estranho, sufocado. Eu estava completamente surpreso por ter sido acordado por ela. Sakura realmente estaria no meu quarto há essa hora ou eu estava alucinando? Um estágio avançado da minha loucura. – Você está aqui mesmo?

- Sim. Você está bem? – sua voz soou preocupada – Tentei te acordar várias vezes, estava em agonia.

- Estou bem.

Sentei na cama e passei as mãos no rosto para retirar os resquícios do pesadelo. Aquele tinha sido pior, eu havia matado-a. Olhei para Sakura e ela continuava na mesma posição desde que eu havia despertado. Sentada na beirada da cama me olhando, esperando o tempo certo para começar a falar. Frustrado, passei as mãos repetidas vezes no cabelo e os desalinhei completamente, tentando ignorar a situação constrangedora.

- O que você está fazendo aqui? – perguntei. A voz ainda alterada, a garganta seca.

- Com o que você sonha?

- Não te interessa. Isso só diz respeito a mim.

- Naruto me contou.

Olhei para ela novamente e fixei meus olhos nos dela, tentando descobrir o que ela estava querendo dizer. Claro que eu sabia o que era, só desejava que fosse outra coisa.

- Sobre Itachi, Konoha e seu clã.

- Ele não deveria ter aberto a boca para falar nada sobre isso.

- Não o culpe. – Sakura colocou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha e cruzou as mãos – Ele só estava cansado de me ver insegura com relação a você. Ansiosa e tensa. Com medo de que novamente seu instinto vingador aparecesse e desejasse destruir Konoha, sem motivos aparentes. Ele estava cansado de me ver sofrer Sasuke.

Eu a observei enquanto falava. Seus olhos estavam sérios, exibiam uma maturidade que eu nunca havia percebido desde que tinha voltado. Há muito tempo eu deixei de observá-la com intensidade, com medo de meus próprios pesadelos.

- Porque você não me contou Sasuke? Porque preferiu me ver distante de você todos esses anos? Por quê?

- O que você queria Sakura? Se eu lhe contasse isso você voltaria a ser aquela garota tola apaixonada por alguém completamente errado. – levantei da cama e a encarei furiosamente – Acha que eu quero que aquele tempo antes de eu ter ido embora volte? Não, eu não quero. Tentei te matar e não foi apenas uma vez. Estava cego. Cego por um ódio que eu desconhecia.

“Eu não só fui capaz de te ferir emocionalmente como quase te feri fisicamente. – suspirei – Karin quase morreu por minha culpa. Só pensava em matar Danzou, vingar meu irmão e não importava quem ou o que estivesse em meu caminho. Você e Naruto sempre estiveram do meu lado, me apoiando, lutando comigo, buscando por mim. Nunca desistindo. Eu não poderia ficar ao lado de vocês, não valho à pena. – encarei-a – Não iria suportar vê-la machucada por minhas mãos.”

- Está enganado.

- Não estou. Era um monstro que só pensava em matar, me vingar. Um tolo que conseguia enxergar um futuro melhor porque deixava com que o ódio me consumisse. Um tolo que cogitou a hipótese de ter sido traído por você e isso quase lhe custou a vida.

- Não digo que está enganado sobre isso, e sim porque mesmo se tivesse me contado antes eu não voltaria a ser aquela garotinha. – ela se levantou e se aproximou de mim, segurando meu olhar no dela, sorrindo timidamente e corando levemente. – Continuo sendo apaixonada por você. E esse sentimento não regrediu, apenas amadureceu.

- Sakura... – senti os dedos dela no meu rosto e fechei os olhos para apreciar o toque sensível que ela tinha.

Isso não muda nada Sasuke. Você irá matá-la, não é bom o bastante para estar do lado dela.

Abri os olhos e me afastei, deixando-a intrigada com minha atitude.

- Isso não muda nada. Não iremos ficar juntos, não posso ficar ao seu lado, não depois de tudo o que fiz para você.

- Conte-me sobre os seus pesadelos.

- Sakura, não faça isso.

- Por favor. Eu mereço saber.

Encarei aqueles orbes gentis, carinhosos e amorosos. Senti uma segurança que só havia sentido nos braços de minha mãe. E assim eu contei. Olhando nos olhos dela obtive a segurança de proferir todas as palavras que descreviam meus sonhos perturbadores. Ela apenas escutou, não me interrompeu e assentia brevemente me encorajando a continuar. Contei até mesmo da voz que me assombrava todos os dias, me sentindo desconfortável a cada momento e esperando que ela esboçasse nojo por causa do que havia em minha cabeça. Esperando que ela me desprezasse.

Quando terminei não houve olhares de pena, de medo ou de desprezo. Ela não se demonstrou assustada ou até mesmo sentiu nojo do que possuía na minha cabeça.

- Então você sonha comigo morrendo. Interessante.

- Isso não é nada interessante. Você não é burra Sakura, sabe o que isso significa.

- Sei que isso é apenas um sonho Sasuke. – olhou-me – Se você acha que não podemos ficar juntos por causa de um sonho, o burro aqui é você.

- O que? – perguntei estupefato

- Se tem tanto medo que eu morra então significo muita coisa para você. Deveria esquecer essa idiotice e passar a me proteger, se teme tanto que algo assim ocorra.

Olhei para ela sem saber o que falar. Sakura mais uma vez conseguiu entender o que se passava na minha cabeça e deu uma resposta lógica para o meu medo. Eu não poderia matá-la, não a amando tanto. Ela se aproximou novamente e segurou minha mão, apertando levemente os dedos.

- Há quanto tempo você escuta essa voz na sua cabeça?

- Desde o julgamento.

- Acho que sei como curá-lo.

- Isso não é uma doença. Você pode ser a melhor médica da aldeia, mas é algo errado com minha cabeça.

- Você antigamente falava menos. Agora está falando mais e só dizendo idiotices. Vamos, tem um lugar que quero lhe mostrar.

Segurei sua mão e a segui, sem hesitar.

...

- Não foi destruído.

- A aldeia toda foi destruída, mas o cemitério não. Alguns acreditam que esse local foi protegido pelas almas.

Continuei andando seguindo o caminho que Sakura traçava. Respirei entre ofegos quando eu vi onde tínhamos parado. Havia três túmulos. Três Uchihas. Minha família.

- Itachi...

- Tsunade-sama encontrou o corpo dele e o trouxe para cá. Ela achou que seria bom que ele fosse enterrado ao lado da família.

- Flores.

- Tsunade vem ao túmulo dele todo inicio da semana e coloca flores. Essas mais novas são minhas. Vim aqui logo depois que regressamos da missão.

- Porque ela coloca flores no túmulo dele?

- Acho que ela sente a necessidade de fazer isso. – senti os olhos dela me observando. Não tive coragem de fitá-la, só conseguia ver as pedras com o símbolo do clã e os nomes entalhados. – Konoha está em divida com Itachi. Ele é um herói.

- Konoha não sabe o que ele fez. Como podem considerá-lo um herói?

- Tsunade-sama sabe, eu sei, Naruto sabe e há outras pessoas também. Nós somos Konoha, nós consideramos Itachi um herói e isso é mais que suficiente. E mesmo assim, ele nos ajudou na guerra, foi uma parte vital.

- Minha mãe deve ter ficado feliz vendo seu filho voltar para casa e estar ao lado da família novamente.

- Tenho certeza que sim. – senti pelas suas palavras que estava sorrindo - Sua mãe deve ter sido uma mulher muito especial.

- Ela foi. – olhei-a. Finalmente consegui encarar aqueles orbes gentis. Olhei para nossas mãos ainda entrelaçadas e voltei a fitá-la. – Você me lembra ela. É gentil, carinhosa e forte.

Sakura sorriu. Seus olhos se encheram de lágrimas, ela respirou fundo e as impediu de cair.

- Quando você aceitou deixar outras pessoas morarem no distrito a voz em sua cabeça parou?

Demorei uns instantes para responder sua pergunta.

- Sim. – intriguei percebendo esse fato. Não havia percebido que a voz havia perdido sua força – Ficou em silêncio por alguns momentos.

- Então estou certa. Para curá-lo você precisa enfrentar e destruir os fantasmas que te assombram. Aceitar o passado, viver o presente e ansiar pelo futuro. Sem medo, sem traumas.

- O passado é parte de mim Sakura. Não consigo evitar pensar em tudo que ocorreu.

- Não se preocupe. Irei ajudá-lo. – ela apertou nossas mãos – Você considera Itachi um herói? Consegue perdoar Konoha?

Então eu a entendi. Era isso que ela quis dizer sobre enfrentar os fantasmas e aceitar o passado.

Olhei para os túmulos e depois direcionei meus olhos para o céu. Lua cheia. Fechei os olhos relembrando todos os acontecimentos que me trouxeram até aqui hoje, nesse momento. Senti a mão feminina na minha, senti a doce fragrância que emanava de seu corpo, e senti seus olhos atentos em minha face, ansiando pela minha resposta. Estando ao meu lado, sempre.

Se tudo que aconteceu no passado me trouxe para esse lugar hoje, eu tenho que agradecer. Por mais que tenha sofrido, feitos pessoas que amo sofrerem, pude estar ao lado de Sakura novamente. E agora eu desejo fazer o certo. Então é assim que é ansiar pelo futuro.

Eu sabia qual era minha resposta.

- Deveríamos criar uma estátua homenageando Itachi.

Sakura gargalhou. Como era agradável escutar ela rindo, sem medo. Sorrindo para mim.

- Ah sim. Podemos até colocar ao lado dos rostos dos Hokages. O que acha? – perguntou-me divertida

Eu sorri. Escutei o chiado da voz da minha cabeça diminuindo, sendo esquecida.

- Vamos. Tenho outro lugar para te mostrar.

...

- Me trouxe até aqui para me martirizar não é?

- Em parte sim. – sorriu – Esse lugar foi reformado. Aquele daquele dia foi destruído, foi deixado para trás. Para dar espaço para um novo e melhorado lugar. Como você deve fazer. Aqui foi o inicio de tudo. Quando você deu adeus aos seus amigos e se deixou levar pela escuridão. Está na hora de deixar esse lugar te levar para felicidade.

O local era novo como ela tinha falado, mas a essência daquele antigo lugar estava ali, me fazendo relembrar de tudo até chegar à noite em que havia me despedido, que havia deixado meus amigos, minha aldeia e Sakura.

Dei as costas para a saída da aldeia e me virei para Sakura, esboçando em meus olhos a decisão de querer um futuro melhor e como sempre, ela me entendeu.

- Amanhã cedo estarei lá para te ajudar a construir as casas. Como poderei ajudar?

Eu sabia que aquela pergunta estava direcionada para a construção das casas no Distrito. Mas respondi de acordo com o que meu coração queria responder:

- Apenas continue sorrindo.

Ela me olhou indagando curiosidade, entendeu o que eu quis dizer e sorriu. Aquele sorriso que espantava a escuridão de mim, o sorriso que me salvava.

Sakura se aproximou e me envolveu com seus braços. Abracei-a, enterrando meu rosto em seus cabelos, respirando seu cheiro e sorrindo pela felicidade alcançada.

- Obrigado, Sakura. – repeti aquelas palavras que falei anos atrás, nesse mesmo lugar. Mas dessa vez eu não estava deixando-a, eu estava planejando viver o resto de minha vida com ela.

E soube no mesmo momento que ela queria o mesmo quando senti seus braços me apertando.

– Sabe o que me deixa com raiva por causa daquela noite? – ela me perguntou quando me afastei para olhá-la. Indiquei para que continuasse e Sakura esboçou um sorriso de divertimento – Você ter me deixado desacordada no banco. Ainda bem que Konoha é livre de estupradores.

E então pela primeira vez depois de muito tempo gargalhei. O que assustou Sakura, é claro.


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Notas finais do capítulo

Antes de tudo vamos surtar com a capa da Jump dessa semana!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
http://bit.ly/NyOqql
Se não conseguirem acessar o link, leiam a oneshot especial pro filme que o Kishimoto fez. Foi publicada junto com o capítulo do mangá da semana, então vocês verão a capa da Jump.
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Esse capítulo estava pronto há um bom tempo, mas eu não postei antes porque estava com preguiça uashuashusah Ah gente... Eu sofro do mal da preguiça. Acho que só decidi aparecer hoje no nyah e postar o capítulo porque fiquei super animada com a capa da Jump. Fiquem animados comigo kkk
Esse filme... só está me enchendo de alegria. É cada poster, capa, trailer, teaser e mais o tanto de coisas que me deixam tão alegre. Kishimoto fazendo os haters se revirarem de tanto desgosto HAHAHAHA #megusta
Acho que a última vez que vomitei arco iris por SasuSaku foi quando o Sasuke foi embora de Konoha, apesar das circunstâncias aquele capítulo foi a coisa mais linda do mundo. Mas agora........ agora virei unicórnio, de tanto arco iris vomitado /piada sem graça kkkk
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Enfim... Como não sabemos o desenrolar do mangá, tudo o que escrevi aqui pode mudar, pode acontecer algumas coisas e também pode nada acontecer. Sakura poderá descobrir o que houve com o clã muito antes, todo mundo saberá o que Itachi fez (é o que eu mais quero) etc. Por isso que eu acho uma complicação escrever fanfics do universo Naruto. Tudo é incerto. Mas saiu dos meus surtos e espero realmente que gostem. Eu falei que iriam ser 5 capítulos né... mas eu tive que escrever mais e no fim das contas vão ser 6 partes, incluindo o prólogo e o epílogo. Portanto o próximo vai ser o último êêê kkkk
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Espero realmente que gostem :)