Dreams, Fear, Disappear escrita por Ann G


Capítulo 4
Parte III




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Parte III

Quando voltei para o acampamento o céu já estava claro. Sakura e Naruto já estavam desmontando o acampamento e quando me aproximei nenhum dos dois me encarou.

- Vou acender a fogueira...

- Não precisa. – Sakura me interrompeu, olhando-me pela primeira vez naquele dia. Seu olhar havia mudado... Pena? Era pena que estava esboçado em seus olhos? – Perdemos muito tempo por causa da chuva, não iremos gastar mais tempo envolta de uma fogueira para tomar café da manhã, seguiremos direto. – Seu olhar havia mudado, não era pena que estava em seus olhos agora, era raiva.

- Ei Teme, vai pegar suas coisas e me ajude com essa barraca.

Ajudei Naruto a desmontar a barraca e arrumamos nossos itens nas nossas mochilas. Esperamos Sakura voltar da floresta e assim prosseguir com a nossa missão.

- Está piorando. – Naruto afirmou enquanto encarava o espaço aberto pelo qual Sakura havia atravessado. Ele havia me escutado na noite anterior, havia percebido todo o meu tormento, todas as angústias que estava sofrendo por causa de um passado que decidi trilhar por não ter esperanças de felicidade.

O cansaço abateu-me depois de muitas noites mal dormidas e intensos treinamentos para interromper meus grotescos pensamentos. Olhei para Naruto e apenas assenti. Não iria adiantar mentir para ele, mentir para a única pessoa que sabia o que se passava na minha cabeça.

- Sakura-chan sabe que está acontecendo algo.

Enterrei as mãos em meus cabelos e os puxei furiosamente para trás e enfim retirá-los dos meus olhos. Suspirei cansado, cruzei os braços e dei fim à conversa iniciada por ele. A última coisa que eu queria era conversar sobre a Sakura e sobre meus pesadelos. Ainda mais sabendo que ela estava presente em todos aqueles sonhos... Nos piores e nos melhores sonhos.

- Estão prontos? – ela perguntou assim que adentrou na clareira em que havíamos montado o acampamento.

Eu e Naruto assentimos positivamente. Ela concordou, olhou fixamente em meus olhos e sorriu. Um sorriso que fez minhas entranhas se contorcerem e se apertarem dentro do meu corpo, um sorriso que fez todo meu organismo se agitar. E que se eu me permitisse, ficaria feliz apenas por ela ter esboçado um dos sorrisos que há muito tempo eu não via. Fiquei incerto, receoso, inquieto e claro, inseguro.

Inseguro por pensar que as barreiras entre nós estavam se quebrando, que poderíamos voltar a ser...

O que eram antes? Me diga Sasuke, o que vocês eram? Ooooh, está querendo dizer na época em que você nunca cogitou matá-la? – gargalhou – Claro, a época falsa de sua vida. Vamos lá, dê a chance de ser feliz com ela, dê a chance de matá-la finalmente.

Fechei os olhos, bufei e dei as costas aos meus parceiros de equipe. Comecei a andar para concluir a missão e enfim poder voltar a minha vida de tormentos.

Cada decisão que tomei, cada batalha que travei, cada passo que dei para chegar ao que sou hoje, cada coisa que eu havia sacrificado e que havia me martirizado me fez perceber que sou um idiota completo.

É claro que os sentimentos mudam, eu fiz com que isso acontecesse.

Alguém que desistiu da felicidade para trilhar um caminho de escuridão. Porque ficar revoltado com esse fantasma na minha cabeça? Com esses meus pesadelos? Porque ficar com raiva de conseqüências dos atos que eu cometi no passado? Não há felicidade para mim e devo aceitar isso. Devo aceitar que a maldição dos Uchiha irá estar comigo eternamente.

O tempo continua passando, minha vida continua caminhando em lentos passos e meu futuro sempre continuará sendo incerto. Apenas decidido o meu final, um final em que permanecerei sozinho. Sempre.

Encarei o céu. Incrível como depois de uma tempestade no dia anterior ele se destacasse no mais profundo azul, com poucas nuvens e um sol que tentava esquentar o canto mais frio do meu corpo. Observei o lento movimento daqueles amontoados brancos, seguiam o fluxo do vento, não importando com o tempo ou com o destino, com o final de sua jornada. Completamente diferente de mim.

Estava tão absorto em meus pensamentos que nem havia percebido a presença feminina ao meu lado e me assustei quando escutei sua voz sendo direcionada a mim.

- Como está indo a reconstrução das casas?

Olhei confusamente para Sakura. Ela realmente estava dialogando comigo? Encarei os orbes esverdeados e obtive a resposta para minha pergunta, já que Sakura me olhava esperando uma resposta.

- Hm. Avançado.

- Puxa que ótimo! – ela disse entusiasmada, o que me fez encará-la novamente. – E o que você vai fazer sobre o Distrito Uchiha?

Percebi quando Naruto olhou para nós dois interessado no rumo que a conversa estava tomando. Ele parecia-me um pouco surpreso, tanto quanto eu.

- O que você está fazendo Sakura? – perguntei rispidamente. De algum modo eu teria que descobrir o que ela estava planejando e não seria do modo dócil.

- Como assim?

- Porque essa mudança de personalidade? Você até ontem me odiava e agora está sorrindo e conversando comigo.

- Nunca te odiei. – ela virou o rosto rapidamente para o outro lado, não antes de eu perceber que estava ficando... vermelha. Sakura estava corando? – Só estava com raiva de você e percebi que se continuasse a nutrir esse sentimento só iria me consumir para o pior. – suspirou – Antigamente você e Naruto não se gostavam, mas esqueceram esses sentimentos idiotas para o bem da equipe. É o que pretendo fazer.

Virei para frente e continuamos a caminhar em silêncio. Sentia seus olhos sobre mim esperando por uma resposta, olhos abrasadores que queimavam minha alma.

- Vou deixar o Distrito como está.

- Você deveria reconstruí-lo.

- Como? – indaguei intrigado. Desde quando havia voltado à Konoha Sakura nunca tinha me dirigido palavras de maneira normal e agora ela estava sendo amigável até demais e isso estava sendo algo surpreendente.

- Quando conhecemos Kakashi-sensei, ele nos perguntou quais eram nossos objetivos. – ela sorriu pela lembrança daquele dia – Você falou que iria reconstruir seu clã. Acho que construir casas no Distrito já é uma ótima maneira de começar.

- Sakura... – voltei meus olhos para o céu e observei novamente as nuvens que continuavam a dançar calmamente – Sou o último Uchiha e não pretendo gerar crianças.

- Não estou falando de você sair engravidando por aí. – ela murmurou – Konoha não tem mais espaço para construção de casas para desabrigados de outras aldeias. As casas que estão construindo são aquelas que já existiam naqueles lugares, portanto já possuem donos. O Distrito é grande e pode abrigar muitas pessoas em casas que não possuem donos.

- Está querendo construir casas no Distrito para não Uchihas habitarem?

- Sim. – Sakura afirmou receosa – Naruto poderia ser o primeiro a morar lá e ele até te ajudaria na construção...

- Porque Naruto?

- Ele deu a casa dele para uma família que não tinha nenhum lugar para morar. – sorriu – Ele está agora morando com o Kakashi-sensei, mas está louco para se mudar e como não há mais casas em Konoha pensei no Distrito. Não quero te obrigar a aceitar isso Sasuke, só estou dando uma opção.

Opção? Quem essa garota pensa que é? Ela acha mesmo que civis sem uma linhagem decente podem morar em um lugar destinado a pessoas superiores?

Ignorei a voz irritante e comecei a pensar na proposta que Sakura havia feito. Se eu aceitasse iria colocar um fim na área destinada apenas para os membros do clã, poderia trazer felicidade em um lugar que há muito tempo desconhece esse sentimento. Pretendi reconstruir o clã, ter uma família, filhos que honrassem o nome Uchiha e mostrassem que são diferentes daqueles que um dia decidiram um golpe de Estado. Só que isso nunca vai se concretizar, pelo único motivo de não querer criar uma família com alguém que eu nunca irei respeitar como esposa. A única que eu desejaria ser a mãe dos meus filhos...

Sasuke, Sasuke... vai continuar criando ilusões?

Talvez reconstruindo o Distrito para outras pessoas morarem é o jeito de reconstruir o clã.

- Acho que é uma boa ideia.

- Sério? – ela abriu ainda mais o sorriso que já estava estampado em sua face e ver isso agitou um pouco meu coração.

- Sim. Se há tantas pessoas precisando de um lar e o Distrito possui tanto espaço, acho que seja uma boa ideia.

Sakura ia continuar falando se não tivesse sido interrompida por Naruto, se nós não tivéssemos sidos interrompidos.

- Acho que temos ação.

Logo na nossa frente um grupo de mercenários olhava-nos com curiosidade. Suponho que estão esperando o Senhor Feudal com a grande quantidade de doações, e a minha suposição estava correta quando avistamos a caravana do Senhor Feudal parada no meio do grupo.

- Pensei que estavam nos aguardando em uma vila.

- Esses idiotas. – Sakura bufou – Vamos.

Postei atrás de Sakura e analisei os olhares dos mercenários em todos os movimentos que ela dava. Se aqueles caras queriam pegá-la desprevenida estavam enganados, ou até poderiam conseguir isso. Só tinha um porém, eu não estava desprevenido.

- Ora ora, shinobis de Konoha. – o cara que usava ataduras nos dois braços e sorria para Sakura se aproximou de nós com uma feição nada agradável. Semicerrei os olhos ao vê-lo encará-la dos pés a cabeça. Bufei. Ok, ele seria o primeiro a morrer. – Vocês estão um pouco distantes da aldeia.

- Estamos no lugar certo. – Naruto sorriu confiante.

- Dêem a volta antes que se machuquem.

- Nós podemos resolver isso polidamente? – Sakura perguntou

O cara olhou-a sugestivamente. Crispei os lábios e esperei Sakura continuar com sua proposta polida, algo que não estava agradando a mim e nem ao Naruto.

- Essa caravana pertence à Konoha. Portanto nos devolvam com todos os itens intactos e com todas as pessoas e prometemos não lutar contra nenhum de vocês.

Um coro de gargalhas explodiu entre os mercenários que começavam a nos cercar. Nós três ficamos em posição de luta e senti a animação de Naruto. Igual a ele eu estava excitado, eufórico, ansioso por uma boa luta que eu não tive por anos.

- Bem, vou fazer-lhe outra proposta e garanto que é uma muito melhor do que a sua.

Sakura não respondeu nada, ficou calada esperando que seu silêncio fosse entendido como um continue. O mercenário, que eu poderia distinguir como o chefe do bando, deu mais alguns passos para perto de Sakura e eu discretamente dei um passo em direção a ela e ansiei que ele fizesse qualquer movimento impróprio, algum movimento que causasse a sua morte e que eu não fosse punido por isso.

- Junte-se a nós e deixaremos seus amigos irem embora. – ele sorriu – Ou, seja obrigada a juntar-se a nós e mataremos seus amigos.

Percebi quando Sakura começou a acumular chakra em suas mãos. Olhei para Naruto e ele sorriu. Esperamos que nossos inimigos dessem os primeiros passos por simples questão de dignidade, honra. Não poderíamos dizer que foram covardes.

Perceberam nossos movimentos e finalmente notaram que nossa resposta para aquele estúpida proposta era um não bem claro.

- Rapazes, - Sakura murmurou para nós – vamos acabar com isso rápido e sem mortes, certo?

- Você é a capitã Sakura-chan, você manda.

Vi quando Naruto utilizou o Kage Bunshin e suas várias cópias tomaram de conta da batalha, suspirei derrotado. Eu queria ação e não vê-lo cuidando de tudo.

Olhei para Sakura que esboçava um leve sorriso por toda aquela ação entediante e percebi uma movimentação em direção a ela. O mercenário líder se aproximava com uma espada em sua mão. Ela percebeu e se preparou para revidar, me coloquei na sua frente antes que um ataque pudesse alcançá-la e ativei o Sharingan. Era tarde para impedir seu ataque, ainda mais com ele utilizando uma espada banhada de veneno, por isso ativei o Sharingan e o fiz cair em um mundo ilusório.

- Porque você fez isso? – Sakura perguntou esboçando sua raiva – Se meter na minha frente como sempre. Que droga Sasuke!

- Aquela espada estava com veneno, se nos tocasse poderia ser...

- Sou especialista em venenos! Se ainda não sabe, derrotei um Akatsuki que a sua habilidade era utilizar armas com venenos!

- É melhor precaver do que se submeter a horas de desperdício de chakra se curando por causa de uma desatenção.

Distanciei-me dela e me aproximei do mercenário que havia nos atacado. Estava desmaiado com uma expressão de horror em sua face, iria ficar desacordado por um bom tempo.

Olhei em volta, observei todos aqueles inimigos caídos e Naruto sorrindo para Sakura como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. Aqueles são meus dois parceiros de equipe que cresceram e se desenvolveram bastante desde o dia em que decidi dar as costas para eles.

Nos aproximamos do senhor Feudal que saía da sua carruagem e dava ordens para seus vassalos reerguerem a caravana. Ele nos olhou com nojo, como se fossemos inferiores aqueles mercenários que haviam interceptado sua viagem.

- Tsk. Estou levando uma grande quantia de doações para Konoha e é assim que a Hokage demonstra sua gratidão?

- Não estou entendendo senhor.

- Ela me manda três garotos que se consideram ninjas para nos proteger. Três crianças que mal saíram das fraldas, que tipo de segurança podem proporcionar?

- Senhor, nós acabamos de derrotar todo aquele grupo de mer...

- Até eu poderia tê-los derrotado. – o velho interrompeu Sakura bruscamente e ainda não satisfeito continuou a disparar palavras grosseiras contra nós.

- A Hokage mandou os dois melhores ninjas de Konoha. – falei rispidamente

Ele me olhou ainda esboçando aquele olhar de nojo, crispou os lábios e apontou o dedo para mim.

- E você é o que?

- Sou um ninja traidor, fugitivo e extremamente letal e que se não calar a boca vou adorar fazê-lo ficar desmaiado até chegar em Konoha.

- Isso é um ultraje! – esbravejou irritado. Era impressão minha ou seu rosto estava ficando vermelho? – Como aquela mulher ousa me mandar um louco? Como ela pode confiar em alguém que não é digno...

- Cale-se senhor. – Sakura interrompeu-o cansada de escutar o quanto seu trabalho estava sendo desprezado – Sasuke é um ninja de Konoha, membro do meu time e escalado entre os melhores para exercer o papel designado pela Hokage. Se não está do seu agrado, por favor, pode continuar seu caminho sem a nossa escolta.

Fitei minha parceira atônito. Desde cedo Sakura havia decidido mudar comigo, se tornando amigável. Mas agora... Ela havia me surpreendido e Naruto esboçava a mesma reação que eu estava tendo.

- Tsk. Se eu não tenho escolha...

O velho subiu em sua carruagem e esperamos todos da caravana estarem prontos e dispostos a continuar a viagem.

Percebi a aproximação de Sakura antes mesmo de ela entrar em meu campo de visão. Seu cheio impregnava em mim como uma droga. Fechei os olhos e me entreguei aquele odor peculiar que despertava cada célula adormecida dentro do meu corpo. Aquela fragrância tinha sabor, textura e se tornava mais e mais presente a minha volta a cada segundo. Abri meus olhos encarando os orbes esverdeados, vergonhosos, tímidos, fortes. Ela sorriu delicadamente, amavelmente. Aquecendo minha alma de uma forma graciosa.

- Obrigada. – ela disse. Encarei-a com curiosidade, porque estava me agradecendo? – Por ter impedido que eu fosse ferida.

Ah sim, por aquilo.

- Não precisa agradecer, é meu dever proteger meus companheiros. Eu que tenho que agradecer pelo que disse pro velho.

- Ora. Não precisa agradecer, é meu dever proteger meus companheiros.

Ela deu um sorriso zombeteiro e se virou para começar a caminhar em direção a Konoha. Um lugar que pela primeira vez depois que voltei estava considerando como lar, e tudo por causa das palavras que Sakura havia proferido.


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo postado, ufa.
Finalizei esse capítulo no domingo, fiquei com ele aberto até agora pensando em mudar alguma coisa, adicionar mais outra etc. Fiquei agoniada por não achar que ele estava bom o bastante... Não consegui mudar nada nele então decidi postar logo antes de ficar louca hahaha
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Bem, tive que alongar um pouco a fic. Tive que adicionar mais uma parte e ao invés de terminar com 5 partes, serão 6.
Espero que gostem, de verdade.
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Beijos =D