All Nightmare Long escrita por Sam Wright


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Porque ordem cronológica é muito mainstream e eu não sei manter cliffhanger. Sue me.



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It's empty in the valley of your heart,

The sun it rises slowly as you walk,

Away from all the fears

and all the faults you've left behind.


John Watson sentiu que a sala no número 221B da Rua Baker nunca esteve tão cheia.

Não era bem verdade, mas, depois de três meses de solidão, até o pensamento de ver outra pessoa além de Holmes no flat era absurdo. Ainda assim, contrariando todas as expectativas, lá estavam aquelas três pessoas fortemente armadas, com vestígios de sangue e sujeira em suas roupas rasgadas.

Sentados no sofá estavam Katherine e Ben Davenport, ambos parecendo e se sentindo deslocados. Fitzwilliam Owen estava à espreita na janela, esperando algum zumbi aparecer devido ao barulho de tantos tiros. Como a besta, a adaga e a espada não foram suficientes para limpar o caminho até a casa de Sherlock Holmes, os três não tiveram escolha. O medo era que o caminho se enchesse com monstros quando eles fossem embora, mas era tarde demais; a única opção era trocar as armas silenciosas por armas de fogo. Foi rápido, mas barulhento – fato que Holmes teve prazer em ressaltar.

Sherlock se encontrava em sua poltrona, praticamente jogado. Sentia-se mais calmo depois de ter terminado seu cigarro, mas uma dor de cabeça insuportável o fazia grunhir de vez em quando. Agora ele encarava o homem que mantinha a mão na pistola em seu cinto, alerta como se esperasse que um dos mortos-vivos se materializasse no meio da sala. Com os olhos semicerrados, Holmes tentou deduzir algo sobre aquele homem. Tudo o que conseguiu foi analisar sua postura, sem dúvidas a de um espadachim. Talvez chegar a essa conclusão não fosse tão difícil devido à espada que ele tinha na bainha, também presa no cinto, mas o detetive não se importou. Não gostava de admitir, mas estava quase acostumado com o ritmo mais lento que seu cérebro adquirira. Não que fosse algo bom, era o oposto completo disso. Mas não havia nada mais para deduzir. Nada. Então era provável que seu cérebro estivesse sofrendo os efeitos disso. Ele tinha, sim, pensado que o cigarro o ajudaria a estimular sua mente. Já que não teve esse efeito, tudo o que ele podia fazer era bufar e se perguntar se era assim que as pessoas normais pensavam. Lentamente.

Katherine, a única mulher ali, aparentava ter vinte e poucos anos. Era alta, mas tinha movimentos ágeis de uma rapidez impressionante, como John pôde ver pela janela na hora da luta. Seus longos cabelos castanhos estavam presos num rabo-de-cavalo bagunçado, e seus olhos verdes examinavam o lugar com curiosidade. O homem ao lado dela, Ben, parecia um pouco mais velho do que ela, mas tinha feições tão parecidas com as de Katherine que era fácil definir seu parentesco. Seu nariz era arrebitado da mesma forma que o dela, e a cor de seus cabelos era a mesma. Seus olhos, porém, eram diferentes. Tinham um tom de castanho escuro que lhe dava um ar estranhamente perigoso.

Katherine ainda estava com a cabeça no ombro do irmão, respirando com dificuldade, quando Sherlock quebrou o silêncio.

– Então Mycroft ainda está vivo. Não vou dizer que estou surpreso. – fez uma pausa como se digerisse a informação – E agora meu querido irmão governa o grupo de sobreviventes, suponho.

Ben Davenport assentiu.

– Como vocês conseguiram sobreviver aqui todo esse tempo? – Katherine perguntou com seu sotaque fortemente americano. – Com todos os Zs, Exterminadores e a falta de água e comida?

Holmes rolou os olhos. Havia desistido de vez de tentar deduzir algo mais sobre os convidados inesperados. Pela postura e modo de falar do irmão Davenport, podia dizer com convicção que ele ocupava um cargo de pequena relevância em Wall Street. A forma que Fitzwilliam tendia a olhar para todos os cantos a todo instante implicava que por baixo de toda sua cautela se escondia um grande trauma, o que Sherlock julgou como um comportamento comum. Já Katherine demonstrava carência, e era provável que tenha sido pela perda de entes queridos. Nada fora do comum, considerando as circunstâncias.

Watson deu de ombros.

– O melhor lugar para se esconder é em plena vista. – afirmou – E tivemos sorte, não vou mentir. Há muitos mercados na área, e deles tiramos nosso sustento.

– E não aconteceu nada, nenhum incidente envolvendo os Zs? – Ben questionou.

– É claro que ocorreram. – esclareceu Holmes. – Mas tivemos cuidado o suficiente para atingi-los no cérebro com objetos não barulhentos, e assim não chamamos atenção. – Sorriu sarcasticamente para Ben. – Ao contrário de vocês.

O irmão Davenport retribuiu o sorriso, sem se deixar abalar.

– Eles nunca conseguiram entrar. Até agora, conseguimos manter a briga lá fora. – completou Watson.

– E os Exterminadores? Soa estranho que James Moriarty, o homem que se auto-denomina “o maior inimigo de Sherlock Holmes” não tenha vasculhado seu flat. – Foi a vez de Fitzwilliam perguntar, fazendo aspas com as mãos.

– Sim, eles tentaram. É claro que eles tentaram. Jim pode ser louco, mas não é estúpido. Não é difícil vê-los na rua, sempre em grupos, sempre em cima de picapes, vasculhando em busca de novas presas para torturar ou se satisfazer. Mas só por duas vezes tentaram invadir nossa casa, e em ambas era apenas um capanga desarmado e não muito inteligente. – Watson explicou.

– E, deixe-me adivinhar, vocês mataram os dois. – disse Ben.

Holmes riu de uma forma assustadora.

– E jogamos seus corpos para os mortos comerem.

Katherine não tentou reprimir o arrepio que lhe subiu à espinha.

– Espere... o que você quis dizer com “se satisfazer”? – ela perguntou, sua face se tornando a imagem da confusão.

– Ora, eles não tratam isso como uma prisão, não tentam aliviar suas estúpidas necessidades humanas com a primeira pessoa que vêem pela frente. É para isso que as mulheres servem. – Watson falou, fazendo uma pausa. Quando percebeu a cara de espanto da Davenport, completou: - Não que eu ache que mulheres sejam meros brinquedos sexuais. Mas esses são os pensamentos daqueles psicopatas.

– Então eles estupram as mulheres que encontram? É isso? – Katherine encarava todos os rostos da sala sem realmente saber o por quê. Não podia acreditar que ninguém se prontificou a contá-la o que aconteceria se fosse pega pelos Exterminadores. Ela entendia o lado de Ben, e estava certa de que o irmão não contaria aquilo com medo de assustá-la. Ele não estava errado, infelizmente. Apesar de não ser mais uma criança, Katherine nunca teve tanto contato com os piores lados dos seres humanos como agora, e ela se sentia como uma garota indefesa. E isso a amedrontava mais do que tudo.

Engolindo em seco, ela esperou uma resposta. Esperou por um bom tempo, até que Holmes, cansado de todo aquele suspense, falou.

– Depende de como eles te vêem. Se te acham bonita, te levam até o acampamento deles, e não quero imaginar o que acontece. Se te acham feia, te estupram no meio da rua, e cada um deles tem sua vez de fazê-lo. Depois que os 10 homens terminam o serviço, a mulher leva um tiro na cabeça. E eles seguem seu caminho.

– E como você sabe disso? – Fitzwilliam perguntou.

– Numa das vezes que saí para buscar água, isso aconteceu. Eram duas mulheres, mãe e filha provavelmente, não sei ao certo, não pude olhar mais de perto. – os olhos de Holmes tinham um brilho repentino – A mais velha foi estuprada ali, a mais nova foi levada para dentro da picape, e os olhos dos homens evidenciaram seus pensamentos acerca da garota que não parecia ter mais do que 15 anos. Eu estava escondido entre arbustos espessos, e tive sorte de não ter sido encontrado, pois não poderia correr deles enquanto segurava o galão de água. Mas tive que assistir aquilo tudo. A mulher gritava de horror enquanto os homens se satisfaziam, e a garota foi obrigada a ver o que acontecia. Alguns mortos apareceram com tanto barulho, e levaram tiros dos que faziam guarda. Depois que terminaram, a pobre mulher levou uma bala no meio da testa e eles voltaram para a picape. Ainda pude ouvir um deles se referir à morte da mulher como “misericórdia”. – balançou a cabeça como se estivesse enojado – Não gosto de dizer isso, mas tive sorte com o aparecimento daquelas moças, pois os Exterminadores ficaram tão absortos pelo orgasmo e pela nova aquisição que nem continuaram a vasculhar. – fez uma pausa e bufou. – Não sou de ter pena, mas aquilo foi inumano, até para os padrões de Jim Moriarty.

Silêncio caiu na sala. O rosto de Katherine era uma máscara de puro choque. Ben a envolvia em seus braços, mas sabia que não havia nada que pudesse tirar as imagens da mente da irmã. Fitzwilliam abaixara a cabeça, mas ainda estava alerta por entre as cortinas na janela do flat. Watson se levantou e começou a procurar por sua bolsa de armas. Não demorou muito até encontrar a mochila de lona com suas aquisições e as poucas munições que ainda lhes restavam. Pegou o pé-de-cabra de cima da lareira e visualizou o taco de beisebol ao lado da poltrona de Holmes.

Colocando uma pistola dentro do bolso da jaqueta que acabara de vestir, John gesticulou para Holmes, que entendeu a mensagem.

– Então, vamos indo? – se levantando e já colocando seu casaco, Holmes disse, ignorando a atmosfera tensa.

Fitzwilliam foi o primeiro a se mexer. Se dirigindo para a porta do flat, foi impedido por Katherine.

– Nós ainda não discutimos táticas. – ela sussurrou.

– Não precisamos de táticas. Se formos rápidos o suficiente, sairemos daqui ilesos. – ele respondeu.

– Erm, nós estamos um pouco sem suprimentos... Temos armas e não tivemos tanta necessidade de usá-las tanto quanto aqui, mas só temos duas latas de feijão enlatado sobrando. – Ben falou.

Watson assentiu. Pegou outra mochila e abriu, encontrando alimentos enlatados que logo estariam passados da validade. John concluiu que, de tão pesada, seria suficiente para que os cinco se alimentassem durante os dias de viagem. Estendeu-a para o Davenport, que a colocou nas costas.

– Darcy, você tem certeza? – Katherine ainda não estava recuperada de seu choque, e parecia estar com mais medo do que o normal. Sua respiração estava entrecortada e seus olhos arregalados denunciavam o quão assustada estava.

– Darcy? Pensei que seu nome fosse Fitzwilliam. – John Watson falou.

– Oh, e é Fitzwilliam. Mas fui apelidado de Darcy porque aparentemente lembro o personagem de Orgulho e Preconceito. – ele respondeu, rolando os olhos subitamente divertidos. Olhando dentro dos olhos de Katherine, disse: - Vai ficar tudo bem. Você sabe disso.

– Não, eu não sei.

Ele colocou uma mão no ombro da mulher, como que para acariciá-la. O coração dela disparou com um misto de medo e nervoso.

– Vai ficar tudo bem. – ele repetiu e, sem pensar, deu um beijo na testa dela.

Katherine assentiu. Ainda confusa e assustada, ela colocou a sua própria bolsa de armas nos ombros e respirou fundo. Não era hora para hesitação. Com a adaga presa no cinto e o revólver nas mãos, ela observou enquanto seu irmão preparava a besta, John Watson colocava munição numa espingarda e Holmes já brandia sua pistola e o taco de beisebol. Darcy, como sempre, ia na frente com sua espada em mãos.

Então eles desceram as escadas em silêncio. Darcy, Katherine, Holmes, Watson e Ben, agrupados exatamente nessa ordem, estavam cautelosos por antecipação. Mal respirando, eles foram até a porta. Calmamente, Fitzwilliam abriu a porta, temendo ouvir algum barulho que denunciasse a presença dos Exterminadores. Mas, quando colocou os pés na calçada, nada se podia ouvir além do vento forte. Evitando olhar para os vários corpos devidamente mortos na rua, eles começaram a caminhada, sempre alerta com suas armas em punho.

John Watson pôde concluir que, não importava quanto tempo passasse, jamais se acostumaria com o medo que se recusava a deixá-lo.


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Notas finais do capítulo

Adivinharam de onde saiu essa parte? HEIN, HEIN????? q Então, é isso, não sei o que falar. Me desculpem se o capítulo está blé ou superficial demais, ok? E me desculpem pela demora pra postar, me encalhei muito ao escrever esse capítulo e a ideia ~deste aqui~ só me surgiu de última hora. Enfim. O verso do começo é da música "The Cave", do Mumford & Sons que, vamos combinar, é um amorzinho. E AH, o Ben é pra ser uma versão mais nova do Adam Scott (o ator, pfvr), só dizendo. Quero reviews, hein, seus lindos? ♥



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