All Nightmare Long escrita por Sam Wright


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Se as sherlockians que me odeiam até a morte não me amarem com esse capítulo, não sei como vão. BRIMKS, nem ligo. Mas espero que vocês gostem.. :)



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I’m just a soul whose intentions are good

Oh Lord, please don’t let me be misunderstood


Cinco pessoas assistiam a cena. Como num filme de terror, as cinco sombras circulavam a sexta figura naquele lugar pitoresco. O depósito, com sua enorme quantidade de combustível em galões, tinha cheiro de carne podre e gasolina. Anderson sabia a razão desse cheiro insuportável, e por isso sabia o que aconteceria com ele em breve; só não sabia como aconteceria.

A lâmpada pendia sobre a cabeça de Anderson, e era a única iluminação na sala. Para qualquer lado que olhasse, a escuridão era a única vista. Mas até a escuridão era melhor de se ver do que as cinco pessoas que o olhavam. Dentre essas pessoas, aquela que estava agachada em sua frente era, definitivamente, a quem ele mais temia. E a figura que estava atrás do homem agachado era o segundo mais assustador. Os outros três só estavam ali pelas obrigações de seu chefe, que nada mais queria do que mostrar para seus “pupilos” o quão poderoso era.

Se tinha uma coisa que James Moriarty amava, era sentir o medo de suas vítimas. Ele mal conseguia reprimir o sorriso ao ver o rosto assustado de Anderson. A mente de Jim viajava com todas as formas que poderia usar para torturar aquela pobre criatura, e ele ria por dentro e por fora ao estender a mão para seu braço direito, Sebastian Moran. Moran entendeu o que seu mestre queria, e retirou uma adaga do bolso do casaco de couro, entregando-a para Moriarty. Sebastian sorriu de uma forma tão bizarramente satisfeita que Anderson sentiu seu corpo tremer.

Os Exterminadores não se importavam com as ameaças lá fora; gostavam de acreditar que eles eram a maior ameaça aos poucos sobreviventes. Seu maior pensamento era de que, quando eles livrassem o mundo de todos os zumbis e humanos inúteis, criariam uma nova sociedade, uma sociedade na qual Moriarty seria o grande Mestre, uma sociedade em que ele ditaria todas as regras. Uma sociedade justa na mente dos que tinham orgulho de vestir o preto, marca dos Exterminadores. Todos que não concordavam com os pensamentos do grupo eram exterminados. E Anderson era um desses que discordavam das idéias absurdas daquelas pessoas que seguiam uma mente perturbada e perigosa. E ele seria exterminado por isso.

A mente de Anderson havia parado de tentar antecipar a forma que morreria. Não queria pensar que ele poderia ser enforcado, sufocado ou até afogado até a morte. A única certeza era de que não aconteceria nada com fogo, pois a fumaça atrairia os zumbis. Tentando espantar o medo que o percorria enquanto Moriarty ria com sua adaga, Anderson fechou os olhos e pensou que ele estava certo em estar ali. Seus amigos estavam a salvo, e isso era o que importava. Sally Donovan estava a salvo. Ele até conseguiu imaginar o sorriso que Sally exibiria quando ele a contasse que pensava nela enquanto estava amarrado naquela cadeira esperando para ser executado. Ela sorriria e diria que ele devia ter tentado escapar antes, e que não devia ter ficado tanto tempo esperando pelos reforços que viriam. Anderson sorriria também, dizendo que perder um braço não importava, porque ele a estava vendo por mais uma vez. Ela assumiria uma expressão séria e o beijaria com fervor, aqueles lábios macios que ele tanto amava.

Mas é claro que ele não só perderia um braço e voltaria para o acampamento dos sobreviventes. Ele morreria ali, e era isso. A razão pela qual ele estava à mercê dos Exterminadores era salvar os sobreviventes que precisavam de combustível. E, como os Exterminadores têm um depósito cheio deles, o plano era arriscado, mas necessário. Eles sabiam que provavelmente algo daria errado, mas se diziam preparados para os imprevistos. E o imprevisto aconteceu. Então Anderson resolveu ficar para trás, distraindo os Exterminadores que agora sabiam da presença de seus inimigos em seu acampamento. E ele ficou. Por alguma razão que não soube entender na hora, ele não sentiu medo. Tirou a pistola do bolso e mentalmente agradeceu por ainda ter um cartucho cheio. Os quatro outros sobreviventes correram pelo depósito, três deles segurando galões e um deles, que segurava uma espada, ia na frente, matando qualquer inimigo que cruzava seu caminho. Anderson daria cobertura e tudo ficaria bem. Por isso ele sabia que nenhum deles voltaria para salvá-lo. Ele os dera cobertura. E, no fundo, ele sabia que pessoas se sacrificando por um maior número de pessoas, para o “bem maior”, havia se tornado tão normal que mal se notava quando acontecia.

Agora Anderson sabia por que não sentiu medo naquela hora. Todos no acampamento estariam a salvo, e Sally estaria também. Ele não se importava. Sua vida não importava. Ele pagaria o preço, e pagaria de bom grado. Com esse pensamento em mente, Anderson abriu os olhos.

A adaga de Jim Moriarty estava perigosamente perto de seu olho esquerdo, a ponta afiada ameaçadora. O sorriso sádico do líder dos Exterminadores era de longe a coisa mais assustadora que Anderson vira na vida, e ele não tentou esconder o medo que agora o dominava. Parecia que todos os pensamentos que ele tinha há poucos segundos atrás jamais existiram, e sua mente exibia imagens de todas as formas lentas de morte que conseguia imaginar.

– Ah, assim é bem melhor. – disse Moriarty, afastando a adaga do rosto de seu prisioneiro, o sorriso nunca deixando sua face. Deu as costas para Anderson e se dirigiu a uma mesa num canto escuro da sala, mas continuou falando, sua voz com um tom divertido: – Eu gosto bem mais quando as pessoas mostram o quão assustadas estão. Faz a tortura ser mais prazerosa.

Jim gargalhou. Os outros quatro seguiram a gargalhada, mas o pavor nos olhos de três deles era visível. O único que realmente estava aproveitando aquilo era Sebastian, que espelhava o sorriso de seu líder.

Moran se aproximou da mesa quando Moriarty o chamou, e eles cochicharam algo que Anderson não pode ouvir. Enquanto eles estavam de costas, um dos Exterminadores em treinamento secou o suor da testa, mesmo que o lugar estivesse quase congelando. O que era irônico, pois seu prisioneiro vestia apenas uma camiseta e cueca, por ordem de seus carrascos, mas não conseguia sentir frio. Pela primeira vez na vida, ele viu seu cérebro trabalhar tão rápido que mal pode compreender seus próprios pensamentos. E a forma com que Sebastian se aproximava dele não ajudava.

Moran se ajoelhou na frente de Anderson, e mostrou os dois pedaços de ferro que carregava na mão. Os pedaços tinham a espessura de um lápis, só que um pouco maiores e, sem aviso, a coxa direita de Anderson foi perfurada por um deles.

Por alguns instantes, tudo o que podia se ouvir no depósito era o grito estridente de dor misturada com desespero. Anderson queria poder fazer algo, queria retirar aquilo de sua coxa, queria saber por que aquilo estava acontecendo. Mas era inútil. Com seus pés amarrados e braços presos atrás da cadeira, ele sentiu a dor como jamais havia sentido antes, e a impotência piorava sua situação.

E o mesmo movimento se repetiu, agora na coxa esquerda. Ele gritou de novo, ainda mais alto, e seu rosto estava cheio de lágrimas que ele nem percebera. Com a cabeça jogada para trás, fechou os olhos e tentou pensar, mas sua mente estava vazia. Ficou assim por alguns minutos, e, sem sucesso, levantou a cabeça para encontrar Moriarty segurando o que pareciam plugs. Desceu o olhar e encontrou o que parecia uma bateria de carro. Mal sentindo ar em seus pulmões, Anderson entendeu como seria torturado. Tentou convencer a si mesmo de que valia a pena, e que o Acampamento estaria bem, tudo graças a ele. Tentou ficar feliz por isso. Mas não conseguia. Tudo o que conseguia pensar é que seria provavelmente eletrocutado até a morte, e essas palavras buzinavam em sua mente.

– Você pode fazer isso da maneira fácil ou da maneira difícil. Você vai morrer de qualquer forma, mas se colaborar posso te dar uma morte rápida. Caso contrário, acho que você já percebeu o que vai acontecer. – Moriarty falou, repentinamente com uma expressão séria. Pegou os plugs que segurava e colocou um em cada pedaço de ferro. Agora estava mais claro que aqueles plugs eram ligados a uma caixa que estava perto da cadeira, do mesmo tamanho da bateria, e que tinha uma alavanca pequena. – Só me diga aonde posso encontrar o maldito acampamento dos sobreviventes e sua agonia acabará. É simples, como você pode ver.

Anderson nada respondeu. Apenas continuou encarando Jim, ignorando a dor, ignorando o fato de que Moran agora estava ao lado de seu líder. Só encarou. Moriarty suspirou.

– Eu tenho que admitir que vocês sabem se esconder. E tenho que admitir o quão estúpidos vocês são. O que você acha que vai acontecer agora, Anderson? Hein? Acha que vai morrer como herói? Acha que dar sua vida pelos outros vai valer a pena? Eu posso te dizer com toda a certeza que eles nem se lembram de você. Agora que conseguiram o combustível que queriam, provavelmente estão fazendo planos para ir embora, pois estão certos de que você vai nos contar a localização do acampamento. E você pode fazê-lo, Anderson. Só nos diga. Acabe logo com isso. Vai ser melhor para todos nós.

A força de Anderson se esvaía e sua respiração parecia tão lenta que era quase imperceptível. Ele só encarava. Sabia que as palavras de Jim não eram verdadeiras. Ele não se importava que os outros não lembrariam dele. Ele sabia que Sally se lembraria. E isso era tudo o que importava.

Rolando os olhos, Moriarty se agachou perto de uma espécie de alavanca que estava ao lado da bateria de carro. E era assim que ele pretendia torturar Anderson. A falta de energia elétrica não importava enquanto eles tinham baterias. E, por enquanto, eles tinham muitas delas.

– É sua última chance. Uma morte rápida ou uma morte lenta e dolorosa. Eu até te chamaria para se juntar a nosso formidável grupo, mas sei que seu senso de justiça ridículo não te deixaria aceitar. Só precisamos da localização. – Moriarty levantou as sobrancelhas. Moran cruzou os braços. – Você sabe o que Sebastian vai fazer com você depois que eu acabar a minha parte da diversão? Ele tem essa belíssima adaga, e eu lhe garanto que ele sabe bem como usá-la. Vai ser doloroso, Anderson. E não nos importamos com seus gritos. Temos bastante gente lá fora para acabar com os eventuais zumbis que possam aparecer. Então, você vê, a escolha é totalmente sua.

– A localização. Seja bonzinho e nos diga. – a voz grave de Moran soou, mas seu tom dizia que ele não queria uma resposta; ele queria ter sua diversão com a adaga.

Pela última vez, Anderson encarou o rosto franzido de Moriarty. O líder dos Exterminadores entendeu o olhar de seu prisioneiro. Anderson fechou os olhos e jogou sua cabeça para trás. Agora sua mente lhe mostrou o que ele queria ver. O rosto de Sally Donovan, sorrindo para ele. Morrer eletrocutado não era nada. Sally estava bem.

Com um suspiro de impaciência, Moriarty puxou a alavanca.

Anderson gritou por muito mais tempo. Mas ele sabia que seus gritos e sua dor valiam a pena.


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Notas finais do capítulo

Whoa, primeiro capítulo! Então, preciso primeiramente agradecer ao meu colega de classe Willian, que tem uma mente mais psicopata do que a minha e que me deu a idéia de eletrocutar o pobre Anderson. E isso basicamente surgiu porque eu queria dar um momento de felicidade ao fandom de Sherlock ao torturar o moço que diminui o QI da rua inteira, mas o capítulo acabou ficando tão enorme e eu já estava ficando com pena do coitado e resolvi acabar logo com isso. Ele morreu eletrocutado, de qualquer forma, então me amem assim mesmo. Comentários, críticas, sugestões, xingamentos e etc. são muito bem vindos, então POR FAVOR, digam algo. Ah, e o fragmento do começo é da música "Don't Let Me Be Misunderstood", da Nina Simone.