Vi uma luz branca bem forte e olhei para o lado rapidamente, vendo e sentindo minha mão sendo segurada por Harry. Eu não me lembrava bem do que havia acontecido, mas minha cabeça doía... Na verdade, tudo em mim doía naquela hora. Eu estava sendo levada para um quarto, em uma maca. Ah, como eu odiava hospitais. Senti uma dor forte no útero, e então pude inclinar um pouco minha cabeça e ver sangue. Muito sangue. Sangue até demais. Então alguns flashes vieram à tona e lembrei apenas do olhar preocupado de Harry para mim ao me ver sangrando. Fui levada para uma sala de cirurgias, e lá estava uma mulher ruiva elegante e muito bonita, com seus aparentáveis 30 anos. Olhos azuis e usava um batom vermelho escuro. De repente me deram um sedativo e adormeci.

Acordei depois em um quarto, ainda no hospital. Haviam vários aparelhos e uma enfermeira loira falava com a médica.

“Olá Primrose, que bom que acordou. Eu sou a Dra. Addison, e queri...” Disse a moça ruiva.

“Pode ir logo ao assunto, já passou o efeito da anestesia...” Eu disse curta e rapidamente, mas sem perder a simpatia. Ela tentou sorrir e se abaixou um pouco, pegando na minha mão e suspirando antes de falar.

“Você estava grávida de dois meses... E você perdeu o bebê.” Ela disse e eu fiquei incrédula. Apenas assenti e forcei pra não chorar, ela entendeu o que eu queria e saiu da sala tentando sorrir ainda. Desabei em lágrimas e pensei em Harry. Era o que eu sabia fazer melhor: pensar nele. De repente ele entrou na sala e veio correndo até mim, me abraçando em seguida. Dei um beijo nele e ele também chorava. Talvez tivessem contado a ele já... Talvez sim.

“Meu amor, me desculpa... Foi tudo minha culpa, eu não sabia! Eu sinto muito, me perdoa” Ele dizia repetidamente. Eu só não entendia o porquê de ele estar assim, se culpando... Eu mal lembrava como eu perdera o bebê...

“O que aconteceu, Harry?” Falei um pouco fria e ele me encarou com expressão estranha.

“Você não se lembra? A gente brigou e eu... te empurrei...” Ele falou e de repente me lembrei do que aconteceu, como um flashback rápido. Então olhei pra ele com certa indignação no olhar, sem saber o que fazer.

“Sai... Sa... Sai do quarto, agora!” Falei fechando os olhos e deixando as lágrimas rolarem pelo meu rosto. Ele me olhou chorando ainda mais, porém incrédulo. “Sai, Harry. Sai agora!” Disse um pouco mais alto e ele se levantou, já vermelho de tanto chorar. Andou lentamente até à porta e quando encostou sua mão na maçaneta, olhou pra mim mais uma vez e sussurrou:

“Me desculpa, meu amor...” E saiu.

Apenas aquilo bastou pra me deixar no fundo do poço. O poço escuro e fundo que insistem em chamar de amor. Eu não sabia mais o que fazer... Perdi um filho que nem sabia que existia por sua culpa, senti uma dor maior do que qualquer outra.

Sinceramente, estava cansada de tudo aquilo. De ter que me esconder, esconder meu relacionamento quase perfeito (e a parte do perfeito só inclui ele e nossos momentos juntos, os bons, é claro), sofrer tanto por causa dessas coisas... Eu sempre quis dizer ao mundo que ele é meu, e que nada mudaria isso, mas é mentira. Porque tem alguém que muda isso: Caroline.

Vi Silly adentrar no quarto, com uma cara de preocupação imensa, me abraçando logo ao me alcançar.

“Você está bem? O Harry voltou chorando e quase se matando lá fora e...” Ela disse desesperadamente e então a interrompi dizendo:

“Pra onde ele foi?”

“Eu não sei... Ele saiu correndo e entrou no carro...” Ela falou com uma carinha de ‘sinto muito’. “Mas o que aconteceu?”

“Eu perdi o filho por culpa dele, então me irritei demais... Silly, eu não sei o que fazer. Não sei se o perdoo ou não... Eu apenas me sinto viva com ele, mas... Então isso aconteceu e... Eu não sei o que fazer...” Falei me debulhando em lágrimas. Ela apenas me abraçou e disse calmamente:

“Vocês deveriam tentar passar por isso juntos e concertar tudo... Vocês não vivem um sem o outro, então tem que enfrentar isso juntos mesmo.” Ela afagou meu cabelo e então parou de me abraçar. “Você sabe que se precisar de qualquer coisa, eu te ajudo...”

“Na verdade eu preciso de uma coisa sim...”