Cameron Briel estava com um dos pés apoiados na parede em um corredor da Sword&Cross, até então, sozinho. Os fones de ouvido não adiantavam muito devido a altura que o Heavy Metal que escutava permanecia. Era possível ouvir os gritos dos cantores ao longe.

Daniel Grigori se posicionou do lado oposto ao corredor em que Cameron estava. O encarando avaliativamente.

– O que foi? – Cameron tirou os fones de ouvido, e perguntou a Daniel arqueando uma sobrancelha.

Daniel suspirou.

– O que você está pretendo com isso que está fazendo, afinal? – respondeu com uma pergunta, após ter se passado alguns minutos.

– Do que diabos você está falando? – Cam perguntou novamente.

– Você sabe do que eu estou falando. De quem. – Daniel respondeu, a expressão em seu rosto era de impaciência – Estou falando de Gabbe, oras.

A compreensão atingiu Cameron, mas ele não deixou transparecer. Optou por responder o óbvio.

– Gabbe? Eu não estou entendo aonde quer chegar, Grigori – Cam falou, e começou a se mover para longe, mas foi parado por um Daniel com uma feição de poucos amigos.

– Eu tenho certeza que você sabe. – Daniel disse parando a uns bons dois metros a frente de Cameron – Eu sei o que está acontecendo.

Dessa vez, Cam não disse nada. Sabia que era em vão negar aquilo agora, mas também não iria contar absolutamente nada. Não para Daniel.

Não agora. Entregar o jogo tão facilmente não era uma coisa muito Cam de se fazer.

– Por que está fazendo isso com Gabrielle? – Daniel tornou a perguntar, e Cameron revirou os olhos. Já sabia onde aquilo iria dar.

– Eu não estou fazendo nada com Gabbe. – Cameron respondeu – Pelo menos, nada que ela não queira. – acrescentou. Não entendendo de imediato que suas palavras haviam saído com uma malícia que ele não medira, nem pretendia.

Porém, aquilo foi o que bastou para Daniel ter certeza de que tudo era verdade, afinal.

Mas o que ele poderia fazer?

– Então você admiti que tudo é verdade?

– Tem como negar? – Cam revirou os olhos novamente – Tudo o que eu fiz foi me apaixonar e não creio que isso seja tão errado quanto você está fazendo parecer.

Daniel Grigori não falou mais nada e nem precisava. Um silêncio que nenhum dos dois anjos caídos pretenderam, foi a questão. Por um lado, Daniel avaliava Cam com o seu olhar violeta penetrante. Custava acreditar que Cameron Briel dissera aquilo com tanta convicção quanto dizer que estava chovendo, quando as gotas d’água já te encharcavam.

E por outro lado, estava Cameron tentando desvia do olhar de Daniel, que estreitava os olhos sugestivamente como uma nova pergunta.

Então, no corredor, surgiu Lucinda Price fazendo com que toda a tensão dos ombros e feições de Daniel se aliviassem. Esse era o efeito da garota nele. Calma. Pura calma.

Ambos esperaram ela passar, e notava-se que ela fazia muito esforço para fingir ignorá-los. Então, ela cruzou o corredor virando para a esquerda, os olhos de Daniel a acompanhavam com toda a ternura que sentia.

Um suspiro da parte de Daniel Grigori foi ouvido, e Cameron quase pode ouvir as palavras na cabeça dele “Quando isso tudo vai acabar?”.

– É exatamente como me sinto – Cam comentou, encostando-se na parede novamente.

– O quer dizer? – Daniel perguntou, quando pareceu ter se recomposto.

– O jeito que você olha para Luce, a tensão que parece se aliviar, o desejo quase insano e toda a calmaria – falou a primeira coisa que veio em sua cabeça, mas sabia que era a verdade. – É exatamente como me sinto em relação a Gabbe – Cam esclareceu, querendo encerrar o assunto naquele instante.

Daniel ergueu as sobrancelhas. Ele compreendia o que o arqui-inimigo quis dizer, mas simplesmente não sabia porquê. As palavras pronunciadas pareceram-lhe tão coerentes e verdadeiras quanto o amor que nutria por Luce.

Se fosse mesmo verdade - e uma parte considerável de Daniel gritava de que era mesmo - ele sabia exatamente como Cameron se sentia. Entretanto, o entendimento era algo pelo qual ele teria de lutar para obter.

Cam recolocou os fones de ouvido e saiu cantarolando uma música muito conhecida dos anos oitenta, contudo, sendo ignorada.

Como alguém como Cameron – um demônio – se apaixonara por alguém como Gabbe? Ou possivelmente, o contrário. Aquilo era tão contraditório aos princípios de ambos e implicava para alguém por um fim, que mesmo errado, não era o que nenhum dos dois queriam realmente.

I feel my wings have broken in your hands

I feel the words unspoken inside

And they pull you under

And I will give you anything you want you know.

You are all I wanted

All my dreams are fallin' down

Crawling around

(Eu sinto que minhas asas se quebraram em suas mãos

Sinto as palavras não ditas dentro de você

E isso te deprime

Eu lhe daria qualquer coisa que você quisesse

Você era tudo o que eu queria

Todos os meus sonhos estão morrendo

Rastejando ao redor)

Durante as semanas que se passaram, uma comitiva desnecessária de anjos e demônios fora implicado, e de uma hora para hora, todos sabiam do assunto “Gabbe e Cam”. Não havia culpados nessa história a não ser aos dois próprios, sendo que não mais lutavam para disfarçar.

Os constantes encontros secretos não eram mais tão secretos devido a alguns caídos que sobrevoavam qualquer local antes privativo. É claro que isso e devia ao novo casal proibido que não mais era proibido.

Somebody save me

Let your warm hands break right through

Somebody save me

I don't care how you do it

Just stay, stay come on,

I've been waiting for you

(Alguém, me salve

Deixe suas mãos quentes me envolverem

Alguém, me salve

Eu não ligo como você faz isto

Apenas fique, fique venha,

Eu estou esperando por você)

Afinal, quem poderia separá-los? Deus? Lúcifer? Eles iriam contra qualquer coisa que ousasse separá-los e bem, quem tentaria? Um anjo e um demônio separados que tem uma trégua já é o suficiente para causar medo, destruição por muitas vezes e raiva. Um par deles juntos e apaixonados, lutando pela paixão ardente que nutriam um pelo outro não era algo que você gostasse de cruzar o caminho.

I see the world as folded in your heart

I feel the waves crash down inside

And they pull me under

I will give you anything you want, you know

You are all I wanted

All my dreams have fallen down

Crawling around

(Eu vejo que o mundo dobrou em seu coração

Sinto as ondas se chocarem por dentro

E isso me deprime

Eu lhe daria qualquer coisa que você quisesse

Você era tudo o que eu queria

Todos os meus sonhos estão morrendo

Rastejando ao redor)

É claro que ainda havia oposição, mas ousar dizer isso seria totalmente ridículo, uma vez que ambos não dariam a mínima.

Somebody save me

Let your warm hands break right through

Somebody save me

I don't care how you do it

Just stay, stay come on

I've been waiting for you

(Alguém, me salve

Deixe suas mãos quentes me envolverem

Alguém, me salve

Eu não ligo como você faz isto

Apenas fique, fique venha,

Eu estou esperando por você)

– Eu amo você. Essa é a minha única certeza. – Gabbe falou. Seu rosto apoiado no ombro de Cam no alto de uma colina em meio a dois vales. Os braços dele a envolviam como um manto em dias de inverno. O vento que chicoteava as árvores, batiam leves nas asas abertas dos dois anjos caídos.

All my dreams are on the ground

Crawling around...

(Todos os meus sonhos estão no chão

Rastejando ao redor)

Lutar em lados opostos e ao mesmo tempo juntos era bem contraditório, mas quem se importava? Tudo que se passava por suas cabeças eram que estavam juntos agora. Juntos entre o céu e o inferno.

Somebody save me

Let your warm hands break right through

Somebody save me

I don't care how you do it

Just stay with me

I made this whole world shine for you

Just stay, stay come on, I'm still waiting for you

(Alguém, me salve

Deixe suas mãos quentes me envolverem

Alguém, me salve

Eu não ligo como você faz isto

Apenas fique comigo

Eu fiz esse mundo inteiro brilhar para você

Apenas fique, apenas fique e venha, eu ainda estou esperando por você)

– Você é minha única certeza. – Cam corrigiu com uma dádiva própria, antes de beijá-la nos lábios com todo o afeto, paixão e amor que sentia. O que predominava no peito de Cameron Briel e Gabrielle Givens.

Os olhos azuis e verdes se abriram fitando um ao outro, e com isso, suas mãos se juntaram antes deles se jogarem a céu aberto do alto da colina sem nome com o par de asas brancas e a outra negra, voarem em sincronia rumo ao horizonte. Rumo ao nada. Rumo ao tudo.

Fim!