Speechless escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 70
Capítulo 69


Notas iniciais do capítulo

Por favor leiam as notas finais.
E aproveitem os últimos momentos registrados de Harry e Gina.



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POV Harry

Dois anos, quatro meses e dezessete dias. Era o tempo que havia se passado desde aquele jantar onde eu perguntei se Gina Weasley queria ser minha namorada.

Tempo suficiente para conhecê-la, amá-la e saber que nesse momento ela estava com muita pressa de encontrar um lugar para morar e não atrapalhar o irmão, que muito dificilmente seria atrapalhado, já que não se vende um apartamento em uma semana.

Tempo suficiente também para não ter dúvida nenhuma de que fomos feitos para, e que somos um do outro.

—Espera. - Pedi e abaixei a tela do notebook para a qual ela olhava concentrada. - Me explica direito.

Ela respirou fundo e encostou no assento antes de começar a falar. Ron e Mione tinham um bom dinheiro guardado e isso foi suficiente para comprar a casa deles, mas não para pagá-la de uma vez. A situação não era complicada, mas eles não queriam, e com razão, ter dívidas quando o bebê chegasse. Por isso, e sabendo que Gina já havia se estabilizado, decidiram vender o antigo apartamento dele e resolver a situação.

—E você já está querendo encontrar um apartamento hoje? - Perguntei, contendo o riso.

—Claro, quanto mais rápido melhor. Ron foi super legal e já fez mais do que deveria por mim, não posso atrapalhar os planos deles. - Argumentou como se fosse óbvio.

—Concordo, mas eles nem anunciaram o apartamento ainda, as vezes uma venda desse porte leva meses para se concretizar.

—Eu sei, amor, mas sinto que já abusei demais da hospitalidade dele. Ron me deu mais de um ano de prazo, e foi suficiente para que eu conseguisse me estabelecer, não quero estender esse tempo. Se fizer isso, sei que vou me sentir mal. - Confidenciou.

—E o que você está procurando, especificamente? - Quis saber, planejando a melhor forma de abordar o assunto.

—Algo simples, não preciso de nada muito grande para mim. E de preferência na mesma região, porque não quero me afastar muito daqui ou dos lugares aos quais já me acostumei. - Detalhou o que buscava.

—Ok, vem comigo.

Tirei o aparelho do seu colo e o coloquei sobre a mesa de centro, antes que ela questionasse eu já havia puxado seu braço e ela me acompanhava pela sala em direção ao corredor que dava acesso aos quartos.

—O que foi? - Perguntou em dúvida quando eu parei entre as portas, sem entrar em nenhum cômodo.

—Aqui, dois quartos, ambos com banheiro e ambientes espaçosos. - Comecei apontando para a direita e depois para a esquerda. - Um dos dois está ocupado, mas não creio que isso seria um problema. - Me referi ao meu quarto e ela riu de um jeito estranho quando eu a puxei pela mão até o hall da sala. - Sala ampla, com espaço para dois ambientes e um lavabo pequeno para visitas. A varanda não é grande, mas bastante confortável em dias quentes.

Ela me olhava sem dizer nada, mas certamente com um turbilhão de pensamentos por trás daquele olhar sério e, hoje eu posso afirmar, emocionado, embora ela não tenha dito nada. O caminho entre a sala e a cozinha demorava alguns passos a mais, então a coloquei na minha frente e guiei com as mãos em sua cintura até lá.

—Cozinha arejada e com iluminação natural. - Indiquei a janela ampla sobre a pia e ela seguiu meu olhar o tempo todo, mesmo já conhecendo tão bem tudo o que eu mostrava. - Área de serviço acoplada para melhor aproveitamento de espaço. Todos os cômodos mobiliados e decorados, com pertences variados, inclusive alguns seus.

Terminei minha apresentação ainda com as mãos apoiadas em sua cintura e ela de costas para mim. Assim que parei de falar me encostei na pia e a virei de frente, para que me olhasse.

—E então, o que você acha? - Perguntei em expectativa.

—Harry… - Começou ela de um jeito típico de quando está medindo as palavras e se encostando em mim, mantendo as mãos apoiadas no meu peito. - Obrigada, mas você não precisa fazer isso.

—Eu sei que não preciso. - Concordei e esperei que ela continuasse.

—Não precisa se preocupar com isso, amor. Eu sou profundamente agradecida ao Ron por ter me ajudado no começo, mas não preciso mais agora.

—Gina, eu sei que você não precisa e não estou nem um pouco preocupado com você, financeiramente falando, e de forma alguma estou fazendo isso para te ajudar. - Comecei e em momento nenhum ela me interrompeu ou desviou o olhar do meu enquanto eu me expressava. -Estou fazendo isso porque eu quero e porque eu gosto de chegar e te encontrar aqui, gosto de dividir minha vida com você e gosto de saber que você também quer isso. Sabe por que eu acho que damos tão certo? - Perguntei, mas não dei tempo para que ela respondesse. - Porque não precisamos um do outro, em nenhum sentido.

Nesse ponto ela sorriu um pouco e mordeu o lábio e eu soube pela sua expressão que ela concordava comigo, mas permaneceu quieta esperando que eu continuasse.

—Somos emocionalmente muito bem resolvidos para depender um do outro, financeiramente independentes e adultos o suficiente para saber que não precisamos ter alguém para nos salvar. Mas nós queremos estar juntos, independente de tudo isso e sem qualquer interesse além dos nossos sentimentos, por isso somos tão perfeitos. - Completei meu raciocínio e respirei fundo antes de continuar. - Eu quero muito que você queira morar comigo, mas não é porque estou preocupado em te ajudar. Afinal, você se vira sozinha há cinco anos, por que precisaria de mim agora? Como eu disse, eu sei perfeitamente bem que você não precisa aceitar morar comigo, mas eu quero, muito e profundamente, que você queira isso.

Ela sorriu quando eu terminei e assumiu um certo ar de dúvida antes de se manifestar:

—Isso é um pedido de casamento? Fiquei em dúvida aqui.

—Quem aqui falou em casamento? Sem pressa, mocinha. - Neguei também rindo, já sabendo que sua decisão estava tomada.

—Se isso que você propôs não é um casamento, não sei como chamar. - Defendeu seu ponto de vista.

—O nome é só morar junto, eu ainda estou pensando se quero me casar com você. - Brinquei fazendo cara de pensativo e ela riu de mim.

—Então pede.

—Pede o que?

—Pede com jeitinho para eu vir morar com você, oras. - Retrucou como se fosse óbvio.

—Ah, claro. - Pigarreei antes de continuar. - Gina, você quer morar comigo sem casar? - Frisei a última frase e ela gargalhou com vontade.

—Seria ótimo. Assim tenho tempo de decidir se eu vou dizer sim ou não quando você pedir de joelhos que eu me case com você.

—E quem disse que eu vou pedir? E se eu pedir, quem disse que será de joelhos?

—Claro que você vai, e será exatamente assim. Vestido de terno e segurando um buquê de flores. - Afirmou convencida.

—E você vai aceitar.

—Quem te disse isso? - Desafiou colocando os braços em volta do meu pescoço.

—Eu sei que você vai. E ainda vai chorar, dizer que me ama, contar pra todo mundo, postar no facebook e todas essas coisas. - Fui tão convencido quanto ela e a puxei para um abraço mais apertado.

—Gostei desse convite. - Assumiu, se afastando um pouco e aproximando seu rosto do meu.

—Gostei de você ter aceitado. - Afirmei antes de nos beijarmos. -Você se muda hoje? - Sugeri empolgado assim que nos separamos.

—Quanta ansiedade para morar comigo! - Zombou rindo. - São quase nove da noite de uma segunda feira, amor. Não podemos fazer uma mudança agora, que tal no sábado?

—Você queria arranjar um apartamento ainda hoje, e agora que conseguiu quer esperar até sábado? - Argumentei em dúvida.

—É bastante coisa para arrumar e trazer. - Justificou-se.

—Já até imagino quantas caixas vou precisar carregar. - Comentei, já me sentindo cansado.

—E precisamos pensar onde vamos guardar as minhas coisas também.

—Bom, isso nós podemos fazer agora.

—Mas já está ficando tarde e preciso ir para casa.

—Você já está em casa, amor. - Afirmei antes de puxá-la em direção ao nosso quarto.

Passamos as próximas horas reorganizando as coisas para que ela se acomodasse confortavelmente e se sentisse em casa. Por fim nos conformamos com o fato de que meu guarda roupas é pequeno para nós dois e resolvemos transformar o antigo quarto da minha irmã em um closet.

No dia seguinte à nossa decisão contamos aos nossos irmãos que daríamos o próximo passo da nossa relação e as reações não foram nada diferente do que previmos: ambos concordaram que era uma ótima ideia.

Decidimos por fim concretizar sua mudança no sábado, como ela havia sugerido, e Gina aproveitou os dias restantes da semana para cancelar os serviços contratados para sua antiga residência, e eu usei esse tempo para informar devidamente ao condomínio que a partir da próxima semana haveria uma nova moradora.

Dormimos todos os dias juntos na casa dela e eu a ajudei a selecionar e embalar tudo que gostaria de levar para a nova casa. No começo ela se mostrou um pouco relutante em mudar o que quer que fosse na decoração ou disposição das coisas, e eu precisei lembrá-la mais de uma vez que era sua casa agora também, e por isso ela poderia colocar até a geladeira no banheiro se achasse uma boa ideia.

Reservamos a noite de sexta-feira para organizar suas roupas e sapatos, e esse com certeza foi o dia mais cansativo de todos.

—Você queria mesmo que tudo isso coubesse no meu armário? - Questionei me referindo ao fato de que inicialmente ela havia sido contra usar o quarto ao lado do meu. - Nem que eu tirasse tudo o que tem lá dentro, Gi.

No sábado pela manhã, depois de organizar tudo que seria levado, colocamos as coisas distribuídas entre o carro dela e o meu e antes de ir embora fomos até a casa do Ron para que ela devolvesse as chaves.

Não quisemos entrar para não demorar muito, já que ainda havia nossa casa inteira para organizar e só um final de semana para isso, então ele e Mione nos receberam nos jardins da frente e minha irmã aguardou encostada ao meu lado no carro enquanto os dois conversavam e riam alguns passos a frente.

—Como está nosso bebê? - Perguntei com a mão apoiada em cima de sua barriga e fazendo um carinho leve.

—Está o tempo todo com fome, se continuar desse jeito vai deixar nós duas enormes. - Respondeu sorridente e me fez rir também.

—Achei que ela não fosse aceitar. - Comentei depois de um momento em silêncio, olhando na direção da minha namorada.

—Eu sempre soube que ela aceitaria. - Mione me garantiu com segurança.

—Não sei como você tem tanta certeza dessas coisas, Mi.

—É só olhar para ela para saber porque eu tenho certeza, Harry.

—Eu olho para ela o tempo todo. Ela é sempre tão independente. - Respondi observando ela rir com vontade de algo que o Ron tinha dito.

—Sim, isso é mesmo. Mas ela te ama, e sabe que você não vai tentar mudar isso nela. - Esclareceu também observando a cena.

—Claro que não vou querer que ela mude. - Concordei achando isso muito óbvio. - Eu a amo, exatamente como ela é.

—Eu sei, é só olhar para você também. - Afirmou muito segura.

—Você anda olhando muito as pessoas, Hermione. - Resmunguei e ela riu.

Antes que me respondesse os dois vieram até nós e Gina se encostou em mim sorridente.

—Vamos? - Convidou e eu assenti.

—Sim, temos muito o que fazer ainda hoje..

Nos despedimos deles rapidamente e continuamos nosso caminho. Passamos o restante do dia organizando as coisas dela em seu novo armário e modificando algumas coisas na decoração e disposição dos móveis para que agradasse a nós dois. Quando terminamos, já na hora do jantar, nos jogamos no sofá exaustos, mas satisfeitos.

—Gostei. - Gina afirmou depois de observar atentamente tudo em volta.

—Achei tudo muito melhor assim. - Aprovei nossas modificações e ela sorriu em resposta.

Olhei no relógio e vi que ainda dava tempo para comemorarmos esse dia, então me levantei de um pulo e a trouxe comigo.

—Vem, vamos tomar banho. Nós vamos sair. - Determinei a caminho do nosso quarto.

—Agora? Para onde? - Questionou confusa.

—Vamos comemorar esse dia. - Esclareci e ela concordou satisfeita.

Tomamos um banho demorado e cheio de carícias e cumplicidade. Saímos do banheiro enrolados em toalhas e eu parei em frente do meu armário enquanto ela se dirigiu ao dela, no quarto em frente. Pensei em marcar esse dia com um jantar elegante, por isso vesti um terno preto simples e elegante e saí para encontrá-la.

Parei na porta em frente a minha e sorri antes de chamar sua atenção. Gina estava de costas para mim usando uma roupa bastante informal, como as que usava para ir aos lugares que costumamos frequentar.

—Não que eu me importe, mas acho que você vai querer trocar de roupa. - Comentei despretensioso chamando sua atenção e ela me olhou de cima a baixo antes de se manifestar.

—Onde vamos? - Perguntou em expectativa enquanto retirava a blusa de tricô que havia acabado de vestir.

—Vamos comemorar. - Respondi vagamente observando ela tirar a calça jeans e se virar novamente para o armário.

Por fim ela escolheu um vestido bege, acompanhado de meias grossas, saltos alto e sobretudo, que conferiu um ar muito mais elegante ao seu visual, e saímos de mãos dadas em direção à garagem.

Como a ideia me surgiu de repente eu confiei no clima frio para que as pessoas tenham ficado em casa e não me exigissem reserva, e deu certo. Quarenta minutos depois chegamos no mesmo restaurante que a trouxe quando perguntei se queria ser minha namorada e conseguimos uma mesa rapidamente.

Puxei acadeira para que Gina se sentasse e me acomodei em sua frente quando o garçom chegou até nós. Aproveitei sua distração ao observar tudo em volta e pedi um vinho que ela gostava para brindarmos antes de fazer nossos pedidos.

—O que vai querer? - Perguntei olhando o cardápio à minha frente enquanto ela fazia o mesmo.

—Salmão ao molho de açafrão, na segunda página. - Informou e pousou o menu sobre a mesa.

—Ótima escolha, acho que vou querer o mesmo. - Elogiei e decidi pedir o mesmo que ela.

Fiz sinal para que o garçom se aproximasse e esperei que Gina pedisse seu prato para que eu pedisse o meu em seguida, antes que ele saísse fiz sinal de que já poderia nos servir a bebida. Minha namorada me olhou desconfiada enquanto as taças a nossa frente se enchiam.

—Eu queria propôr um brinde. - Anunciei quando ficamos a sós novamente.

—Você se decidiu muito rápido, não? - Questionou com a expectativa visível.

—Me decidi a que? - Me fiz de desentendido, mas sabendo perfeitamente a que ela se referia.

—Que quer se casar comigo. - Esclareceu sorridente.

—Olhe só para você, mal consegue esconder a expectativa. - Desdenhei e ela gargalhou. - Pensei ter ouvido que você não tinha pressa.

—E não tenho mesmo, mas não tenho culpa de ser mais decidida que você. - Argumentou com superioridade.

—Você tem culpa de ser uma pessoa difícil de surpreender, e garanto que quando esse dia chegar você não vai estar esperando. - Garanti.

—Então quer dizer que esse dia vai chegar? - Perguntou se inclinando para mais perto de mim, o sorriso nunca deixando seus lábios.

—É claro que vai. - Confirmei também mais inclinado e tão sorridente quanto.

—E até lá?

—Até lá, eu estou achando perfeito assim. - Opinei, sem nunca deixar de olhar para ela.

—Não poderia estar melhor. - Concordou também me encarando.

—E eu te amo. - Falei e estendi a mão para ela sobre a mesa.

—Eu amo você também. - Se declarou apoiando a mão sobre a minha.

—A nós? - Propus erguendo minha taça com a mão livre.

—Sempre. - Afirmou, repetindo meu gesto e fazendo os cristais tilintar entre nós.

E assim marcamos o início da nossa nova fase, que seria só o primeiro passo para todas as outras que estariam por vir.

 


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Notas finais do capítulo

É com um misto de emoção e tristeza que eu termino por aqui minha história mais longa, e com a qual eu mais me identifico.
Tudo tem que ter um fim, e até agora esse foi o mais difícil que já fiz. E agradeço, muito e de coração, a todos que me acompanharam até aqui.
Em números, vocês me deram 1.067 comentários, 337 acompanhamentos, 113 favoritos, 23 recomendações e 58.024 visualizações (aqui consideramos que quando o sistema começou a contar a história já tinha quase dois anos). Resumindo tudo isso, vocês são um sucesso total e eu amo toda essa demonstração de carinho!
Mesmo não conseguindo responder a todos os comentários recebidos, cada um deles foi lido com muito carinho e contribuiu um pouco para minha motivação em continuar criando.
O último capítulo foi pensado para dar um fim digno a esse casal e deixar a imaginação de vocês voar ao pensarem como será o futuro deles. E eu espero muito não tê-los decepcionado.
Por isso, não me decepcionem agora no final: comentem, e me digam o que acharam. Vou amar saber o que pensam!
Me despeço por aqui, com um “obrigada” gigantesco e cheio de emoção.
Como quase todo fim também marca um começo, vejo vocês em Impasse ( https://fanfiction.com.br/historia/659984/Impasse/ ) ;)
Beijo enorme!