POV Harry

—Você notou a Hermione diferente? - Perguntei a Gina assim que entramos no elevador que nos levaria até sua casa.

—Um pouco, sei lá. Ela é sempre bem animada, acho que estava feliz com a visita. - Comentou dando de ombros e sem dar muita importância ao ocorrido.

—Eu notei, acho que ela quer nos contar alguma coisa.

—E o que você suspeita que seja? - Me olhou curiosa.

—Não sei, mas acho que ela não quer que seus pais saibam, porque senão teria nos contado hoje. - Expliquei e ela assentiu.

—Tomara que não seja nada preocupante.

—Provavelmente não. - Confirmei enquanto ela abria a porta. - Ela quer que jantemos na casa dela no sábado que vem, e eu disse que vamos, ok?

—Claro, por mim está ótimo. - Concordou enquanto tirava o casaco e o deixava em cima do sofá. - Você não vai embora hoje, vai? - Perguntou desconfiada vendo que eu ainda estava vestido no meu próprio.

—Eu pretendia dormir aqui com você. - Confirmei com um sorriso presunçoso diante de sua expressão de alívio.

Antes de me responder Gina se jogou no sofá com um sorriso satisfeito e me estendeu os braços.

—Então tira essa blusa logo e deita aqui comigo.

Não demorei nem um minuto a atender seu convite e me acomodei a sua frente para que ela me abraçasse e jogasse uma perna sobre mim.

—Sabia que eu ainda sinto sua falta no trabalho? - Comentou depois de um tempo em silêncio. - Às vezes ainda acho estranho ver o Thomas ocupando sua mesa. - Se referiu ao seu novo estagiário, que agora ocupava o meu lugar na sala que antes dividíamos.

—Eu não sinto saudade de você no trabalho, mas eu sinto saudade de te ver todos os dias. - Expliquei meu ponto de vista. - E sinto saudade também de trabalhar com alguém que faça as coisas como você fazia.

—Perfeitas? - Vangloriou-se.

—Mais ou menos. - Disfarcei meu elogio e ela riu um pouco. - E com rapidez, as vezes ainda é estranho não ter isso.

—Sr. Black me perguntou de você na semana passada, acho que me esqueci de te contar.

—Ele ainda faz aquela cara de desgosto quando fala de nós? - Perguntei rindo ao me lembrar de sua expressão.

—Um pouco, mas melhorou bastante desde que não trabalhamos mais juntos. - Riu também. - Ele sempre te elogia quando fala de você, comentou comigo que teria sido muito bom para a companhia se você não tivesse saído.

—Ele te elogiava bastante para mim também, na primeira vez que conversamos ele falou inclusive que você é muito bonita. Mas parou com isso quando começamos a namorar, acho que ele tinha medo de que eu ficasse com ciúmes e desse alguns socos nele. - Finalizei pretensioso.

—Não faça isso, por favor. Você vai acabar se machucando. - Pediu preocupada e me zombando, se referindo ao único soco que desferi na vida.

Como represália estiquei meu braço para trás e lhe dei um tapa na bunda, que a fez rir mais da situação.

—O que vamos comer? - Questionei, mudando o foco da conversa.

—Não sei, mas não estou com muita vontade de fazer nada agora. - Falou preguiçosa, com o rosto encostado nas minhas costas.

—Vamos sair e comer em algum lugar, então. - Sugeri acariciando o local onde deixei minha mão após nossa brincadeira.

—Boa ideia. Tem alguma opção de lugar? - Me levantei enquanto ela concordava.

—Não, mas a gente encontra algo por aí. - Dei de ombros e estendi minha mão para levantá-la também.

Terminamos a noite de domingo nos divertindo sozinhos em uma cervejaria que servia umas comidas diferentes e fomos para casa depois de muita conversa de casal, daquelas que ninguém mais entende por que são tão legais.

Depois de um ano a familiaridade com suas funções dentro da empresa já era quase total e isso faz com que as coisas fiquem mais fáceis, por isso minha semana passou rápida e sem nenhum fato que a tornasse mais interessante.

Saí do trabalho na sexta-feira um pouco mais cedo do que o de costume e dentro de poucos minutos já entrava em na garagem do meu edifício. Aproveitei o pouco de trânsito para ligar para Hermione e confirmar nosso jantar do dia seguinte, que estava marcado para as sete.

Entrei em casa já tirando o casaco e o jogando de qualquer jeito sobre o sofá, atravessei a sala silenciosa e entrei no meu quarto para tomar um banho e colocar uma roupa mais leve, e levei um susto quando uma voz me saudou:

—Oi amor. - Gina falou, deitada na minha cama e comendo algumas das minhas nozes.

Ela riu quando me assustei e se desculpou.

—Odeio quando você faz isso. - Resmunguei, referindo-me a sua mania de deixar tudo silencioso e me assustar.

—Odeia nada. - Comentou presunçosa e me acomodando em seu colo assim que me joguei ao seu lado.

—Cadê o sushi? Estou decepcionado, se vai ficar me assustando pelo menos deveria me recompensar com alguma coisa gostosa. - Questionei depois de nos beijarmos rapidamente.

—Não da pra fazer isso todo dia, amor. - Rolou os olhos para minha cobrança.

—Por que não? Eu gostei. - Defendi meu ponto de vista.

—Porque está frio. - Desculpou-se.

—Ligue o aquecedor. - Apresentei a solução.

—Pra não perder a graça. - Argumentou novamente.

—Você está ficando muito chata. - Alfinetei e ela riu depois de me mostrar a língua. - Não esperava te encontrar aqui essa hora, estava pensando em tomar um banho e ir te buscar no trabalho.

—Algum motivo especial para isso? - Quis saber.

—Só te ver, fazer uma surpresa, nada demais.

—Que lindo. - Elogiou e me deu um beijo demorado na bochecha. - Estava tudo muito tranquilo, então saí na hora do almoço e vim direto para cá.

—Viu? Dava tempo de arrumar os sushis. - Reclamei com o dedo em riste e nós dois rimos.

—Dormi um pouco assim que cheguei, acordei uns vinte minutos antes de você chegar.

—Melhor você já estar aqui, assim não precisamos levantar daqui para nada. - Falei enquanto relaxava, com os olhos fechados.

—Dia cansativo?

—Um pouco. Acho que estou precisando de férias, viajar com você e não me preocupar com nada. - Desejei enquanto aproveitava seu carinho em meus cabelos.

—Não seria nada mal. - Concordou comigo. - E esse ano as férias são por minha conta. - Fez questão de me lembrar.

—Não se preocupe, não me oponho em nada que você queira me presentear com uma viagem fantástica. - Afirmei com as mãos em sinal de rendição e nos fazendo rir um pouco.

—Eu estava te esperando para tomar banho. - Comentou com a voz preguiçosa.

—Vamos, então. - Concordei de imediato, me levantando e puxando sua mão em direção ao meu banheiro.

Não nos apressamos em sair do nosso banho, e assim que terminamos fomos juntos até a cozinha preparar algo para comermos, ela ainda de cabelo molhado e usando apenas roupa íntima e uma camiseta minha e eu vestido em uma calça de moletom cinza.

Aproveitamos a noite juntos, namorando e assistindo qualquer coisa na TV enquanto nos colocávamos a par dos acontecimentos dos dias em que não nos vimos durante a semana e acabamos dormindo na metade do filme que tentamos assistir, no sofá da sala mesmo.

Acordamos no sábado sem pressa já perto da hora do almoço e passamos um dia preguiçosos juntos até o fim da tarde, quando nos vestimos e saímos para o jantar com nossos irmãos. Seguimos o caminho sem pressa e chegamos ao nosso destino alguns minutos antes do horário combinado.

Guiado pelo barulho do carro e sem esperar que tocássemos a campainha Ron abriu a porta para nós ostentando um sorriso enorme de boas vindas. Quando Gina o cumprimentou com um beijo no rosto ele a surpreendeu com um abraço forte que a levantou do chão por alguns segundos.

—Dispenso o meu abraço. - Falei com as mãos erguidas quando chegou minha vez de dizer oi e ele gargalhou como se tivesse sido a melhor piada do mundo.

—Pare de ser fresco. - Me repreendeu e trocamos um abraço rápido.

Gina e eu aguardamos de mãos dadas ao seu lado enquanto fechava a porta e o seguimos para a sala.

—Cadê a Mione? - Minha namorada quis saber.

—Está aqui. - Informou no momento exato em que entramos na sala e a encontramos deitada no sofá.

Ela também pareceu especialmente feliz em nos ver e se levantou de um pulo para nos cumprimentar. Nos acomodamos por alguns minutos no sofá para conversar um pouco, contando alguns detalhes sobre a semana em que não nos vimos e rindo de uma ou outra coisas engraçada dita, normalmente pelo meu cunhado.

—Já estão com fome? - Ele nos perguntou depois de um tempo.

—Sim, amor. - Mione respondeu por nós e ele assentiu.

—Vou colocar a mesa então. - Prontificou-se já se levantando.

—Te ajudo. - Minha irmã se ofereceu.

—Não precisa. - Ele negou e impediu que ela se levantasse, para só então se dirigir à cozinha.

Achei estranho o Ron não querer ajuda para essas coisas e minha irmã concordar em não ajudá-lo porque era usual entre eles fazer juntos esse tipo de coisas, mas não comentei nada e apenas a segui junto com Gina quando ele nos avisou que estava tudo pronto.

—Eu que fiz o juntar. - Anunciou orgulhoso quando ainda estávamos mastigando nosso primeiro pedaço de carne.

—Meu Deus… - Gi reclamou com cara de medo, ainda de boca cheia e nos fazendo rir.

—Está uma delícia, amor. - Mione o defendeu e acariciou sua mão pro cima da mesa.

—Vocês já vão nos contar o que é que tem de tão estranho? - Perguntei aproveitando o assunto e eles me olharam divertidos. - Ron fazendo o jantar, Mione sentada sem ajudar em nada, os dois felizes e carinhosos igual no primeiro mês de namoro. Não está tudo normal. - Me expliquei e eles riram com gosto.

Os dois trocaram um olhar cúmplice e se viraram para nós antes de dizer:

—Temos uma coisa para contar. - Ela disse, mal contendo a ansiedade visível.

Ao meu lado vi que Gina parou o garfo a caminho da boca e o pousou novamente no prato para se expressar também:

—Devo me preocupar?

—Só com o coração do Ron. - Mione brincou e os dois riram de algo aparentemente particular que não entendemos.

Nós dois trocamos um olhar silencioso e confuso, até que ele se dirigiu novamente a nós.

—Temos uma coisa para contar a vocês, mas é uma coisa muito boa. - Repetiu o que já sabíamos.

—Então digam logo. - Gina pediu impaciente.

—Vamos ter um bebê! - Minha irmã exclamou exultante, exalando felicidade.

Por um momento eu não soube o que dizer, e demorou um minuto para a história se encaixar por completo dentro da minha cabeça, e eu com certeza deveria estar olhando para eles com cara de idiota, porque meu cunhado estava claramente rindo de mim.

—Um bebê? - Gi perguntou depois de um tempo, com uma expressão incrédula e minha irmã concordou com um aceno. - Eu não acredito! - Exclamou com as mãos no rosto.

—Nem eu. - Concordei com ela. - Estou muito feliz, de verdade, por vocês e pelo meu sobrinho ou sobrinha. - Consegui me expressar, por fim.

—Eu também, claro que estou. Só muito surpresa. - Gina concordou comigo, olhando para eles com um sorriso tão grande quanto o meu. - Eu nem sabia que vocês queriam ter um bebê agora.

—Porque não queríamos. - Minha irmã confirmou e agora todos rimos como bobos, já que todos estavam contagiados felicidade deles. - Mas aconteceu, e estamos muito felizes, não é amor?

—Demais. - Confirmou satisfeito.

—Então você já sabia na semana passada e não me contou? - Perguntei incrédulo.

—Ron ainda não sabia e eu queria contar primeiro a ele. - Desculpou-se e me explicou o motivo.

—Quando você soube? - Gina quis saber.

—Contei para ele no domingo a noite, mas eu soube no sábado pela tarde, fiz o teste quando Ron saiu com os seus pais para dar uma volta pela vizinhança.

—E por que não contou a ele logo?

—Porque era a sua noite Gi, e eu não queria tirar o foco de você. - Explicou e minha namorada sorriu agradecida pela consideração.

—Obrigada, mas eu não sei se conseguiria não contar para ninguém. - Opinou.

—Contei para sua mãe. - Confidenciou e Ron também olhou surpreso, indicando que também não sabia daquela parte. - Na verdade, quando eles chegaram eu estava no banheiro e ela veio me procurar pensando que eu estivesse deitada, e me viu chorando. - Explicou-se.

—Por que você estava chorando? - Ron perguntou preocupado.

—Pelo mesmo motivo que você chorou quando eu te contei, amor, o choque da notícia. - Explicou e todos nós rimos novamente.

—Eu estou sob o choque da notícia também. - Harry assumiu. - Já foi ao médico? Quando nasce?

—Já fui, sim, e ele disse que nós estamos ótimas. Está previsto para o fim de setembro ou início de outubro. - Nos contou enquanto alisava carinhosamente a própria barriga, ainda tão reta quanto sempre foi. - Não vejo a hora de começar a mexer.

—Tomara que seja uma menina. - Gina desejou com os olhos brilhando.

—É uma menina. - Mione garantiu com uma segurança que não deixava dúvidas. - Eu sinto isso.

—Ela me repetiu isso a semana inteira. - Ron contou sem dar muito crédito à certeza da esposa.

—Já tenho intuição de mãe. - Deu de ombros se explicando.

—Então já vou começar a comprar os presentes, porque intuição de mãe não falha. - Minha namorada prontificou-se. - Já estou ansiosa para ver o nosso bebê.

—Nem me fale de ansiedade. - Mione confirmou ainda com as mãos apoiadas sobre o ventre.

Já bem tarde nos despedimos dos dois no hall de entrada para irmos embora novamente para minha casa, e a onda de abraços foi mais longa dessa vez, seguida também de alguns carinhos na barriga da minha irmã, que se derreteu toda com o gesto.

—Gina, tem compromisso na segunda para o almoço? - Ron questionou quando ainda não tínhamos saído.

—Não, por que?

—Vou te buscar para almoçarmos juntos, ok?

—Claro, te espero meio dia então. - Confirmou o encontro e então saímos.

Nosso assunto do final do semana inteiro foi o futuro novo membro da nossa família, que ainda nem era visível e já muito amado. Gina e eu ficamos excepcionalmente felizes com a notícia e também bastante sensibilizados com a novidade, dividindo agora a mesma expectativa com a chagada do nosso sobrinho.

Ela e Ron almoçavam juntos sempre que possível, então nenhum de nós achou o convite estranho e atribuímos o fato à sua ansiedade e necessidade de conversar sobre a nova fase e, muito provavelmente, seus receios com o que estava pro vir.

Saímos juntos para o trabalho e, já sabendo que cada um iria para sua casa no fim do expediente, nos despedimos carinhosamente na garagem do meu condomínio antes de cada um entrar em seu carro e sair para os compromissos do dia.

Não falei com ela o dia todo, e também mal tive tempo para almoçar, o que fez com que o dia se passasse rápido. Assim, quando meu celular tocou, na hora em que eu deveria estar saindo da empresa, estava tão distraído que dei um pulo na cadeira com o susto.

—Oi amor. - Cumprimentei ao ver que era ela na linha.

—Oi, você já está saindo? - Questionou e notei um pouco de preocupação em sua voz.

—Daqui a pouco, por que?

—Para saber. Vou para sua casa hoje, tudo bem? - Perguntou e eu estranhei, porque nós nunca avisávamos antes de ir para a casa um do outro.

—Claro, amor, nem precisa confirmar. Está tudo bem? - Quis saber, estranhando sua ação.

—Sim, está tudo bem. Só quero conversar. - Explicou, mas não me deixou completamente despreocupado.

—Tudo bem, chego daqui a pouco e te encontro. - Concordei antes de nos despedirmos e desligar o telefone.

Me apressei nos últimos e-mails que precisavam ser enviados ainda hoje e dirigi para casa assim que pude. Ao entrar na sala encontrei minha namorada sentada no sofá com o computador no colo.

Me sentei ao seu lado e trocamos alguns beijos e carinhos como cumprimento antes que eu olhasse para o computados em seu colo e notasse o site de busca de imóveis aberto no navegador de internet.

—Ron queria conversar uma coisa comigo hoje. - Começou antes que eu tivesse tempo de questionar seus interesses no mercado imobiliário. - Ele vai precisar vender o apartamento agora com a chegada do bebê, e eu queria que você me ajudasse.

Eu não esperava a notícia, então nos segundos que demorei para me manifestar ela continuou, antes que eu tivesse alguma chance de me expressar:

—Você pode me ajudar a encontrar um apartamento legal?