POV Harry

Depois de ouvir o que Ron disse sobre seu irmão chegar no dia seguinte me esforcei ao máximo para não demonstrar o quão insatisfeito fiquei. Francamente, eu não tenho absolutamente nada contra ele, mas a recíproca aparentemente não é verdadeira.

—Uhn, legal. - Foi tudo o que Gina respondeu quando ele contou a notícia.

Hermione me olhou disfarçadamente de canto de olhos e eu sinalizei discretamente de maneira negativa, indicando que por mim tudo tranquilo, embora não expressasse exatamente minha opinião sincera. Antes que o silêncio constrangedor se instaurasse eu me levantei de súbito e enquanto eles me encaravam fiz o convite:

—Vamos tomar café na padaria da esquina? Nós ainda não comemos nada. - Finalizei indicando a mim e a minha namorada.

—Vamos! - Ron concordou de imediato.

Gina me estendeu a mão e eu a puxei para que se levantasse do sofá onde estava sentada.

Caminhamos até lá despreocupados, Gina e Hermione a frente provavelmente conversando sobre o casamento, enquanto Ron e eu as seguíamos alguns passos atrás.

—Mione está me irritando com essa dieta pré casamento dela. - Ele comentou baixo, depois de alguns minutos de silêncio.

—Por que? - Perguntei no mesmo tom de voz.

—Ela realmente emagreceu desde que começou, por causa do vestido. - Explicou. - Mas eu gostava tanto daquelas partezinhas a mais para apertar. - Se lamentou observando enquanto ela caminhava graciosa à nossa frente.

Eu gargalhei e isso chamou a atenção de Gina, que olhou para mim sorrindo também, e eu respondi ao seu olhar com uma piscadela e um sorriso mais contido.

—Para seu conforto, todo mundo engorda depois que casa, pelo menos é o que dizem. - O confortei da melhor maneira que pude.

—Estou torcendo por isso. - Confidenciou.

—Só não diga isso a ela. - Orientei e ele riu dessa vez.

Alguns passos depois chegamos ao nosso destino e me sentei ao lado da minha namorada enquanto conversamos e comemos sem nenhuma pressa, e visto o horário isso acabou substituindo nosso almoço.

Durante a tarde combinamos de comer pizza na casa deles, já que seria nosso último fim de semana juntos antes do casamento e julgamos ser justo aproveitarmos como o fizemos nos últimos quase dois anos. E apenas para tornar o evento um pouco mais especial eu prometi que buscaria um vinho que havia guardado em casa para substituirmos o refrigerante de sempre.

Passamos uma parte confortável em casa e eu notei que Gina evitava ao máximo falar sobre o casamento ou qualquer coisa relacionada a ter que dormir sozinha em casa a partir da próxima semana. Se havia um lado dela que estava completamente feliz com a felicidade dos dois, o lado irmã apegada estava se sentindo um pouco abandonado.

Não tivemos muitos momentos a sós desde a ligação de manhã, então eu estava quase convencido de que Gina queria me dizer ou perguntar algo, e minhas suspeitas se confirmaram quando eu anunciei que precisaria ir até minha casa para tomar um banho e buscar o vinho para o jantar.

—Vou com você! - Anunciou com um pulo assim que terminei de dizer as palavras.

—Ok. - Concordei segurando a mão que ela me oferecia e minutos depois ela já estava sentada ao meu lado no carro.

Curiosamente, ao invés de apoiar a mão na minha perna como sempre, Gina estava deitada em meu ombro, acariciando muito carinhosamente minha coxa e esporadicamente me dando um beijo no rosto. No terceiro beijo, no entanto, eu não aguentei e ri.

—O que foi? - Perguntou estranhando minha reação.

Nós estávamos parados em um semáforo, e eu peguei sua mão apoiada em minha perna e beijei longamente a palma antes de olhar pra ela.

—Você só é carinhosa assim quando quer pedir alguma coisa. - Expliquei e ela riu também.

—Não é verdade, eu sou carinhosa com você sempre. - Defendeu-se enquanto se aconchegava no meu ombro novamente.

—Você é muito carinhosa, mas não desse jeito. - Argumentei e ela soltou uma risada baixa. - O que você quer? - Perguntei novamente enquanto colocava novamente o carro em movimento.

—Não quero nada, amor. - Respondeu séria. - Só estou me sentindo mal por você.

—Por mim? Por que? - Perguntei confuso.

—Eu sei que você não gosta dele. - Esclareceu e eu entendi imediatamente que ela estava se referindo a Percy.

Parei o carro esperando o portão da garagem se abrir automaticamente e olhei para ela.

—Gi, sério, eu não tenho nada contra o seu irmão. Não tenho como dizer que gosto dele porque nós nunca nem conversamos, mas com certeza também não digo que não gosto dele. - Expliquei e estacionei o carro na vaga designada a mim. - O que eu acho realmente é que ele não gosta de mim, e por mais que por um lado eu possa entender isso, eu também tenho uma irmã e gosto pra caralho do Ron, porque eu vejo como ele é uma boa pessoa, então não justifica.

Ela me olhou por um tempo e desceu do carro me acompanhando.

—A menos que eu não seja uma boa pessoa, então nesse caso justifica. - Brinquei e ela riu enquanto caminhamos até o elevador.

—Você é uma ótima pessoa, Harry, e é exatamente por isso que o Percy é um idiota por não gostar de você. - Esclareceu e eu entendi nas entrelinhas qual era o real problema.

Abri a porta da minha casa e dei espaço para que Gina entrasse e seguisse até o meu quarto, como sempre, comigo em seu encalço após trancar a porta atrás de nós. Ela não trouxe bolsa, então só se descalçou e deitou sobre minha cama confortavelmente. Fiz o mesmo o me deitei de bruços ao seu lado para continuarmos nosso assunto:

—Amor, não me importa que ele não goste de mim.

—Mas eu me importo com isso. - Respondeu me olhando.

—Da minha parte ele será muito bem recebido enquanto estiver aqui, se isso a preocupa não precisa. - Esclareci e ela riu.

—Não estou preocupada com isso, eu sei que ele será. Me preocupa mais o contrário, se ele será igualmente educado com você. - Falou por fim o que a preocupava. - Porque não acho que você precise ou deva ouvir quieto qualquer coisa ridícula que ele disser.

—Te prometo ser o mais paciente possível, está bem? - Propus e ela concordou com um aceno de cabeça. - Mas se você não se importa, eu não vou todos os dias vê-lo.

—Não, com isso não se incomode. - Respondeu já mais relaxada. - Só estava pensando, acho que vou dormir aqui com você durante essa semana, posso? Como só temos dois quartos ele fica no meu com Lauren e Ron no dele.

—Me parece uma desculpa convincente pra se enfiar na minha cama. - Falei rindo e ela me acompanhou.

—Sabe como é, não se perde oportunidades como essa. - Piscou pra mim sorrindo. - Ron aceitou o convite, então agora ele que faça sala para os dois.

—E isso me parece justo. - Concordei deitando minha cabeça sobre seu peito. - Vou tomar banho pra gente ir, vai ficar aqui ou vem comigo?

—Acho que vou com você, mas só porque esse é o tipo de convite que não se recusa. Sabe como é.

—Acho que sei sim. - Concordei e ri antes de puxá-la em direção à porta ao lado.

* * * * * * * * * * * *

—Foram pisar as uvas? - Ron perguntou irônico assim que passamos pela porta.

—Fomos. - Gina respondeu indiferente, colocando as duas garrafas de vinho sobre a mesa de centro e sentando-se no sofá me puxando junto. - Já vamos pedir ou ainda não estão com fome?

—Por mim podemos pedir. - Mione respondeu se sentando.

Por mais que ela fizesse aquela cara de quem estava sendo terrivelmente obrigada a comer pizza, eu sei que no fundo ela está morrendo de vontade. No fim nossa noite acabou com duas pizzas e uma garrafa e meia de vinho a menos, e horas gargalhando na sala até que Mione anunciasse que estava com sono e iria se deitar.

Como Gina e eu acordamos bem tarde, nenhum dos dois estava com sono e eu me acomodei atrás dela no sofá para assistir um filme qualquer que estava passando assim que liguei a TV. Dois minutos depois ela estava ignorando a tela e se virando para mim:

—Você está triste? - Perguntou sem rodeios.

—Triste não é bem a palavra, sei lá. Sim e não. - Tentei me explicar. - Digo, claro que estou feliz por eles, mas é a única pessoa que tenho no mundo, que faria tudo por mim, e ela está indo morar em outro lugar.

—Minha situação é bem diferente da sua, mas sei um pouco como se sente. - Suspirou antes de continuar, aparentando um pouquinho de decepção. - Mas ela não é a única pessoa que você tem no mundo e que faria tudo por você.

Apertei mais meu abraço em torno dela, numa reação espontânea ao conforto que aquela declaração me causou.

—A única que morava na minha casa, então. - Me corrigi e ela riu com as bochechas um pouquinho vermelhas.

—Vai ser estranho entrar em casa e não ter ninguém me esperando pra saber se eu cheguei bem da faculdade.

—Você pode me ligar se quiser. - Sugeri e ela riu. - Ou eu posso estabelecer um horário e te ligar todos os dias, se você ainda não estiver em casa eu chamo a polícia.

—Você passou duas semanas com a minha mãe e já pensa como ela? - Riu brincando com a gola da minha camiseta. - Mas sabe, por um lado vai ser bom morar sozinha um tempo eu acho.

—Por que você acha isso? - Perguntei enrolando uma parte do seu cabelo entre os dedos.

—Porque faz parte do processo de crescer, não é? - Me olhou buscando confirmação.

—Para algumas pessoas sim, outras não querem isso. - Opinei e ela assentiu.

—Você quis. - Afirmou.

—Sim, mas acho que agora não quero mais. - Ela me encarou por um tempo em silencio e baixou os olhos para a gola da minha camiseta de novo, com o rosto um pouquinho vermelho.

—Mesmo assim, acho que vou sentir saudades do Ron. - Sentenciou após uns minutos de silêncio.

—Ele vai estar aqui pertinho amor, não se preocupe tanto com isso. - A tranquilizei e ela assentiu. - Uma coisa eu posso te dizer sobre morar sozinho... - Comecei e ela me olhou com interesse. - Não é tão bom como a gente imagina, mas é melhor do que nossos pais opinam que seja.

Rimos um pouco da minha declaração.

—E no fim, sempre tem a oportunidade de ir dormir na casa do namorado de vez em quando, não é? - Questionou me abraçando mais.

—Ou da namorada. - Confirmei retribuindo seu abraço.

Ficamos assim abraçados por um tempo até que eu senti Gina começar a cochilar, então a chamei para nos deitarmos em sua cama.

Acordei no dia seguinte mais tarde do que o faria se estivesse dormindo sozinho em casa, e ainda assim ela continuava dormindo ao meu lado. Não a acordei de imediato, mas o fiz alguns minutos depois quando ouvi Ron e Mione já se movimentando pela casa.

Nos levantamos em seguida e tomamos um café rápido antes do Ron sair para buscar algo para comer quando os dois chegassem, já que ninguém estava com muita vontade de fazer comida, e nos sentamos despreocupados em frente à TV para esperar nossas visitar.

O filme que estava passando ainda não tinha terminado quando o interfone tocou anunciando que alguém havia chegado e Ron se levantou para atender.

—Chegaram. - Anunciou de volta a sala e nós continuamos da maneira como estávamos: Hermione sentada em um sofá sozinha, e Gina deitada no meu colo no sofá em frente.

Minutos depois a campainha tocou e minha namorada se sentou direito ao meu lado para recebê-los, enquanto o irmão abria a porta. Do lado de fora meu cunhado estava parado ao lado de uma mulher loira e um pouco mais baixa do que Gina, mas definitivamente mais magra do que ela e com aparência simpática, contrariando um pouco minhas expectativas.

—Olá, Percy! - Ron cumprimentou com entusiasmo enquanto o abraçava. - E você deve ser Lauren.

—Sim, muito prazer. - A moça respondeu com uma voz um pouco irritante.

Após isso ambos cumprimentaram Hermione e depois se dirigiram a nós. Gina se levantou e abraçou o irmão.

—Essa é Gina. - Ele disse à namorada, que também a abraçou em seguida.

—Oi, Percy. Muito prazer, Lauren. - Ela disse enquanto os cumprimentava.

Então finalmente os dois se viraram para mim sorrindo, Lauren amável e Percy presunçoso:

—E esse aqui é o namoradinho dela. - Falou com indiferença.