POV Gina

Eu tinha a leve impressão da claridade entrando pela varanda, que não foi fechada na noite anterior porque estávamos afoitos demais para repetir a brincadeira na cama, e sentia o sono cada vez mais distante enquanto eu despertava. Ao meu redor, os braços de Harry permaneciam bem apertados, e sua coxa jogada sobre minhas pernas.

Eu dormiria um pouco mais, com certeza, se estivesse em casa, mas eu estava em Paris, então certamente não desperdiçaria meu dia dormindo.

—Amor… - Chamei baixinho e me virando levemente para ele.

Ainda estávamos nus, e o lençol jogado no chão me permitiu ver com perfeição seu corpo, relaxado pelo sono, completamente grudado ao meu. Aos poucos ele foi acordando e seu aperto se transformou no abraço de bom dia que eu sempre ganhava quando dormíamos juntos.

Depois de repetir algumas vezes que não acreditava que eu já estava acordada, e tomar um banho rápido junto comigo, Harry finalmente se convenceu de que eu não iria voltar a dormir e resolveu sair comigo para a comemoração do nosso primeiro aniversário de namoro.

Eu vesti a mesma roupa do dia anterior, e fatalmente os mesmos saltos altos (único par de sapatos que eu tinha no momento) antes de sair para nosso passeio.

Antes que eu manifestasse minha vontade de comprar um par de chinelos qualquer, para ficar mais confortável, ele me arrastou para uma rua próxima ao hotel e repleta de lojas mais caras do que meu salário me permitiria aproveitar, para o primeiro presente do dia.

—Feliz um ano de namoro, amor! - Desejou antes de entrarmos em uma das lojas, muito ampla e repleto de roupas femininas.

Eu tinha plena consciência da nossa diferença social, e isso nunca era um problema para mim, exceto quando ele insistia em me incluir de qualquer maneira em seu mundo de gastos consideravelmente mais extravagantes que os meus, como agora. Eu sorri de volta ante seu sorriso radiante ao me felicitar, e assim que abri a boca para manifestar que não seria necessário comprar nada ali, ele se adiantou e não deixou que eu falasse.

—Nem comece! É nosso primeiro aniversário juntos, e eu quero te presentear da minha maneira. - Argumentou antes de me puxar em direção a um dos departamentos. - Além disso, eu te trouxe para cá de surpresa, nada mais justo que eu faça tudo que você precisa. E tudo que você quer, também. - Finalizou piscando sugestivamente e me fazendo rir. - Compre o que quiser, mas pelo menos algo para você usar hoje e amanhã. É meu primeiro presente do dia, então aproveite-o bem, temos tempo.

—Primeiro? - Perguntei mal escondendo o riso, afinal apesar de ficar um pouco sem graça, eu gostava muito quando ele me mimava. - Tem mais?

—Menos do que você merece. - Respondeu me abraçando por trás e pousando o queixo no meu ombro. - Mas sim, tem mais.

Eu não o questionei depois disso, apenas andamos em mais umas duas ou três lojas e no fim eu comprei uma calça jeans confortável, uma sapatilha apropriada para as caminhadas que faríamos, duas camisetas básicas e bonitas, que ele me ajudou a escolher, e roupa intima suficiente para os dois dias.

Passamos no hotel o tempo necessário para deixar as sacolas e mudar de roupa, e em seguida já estávamos novamente pelas ruas de Paris. Harry fez questão de me levar a todos os pontos turísticos mais famosos e quando finalmente paramos para comer algo, já se passava muito da hora do almoço.

Comemos um prato tradicional francês em um restaurante próximo ao centro, e durante todo o tempo sorrimos como bobos um para o outro.

—Eu morro de saudade de você, quando não te vejo todos os dias. - Falei em um momento de silêncio entre nossas risadas e comentários sobre o passeio.

—Eu também fico com muita saudade. - Ele me respondeu e entrelaçou nossos dedos por cima da mesa. - Você poderia vir sempre alegrar meu fim de semana, se isso acontecer mais vezes. - Sugeriu e nós rimos.

—Seria ótimo se nenhum dos dois estivesse a trabalho.

—Tiraremos férias outra vez no final do ano. Podemos pensar em algo para fazer juntos, os dois por diversão, dessa vez. Seus pais virão para o casamento da Mione e do Ron, então também não reclamarão se você não for vê-los.

—Podemos pensar nisso. - Finalizei o assunto com um beijo em seu rosto. - O que faremos pela tarde? - Perguntei me ajeitando novamente em meu assento.

—Pensei em visitar o Louvre. - Sugeriu. - Mesmo para quem não entende muito de arte, como nós, o passeio vale a pena.

Concordei com sua sugestão e quarenta minutos depois de finalizarmos nosso almoço estávamos caminhando pelos corredores iluminados do museu e, enfim, conhecendo a tão famosa Monalisa.

Quando começou a anoitecer, estávamos caminhando sob o Arco do Triunfo, e Harry olhou rapidamente no relógio antes de me puxar no sentido contrário e começar a caminhar rapidamente para o lado oposto, em direção ao hotel.

—O que foi? - Perguntei caminhando rápido ao seu lado.

—Precisamos ir, não podemos nos atrasar. - Justificou-se.

—Atrasar pra que? - Perguntei já sabendo que ele não me responderia.

—É surpresa. - Finalizou o assunto e piscou pra mim, cúmplice.

Chegamos ao hotel alguns minutos de caminhada depois, e assim que entramos no quarto ele abriu o armário lateral e tirou de lá um vestido preto e básico, que aparentemente não era cumprido nem exageradamente curto, indo até metade das minhas coxas e com uma modelagem justa ao corpo, com um decote discreto.

—Aqui, comprei sozinho então achei melhor o preto porque combinaria com qualquer sapato que você trouxesse. - Falou enquanto me entregava o cabide. - E espero sinceramente que sirva, e que você goste.

—Ah Harry... - Exclamei enquanto olhava atentamente a peça, muito bem escolhida. - É lindo! Obrigada. - Agradeci me aproximando e juntando nossos lábios.

—Não precisa agradecer. - Respondeu retribuindo meu beijo e acariciando levemente meu rosto. - Precisamos sair dentro de meia hora, você consegue terminar nesse tempo? - Perguntou e eu assenti. - Pode tomar banho primeiro, se quiser.

Tomei um banho rápido e evitei ao máximo molhar os cabelos, para ser mais rápida. Quando saí do banheiro, só de toalha, Harry estava usando apenas uma cueca boxer e entrou em seguida carregando um cabide com algumas peças de roupa social.

Me vesti rapidamente com uma das lingeries que compramos pela manhã, e coloquei o vestido que serviu perfeitamente. Harry não se importava se eu estava ou não usando maquiagem, então apenas marquei os olhos e passei um batom leve, aproveitando o fato de que minha pele estava milagrosamente macia hoje para não usar nada nela.

Quando eu estava colocando os sapatos meu namorado saiu do banheiro, já vestido numa daquelas roupas sociais que o deixam terrivelmente sexy e bonito. Nos olhamos longamente e sorrimos um para o outro, sem ser necessário dizer que ambos nos agradamos bastante com o que vimos.

—Você está linda. - Ele falou mesmo assim. - Pronta?

—Você também. - Respondi segurando o braço que ele me estendia. - Pronta, podemos ir.

Pegamos um táxi em frente ao hotel e minutos depois estacionamos em frente a uma fachada elegante de um restaurante chamado L´Ambroisie. Assim que entramos Harry falou seu nome à pessoa que nos recepcionou e fomos guiados à uma mesa mais afastada e iluminada à luz de velas.

Tudo ali dentro era tão imponente e elegante que eu usei os primeiros longos minutos para observar o ambiente em volta, enquanto meu namorado me observava e sorria.

—Eu nem sei o que dizer. - Falei assim que nossos olhos se encontraram, e rimos.

—Gostou? - Perguntou apoiando uma das mãos em cima da mesa.

—Nem sei dizer o quanto. - Respondi entrelaçando nossos dedos no mesmo momento em que um garçom parou ao nosso lado falando em francês e entregando um cardápio para cada um de nós. - Prefiro que você escolha o meu também. - Pedi assim que ele se afastou, nos deixando a sós.

Ele fez nossos pedidos e eu comi um prato básico, com carne vermelha, enquanto ele arriscou algo mais típico do país. Conversamos muito durante o jantar e rimos bastante, até que retiraram nossos pratos e pedimos uma sobremesa para dividir.

Enquanto eu ria de alguma coisa engraçada que ele havia dito, Harry se afastou um pouco da mesa e apoiou as duas mãos sobre ela, segurando as minhas que já estavam ali.

—Obrigado, Gina. - Ele agradeceu mas sério que antes, acariciando minhas mãos.

—Do que, amor? - Perguntei sorrindo e retribuindo a caricia.

—Por tudo. Por ter vindo, por fazer esse meu último ano muito feliz.

—Eu que te agradeço por tudo isso. - Retribui sinceramente o agradecimento. - E obrigada por esse final de semana perfeito.

—Falta seu presente ainda. - Falou enquanto soltava minhas mãos e pegava algo em seu bolso.

—Eu não acho que ainda precise de mais presentes, amor. Além disso, eu não trouxe o seu. Ficou dentro do m… - Minha frase morreu na metade quando ele colocou uma pequena caixinha preta sobre a mesa, e meus olhos se arregalaram tanto que quase os senti saltarem.

Quando viu minha expressão de puro pavor, ele riu descontraído e girando a pequena caixinha entre os dedos.

—Pode voltar a respirar, não é nada do que você está pensando. - Comentou divertido e diante do seu tom descontraído eu sorri também, ainda sem conseguir diminuir o tamanho dos meus olhos.

Eu amo meu namorado, mas casamento aos vinte anos de idade e sem ter terminado a faculdade, definitivamente não estava nos meus planos.

—Eu escolhi esse presente porque eu quero que você tenha algo que te faça se lembrar de mim o tempo todo. - Começou segurando minha mão novamente, ainda com o presente entre seus dedos que não estavam presos aos meus. - Desfaça essa cara de susto, esse dia ainda não chegou. - Pediu novamente, rindo mais dessa vez, e eu gargalhei também, sentindo minha expressão se suavizar.

— Vou tentar. - Prometi e rimos novamente.

—Enfim, espero que você goste. - Falou abrindo o embrulho e me mostrando um anel, que definitivamente não era de noivado, mas era lindo.

Era exatamente o tipo de coisa que eu classificaria como “minha cara”, se o visse em alguma vitrine. Não era o caso, mesmo porque eu não não era muito de usar jóias. Mas desde agora eu sei que esse anel não sairá do meu dedo, para nada!

—Vou considerar esse sorriso um sinal de que você adorou. - Sentenciou colocando-o em minha mão direita. - Achei a sua cara.

—Eu também achei a minha cara. - Confessei olhando minha própria mão, agora com um chamariz a mais, além das unhas compridas e sempre pintadas. - É lindo, eu adorei. Obrigada.

—Como eu disse, é menos do que você merece. - Falou puxando minha mão e depositando um beijo nela, num gesto muito romântico.

Ficamos no restaurante apenas o tempo de pagar a conta, e voltamos para o hotel, a fim de aproveitar a parte “a sós” da nossa comemoração de aniversário.

No domingo, acordamos quase na hora do almoço. Meu vôo de volta sairia às 19 hrs, e como eu havia trazido apenas minha bolsa, saímos do hotel já com a roupa que eu embarcaria e combinamos que Harry levaria o resto das minhas coisas em sua mala.

Almoçamos na Torre Eiffel e fizemos um passeio curto pelo Rio Sena. Assim que terminamos nossa volta na pequena embarcação, já se aproximava do horário do meu check in e nos dirigimos ao aeroporto no mesmo carro onde ele me buscou duas noites atrás.

Enquanto eu me apresentava no guichê da companhia aérea, Harry ligou para o Ron e informou o horário previsto da minha chegada. Ficamos sentados no saguão do aeroporto até que os passageiros do meu vôo começaram a ser chamados.

Por mais que soasse muito sensível, eu senti vontade de chorar quando chegou a hora de nos separarmos, mas não o fiz.

—Não se esqueça de me avisar quando chegar em casa. - Pediu me abraçando.

—Não esquecerei. - Prometi. - Se cuide, vou morrer de saudades.

—Também ficarei com saudade. - Me abraçou e trocamos um selinho longo. - Nos vemos na quinta, eu te aviso a hora pra você poder me buscar.

Assenti e nos beijamos rapidamente até que nos soltamos e caminhei em direção ao portão de embarque. Antes de finalmente entrar, me virei e nos olhamos durante longos segundos. Não era preciso dizer “eu te amo”, esse olhar já dizia tudo.