Speechless escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 52
Capítulo 52


Notas iniciais do capítulo

Notas finais.



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POV Harry

Gina não falou nada durante todo o caminho até a casa dela, e ao contrário do que acontecia todas as vezes que andávamos de carro juntos, ela ficou o tempo todo com o rosto virado para a janela e as mãos no próprio colo, até que eu passei a dirigir apenas com a mão esquerda e pousei a direita sobre sua perna.

Quando sentiu meu toque, ela apenas me olhou e sorriu um pouco, para voltar a virar-se novamente para a rua quase vazia. Ela não precisou falar para que eu decifrasse sua expressão, pois era exatamente a mesma do dia em que cheguei à faculdade para buscá-la e Dino Thomas a estava segurando agressivamente: ela ia chorar, uma hora ou outra, mais cedo ou mais tarde.

E eu não sabia o que fazer!

Da primeira vez, eu fui a pessoa que chegou para acalmá-la e tirá-la da situação desconfortável, e agora eu estava sendo, mesmo involuntariamente, a pessoa que a colocava no pior lugar da situação pela qual estávamos passando. E era mais fácil estar na situação anterior, onde eu sabia exatamente o que poderia fazer para que ela se acalmasse.

Quando estacionei o carro na vaga de garagem que correspondia ao apartamento onde minha namorada e o irmão moravam, ela agiu automaticamente. Saiu do carro, fechou a porta, me deu a mão por hábito, falou bom dia para as pessoas que encontramos no elevador, destrancou a porta de casa com a própria chave e, enquanto eu a fechava atrás de mim, ela sentou-se no sofá para agir, pela primeira vez até então, espontaneamente: apoiou o rosto nas próprias mãos e começou a chorar.

Sem escândalos desnecessários, sem atirar nada em nenhuma direção e sem dizer uma só palavra. Ela apenas chorou, de uma maneira tão sentida e tão magoada que me fez ter vontade, depois de todo esse tempo após a morte dos meus pais, dechorar também. Mas ela certamente não precisava de ninguém se derramando em lagrimas justo agora que evidentemente tudo o que queria era alguém que a apoiasse e oferecesse algum consolo.

Como foi a única coisa a se fazer que me pareceu sensata, eu reprimi a vontade que estava sentindo e me ajoelhei à sua frente, para ficarmos da mesma altura. Tirei carinhosamente suas mãos do rosto e a abracei, deixando que ela se apoiasse em meu ombro, já que eu parecia não ter mais o que fazer além disso.

—Desculpa. - Pedi baixinho e ela não me respondeu.

Mesmo sem se pronunciar, ela aceitou meu abraço, embora tenha mantido as próprias mãos no colo ao invés de me retribuir, e isso me pareceu um bom sinal. Não insisti em conversar novamente, porque mesmo achando que eu não havia feito nada que condenasse minha conduta e minha disposição em amar somente a ela, eu entendia que a situação havia sido absurdamente desconfortável e ela tinha total direito em querer desabafar.

—Você não precisa se desculpar. - Ela falou, depois do que me pareceu muito tempo, se afastando um pouco.

Seus olhos estavam inchados e ela evitou olhar para mim, apenas limpou o rosto com as mãos e continuou olhando para baixo. Eu ia falar quando ela deu a impressão de que iria continuar dizendo alguma coisa, então me calei e esperei. Seu lábio inferior tremeu um pouco, e eu não pude deixar de achar lindo.

—É só que eu não sei lidar com esse ciúme todo que eu sinto de você. - Continuou sem graça.

Ainda que pareça muito egocêntrico da minha parte, não consegui refrear o instinto de satisfação que senti ao ouvir aquilo. Levantei-me de onde estava, sentei no sofá ao seu lado e a puxei para que sentasse entre as minhas pernas.

—Eu também não. - Confessei, enquanto tirava uma mecha do seu cabelo do rosto e colocava atrás da orelha.

Ela me olhou pela primeira vez, com a mesma expressão indecifrável e, mesmo sem ter dito nada, eu sabia que no fundo ela não havia acreditado.

—Por que você não acredita? - Perguntei entrelaçando nossos dedos e acariciando levemente a palma de sua mão, que agora estava apoiada na minha perna.

—Porque não faz muito sentido. - Respondeu, como se fosse óbvio. - Olha pra você, olha pra mim.

—Eu olho pra você o tempo todo, e só fico mais encantado. Só você acha que não faz sentido. E não precisa fazer sentido, amor. - Retruquei mantendo o tom da conversa tão baixo e calmo como ela havia feito. - As pessoas falam que amar alguém é assim mesmo sem sentido, não é?

Ela deu um sorriso lindo quando citei essa palavra.

—Eu não fui muito romântico quando disse te amava, é isso? - Perguntei divertido e ela riu um pouco.

—Eu não esperava um palavrão depois, mas foi lindo. - Falou sorridente e eu ri dessa vez.

—Eu te amo, linda. - Falei sério e ela sorriu mais.

—Eu também te amo. - Retribuiu com um leve carinho no meu rosto e eu sorri também.

Eu nunca achei que as pessoas precisam falar que se amam a cada vez que se olham, porque suas atitudes dizem mais sobre isso do que as próprias palavras, mas ouvir isso dela, tão calma e sinceramente como agora, soou de uma maneira boa. Muito boa, na verdade.

—E isso é assustador pra caralho! - Acrescentei ao final e ela gargalhou enquanto limpava novamente o rosto, secando os resquícios de lagrimas.

—Só me contaram sobre a parte legal do amor, ninguém me disse que era tão confuso. - Reclamou fazendo cara de manha e eu ri também.

—Você estava falando sério quando disse que não sabia? - Perguntei me referindo a quando ela disse que não sabia o que eu sentia, e mesmo sem explicação ela pareceu entender.

—Sim e não. Na hora eu achei estranho você não falar nem ‘eu também’, me senti um pouco boba por ter falado. - Eu ri e ela me deu um tapa no ombro, mas riu também. - Depois eu não me importei muito porque você agia de uma maneira muito apaixonada comigo. Mas ai aconteceu isso, e eu fiquei confusa. A sua não resposta foi a primeira coisa que me veio à cabeça, e eu falei aquilo.

Eu entendia o que ela queria dizer. Era tão natural estar com Gina, e eu já me sentia tão confortável e seguro ao lado dela que as vezes acabava me esquecendo de algo que minha mãe me dizia as vezes: mulheres tendem a ser inseguras, e quando estão apaixonadas essa sensação piora. Cabia a mim passar a ela o máximo de segurança que conseguisse, em gestos e em palavras.

—Me desculpe novamente por hoje. - Pedi novamente, agora olhando-a.

—Você não precisa me pedir desculpas, Harry, já disse. - Respondeu novamente a mesma coisa.

—Não, eu preciso sim e eu quero. - Interrompi e ela me olhou sem dizer mais nada. - Naquele dia, na faculdade, quando aquele rapaz idiota estava sendo agressivo com você, eu já estava ali havia um tempo, e eu acho que eu nunca te contei isso. - Ela me olhava com mais atenção agora. - Eu cheguei mais cedo para te esperar, e quando ele chegou perto de você eu vi, mas não te chamei porque fiquei com ciúmes.

Eu parei de falar um pouco, mas ela permaneceu quieta, apenas alisando meu rosto, então continuei.

—E eu imagino, se naquele dia, quando a gente não tinha nada de fato, eu morri de ciúmes, como você deve ter se sentido agora. E é meio culpa minha e da minha falta de critério para namorada. - Finalizei dando de ombros.

—Ow! Como assim falta de critério? - Questionou rindo e me dando um tapa de leve no braço.

—Ok, isso melhorou de um tempo para cá. - Corrigi e rimos juntos. - O que eu quero dizer, é que entendo sua reação, e quero que você saiba que eu gostaria muito de ter evitado essa situação.

—Eu sei disso, Harry. E também gostaria que você soubesse de uma coisa - Falou e respirou fundo antes de continuar. - Eu não gostei do que aconteceu, acho que ninguém iria gostar. Odiei o modo como ela te tratou, como te olhou, como tentou te beijar quando chegou e odiei mais ainda o jeito que ela falou com você, como se fosse sua dona.

Ela não era a primeira pessoa que me falava isso. Hermione deve ter repetido pelo menos um milhão de vezes. Por isso eu ri um pouco.

—Mas, independente disso, o que ela fez não mudou nada entre nós, pelo menos para mim. A única coisa é que agora, depois de esfriar a cabeça e olhar para os fatos racionalmente, é incrível como você é um perfeito cavalheiro, em todos os sentidos, e como você sabe me passar segurança. - Finalizou e respirou fundo novamente, enquanto entrelaçava nossos dedos. - Obrigada por isso.

A puxei pela cintura e ela se sentou em meu colo, ainda segurando em minha mão.

—Eu é que agradeço. - Falei alisando seu cabelo e ela riu.

—Agradece pelos acessos de loucura? - Perguntou rindo.

—Não sua boba, agradeço por você existir. - Finalizei galanteador e ela gargalhou.

—Frase certa na hora certa, pegador. Se essa era sua intensão, já pode me levar para o quarto. - Falou com as mãos erguidas, em sinal de rendição, e fazendo nós dois rir como dois bobos.

—A gente faz o que pode, e a proposta é muito tentadora, sua oferecida. - Brinquei fazendo cócegas em sua barriga e ela riu enquanto se esquivava. - Mas alguém aqui ainda não comeu nada hoje.

—É verdade, não comemos nada hoje! - Exclamou espantada, como que se lembrando de algo. - E eu estou com fome, acredita?

—Acredito! - Confirmei rindo de sua expressão e me levantando do sofá ainda com ela em meu colo, para depois coloca-la em pé no chão. - E o que você quer comer?

—Qualquer coisa, vamos ver o que tem. - Respondeu já se encaminhando para a cozinha.

—Não senhora, hoje é por minha conta. - A puxei pela mão, fazendo-a voltar até mim e abraçando-a novamente. - Vá para o seu quarto, tire essa roupa, vista aquele pijama que ainda povoa meus sonhos e me espere lá. Hoje é café na cama.

—Você está querendo me agradar? - Perguntou divertida e beijando meu pescoço

—Claro que quero. - Respondi descendo minhas mãos por suas costas e pousando-as exatamente sobre seu bumbum. - É do meu interesse que sua proposta ainda esteja de pé depois que comermos.

Ela riu abertamente, daquele jeito lindo, me deu um beijo e foi em direção ao próprio quarto enquanto eu ia para a cozinha e a única coisa que me passava pela cabeça era que o que eu mais queria era agradá-la e faze-la feliz pelo resto dos meus dias.

 


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Notas finais do capítulo

Olá amores!
Eu escrevi esse capítulo com todo o cuidado do mundo, e espero realmente que vocês tenham gostado. Capítulos como esse, importantes, eu costumo chamar de capítulo chave, então se vocês quiserem comentar e me dar a opinião de vocês sobre ele eu ficaria muito feliz *--*
Notícia boa: TCC (quase) finalizado. õ/ Só alguns ajustes e entrego essa semana ainda.
Notícia ruim: ainda tenho duas provas, uma delas na semana que vem, então postagem só daqui 15 dias.
Espero ver todos vocês nos comentários! Opinem, critiquem, recomendem. Faz bem para todos nós!
Beijão enorme, até o próximo.