POV Harry

Eu ainda estava só de cueca no banheiro quando a porta se abriu sem nenhum aviso prévio e minha namorada entrou com os olhos cheios de lágrimas e a maior expressão de decepção que eu já havia visto. Antes que eu perguntasse o que aconteceu ela me entregou o telefone e falou:

—É Cho. - Informou e eu fiquei completamente em dúvida. - Sua noiva. - Completou sarcástica e triste, ao mesmo tempo.

Eu precisei processar essa informação mais de uma vez e ouvir aquela voz já conhecida do outro lado da linha para entender que o que ela havia dito era verdade.

—Alô. - Falei levando o telefone ao ouvido.

—Oi príncipe. - Cho respondeu me chamando pelo mesmo apelido de quando ainda estávamos juntos e com uma empolgação de quem fazia aquilo com frequência.

—Oi Cho. - Falei sem nenhuma empolgação visível e me sentando na tampa fechada da privada com o rosto apoiado em uma mão e o telefone ainda no ouvido.

A única coisa que me passava pela cabeça era o problema que aquela ligação mais que inesperada me causaria com Gina.

—Eu estava com saudades. - Falou manhosa e eu não respondi nada. - Você não vai falar nada? - Perguntou incrédula.

—Não, o que quer que eu diga? - Respondi como se fosse óbvio.- Faz quase seis meses que não nos falamos.

—E você não estava com saudade também? - Retomou ao mesmo tom carinhoso.

—Para falar a verdade não, Cho. - Fui sincero e ela riu.

—Você ainda está magoado porque terminamos, não é? - Concluiu e antes que eu respondesse ela prosseguiu. - Isso não vai acontecer novamente, príncipe.

Dessa vez quem riu fui eu.

—Olha, Cho, acho que você está confundindo um pouquinho as coisas...

Ela riu outra vez, como se a situação fosse a mais engraçada possível.

—Por que não me deixa subir e conversamos sobre isso pessoalmente? - Pediu entre provocante e divertida. - Quero te ver logo.

Quando eu compreendi que ela estava aqui quase caí para trás.

—Você está aqui? - Quase gritei.

—Estou. - Sorriu novamente. - Você me deu seu endereço quando me convidou para vir morar em Londres também e eu quis fazer uma surpresa.

—Eu não acredito nisso... - Falei mais para mim do que para ela, esfregando os olhos.

—O porteiro ia interfonar, mas eu não deixei, achei que você ficaria mais surpreso se eu mesma ligasse. - Esclareceu aparentando muita felicidade. - Pede para ele abrir para mim, por favor? As malas estão um pouquinho pesadas.

Eu pensei em um monte de possibilidades, inclusive em pedir para que o porteiro chamasse a polícia para tirar aquela louca da minha porta. Mas como sempre acontecia de uns meses para cá, pensei na pessoa que neste momento provavelmente estava no quarto da minha irmã e totalmente triste e confusa com essa situação. Gina precisava de uma explicação porque aquele olhar de decepção não deveria estar em seu rosto, e nada melhor do que presenciar a situação.

—Tá, me da uns dez minutos e já peço. - Falei por fim e desliguei antes que ela questionasse a demora.

Assim que a ligação foi encerrada eu saí apressado do banheiro, deixando o telefone de qualquer jeito na cama e fui em direção ao quarto do outro lado do corredor. Como esperado Gina estava lá e a porta fechada, mas foi quando ela se negou a me acompanhar que eu fiquei realmente irritado. Pela primeira vez, desde que a conheci, eu achei sua atitude totalmente imatura e por mais que eu tentasse relevar e me colocar no lugar dela para entender como a situação estaria confusa ao seu ponto de vista era difícil compreendê-la.

Troquei-me rapidamente, colocando a mesma roupa que estava usando no dia anterior enquanto jantamos e quando eu terminava de amarrar meu tênis ela entrou no meu quarto e se se encostou à porta aberta com a expressão muito séria e os braços cruzados. Ela havia lavado o rosto e não havia mais nenhum resquício de choro. Não pude deixar de sorrir ao reparar que suas roupas estavam mais arrumadas no corpo, o decote mais avantajado e o cabelo agora solto. Ela era linda e queria mostrar isso.

Terminei de arrumar meu calçado e fui até ela, me encostando a seu corpo e afirmando sem deixar de encará-la:

—Não se preocupe, ela não é metade da mulher que você é e eu não senti por ela um terço do que eu sinto por você.

—Eu não sei. - Falou baixinho, outra lágrima escorrendo.

—Não sabe o que? - Perguntei em dúvida.

—O que você sente por mim, eu não sei o que você sente. - Eu nem soube o que responder na hora e esperei que ela continuasse. - Você nunca me disse, nem um 'eu também'.

Com isso eu entendi que ela estava se referindo ao dia que ela disse que me amava. Apesar da sua expressão de tristeza me deixar abalado eu quase não consegui acreditar no que estava ouvindo.

—Você não sabe o que eu sinto por você porque eu nunca disse uma merda de um 'eu te amo'? - Perguntei me afastando dela e encarando-a. Ela olhou para baixo e não falou nada.

—Então não quer dizer nada eu estar disposto a largar meu emprego para manter nosso relacionamento? Sair todo dia de casa e te buscar na faculdade só pra você não correr risco nenhum não é nada pra você? Fazer todas as porras dos seus gostos, morrer de ciúmes de todo filho da puta que te olha, assistir aquele monte de filme chato que você adora e passar horas andando na merda de um shopping você ignora? Aguentar seu irmão me chamar de moleque e falar do seu ex-namorado pra me provocar e não falar nada pra ele é coisa de quem não sente nada também, Gina? Responde! - Terminei de falar com o dedo apontado e a voz um pouco mais alta. Ela continuou com olhando para baixo e chorando novamente.

—Se eu estivesse sozinho eu não faria nada dessas coisas, mas eu adoro fazer todas elas com você e pra você, sabe por quê? Olha pra mim. - Pedi irritado e levantando seu queixo. Ela estava parecendo uma criança arrependida e assustada. - Eu gosto de fazer tudo isso porque você fica feliz, caralho! Só por isso, ou você acha que eu só fã da Lindsay Lohan? Mas se pra você saber o que eu sinto por você precisa de uma porcaria de uma frase tudo bem, eu falo. Eu te amo, porra, com todas as suas manias, as suas bagunças, as suas chatices, as suas crises horríveis de TPM. - Ela riu um pouco quando eu falei isso. - Mas eu te amo. Satisfeita agora?

Ela sorriu pra mim um pouco sem graça e assentiu, mas não disse nada. Acariciei levemente sua bochecha e peguei sua mão levando-a até o meu banheiro para que lavasse o rosto novamente, em seguida fomos para a sala. Hermione estava sentada no sofá trocando os canais da TV e olhou para Gina fixamente quando passamos (mais uma vez achei incrível como as duas se entendiam sem palavras), para depois focar novamente a programação. Tirei o interfone da parede e liguei para a portaria, sem nunca soltar sua mão.

—Oi. - Cumprimentei quando o porteiro atendeu. - Por favor, pode deixar a senhorita Chang subir.

Assim que desliguei minha irmã me olhou com os olhos arregalados:

—O que ela está fazendo aqui? - Perguntou incrédula.

—Isso é o que vamos descobrir. - Respondi demonstrando como aquilo me deixava desconfortável e me sentei com Gina no sofá.

—Eu vou ficar no quarto, se importa? - Neguei com a cabeça e ela desligou a TV antes de retirar-se.

Eu sempre soube que Hermione não tinha muita vontade de conhecê-la, então não me importei com essa decisão. Gina ficou quieta ao meu lado o tempo todo, e eu apenas acariciei suas mãos enquanto esperávamos. A campainha tocou alguns minutos depois e eu dei um selinho na minha namorada antes de me levantar para atender. Assim que abri a porta um rosto extremamente sorridente me cumprimentou exatamente como há alguns meses:

—Oi príncipe. - Falou já caminhando em minha direção e arrastando uma mala enorme. - Nossa, você demorou tanto para autorizar que eu entrasse que...

Ela se inclinou para me dar um beijo e eu a afastei de mim com a mão em seu braço, foi nessa hora que ela parou de falar e me olhou estranhando a reação. Eu apontei com a cabeça para o sofá e pela primeira vez ela reparou na ruiva linda sentada ali e olhando-a com aquela impassividade que me assustava. Cho mediu minha namorada com a maior cara de desdém do mundo antes de se virar para mim e perguntar:

—Quem é essa?

—Gina Weasley. - Respondi soltando-a e dando um passo atrás. - Minha namorada.