POV Harry

—Pois não, Sr. Dumbledore. - Falei formalmente.

—Imagino que você já saiba o que os traz aqui, Sr. Potter. - Começou educadamente e assim como Gina eu permaneci calado. - Chegou até mim, de uma maneira um tanto quanto turbulenta acredito, o fato de que você e a Srta. Weasley estava saindo juntos e que ela estava se valendo disso para ascender profissionalmente, e essas palavras são da pessoa que me deu a notícia e não minhas. - Esclareceu diante das bochechas vermelhas da minha namorada. - Eu conheço perfeitamente bem as competências profissionais da Srta. Weasley e me lembro de que eu mesmo a recomendei para o cargo mais alto do que o ocupava, mas respondam-me sinceramente, não acham que se colocaram numa situação um tanto delicada?

—Sempre soubemos que era uma situação muito delicada, senhor. - Respondi impassível.

—O que vou dizer agora serve para os dois. Vocês são jovens, bonitos, inteligentes e ótimos profissionais. Acham mesmo que vale a pena arriscar a carreira de vocês por um casinho sem importância entre chefe e funcionária? - Perguntou com o semblante bondoso, e nesse momento eu não tive dúvidas de que essas palavras expressavam a idéia que haviam apresentado para ele, não sua opinião própria.

—Sr. Dumbledore, no dia em que me apresentou a pessoa que iria trabalhar comigo me lembro muito bem de ter dito que já nos conhecíamos porque ela era irmã do meu melhor amigo. Esse foi um esclarecimento resumido da nossa relação, porque naquela hora seria impróprio contar que eu e a Srta. Weasley estávamos em uma fase um tanto não resolvida da nossa situação. - Ele me olhava atentamente e Gina também. - Nós nos conhecemos há bastante tempo, e o fato de estarmos namorando nada tem a ver com arriscar nossa carreira por causa de um casinho sem importância. Aliás, a Srta. Weasley é de primordial importância para minha vida, acredito que a opinião dela sobre mim seja a mesma.

—Eu entendo Sr. Potter, e mais do que isso devo admitir que já esperava que algo assim houvesse acontecido, visto a expressão de ambos quando foram apresentados. O que eu não contava era que as coisas tomassem essa proporção e que isso fosse descoberto publicamente num momento peculiar, como foi o fato da Srta. Weasley ter sido promovida. Você deve concordar comigo que a situação é vista de outra forma pelas pessoas alheias ao assunto. - Ele deu uma pequena pausa e cruzou os dedos sobre a mesa. - O problema, é que faz parte da política da nossa empresa não incentivar ou tolerar relacionamentos amorosos entre os funcionários e evitar o máximo possível que isso aconteça. - Outra pausa e ele olhou atentamente para nós dois antes de prosseguir, embora eu já soubesse o que ele diria. - Isso quer dizer, Sr. Potter, Srta. Weasley, que um dos dois terá que deixar a Griffindor Exportações. - Finalizou nos encarando com expectativa.

Nos dois segundos de silêncio que se estenderam eu pensei em tudo que havia estudado para conseguir um emprego tão rápido, e um emprego que me agradasse, como era esse. Por outro lado, minha namorada ainda estava estudando e mesmo nunca tendo admitido para mim, trabalhar aqui era o que a mantinha em seu curso de graduação e em Londres, já que toda sua família mora no interior e não possuem a mesma situação financeira privilegiada com a qual eu e Hermione crescemos. E o fato primordial, é que eu nunca a prejudicaria.

—Ótimo. - Me pronunciei e os dois me olharam atentamente. - Eu me demito. - Falei com segurança e encarando o diretor à minha frente.

—Harry! - Gina exclamou boquiaberta, mas eu continuei encarando o homem impassível à minha frente.

—Sr. Potter, sejamos complacentes. A Srta. Weasley é uma excelente funcionária, e como tal muito importante para a organização, mas é relativamente fácil encontrar pessoas que estejam em seu nível acadêmico. Por outro lado, o senhor é pós graduado fora do país e possui um currículo invejável, o que o torna mais difícil de substituir. Nesse caso, e aqui deixo claro que digo apenas como profissional, se um dos dois deve sair, a Srta. Weasley seria cordialmente convidada a se retirar da organização. - Ele se virou para ela e tornou-se imediatamente mais amável. - Não me leve a mal, Srta. Weasley, mas como uma mulher extremamente inteligente consegue entender o que digo.

Gina estava olhando boquiaberta para nós dois, e em momento algum se manifestou. Eu não acredito que aquela esteja sendo uma conversa agradável para ela, e era meu dever aqui dentro, como chefe, defender seus direitos. O que não significava que eu conseguiria deixar o papel de namorado totalmente de lado ao fazer isso.

—Sr. Dumbledore eu respeito sua opinião e fico lisonjeado com sua visão positiva acerca do meu currículo, mas agora eu falo como homem, não mais como profissional. É uma política da empresa que funcionários não podem manter nenhuma relação amorosa? Eu respeito, mas não me lembro de ter lido isso nas regras de conduta do meu contrato de trabalho e deixo bem claro que ainda assim não concordo. Eu e a Srta. Weasley namoramos a mais de dois meses e não me lembro de ter recebido nenhuma reclamação de baixa de rendimento profissional, a menos que o senhor tenha recebido. Isso aconteceu? - Perguntei em tom profissional, totalmente sério.

—Não Sr. Potter, não recebi nenhuma e também estaria mentindo se dissesse que notei qualquer comportamento irregular dos dois. - Respondeu no mesmo tom.

—Pois bem, na minha visão isso mostra que somos profissionais aqui dentro, nossa vida amorosa começa da porta para fora e o que fazemos nas horas vagas não diz respeito à empresa. - Ele meneou a cabeça em uma breve concordância e eu continuei. - Mas, se ainda assim for decidido que um de nós deve sair, eu me demito. Não me parece uma decisão muito profissional que eu continue aqui porque meu currículo é tão bom e ela seja demitida quando sabe muito mais do que eu acerca do que fazemos. E o senhor sabe que isso é verdade, foi ela quem me ensinou tudo que eu faço aqui e ao contrário do que deveria acontecer, é ela quem tira minhas dúvidas. Ela merece mais do que eu ficar aqui. - Finalizei com a mesma tranqüilidade comedida com que havia começado.

—E quem diz isso é o Harry chefe ou o Harry namorado? - Perguntou tranquilamente cruzando as mãos sobre a mesa.

—Os dois. - Respondi da mesma forma.

—E se eu demiti-la antes? - Sua voz agora era ameaçadora e avaliativa.

—Então ficará sem os dois. - Esclareci ainda na mesma tranqüilidade, mas deixando meu ponto de vista muito bem exposto.

Senti um aperto um pouquinho mais forte na minha mão e discretamente acariciei os dedos pequenos que permaneciam entrelaçados aos meus. O homem de meia idade à minha frente nos encarou durante alguns segundos e soltou um suspiro cansado, antes de relaxar a postura e dizer, por fim.

—É exatamente a atitude que eu esperava de um homem de fibra e ética, mas infelizmente minhas opiniões pessoais não contam muito nessa situação. Você deve saber disso, Sr. Potter. - Apenas acenei de sim. - Qual a sua opinião Srta. Weasley? - Perguntou virando-se para ela pela segunda vez.

—Eu acredito que uma notícia turbulenta, como o senhor mesmo a classificou, não deveria tomar essas proporções exageradas, a menos que não estejamos correspondendo aos objetivos da empresa no que diz respeito ao nosso desempenho profissional. Já foi esclarecido também que isso não está acontecendo, então não vejo nenhum indício de que nossas vidas pessoais atrapalhe a Griffindor Exportações em coisa alguma. - Respondeu séria, mas um tanto insegura.

O Sr. Dumbledore deu um aceno discreto antes de prosseguir.

—Como já disse, pessoalmente não acho que isso os atrapalhe em nada, mas tenho outras pessoas envolvidas, como Sirius, por exemplo. - Se referiu ao nosso gerente, Sr. Black. - Não posso passar por cima de sua autoridade e tomar decisões sozinhos. Vou me reunir com ele e expor o que está acontecendo, assim decidiremos juntos. Não farei com que a situação pareça turbulenta aos olhos dele como pareceu aos meus inicialmente e enquanto isso gostaria de solicitar que permaneçam discretos como sempre foram, embora eu ache que isso é um pedido desnecessário.

—Quanto a isso não há com que se preocupar. - O tranqüilizei.

—Ótimo. Se não houver nada mais que queiram dizer já podem voltar ao trabalho. - Se despediu e após concluir que Gina não queria dizer mais nada nos viramos para sair. - Srta. Weasley. - Chamou pouco antes de eu abrir a porta e ela se virou para ela, incentivando-o a continuar. - Espero que não encare isso como uma decisão particular, pessoalmente eu gosto muito da senhorita.

—Não se preocupe, eu entendo perfeitamente. - Ela respondeu com um sorriso tranquilizador e em troca ele sorriu bondosamente para ela.