POV Harry

Assim que entramos em casa eu fui para cozinha e preparei sanduiches para nós dois, pois não havíamos jantado. Comemos sentados no sofá e rindo de uma besteira qualquer que um ou outro dizia no decorrer de nossa conversa. Antes das onze da noite já havíamos ido dormir.

Segunda feira cheguei ao trabalho no horário de sempre e assim que passei pela recepção falando meu costumeiro bom dia para todos, a Srta. Vane me chamou.

—Sr. Potter, poderia me acompanhar um minuto, por favor? - Falou indicando a sala de reuniões.

As pessoas em volta pareceram nem notar, porque essa era a obrigação dela todas as vezes que havia um recado particular. Eu, porém, sabia que esse não era o motivo.

—Pois não. - Falei assim que fechei a porta atrás de nós.

—Eu só gostaria de esclarecer uma coisa a respeito do que vi no sábado. - Disse petulante.

—Não creio que haja o que esclarecer. - Argumentei cruzando os braços.

—Há sim. A lerdazinha da Weasley vinha com aquele papinho de quem não quer nada apenas para te conquistar, e isso aconteceu depois que ela percebeu que eu estava afim. Acontece, Harry...

—Sr. Potter para você. - Interrompi, mas ela pareceu não perceber.

— ...que eu me interessei primeiro, eu sou a pessoa condizente com a sua idade aqui, e eu sou muito mais mulher do que aquela pré adolescentezinha assanhada que você faz a besteira de chamar de namorada. - Finalizou com a expressão de quem havia feito o discurso do Oscar.

—Acontece, Srta. Vane, que eu não sou uma mercadoria na vitrine que leva aquele que se interessar primeiro. Acontece, também, que ainda que não seja da sua conta, eu e Gina nos conhecemos muito antes de eu sequer sonhar com a sua irritante existência, então não há o que discutir. - Sua expressão agora era de incredulidade. - Só para que fique claro ainda, eu gostaria que você parasse de ofender minha namorada, sim, porque ela é minha namorada com todos os direitos que esse posto trás. - Esclareci quando ela rolou os olhos fingindo tédio diante da palavra. - E por último, não me lembro de ter dito alguma vez que você poderia se dirigir a mim pelo meu primeiro nome. Agora se me dá licença, tenha um bom dia.

Controlei-me o máximo possível para disfarçar a expressão de raiva que estava sentindo ao sair dali, mas o fato de Gina estar entrando nesse exato momento, linda como sempre, e me lançar um olhar altamente questionador ao notar com quem eu estava na sala de reuniões não ajudou. Não porque ela estava questionando, sim porque a situação era um tanto ridícula.

—Bom dia, amor. - Falei assim que entramos em nossa sala e lhe dei um selinho rápido, como era todos os dias.

—Bom dia. - Ela respondeu de um jeito estranho. - O que você e a Srta. Vane estavam fazendo na sala de reuniões?

—Ela queria uma satisfação sobre eu estar saindo com você, já que ela se interessou por mim primeiro. - Contei resumidamente e deixando transparecer o quanto eu achava a situação infantil.

—Francamente, ela não tem escrúpulos! - Minha namorada se mostrou tão indignada quanto eu pensei que ela ficaria.

Conversamos por mais alguns minutos e nos pusemos a trabalhar. Descemos para almoçar juntos, como fazíamos todos os dias, e voltamos para o escritório meia hora depois porque havia muita coisa a ser resolvida. Vinte minutos depois que havíamos entrado em nossa sala novamente meu telefone tocou, e o som peculiar me fez saber que era uma ligação interna.

—Harry. - Atendi ainda redigindo um e-mail.

—Boa tarde Sr. Potter, como vai? - A voz do nosso diretor soou do outro lado.

—Bem Sr. Dumbledore, e o Sr.? - Respondi polidamente, mas algo no seu tom me dizia que ele não estava nos seus melhores dias.

—Ótimo. Vim para sua filial hoje exclusivamente para falar com você. - Disse num tom mais frio. - Pode vir à minha sala imediatamente, por favor?

—Claro, agora mesmo. - Respondi prontamente.

—Traga sua namoradinha também. - Pediu irônico antes de desligar sem esperar minha resposta.

A minha primeira reação foi esfregar as duas mãos sobre os olhos, num típico gesto que diz “to fudido”.

—Algum problema? - Gina me perguntou preocupada.

—Sim. Aquela vaca da Srta. Vane, ela é o problema. - A ouvi rir baixinho. - Ela contou para o diretor que estamos namorando. - Seu sorriso instantaneamente foi substituído pela expressão indecifrável com a qual eu estava acostumado. - Vamos, ele quer ver a mim e a minha namoradinha. - Chamei enquanto me levantava.

—Podemos negar. - Ela sugeriu enquanto ainda estávamos dentro da privacidade do nosso departamento.

—De jeito nenhum, eu quero mais é que todo mundo saiba. E eu posso segurá-la pra você bater, se for necessário. - Respondi enquanto abria a porta e saía de lá segurando sua mão entrelaçada à minha.

Eu notei três coisas com esse gesto: a cara da Srta. Vane de quem havia levado um soco, a expressão quase de um sorriso que minha namorada exibia e todos os olhares do escritório em cima de nós dois. Já era claro que isso iria acontecer, então caminhamos como se nada de mais estivesse acontecendo em direção ao escritório do outro lado do nosso andar.

—Entre. - Ouvi o diretor responder depois que bati duas vezes na porta.

—Com licença. - Falei enquanto passávamos para o lado de dentro da sala.

Seu olhar foi imediatamente atraído por nossas mãos entrelaçadas.

—Sentem-se, por favor. - Apontou duas cadeiras à sua frente.

Sentamos-nos um ao lado do outro e em momento algum separamos nossas mãos.