- Eu queria te levar lá em casa. - Nathaniel disse e eu fiz uma careta. - Ontem a Ju falou que queria te ver de novo.
- Não sei se é uma boa ideia, ainda mais com tudo isso que tá acontecendo entre você e seu pai...
- Esquece meu pai. Eu vou te levar lá sim e vai ser agora. Levanta. - disse com os braços cruzados e tentando ficar sério. Eu revirei os olhos me ajeitando no sofá e voltei minha atenção para a TV. Ele me jogou em um dos seus ombros enquanto eu me debatia e gritava, rindo.
- Nathaniel, me solta! Sério, para com isso! Eu tô ficando enjoada, vou vomitar! - ele riu mas continuou andando em direção a porta. Me colocou no chão para abri-la.
- Porque tem que ser agora? - perguntei bufando.
- Porque eu quero. - Disse pegando em minha mão e me puxando até o seu carro. - Agora faça o favor de entrar.
Minutos depois nós estavamos a caminho da casa dele cantando "radioctive - imagine dragons".
Chegamos a sua casa e ele me puxou pra dentro.
- Mãe! Lisa tá aqui! - Em um instante Anne apareceu sorrindo e se aproximou de nós, me puxando pra um abraço.
- Lisa! Bom ver você, querida. - ela disse, mantendo aquele seu jeito doce de ser.
- Bom te ver também, Anne. - respondi retribuindo o sorriso.
- Sabe quem estava doida pra te ver? Julia. Ontem mesmo falou de você.
- Ah, eu também estou morrendo de saudade dela.
- Falando na pestinha mãe, nós viemos buscar ela pra tomar sorvete. - Nathaniel disse.
- Ela tá lá em cima, no quarto. Vão lá.
- Tá. Vem, pequena. - Nate segurou minha mão, me arrastando escada a cima.
Ele abriu uma porta branca e logo pude ver a menininha sentada no chão com um lapis de cor na mão e varios outros espalhados pelo chão, além de várias folhas de papel. Assim que nos viu se levantou depressa e correu até nós.
- Lisa! - eu me abaixei abrindo os braços e ela me abraçou.
- Tudo bem pequena? - perguntei sorrindo e ela assentiu.
- Nossa, muito bom saber que você ama tanto que nem me percebeu aqui. - Nathaniel fez drama e Ju revirou os olhos me fazendo rir.
- Eu vi você, seu bobo. - falou o abraçando rapidamente, logo o soltando e se virando para mim. - Você veio brincar comigo?
- Na verdade nós viemos te chamar pra ir tomar sorvete, o que acha? - perguntei e vi seu sorriso aumentar.
- Eu quero do rosa! - falou animada.
- Do de morango né Ju? - Nate disse rindo e ela assentiu.
- Isso, de morango. - se enrolou um pouco ao pronunciar "morango".
- Então vamos lá. - Ele a pegou no colo e nós saimos do quarto. Me despedi de Anne, que me deu as instruções de com cuidar de Julia e me pediu para que cuidasse do outro bebêzão também.
Seguimos para uma sorveteria proxima e tratamos de fazer os pedidos logo. Julia se sujava toda ao tomar o sorvete, o que causava risadas. Pude perceber o quanto Nathaniel era cuidadoso e carinhoso com a menina. Ás vezes eu me pegava sorrindo, olhando os dois. Quem diria que um cara como o Nathaniel pudesse ser também tão fofo.
Quando terminamos, resolvemos levar Ju em um parquinho ali perto. Enquanto ela brincava, eu e Nate ficavamos sentados em um banco qualquer conversando e obsevando a pequena.
- Posso confessar uma coisa? - ele sussurrou em meu ouvido e eu assenti. - Acho que estou me apegando demais a você. - Falou e sorriu sem graça. Mordi o lábio sorrindo discretamente e olhei pra ele.
- Não sei se isso é bom ou ruim mas... Eu também sinto isso. - Ele sorriu abertamente, olhando pra um ponto qualquer.
- Acho que mesmo que seja ruim... Eu não quero que pare ou que acabe. - Disse voltando seu olhar para mim. Se aproximou e balançou a cabeça de um lado para o outro, deixando nossos narizes se tocarem em um "beijo de esquimó".
- "Girl, I think about you every day now. Was a time when I wasn't sure but you set my mind at ease, there is no doubt you're in my heart now" (Garota, eu penso em você todos os dias agora. Houve um tempo que eu não tinha certeza mas você acalmou minha mente, não há duvida você está no meu coração agora.) - Ele cantarolou os trechos tão conhecidos por mim da música "Patience" do Guns. Eu sorri e o beijei. Quando nos afastamos ele acariciou meu rosto olhando em meus olhos. Depois me aconcheguei em seus braços e ele apoiou seu queixo em minha cabeça e continuamos ali por mais alguns minutos, apenas observando Julia correr de um lado pro outro no parquinho.
***
Entramos em sua casa de novo para deixar Julia, rindo de algumas palavras que a menina tentava dizer mas acabava se enrolando. Entramos na cozinha procurando por Anne e Nathaniel fechou a cara assim que viu quem estava ali com ela.
Enquanto Anne fazia algo no fogão, um homem com o cabelo meio grisalho que dava um certo charme a ele, mexia em seu notebook. Deduzi que aquele fosse Robert, o pai de Nathaniel, pela semelhancia na aparencia.
O homem nos olhava com o rosto sério o que fez meu estomago embrulhar. Talvez nervosismo. Anne virou-se para nós e sorriu.
- Ah, vocês chegaram! - Julia largou minha mão e foi para perto da mãe, ficando na ponta dos pés tentando ver o que Anne estava fazendo. - Lisa, vai ficar pra jantar com a gente não é? - Eu sorri discretamente e balancei a cabeça negativamente.
- Obrigada pelo convite Anne, mas não posso. Minha mãe está me esperando em casa.
- Então essa é a tal Lisa? - Ouvi Robert dizer e prendi a respiração. Ele me analizou e depois voltou seu olhar para Nathaniel, que não se pronunciara até agora. - Não vai me apresentar a ela, Nathaniel? - Senti Nate apertar minha mão com mais força e travar o maxilar.
- Você já sabe quem ela é. - Disse seco.
- Não seja mal educado Nathaniel. - Eu queria simplesmente sumir, evaporar.
- Vou deixa-la em casa, volto já para o jantar. - Ele disse olhando para Anne que assentiu me lançando o sorriso como se me pedisse desculpas por aquilo. Retribui o sorriso.
- Fugindo de novo? Eu só pedi para que me apresentasse a garota. - Nathaniel suspirou fundo.
- Porque você não me deixa em paz? - Ele falou fuzilando Robert.
- Não vejo problema em você me apresentar sua namorada. Se é que ela chega a ser sua namorada.
- cala a boca.
- Então ela é mesmo sua namorada? - Nathaniel apertou minha mão novamente e eu vi o quanto ele estava tenso. Aliás, todos estavam. Anne pegou Julia no colo e saiu da cozinha com ela.
- Isso não é da sua conta.
- Eu só fiz uma pergunta. Mas eu acho que já sei a resposta. Você sabe que não vai conseguir prender Nathaniel por muito tempo não é? - disse dessa vez se dirigindo a mim.
- Cala a boca! - Nathaniel disse elevando um pouco a voz.
- Vamos sair daqui Nate. - Falei em seu ouvido tentando o puxar dali, mas ele não saia do lugar.
- Só estou dizendo porque... Bom, você não devia iludi-la desse jeito.
- Não estou fazendo isso. Então não precisa se preocupar, "papai". - Anne voltou, agora estava sozinha. Parou ao lado de Robert pondo a mão em seu ombro.
- Pare com isso. - ela disse baixo.
- Não estou fazendo nada de mais, querida. - Eu já estava irritada com a arrogancia daquele homem. Lembrei de quando Nate chegou de madrugada em minha casa, abalado por causa de uma discurssão com ele. Isso fes meu sangue ferver. Ele não tinha o direito de fazer aquilo, apesar de ser pai dele. - Só tenho pena dessa garota. Alguma hora você vai se cansar dela e vai fazer assim como fez com todas as outras.
Nathaniel largou minha mão e foi para cima de Robert com os punhos fechados. Anne arregalou os olhos e entrou em sua frente o impedindo.
- Parem já com isso! - Anne gritou desesperada. Nathaniel passou as mãos pelo cabelo, visivelmente irritado e se virou passando por mim e indo para sala. Fiquei ali parada na porta da cozinha, tentando assimilar tudo o que estava acontecendo. Ouvi um suspiro de Anne e me virei para ir atrás de Nathaniel mas mudei de ideia e voltei a olhar para o homem de cabelos grisalhos.
- Você devia estar aqui para apoia-lo. Ele não precisa de alguém para julgar tudo que ele faz, ele precisa de um pai de verdade. E você não chega nem perto disso. - E sai dali a procura de Nathaniel.