Santuário escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 21
Os planos estão dando errado




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- Como é que é? Vocês estão falando que dois moleques invadiram minha casa? E eles fugiram? Seus burros, idiotas, incompetentes! – Vladmir gritava no celular enquanto o chofer o levava de volta para sua mansão.

- Foi mal, chefinho...

- Mal? Foi péssimo! Eu pago vocês pra vigiarem minha casa! Aposto que andaram cochilando! Se eles roubaram alguma coisa de valor, vou descontar tudo no salário de vocês!

Assim que chegou, ele fez o maior barulho, acordando sua esposa que apareceu na sala assustada com toda aquela agitação.

- Pára com isso, você vai acordar nossa filha!

- Nossa casa foi assaltada, mulher! Eles podem ter levado milhares de reais!

- Mesmo? Pois eu não vi nada! – ela falou, muito indignada por ele sequer ter se preocupado com ela e sua filha.

- Como não viu? Meus seguranças disseram que os garotos corriam pelo jardim.

- Vai ver não chegaram a entrar.

Ele acalmou-se um pouco, imaginando que aquilo poderia ter sido apenas uma tentativa frustrada de invasão. Assim nada de valor teria sido levado. Tudo teria ficado tranqüilo se um dos capangas não tivesse falado o que não devia.

- Mas eu vi um deles segurando um pacote, uma pasta, sei lá.  

- Pacote? Que pacote?

- Eu não sei, chefe. Não deu pra ver. Um sujeito com asas apareceu e levou eles para muito alto e a gente não conseguiu pegar eles.

- Sujeito com asas? – imediatamente ele lembrou-se do rapaz que invadiu seu escritório para buscar aquela moça. Era o único sujeito com asas que ele conhecia. Em sua cabeça, aqueles dois faziam parte do movimento ambientalista que era contra a construção do parque. Sendo assim, aquela invasão só podia significar uma coisa.

Vladmir não perdeu tempo e correu para seu escritório. Aparentemente tudo ali parecia normal, mas uma dúvida surgiu e ele precisou averiguar. Ao abrir seu cofre, ele deu um grito furioso ao ver que a pasta com os documentos não estava mais ali. Então era mesmo atrás daquilo que aqueles delinqüentes estavam? E eles tinham conseguido?

- Andréia, venha aqui agora! – ele gritou a plenos pulmões, fazendo com que a esposa ficasse ainda mais irritada.

- Eu já disse para não gritar desse jeito, que coisa!

- Grito quanto eu quiser! Alguém abriu o meu cofre e tirou documentos importantes daqui!

- E o que eu tenho a ver com isso?

- O cofre não foi arrombado, alguém abriu usando a senha!

- Devem ter usado alguma outra forma.

- Ou então você abriu para eles.

- Eu? Ficou louco por acaso? Eu nem sei a senha desse cofre, você nunca me falou nada!

Ele olhou para ela desconfiado. Em parte ela tinha razão, ele nunca tinha lhe dito a senha daquele cofre. Por outro lado... era muito estranho aqueles dois sujeitos terem entrado dentro de casa sem que ela tivesse percebido. E mais estranho ainda era eles conseguirem abrir aquele cofre sem arrombá-lo e depois armá-lo de novo. A única forma de terem conseguido seria com a ajuda dela e ele começou a desconfiar de que sua esposa sabia mais do que demonstrava.

- Fala a verdade, mulher! Você sabe a senha desse cofre, não sabe?

Ela empalideceu e seu corpo começou a tremer, dando a entender que tinha ficado muito nervosa. Mesmo não falando nada, ele percebeu que sim, ela tinha ajudado aqueles dois moleques a conseguirem os documentos. Como ela tinha descoberto sua senha? Ele não sabia e no momento não interessava. Só interessava que por causa da intromissão dela, todo o seu empreendimento poderia estar perdido.

- Você ajudou aqueles dois, sua vagabunda?

- Olha lá como fala comigo, seu grosso estúpido!

- Olha lá como fala você! Eu sou seu marido e é do meu dinheiro que você vive!

- Isso não te torna o meu dono, ouviu?

- Então junta suas coisas e saia logo dessa casa, aqui você não fica mais sua desgraçada, traidora!

- Saio mesmo, seu imbecil filho da puta! Você nunca foi homem de verdade pra mim, então não vai fazer falta nenhuma!

Um forte tapa foi desferido em seu rosto, sendo seguido por mais outros. A situação teria piorado se um dos seus capangas não tivesse entrado na sala e o segurado.

- Calma, chefe! Faz isso não! – o homem falava assustado com a violência demonstrada pelo seu patrão.

- Sai logo daqui, sua vagabunda! Não coloca os pés nessa casa nunca mais! Você vai me pagar muito caro, pode esperar!

- Melhor sair, dona! – o capanga falou ainda preocupado com aquela situação.

Andréia saiu dali correndo e o sujeito soltou Vladmir, que esbravejava feito louco.

- Que porcaria, essa mulher estragou tudo! Ela vai ver só uma coisa, e aqueles imbecis também! Vou me vingar de todo mundo! Ai, que droga! – uma dor começou a incomodá-lo, fazendo com que ele tomasse quase uma cartela inteira de aspirinas. Ainda assim ele teve que esperar até que o mal estar passasse para poder tomar providencias.

- O que o senhor vai fazer, chefe?

Ele consultou o relógio e viu que eram duas horas da manhã.

- É certo que eles vão tentar entregar aqueles documentos para o prefeito. Nós não podemos deixar.

- E como vamos fazer isso?

- Chegando antes deles. Se impedirmos que entreguem os documentos para o prefeito, ainda teremos uma chance. E dessa vez, vamos destruir tudo! Vamos, ainda temos muito o que fazer.

Eles saíram dali rapidamente de carro e quando a casa ficou silenciosa novamente, os criados saíram dos seus quartos e uma das empregadas foi falar com Andréia.

- A senhora tá bem? Quer por gelo no rosto?

Ela se olhou no espelho e achou melhor deixar como estava. Primeiro ela ia tirar sua filha daquela casa, já que deixá-la com aquele louco estava fora de questão. Seu plano era ir para a casa da sua mãe e prestar queixa na delegacia por agressão. Dessa forma, ela esperava conseguir a guarda da filha no processo de divorcio sem grandes problemas.

- Me ajude a arrumar minhas coisas. Eu quero sair daqui antes que ele volte.

- Sim senhora.

Para outra empregada que estava ali perto, ela mandou que arrumasse as coisas da menina. Andréia pegou suas jóias e todo o dinheiro que tinha disponível para poder se virar por algum tempo e quando tudo ficou pronto, ela pegou sua filha e com a ajuda das empregadas que levavam suas malas, ela entrou no carro e desapareceu na noite escura, indo para a casa da sua mãe. Seu casamento estava definitivamente acabado e nada naquele mundo faria com que ela voltasse a viver com aquele homem novamente.

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- Muito bem, quero que vocês vigiem as ruas que levam a prefeitura e fiquem atentos a quem estiver levando uma grande pasta cinza. Não podemos deixar que esses documentos caiam nas mãos do prefeito.

- Sim, chefe!

Ele dava instruções a outros homens, marginais contratados por eles para darem um jeito naquela situação. Por estarem em grande número, Vladmir esperava que fosse suficiente para conseguirem recuperar aqueles documentos e tudo seguiria normalmente.

Ainda assim aquela desagradável dor no peito não passava e ele não tinha nenhum analgésico à mão. Ele sentia um pouco de falta de ar, estava suando frio e estava com uma espécie de ansiedade que nunca tinha sentido antes. Foi preciso que ele repousasse um pouco para que aquilo passasse. 

- Parece que ele vai jogar pesado... – Ângelo falou balançando a cabeça quase sentindo pena daquele homem.

- Pior para ele.

- Que sujeito mais burro! Ele podia viver uma vida longa e feliz se não fosse tão arrogante.

- Cada um age de acordo com seu nível de entendimento. Por enquanto, esse homem não tem condições para fazer melhor. Com o tempo ele irá aprender.

- Então era por causa dele que você estava rodeando o escritório da construtora, não é?

- Sim.

- Está chegando a hora dele?

- Sim, está. Isso poderia ser evitado se ele não fosse tão teimoso e cabeça dura.

Ele não pode deixar de ficar com pena daquele homem, que teve uma infância tão pobre e sofrida.

- Será que não dá pra dar um desconto pra ele? Sei lá, parece que a infância dele foi tão triste...

- Eu não diria triste. Sim, eles eram pobres, seus pais tinham que trabalhar muito e ele passou sim por algumas privações. Por outro lado, fome ele nunca passou, ele tinha seus irmãos e muitos amigos e seus pais eram boas pessoas, embora trabalhassem muito.

- Ainda assim ele sofreu...

- Sofreu porque sempre foi muito ganancioso. Ele perdia tanto tempo sofrendo por causa do que não tinha que não era capaz de dar valor ao que possuía. 

- Será que ele não ficou assim por causa da pobreza?

- Não. Seus irmãos seguiram caminhos diferentes e não se tornaram gananciosos como ele. Nem sempre é o meio que molda a pessoa, Ângelo. Muita coisa vem da natureza de cada um e a dele é ruim mesmo. Esse homem ainda terá que voltar a Terra muitas vezes até aprender.

Ângelo voltou a olhar para ele, desanimado. Estava claro que aquele ali não ia mudar tão cedo.


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