Santuário escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 20
Missão (quase) impossível


Notas iniciais do capítulo

Agora o Cascão e o Cebola vão passar por alguns apuros.



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Depois de descerem do ônibus, eles ainda tiveram que andar mais um pouco até encontrarem a mansão do empresário, que ficava no bairro mais caro e elegante da cidade. A propriedade era grande e com muros bem altos equipados com cerca elétrica, o que deixou Cascão bem apreensivo.


– Como é que a gente vai pular esse muro? A gente vai é levar um choque e ficar frito que nem asinha de frango!

– Larga de ser bundão, cara! Eu trouxe umas paradas do laboratório do Franja pra ajudar.

– Tomara que funcione. Você sabe como são as invenções dele. Escuta, o cara saiu mesmo pra uma festa, não saiu?

– Saiu sim. Eu li no jornal que ele ia hoje a uma festa pra comemorar o início das obras do parque, então não deve ter ninguém em casa.

– Menos mal.


Cebola usou uma pequena pistola para jogar na cerca elétrica um dispositivo feito para isolar a eletricidade num raio de cinco metros. Assim eles poderiam pular o muro sem grandes problemas. Eles usaram uma corda para escalar o muro e tomando cuidado para não se enroscarem no arame, eles conseguiram descer no outro lado usando os galhos de uma arvore que crescia perto do muro.


Os dois desceram perto do jardim, onde tinha muitos arbustos bem podados, plantas, flores, uma fonte e algumas estátuas. O local estava iluminado com holofotes e eles procuraram andar somente onde estava fazendo sombra para não serem vistos.


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Sua filha estava dormindo calmamente e ela ficou ali velando o sono da menina enquanto pensava na própria vida. Vladmir estava em uma festa comemorando a construção daquela porcaria de parque e ela, pretextando intenso mal estar, conseguiu se esquivar do compromisso ao lado dele. E para sua tristeza, ele não demonstrou se incomodar em sair sem ela e nem mesmo se dignou a perguntar que mal estar era aquele.


Ele apenas se arrumou e saiu alegre e satisfeito por poder iniciar as obras daquele parque. Pelo visto, tudo era mais importante do que ela e sua filha.


“Eu acho que não dá mais, não dá mesmo!” Andréia se sentia no limite das suas forças. Viver naquela casa estava se tornando sufocante e a vida ao lado do marido não tinha mais emoção nenhuma, somente o frio glacial de uma relação sem amor e sem carinho. A idéia de acabar com aquele casamento estava criando cada vez mais força e ela já não se importava mais em baixar seu padrão de vida. Algo também lhe dizia que o divorcio nem seria tão difícil, já que ele mal notava a presença delas e certamente não ia fazer questão de ficar com a guarda da filha.


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O som de latidos chamou a atenção deles para vários dobermanns que vinham correndo em sua direção. Todos pareciam bravos e Cascão pensou que fosse acabar molhando as calças de tanto medo. Sem se alterar, Cebola tirou da mochila alguns pedaços de carne que tinham sido embebidos em uma solução calmante. Bastava um pedaço para aqueles pulguentos caírem no sono.


Conforme ele previra, os cães comeram rapidamente os pedaços de carne e em pouco tempo já estavam cambaleando de sono.


– Essa foi boa, careca!

– Foi sim, agora vamos antes que o efeito disso acabe e eles acordem de novo!


Quando chegaram mais perto da casa, Cebola viu a presença de três homens altos, fortes e mal encarados que pareciam vigiar o local.


– Porcaria! Ele também tem vigias na casa!

– Beleza, então vambora!

– Que nada! Eu tive uma idéia!


Ele pegou uma grande pedra e atirou para o outro lado, atraindo a atenção dos três que sacaram seus revólveres e foram averiguar a origem do barulho. Aproveitando essa pequena distração, eles correram até a casa e foram circulando até chegarem nos fundos, alguém tinha esquecido uma janela aberta que eles aproveitaram sem hesitar. Como a janela ficava no andar térreo, eles não tiveram nenhuma dificuldade e foram andando pela casa tomando todo cuidado para não esbarrarem em nada e nem fazer barulho.


– Rapaz, que casona!

– Fala baixo, cabeção!

– Ué, você não falou que o sujeito saiu?

– Deve ter empregados nessa casa, ô inteligência!

– Ah, é...


Eles passaram pela cozinha, alcançaram a sala de estar, subiram uma grande escada e foram andando pelos corredores, olhando cada cômodo cuidadosamente até encontrarem o local que parecia ser o escritório do dono da casa.


– Será que é aqui? – Cascão perguntou olhando para os lados.

– Deve ser. Vamos dar uma olhada, mas com cuidado pra não fazer barulho!


Enquanto Cebola olhava as gavetas, Cascão vasculhava os armários a procura de alguma coisa relacionada ao Recanto do Paraíso. Eles procuraram por quase meia hora e não acharam nada, para desespero deles. O tempo estava se esgotando e eles não podiam ficar naquela casa a noite inteira.


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O sono já estava ficando forte e Andréia resolveu ir para o quarto do casal. Quando seu marido ia para aquelas festas, geralmente voltava tarde e ela não estava nem um pouco animada a ficar acordada esperando por ele. Ao caminhar pelo corredor, ela olhou para a porta do escritório e viu que a luz estava acesa.


– Oh! Será que ele chegou mais cedo? Engraçado...


Com toda naturalidade do mundo, ela abriu a porta achando que ia encontrar com o marido atrás da sua mesa e levou um grande susto ao se deparar com dois garotos mexendo nas gavetas.


Cebola e Cascão olharam para a mulher com os olhos arregalados e o coração disparado.


– Ai, minha santa Quelupita!

– A gente tá ferrado de pai e mãe!


Andréia tremia da cabeça aos pés, imaginando que aqueles dois eram delinqüentes perigosos que estavam ali para assaltar a casa. Ao se lembrar da sua filha, que dormia não muito longe dali, ela logo começou a implorar.


– Por favor, não me machuquem! Peguem o que quiserem e podem ir embora!


Os dois se entreolharam e Cebola achou melhor esclarecer a situação antes que aquela mulher começasse a gritar histericamente e com isso acabasse chamando a atenção dos seguranças.


– Fica calma aê, dona. A gente não tá aqui pra assaltar a casa não...

– Então o que querem aqui? – ela perguntou ainda desconfiada e se preparando para sair correndo a qualquer minuto.


Cebola explicou brevemente a razão daquela visita enquanto Andréia ouvia às vezes acreditando, às vezes não. Seu marido teria sido mesmo capaz de fazer aquele tipo de coisa?


– Ele não só roubou os documentos como mandou uns três brucutus assustar o pessoal que tava estudando a mata do Recanto do Paraíso.

– Estão falando do Ernesto, Moacir e Francisco? – ela perguntou lembrando dos seguranças do marido. Aqueles três nunca tiveram sua simpatia, sempre pareceram mal encarados.

– Devem ser eles. Agora a senhora entende? Sem esses documentos, ele vai devastar aquela área pra construir o parque. Aquele lugar é muito importante!

– A-acho que estou entendendo...


Ela pensou um pouco e um desejo de atrapalhar os planos do seu marido foi tomando cada vez mais força. Vladmir era arrogante demais, sempre achando que podia fazer tudo o que desse vontade sem pensar em mais ninguém. Ela não estava mais disposta a aceitar aquele tipo de coisa e tomou uma decisão.


– Fiquem lá no canto da sala e virem de costas. Eu acho que sei onde ele pode ter colocado esses documentos.


Os dois obedeceram prontamente e ao ver que eles estavam quietos, Andréia foi até o cofre e digitou a senha, ainda mantendo um olho nos dois atenta a qualquer movimento suspeito. Seu marido jamais lhe dera a senha daquele cofre, ela descobriu por acaso olhando em sua agenda. Ele nunca soube disso e ela manteve em segredo, assim poderia examinar aquele cofre sempre que quisesse sem que ele tomasse conhecimento.


Dentro do cofre havia dinheiro, passaportes, algumas barras de ouro, vários documentos e uma pasta bem grande que ela examinou rapidamente e viu que os documentos ali realmente falavam do Recanto do Paraíso. Ela tirou a pasta, voltou a fechar o cofre e chamou os dois.


– É isso que vocês procuram?


Cebola olhou tudo rapidamente e exclamou alegre.


Calamba! É mesmo! Com isso, o prefeito não vai deixar que eles construam o parque naquele lugar!

– A senhora vai deixar a gente levar? – Cascão perguntou ainda duvidando da boa vontade daquela mulher.

– Vou, mas com uma condição: se perguntarem...


Cebola matou a charada.


– Pode deixar. Nós nunca vimos a senhora e descobrimos a senha do cofre de outro jeito.

– Exato. Agora vão embora antes que meu marido chegue.


Eles não esperaram uma segunda ordem e saíram dali correndo, mal acreditando que tinham conseguido ter sucesso naquela missão. Os dois voltaram pelo mesmo caminho e pularam a janela para sair da casa rapidamente. Para o azar deles, um dos cães tinha acordado e começou a latir e rosnar, chamando a atenção dos três seguranças.


– Quem tá aí? Apareça logo senão eu meto bala!


Ao invés de obedecerem, Cascão e Cebola saíram correndo dali o máximo que podiam, pulando obstáculos e correndo abaixados para não serem atingidos pelas balas. Cebola segurava a pasta com firmeza para não deixar nada cair no chão enquanto Cascão corria o máximo que as pernas permitiam. A situação tinha ficado complicada porque eles não conseguiam encontrar o local por onde tinham entrado sem se desviarem daqueles três.


– Cascão, pega isso aqui e corre! – Cebola falou passando ao amigo a pasta com os documentos sabendo que ele era muito mais rápido e capaz de escapar dali sozinho.


Os seguranças estavam a poucos metros deles e em breve Cebola seria o primeiro a ser pego. Eles até tinham experiência em fugir, mas nunca tiveram que correr de homens armados. O máximo que a Mônica fazia era lhes acertar com um coelho. Aquilo doía, mas não matava.


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Quando os dois saíram do lago, Ângelo sacudiu as asas para secá-las enquanto Nina torcia sua roupa e seu cabelo. Ambos estavam mais felizes do que nunca ao saberem que estavam livres para viverem aquele amor. Eles viram, com satisfação, que as asas de Ângelo estavam firmes e fortes como sempre, confirmando que aquele sentimento não era proibido para ele. Mentalmente, ele agradecia a D. Morte por ter aberto seus olhos.


– Puxa, eu estou tão feliz! – Ele falou abraçando-a de novo.

– Eu também! Apesar de tudo...


Ele lhe deu um beijo carinhoso e depois falou.


– Não se preocupe, eu e a turma vamos dar um jeito nisso. Não sei como, mas a gente vai conseguir salvar esse lugar. Não vou deixar que nada de ruim te aconteça!

– Ah, Ângelo...


Os dois ficaram abraçados por um tempo, sentindo o calor que vinha do corpo um do outro, quando Ângelo teve um sobressalto.


– Ops!

– O que foi?

– Parece que dois amigos meus estão com problemas. É o Cebola e o Cascão. O que eles estão aprontando?

– Só tem um jeito de saber.

– Nina...


Ela sorriu e lhe deu um selinho.


– Anda, o que está esperando? Vá ajudá-los!

– Já estou indo! A gente se vê amanhã. Te amo! – ele falou quando levantou vôo e ela respondeu bem alto.

– Também te amo, se cuida!


Ângelo saiu dali voando a toda velocidade. Após se concentrar um pouco, ele conseguiu localizar aqueles dois e viu que eles estavam com sérios problemas. Ao sobrevoar a grande propriedade, ele os encontrou correndo de três sujeitos grandes, fortes e mal encarados. Aquilo só podia ser algum plano maluco do Cebola!


– Corre véi, corre! – Cascão gritava para o amigo que vinha logo atrás.

– Tô indo, pindalolas! Ai meu santo!


Os seguranças estavam quase alcançando-o quando Cebola sentiu uma mão segurando sua camisa com força.


– Quê?


Cascão não teve tempo para pensar quando sentiu também que alguém segurava sua camisa. Ele fechou os olhos pensando que tinha sido alcançado por um dos seguranças. Quando sentiram seus pés saindo do chão, eles olharam para cima e abriram um grande sorriso.


– Ângelo! Que bom te ver, cara! – eles falaram ao mesmo tempo, mais felizes do que nunca em verem o amigo.

– Agora quero ver vocês falarem que não precisam mais de mim. Hahaha!


Ângelo foi voando mais alto ainda carregando os dois segurando pelas camisas enquanto os seguranças se prepararam para atirar.


– Porcaria, se eles atirarem, estamos fritos!

– Não estamos não! – suas asas se transformaram em quatro e ele fez uma manobra rápida, voando em zig-zag enquanto os três atiravam freneticamente.


Ambos ficaram impressionados com a força do rapaz, que conseguia voar daquele jeito apesar de estar carregando uma pessoa em cada mão. Desde quando ele era forte daquele jeito? Cascão soltou uma gargalhada.


– Você digivolveu pra Angemon por acaso?

– Angemon... até que esse nome é legal! Super Angemon Rescue Padoca, serviço de anjo da guarda!


Os dois fizeram uma careta. Ele pode até ter melhorado e ficado mais forte, mas ainda era uma negação na hora de criar nomes.


– Agora vamos embora daqui!


Batendo suas asas com toda força, ele conseguiu sair dali rapidamente, levando-os para o mais longe possível onde os seguranças não pudessem encontrá-los. Quando pousaram, Ângelo quis saber o que estava acontecendo e não sabia se dava uma bronca nos dois ou se dava os parabéns por terem recuperado os documentos. No fim ele acabou fazendo um pouco de cada.


– E agora?

– Agora a gente tem que entregar isso pro prefeito antes que eles comecem a destruir o Recanto do Paraíso!

– Cebola, eu não entendo... por que resolveu ajudar?

– Acho que a fada do mato não quis realmente me deixar na mão, sei lá. No fim ela acabou ajudando minha irmã e todo mundo...

– Ainda bem que você entendeu. Nina tem muito trabalho para proteger o planeta e protegendo a natureza, ela também ajuda as pessoas. É por isso que aquele lugar não pode ser destruído.

– Beleza. Agora a gente tem que ir pra casa. Amanhã cedinho vamos entregar tudo pro prefeito.


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