Quando Hades subiu para o mundo dos vivos (com muito custo para não ser visto), fazia uma "noite linda", conforme ouvira na conversa de dois mortais. E de fato, a noite estava encantadora: as ruas estavam enfeitadas com as mais belas e variadas flores que ele já vira; as árvores continham frutas e florzinhas coloridas; e o céu...ah, o céu...estava tão estrelado e lindo que era difícil ficar sem encará-lo por muito tempo.

Era engraçado. Estar no mundo superior só por querer, não por obrigação. Havia muito tempo que o deus julgava este lugar como uma coisa horrível. Mas agora, olhando a bela paisagem que costuma ficar em cima de seu reino, ele mudara de opinião.

Hades passou seus longos e pálidos dedos sobre seus cabelos negros, para certificar se estavam arrumados. Ficou satisfeito ao sentir que estavam.

De algum lugar não muito distante dali, um som agradável e divertido vinha para os ouvidos do deus. Demorou um tempo para Hades perceber que aquilo era música. Fazia tanto tempo que ele não escutava algo parecido, que esquecera como era agradável aos ouvidos.

Resolveu seguir o som. Era tão bom...

Após uma pequena caminhada, deparou se com um salão grande. A música estava alta. As pessoas dançavam, bebiam, riam, cantavam. Estavam tão felizes. A música que tocava chamava Barbara Ann, pelo que ele entendeu.

Involuntariamente, ele entrou no salão. Muitas pessoas o encararam com surpresa devido as suas roupas, mas logo voltaram a se divertir. O deus do submundo sentou em uma cadeira encostada a parede e observou contente a movimentação.

A música mudou. Agora tocava "dream, dream, dream", e aos poucos, os moços e moças começaram a dançar juntos, pois esta era uma musica calma e romântica.

Todos estavam dançando. Todos, exceto Hades. Não, havia também uma mulher elegante no outro lado do salão, que olhava com muita felicidade para os casais apaixonados.

Ele a fitou. Ela era sem dúvida muito bonita. Uma beleza radiante, fantástica. Chegava a ser anormal. Ele só conhecia uma mulher que tinha formosura igual: Afrodite.

Ele a observou por mais um instante. Foi aí que começou a entender...Mas era tarde demais. Ela já o avistara, e com muita descrença caminhava ao seu encontro.

Acontece que, aquela mulher não era bela como Afrodite. Ela era Afrodite, que agora acabara de reconhecê-lo e estava prestes a por seu plano por água abaixo.