Almas vagando por aí, uma escuridão tremenda, nenhum sinal de felicidade.

É, não era sem razão que Perséfone estava assustada. Sempre escutara muitas lendas sobre como era o submundo, mas nunca imaginou que um dia iria para lá viva. Quer dizer... Ela estava viva, não estava? Deu um leve beliscão na perna. Doeu. Sim, estava.

- E então, o que achou do meu lar?  – Ouviu uma voz sarcástica. Era Hades.

Ela olhou para ele, tentando entender o que acontecera. Fora tudo tão rápido.

- É... Diferente - ela respondeu sem querer demonstrar sua timidez.

Hades abaixou a cabeça, envergonhado.

- Ei – sorriu Perséfone – Eu gosto de coisas diferentes.

Os pálidos lábios do deus se abriram num sorriso:

- Então o que acha de tomar algum drinque diferente, moça?

- Como quiser cavalheiro.

Sentaram- se então em uma mesinha preta. Nada romântico, nem mesmo a conversa. Perséfone protegia sua mãe dizendo que ela agira sem pensar, e Hades a escutava notando a felicidade de seus servos em ver que tinha alguém vivo no submundo.

- Eles devem sentir falta da felicidade – Hades pensou alto.

- De fato. – respondeu Perséfone, pensativa. Ela sorriu e fitou o meio do pátio, onde rapidamente surgiu uma flor vermelha e brilhante. Os servos ficaram impressionados – Mas até nas trevas mais densas há esperança.

 Hades abaixou a cabeça.

- Talvez haja exceções.

A deusa sorriu e se aproximou do rei do submundo.

- Não, não há.

Finalizou sua citação com um beijo demorado e sincero na testa.

Após o gesto de amor, Hades sentiu algo se mover em seu corpo. Colocou a mão no bolso e percebeu que havia um punhado de grama, há muito tempo guardado, que agora renascia e esbanjava beleza.

- Faça-me um favor? – Seus olhos se encontraram.  

Perséfone respondeu, carinhosamente:

- É claro, diga.

Ele hesitou por um momento, mas logo disse:

- Não vá embora.