- Então, o que te trouxe aqui? – Perguntava Perséfone enquanto servia a segunda xícara de chá para Hades.

- Negócios – mentiu – Negócios de extrema importância.

Os dois estavam sentados em uma pequena mesinha ao lado de uma janela que dava vista para o quintal. A vista parecia mais um quadro, pois a paisagem era perfeita. O cheiro do chá transmitia conforto, e as cadeiras eram muito gostosas.

- Sabe, senhor Hades, eu... – começou Perséfone, quebrando o silêncio.

- Senhor? – Hades riu, achando graça no tamanho respeito.

A deusa ficou confusa, mas deu um sorrisinho tímido.

- Hades. Eu, bom, só quero que saiba que eu gosto de você. – Apesar da timidez, a jovem parecia tranquila ao falar. Ao contrário do deus, que demonstrava choque profundo – É que eu notei os olhares de desprezo que lançam para ti, e fico triste por meus parentes agirem desta forma. Principalmente, ahn, minha mãe.

Hades corou. O que ela queria dizer com gostar? Gostar como amigo, gostar por pena ou gostar como amor?

- Mas eu sei. Há algo em mim que diz que o senh... Você é alguém bom. – ela riu pelo nariz diante da expressão “aterrorizada” de Hades – eu só quero que saiba que você não está sozinho.

Hades teve que se segurar. Queria pegar Perséfone e lascar um beijo naqueles lábios vermelhos. Mas ao invés disso, apenas disse:

- Ahn, o-obrigado.

Perséfone olhou para baixo com o rosto vermelho.

- Você também é legal – disse Hades em tom baixo.

- Desculpe, não ouvi. O quê disse? – Perséfone se inclinou para frente e seu perfume ficou mais forte.

- Eu disse que você é legal – ele repetiu, constrangido.

Perséfone riu. Hades achou que era uma risada desdenhosa. Mal sabia ele que estava encantando a aos poucos.

A bela apontou para um pássaro que estava aconchegante em uma árvore lá fora.

- Sabia que este pássar...

- Não, você é mais que legal. – Hades se levantou. Perséfone se assustou com a espontaneidade. Sem saber de onde recebera tanta coragem, ele continuou:

- Você é perfeita. Bela, tanto por dentro quanto por fora. O seu cabelo é bonito, e seus olhos são tão encantadores que eu poderia fitar o dia todo. Ah, e a sua voz... Parece música! Eu não sei a razão, mas todas as vezes que olho para você meu sangue ferve e eu sinto que vou explodir. E-eu acho que te amo.

Assim que terminou de falar, ele a olhou, mas ela não tinha nenhuma reação. O olhava espantada e seus olhos haviam duplicado de tamanho. As flores ao seu redor começaram a crescer espantosamente rápido. Quando Perséfone abriu a boca para falar, foi interrompida por uma voz severa e rígida, vindo da entrada:

- MAS QUE MERDA ESTÁ ACONTECENDO AQUI?

Deméter olhava aos dois com nojo. Segurava uma cesta com alguns grãos e seu rosto estava vermelho. Perséfone começou a arfar. Havia medo em seus olhos.

- Mamãe, eu posso explic...

- SUA TRAIDORA IDIOTA! – A mulher se aproximava de Perséfone com olhar voraz.

Prevendo o que iria acontecer, Hades tentou parar Deméter com algum poder das trevas, mas foi em vão. A casa delas deveria ter alguma magia contra poderes dos outros deuses.

E então a velha deusa passou dos limites. Ignorando a presença do deus, ela agarrou no braço de Perséfone e a jogou para longe, fazendo a mesma bater na parede e cair fortemente no chão.

- Eu vou te ensinar a nunca mais me desobedecer e ter amizades com pessoas de outras laias novamente – A velha pegou um bastão perto a mesa e se aproximou da filha. Ergueu a mão para ela.

Deméter iria bater na Perséfone. Hades não podia fazer nada para impedir.

A não ser que...

Hades não podia usar o poder, mas ainda tinha a força. Sem pensar duas vezes, andou até Deméter e a empurrou para outro lado. Feito isso, agarrou em Perséfone e a pegou no colo, não a deixaria sofrer novamente.

 Quando saíram da casa, correndo dos gritos de Deméter, o deus notou que as flores estavam murchas.