LILY

Duas semanas haviam se passado. Duas semanas que aquela frase não me saía da cabeça; simplesmente passeava, vagava, por minha cabeça sem descanso. E o pior é que não sei o porquê. Na verdade, ando sem saber o porquê de muitas coisas ultimamente.

Minha vida está tão monótona aqui em Londres. Ultimamente, nem para o trabalho estou indo mais. O James está faltando alguns dias, pois está buscando tratamento para a esposa, por isso fico a maioria dos dias em casa. E nessa última semana, nem vi o Potter. Confesso que fiquei um pouco decepcionada com ele no início por não ter me avisado que passaria a semana no estado vizinho, na casa dos sogros. E achei que ele havia me esquecido, até comentei na ligação isso com ele, com um tom brincalhão, claro!

Ele me disse que jamais me esqueceria – o que eu fiquei pensando muito tempo, confesso – e que não tinha dado para ligar, pois estava tudo muito corrido com as consultas e a família da esposa.

Na nossa última ligação, dois dias atrás, ele ligou-me perto da meia noite. Lembro-me de cada detalhe.

Flashback on

Eu estava zapeando incansavelmente os canais da minha companheira, televisão. Ela era a única que estava ficando comigo todos esses dias chatos que passavam.

Ouvi o telefone tocar e fui atender, curiosa. Afinal já era meia noite. É, eu estava dormindo muito tarde.

– Alô.

– Lily? – ouvi o cochicho urgente de James.

– Potter? – perguntei feliz.

Ele deu uma risada nasalada.

– Sim, Evans. Então, como você está? – ele perguntou. Ouvi seus passos ecoarem e logo depois ele parecia estar na rua, calma e deserta.

– Bem. Mas algo me diz que você não me ligou para isso, não é? – perguntei torcendo o nariz. Ouvi outra risadinha dele. Com certeza havia algo errado.

– Como você sempre sabe das coisas, querida? – ele perguntou, agora com a voz normal.

– Nunca irá saber, Potter. Já lhe disse.

– Claro, claro. Mas... você está certa, eu liguei para compartilhar algo, sabe. Não estou lidando muito bem com ele, Lily. Parece que anda me sufocando.

Franzi o cenho.

– O que aconteceu?

Ouvi sua inspiração e expiração profundas. E então, depois de um curto tempo, ele disse:

– Kate, definitivamente, não pode ter filhos. Não consigo lidar muito bem com esse fato. Eu sabia que ela não podia, de acordo com alguns médicos daí, mas eu queria ter certa esperança que seria possível ainda! Realizar meu sonho!

Balancei a cabeça, lentamente.

– Sim... Mas creio que não é só isso que te perturba, apenas.

– É, você está certa. Então, nós ficamos sabendo disso hoje de manhã, e eu e a Kate tivemos uma conversa séria sobre isso. Eu disse que poderíamos recorrer à adoção, para conseguirmos filhos, mas ela recusou tudo. Ela quer apenas uma coisa, que diz que será uma parte minha e dela.

Mordi o lábio, nervosamente.

– E o que é?

– Ela quer contratar uma mãe de aluguel.

Fiquei um tempo em silêncio. Respirei e pisquei várias vezes antes de responder.

– E você quer isso também?

– Só com alguém de confiança. Alguém que eu sei que faria qualquer coisa.

Pronto, após isso ficamos em silêncio. Apenas escutando a respiração um do outro, apenas pensando em um monte de coisas ao mesmo tempo. A cabeça com um turbilhão de pensamentos.

Um tempo depois, quase vinte minutos, James deu fim à ligação.

– Lily, preciso desligar. Tenho que entrar e dormir, relaxar. Fique bem, Lírio. – ele deu uma risada baixinha.

– Ah, o.k. Tudo bem. Durma bem e também fique bem, Jay. – respondi.

– Sim. Ah! Desculpa por ligar a essa hora.

– Nada não. Sabe que pode ligar a hora que quiser. – assegurei-lhe.

– Obrigada, Lily. Por tudo. – ele murmurou e desligou, sem esperar uma resposta minha. Porém sussurrei-a depois.

– Não há de quê.

Flashback off

Depois disso, não falei mais com ele. Espero que esteja bem.

Durante essas duas semanas, na verdade uma sem o Potter para me fazer visita e ser a única pessoa que mantenho uma vida social, eu só saí de casa uma vez. Fui visitar a famosa London Eye.

Como dizem, realmente ela é um sonho. Lá eu conheci uma mulher tão amável! Ela agora vem me fazer campainha durante os dias. Ela exala tanta confiança, que lhe contei a minha história. Além que ela é uma ótima conselheira. Entende o que você está passando e te ajuda.

Alice Longbottom – a mulher que conheci – é casada com Frank Longbottom.

Descobri também que eles moram perto do conjunto, aqui. E quando Alice me convida, vou para sua casa. Nós conversamos muito, ela é divertida. Frank, seu marido, também é uma ótima pessoa.

Contei dela para Lene – conto para Marlene tudo, na verdade. Ela me liga todo dia – e Lene ficou com ciúmes. Disse até que se eu a esquecesse, ela viria na Inglaterra só para me bater. Eu ri demais com ela, logo depois ela entendeu que Alice era uma ótima companhia para mim também.

Mas agora, vejo que quando chego a minha casa, tudo passa como um borrão e me sinto sozinha de novo. Um dia desses pensei que seria uma boa ideia voltar para os EUA, voltar para meu pai e meus amigos. Mas logo a descartei.

Sinto que Londres ainda vai me surpreender, tem planos para mim. Não irei desistir.

–-----------------------------* ------------------------------*---------------------

James estava nervoso. Impaciente e inconformado. Sua esposa só podia estar louca! De onde ela havia tirado aquela ideia maluca? Sem cabimento!

Kate nem a conhecia direito! Tudo bem que ela estava certa em dizer que James e Lily haviam virados amigos próximos, mas não para tanto! Pedir isso seria quase um absurdo!

Se bem que com a primeira pergunta, James havia se desarmado.

Kate queria algo impossível. Porém James prometeu que a ajudaria e que não a deixaria.

E se Lily se sentisse ofendida? Magoada ou com raiva dele depois? Mas ele teria que tentar.

Caminhou apressadamente pela rua movimentada. Havia chegado à Londres aquela manhã, não fazia contato com Lily há cinco dias.

Confessaria que sentia a falta dela. Das conversas e até brincadeiras dela. Mesmo que fosse por telefone.

Entrou no carro e deu partida. Iria ao menos perguntá-la.

(...)

Jay tocou a companhia.

– Oi, Lily. – James sorriu, de verdade, quando a viu abrir a porta, surpresa. Não foi um sorriso forçado, como vinha fazendo nas últimas semanas. Ele ficara realmente feliz em ver a ruiva.

– James! Que surpresa. Você nem me disse que tinha chegado.

– Desculpa, mas não deu. – ele respondeu. Lily continuava parada ali, na porta. Jay sorriu maior e deu um passo para abraçá-la. De início, Lily ficou surpresa, porém depois o abraçou também. Mesmo que o abraço houvesse sido breve, James pôde sentir a sensação macia e boa de poder abraçar a ruiva. E Lily pôde sentir-se segura, abraçando-o.

– Tudo bem. Entra. Conta as novidades.

Eles se dirigiram para a sala.

– Bom... – Jay pensou, talvez pudesse adiar aquela pergunta sem noção, poderia pensar mais a respeito daquilo. Por isso, apenas deu mais um sorriso, ajeitou os óculos e disse: - Nenhuma. Você quer dar um passeio comigo? Sabe, aproveitar a minha volta e comemorar que Londres está ensolarada e está havendo umas apresentações no parque.

Lily sorriu radiante.

– Claro! Deixe-me apenas me arrumar. – ela respondeu e subiu.

James respirou fundo e suas mãos não estavam mais nervosas e tremendo. Naquele momento, chegou à conclusão que seria uma péssima ideia perguntar aquilo a ela. E que não pediria nada, não estava planejando nada.

Apenas aproveitaria a companhia da ruiva e absorveria todos os momentos e sensações que pudesse com ela. Ela realmente lhe fazia bem.