Prisioneiras do Terror escrita por Bruno Silfer


Capítulo 15
Capítulo 15: O Julgamento de um Herói




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Estou tensa, muito tensa. Tudo isso é novo e diferente pra mim. Os julgamentos aqui são muito rigorosos, talvez quem perde uma guerra e sobrevive passe pela mesma coisa. Dos cinqüenta que foram julgados até agora, vinte e dois foram condenados à morte e vinte e oito à prisão perpétua. Ele está algemado e sentado no banco dos réus, mas mesmo assim se mantém firme e forte; pronto para enfrentar qualquer condenação.

– Pois bem. – começou o juiz – Vamos dar início ao julgamento do réu número 51, Sabaku no Gaara.

Todos se sentaram e foi lida a acusação.

– O réu é acusado de participar diretamente da morte de pelo menos dez mil pessoas e indiretamente de cerca de vinte mil, a maioria prisioneiros dos campos de Treblinka e Auschwitz durante os três anos em que serviu no exército alemão.

Depois a palavra foi dada à acusação que começou com as perguntas.

– Você confirma as acusações que são feitas a você?

– Sim. – respondeu Gaara

– A maioria dos que vieram antes de você negaram.

– De nada adianta negar. Todos sabem o que era feito nos campos.

– Gostava de matar?

– Não.

– Então o que sentia depois de matar?

– Na hora nada, mas depois me sentia mal.

– Você estava em um campo de extermínio e se sentia mal ao matar?

– Não fui eu que escolhi ir pra lá.

– Se se sentia assim, por que aceitou fazer esse trabalho?

– Não é questão de aceitar ou não aceitar. Eu era um soldado e era meu dever cumprir as ordens dos superiores.

– Nesse caso não deveria ter entrado no exército.

– Pra vocês é fácil falar. Depois que tudo acontece não faltam pessoas apontando para nós e nos chamando de criminosos. Acontece que eles não estavam lá; não conheciam o ambiente, o clima, a tensão que se fazia presente o tempo todo. Eu só queria cumprir meus dois anos de serviço militar e sair, não imaginava que três anos depois eu seria convocado à enfrentar uma guerra desse tamanho.

– Mas você não pode negar que ao cumprir essas ordens absurdas você ajudou a dizimar milhares de vidas.

– O que você faria no meu lugar?

Um silêncio tomou conta da sala. Essa pergunta calou a todos. Mas ele tem razão; qualquer um faria a mesma coisa se estivesse no lugar dele. Isso ninguém pode negar.

– Sem mais perguntas.

– Nesse caso, - disse o juiz – vamos às testemunhas.

Começaram com as testemunhas de acusação. Foram muitas declarações de prisioneiros que tiveram parentes mortos por ele e pelo batalhão que ele participava. Eu entendo a revolta deles. Mas no caso do Gaara eu sei que se pudesse escolher, ele nunca faria o que fez.

– Se não há mais testemunhas de acusação passemos às de defesa. Temos testemunhas de defesa?

– Eu. – disse timidamente

Precisei de muita coragem pra dizer isso e levantar a mão, mas se eu não fizer alguma coisa eles não vão poupar o Gaara da morte. Fui até o local das testemunhas e iniciaram as perguntas.

– Você também era prisioneira?

– Sim. – respondi

– Pode provar?

– Posso. Olha aqui. – e mostrei o meu braço onde estava marcado o número 130342, que era meu número de identificação.

– O que faz você pensar que o réu deve ser absolvido?

– Ele não pensa como os outros do exército. Não gosta de matar como quase todo mundo lá gostava. Se ele for condenado vai ser uma injustiça tremenda.

– Você fala como se o conhecesse há tempos.

– E eu conheço mesmo.

– Quando você foi presa?

– Março de 1942.

– 1942?!? Como conseguiu sobreviver por tanto tempo?

– Foi ele que me salvou.

– Explique melhor.

– Eu cheguei em Treblinka com medo. Sabia que iria morrer. Mas quando me encarceraram, o Gaara fazia a segurança da minha cela. No início éramos só amigos, mas depois nos conhecemos melhor e ficamos mais íntimos até nos apaixonarmos.

– Vocês se apaixonaram mesmo?

– Sim. E desde esse momento o Gaara prometeu que não iria me deixar morrer.

O interrogatório continuou até chegarmos ao ponto em que precisamos fugir do campo.

– Como conseguiram fugir?

– Ele me vestiu de soldado para poder sair sem suspeitas.

– Para onde foram?

– Para oeste. Por várias vezes eu quase caí de cansaço e nos escondemos em trincheiras para sobreviver. – passei a mão na barriga e olhei para o Gaara – Esse é o resultado. Ele foi feito naquela trincheira mesmo com todo aquele frio. Desculpa por ter escondido isso de você.

Diante disso cessaram as perguntas e a decisão foi passada ao júri. Agora o Gaara está preocupado com a sentença. Com a possibilidade de deixar um filho pra trás.

– Atenção. – disse o juiz – Anuncio agora a sentença. Diante de todos os fatos e provas apresentadas e pela decisão do júri, já tomei minha decisão. Declaro o réu absolvido e encerro o julgamento.

Não tinha onde colocar tanta alegria e alívio nessa hora. Eu tive medo que tudo desse errado, que tudo que fizemos para ficar juntos terminasse em nada. Agora é seguir. Para todos que estão aqui tudo chegou ao fim, para o Gaara e eu porém, é o verdadeiro começo da nossa vida.


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