O cansaço, o estresse e a chateação da noite anterior fizeram com que a rosada acordasse tarde. Quando se levantou já era 11:25h.

Sakura pulou da cama e foi fazer sua higienização matinal. Enquanto tomava o banho, as lembranças do fiasco que fora a noite anterior retornaram á sua memória. Ela sentia tanta raiva, ódio, amargura, frustração... Tudo junto e misturado, que por pouco não começou a chorar. Não por tristeza, simplesmente por raiva.

A Haruno então desferiu um violento soco na parede, ficando com a mão latejando de dor. Ela porém não se importou.

"Agora já chega disso! Cansei de ser legal e no fim ser tratada como lixo! A bobinha Haruno Sakura, que não faz nada além de chorar, morreu hoje! Se é para ser assim, vou ser a fria e insensível Uchiha Sakura. Não é isso que você quer, Sasuke-kun? Não quer que eu jogue para ganhar? Tudo bem! Que assim seja".

Ela terminou seu banho, escovou os dentes, arrumou-se e saiu do quarto decidida. Foi até o riacho que corria nos fundos da casa, encheu um balde e voltou.

–Sasuke-kun, acorde! - Ela despejou a água gelada na cara dele.

Sasuke deu um pulo do sofá, rolando no chão.

–Ei! Você ficou doida? - A voz dele era dura.

–Hunf! Você ainda vai ver a doida!... - Ela resmungou - Anda, levanta do chão e vamos!

Ele coçou a cabeça confusamente enquanto se apoiava no sofá.

–Vamos? Aonde?

–Bem, eu não sei quanto ao grande Uchiha Sasuke, mas eu vou até a Tsunade-sama me livrar de você - A voz dela era quase gentil.

O Uchiha assumiu uma expressão vaga e distante, como se estivesse tentando se lembrar de alguma coisa, até que exibiu seu sorriso irônico.

–Ah, mas é claro. Eu não poderia ter sugerido nada melhor para começar o dia.

Ela apenas revirou os olhos e saiu da casa, assentando-se na varanda enquanto o esperava.

"Pois é Sakura! Você volta a trabalhar amanhã, e nesse tempo em que esteve de "folga" não fez nada para melhorar! Não vou ficar surpresa se a Tsunade-sama te demitir ao ver que você continua incompetente". - Ela suspirou frustrada - "Sem falar que você perdeu a aposta. Você se rendeu às provocações dele muito fácil e desistiu. Bem, acho que o menos pior é que não vai mais precisar se preocupar com o Sasuke-kun e suas maldades".

–Ei, Sakura! - O moreno havia acabado de fechar a porta - Eu já terminei de me arrumar. Vamos, minha liberdade está há apenas alguns metros de distância! - Ele riu zombeteiramente.

–Que ótimo! Faça bom proveito dela! Tenho certeza que a Karin vai adorar o seu novo tempo livre - A rosada respondeu dura e secamente e começou a andar.

Ele ergueu uma sobrancelha e correu atrás dela.

–Aliás, obrigado pelo balde de água fria. Não há nada melhor do que ser acordado assim - O Uchiha disse com sarcasmo.

–Sabe, acho que ontem eu pedi para que não falasse comigo.

Sasuke revirou os olhos, mas balançou a cabeça assentindo. Eles então caminharam em silêncio.

Enquanto andavam, Sakura percebeu murmúrios, cochichos e risadinhas estranhas vindo dos habitantes da Folha, porém não se importou. Quando chegaram a uma área mais movimentada da vila, ela, ao invés de ir para a prefeitura, seguiu em direção a um restaurante.

–Sakura?! - O moreno a chamou.

–Já são quase 12:30h. Preciso almoçar - Ela respondeu sem olhá-lo.

–É verdade. Hum... Eu posso te acompanhar?

–O restaurante é público, Sasuke-kun. - Ela murmurou com uma voz monótona e arrastada - Você tem o direito de ir onde bem quiser. Faça o que o seu grande orgulho Uchiha achar melhor.

Sasuke apertou os punhos com força enquanto a via se afastar determinada e confiante.

"A Sakura bobinha me irrita, mas essa Sakura fria consegue ser ainda mais irritante! Bom, ao menos a nova Sakura tem personalidade própria. Certo?" – Ele pensou e a seguiu.

Foi a conta de o casal entrar no estabelecimento para a fofoca e os cochichos começarem:

–Olha, olha! Olha quem está aqui!

–Hunf! Não sei o que o Sasuke-kun viu naquela doida da Sakura.

–Pois é. Ela tem uma testa enorme, nem é tão bonita assim, quase não tem peito e é muito violenta! Pobre garoto. O coitado vai compadecer!

–Concordo. Ele realmente não tem bom gosto, mas que é gostosinho, ah isso ele é.

–Mahiru-chan!

–Ué, o que eu posso fazer? Ele é lindo e tem um corpo maravilhoso. Tenho mais é que falar mesmo.

–Tudo bem, isso é verdade. E quanto ao irmão dele, o Itachi-san? Ele não tem namorada. Quer dizer que ainda tenho alguma chance.

–É, mas se ele tiver um gosto tão ruim como o do Sasuke-kun... Eu desisto dos homens!

Sakura, que estava rangendo os dentes, segurou até onde deu. Ela já estava prestes a ir enforcar as duas fofoqueiras quando Sasuke a segurou.

–Sasuke-kun?! Me larga! Eu vou mostrar àquelas garotas quem é a despeitada violenta! - A rosada tentava se desvencilhar das mãos dele.

–Sakura, deixa isso pra lá. Vamos pedir nosso almoço e depois vamos embora. O dia hoje vai ser muito bom. Não o estrague arrumando confusão!

–Acontece que elas estão falando de mim! E isso não vai ficar assim!

–Estão falando de mim e do meu nii-san também, mas nem por isso estou partindo para a violência.

–Olha quem está falando! Você mandou três policiais para a emergência, então não venha me dar sermão!

–Não estou fazendo isso. - Ele revirou os olhos - Estou apenas comentando um fato. Se você inventar de bater naquelas garotas, além de arrumar encrenca com o gerente do restaurante, vai dar razão a elas, mostrando que é realmente violenta.

Ela estreitou os olhos desconfiada, porém, com certa relutância, concordou.

–Mas elas estão falando sobre nós dois e... sobre nossa situação atual, você sabe. Desde lá de fora, na verdade. Os cochichos ficaram nos seguindo, e agora eu entendi o porquê!

–Bem, isso só mostra o quão grande é a língua de Haruno Kin-san. - O Uchiha sorriu e a puxou pela mão - Vem, não se preocupe com isso. Afinal - ele aumentou o tom da voz ao passar pelas duas fuxiqueiras -, eu sou o seu marido e é meu dever te defender e proteger.

As duas garotas, e todo mundo que ouviu, arregalaram os olhos, e Sakura ficou vermelha de vergonha, mal sabendo onde enfiar a cara.

–Sasuke-kun! Não acredito no que você acabou de fazer! - Ela reclamou enquanto se assentava à uma mesa perto da janela.

–O que eu fiz? - Ele perguntou inocentemente com seu sorriso arrogante.

Ela bufou e cruzou os braços. Assim que Sasuke se sentou, um garçom foi até eles.

–Boa tarde, Sr. e Sra. Uchiha! O que desejam?

"Okasan! Por que você não consegue manter a boca fechada? Argh!" – Sakura bufava de raiva.

Quanto ao moreno, ele apenas ria enquanto fazia o pedido.

Enquanto esperavam, eles ficaram em silêncio, mas os olhares e os cochichos não cessaram. Depois, durante o almoço, por vezes a rosada teve vontade de levantar e arrebentar aquelas pessoas, mas ela olhava para Sasuke e o via completamente alheio aos demais, então decidia continuar comendo e aturando a fofoca.

Quando pagaram a conta, Sakura literalmente correu para fora dali. Toda aquela conversa a estava irritando.

–Esse "casamento" nem é real e as pessoas já falam assim. - O Uchiha comentou enquanto andavam em direção à prefeitura - Imagina se fossemos casados de verdade?

–Ah, então quer dizer que você nos imagina assim? Você e eu casados? - A Haruno ergueu uma sobrancelha.

–O quê? Não, claro que não. Não confunda as coisas, Sakura!

Ela apenas bufou, voltando a andar em silêncio.

***

–Escutem, eu estou muito ocupada. - Tsunade falou seriamente enquanto carimbava alguns documentos - Portanto vão embora.

–Mas Tsunade-sama, a senhora nos mandou voltar hoje - Falou Sasuke.

–Mandei?! Não me lembro de nada disso.

–Depois da bebedeira de ontem, eu não me surpreenderia - Ele murmurou com uma voz não tão baixa.

–O quê você disse!? - Ela sibilou entre dentes.

O moreno apenas exibiu um sorriso falso.

–De qualquer forma, desapareçam, ou os colocarei para ajudar aqui na prefeitura! Há muito a ser feito, e como o Naruto já me irritou hoje, eu o pus para trabalhar! Querem entrar na fila também? - Os olhos dela brilhavam, loucos para infernizar a vida do "casal feliz".

Na mesma hora, o Uzumaki escancarou a porta violentamente, entrando no escritório.

–Tsunade-obaachan, já terminei de limpar as pichações, dattebayo! - Ele disse ligeiramente aborrecido.

–Eu já mandei você não me chamar assim! - Tsunade rangeu os dentes e bateu o carimbo com uma força excessiva.

–Seja como for, já terminei minhas obrigações. Estou vazando! - Falou o loiro decididamente e virou-se para sair da sala - Ohayo, Sakura-chan. Sasuke... Hunf! - Ele virou a cara e bufou.

–Ohayo, Naruto... - A rosada murmurou.

–Hunf! - Sasuke sorriu e ergueu uma sobrancelha ironicamente.

Naruto já estava com a mão na maçaneta, pronto para abrir a porta quando...

–NARUTO!!! - Tsunade berrou - EU TE DEI AUTORIZAÇÃO PARA SAIR?!

–C-Calma, obaachan! - O Uzumaki ficou branco de medo - Eu não...

–CALADO! Feche a porta e volte aqui! AGORA!

–H-Hai! - Ele exibia um sorriso amarelo.

–Agora me escute bem! Não fique se achando só porque terminou a tarefa da qual te incubi há cinco horas atrás. Além de ser a sua obrigação, você enrolou mais do que o aceitável, e ainda há muito a ser feito! - A prefeita pegou um papel e baixou os olhos até ele - Aqui está uma lista de trabalhos a serem realizados. Como castigo pelo modo como agiu hoje, você vai trabalhar triplicado!

–QUÊ?! Obaachan - ele deu um tapa na mesa -, isso não é justo, 'ttebayo! Eu apenas espiei algumas garotas nas termas e você já está me castigando assim?!

–COMO É?! - Sakura enfureceu-se - O que você fez, seu pervertido? - Ela puxou a orelha dele com força.

–Ai, ai Sakura-chan! Tá doendo...! Ai!

–Hunf! Mas é um dobe mesmo. - Sasuke revirou os olhos - É tão imprestável que não consegue nem espiar sem ser pego. Você é uma vergonha!

–Escute aqui, Sasuke! - Naruto mostrou os punhos para ele - As garotas que vão às termas de manhã são muito mais escandalosas do que as que vão à tarde, dattebayo. É impossível não ser descoberto desse jeito!

–Sasuke-kun! Até você está aprovando esse comportamento pervertido?!

–Ué, Sakura, eu sou um homem também. Acha que eu não gosto de ver mulheres bonitas? - Ele sorriu com arrogância.

–JÁ CHEGA!!! - A loira berrou dando um murro na mesa - CALADOS! JÁ ME IRRITARAM ALÉM DA CONTA! E vocês, Haruno Sakura e Uchiha Sasuke, eu os quero em silêncio! Se derem um pio, por menor que seja, vão trabalhar quadriplicado! Tanto hoje como amanhã! Entendidos?

Eles balançaram a cabeça afirmativamente e com os olhos esbugalhados.

–Ótimo! Agora, voltando ao assunto anterior, Naruto, eis uma lista de coisas a serem feitas. Escolha três e mãos a obra! Sem reclamações!

–Eu me recuso, Tsunade-obaachan!

–COMO É QUE É!? - As sobrancelhas dela tremeram.

–Você vive recebendo reclamações sobre a Sakura-chan e o comportamento violento dela, 'ttebayo, mas nunca a coloca para trabalhar! Nunca lhe dá uma punição!

A rosada abriu a boca para reclamar, mas Tsunade lhe lançou um olhar mortal e imediatamente o Uchiha lhe tampou a boca, fazendo sinal para que ficasse em silêncio.

"Ei, por que fiz isso? Eu deveria ter deixado que ela se ferrasse e virasse escrava da Tsunade-sama!" – Ele juntou as sobrancelhas, gesto que mostrava sua confusão mental, e a soltou.

A Haruno o olhou inquisitivamente, como se não entendesse o que ele acabara de fazer. Sasuke simplesmente deu de ombros.

–Quanto à Sakura, nós vamos resolver isso depois. - A loira respondeu duramente - Agora você, Uzumaki Naruto, pare de jogar a culpa nos outros e vá fazer o que eu mandei!

O loiro então deu outro tapa na mesa, e logo em seguida pressionou o dedão contra o peito, exibindo seu sorriso contagiante.

–Um dia eu ainda vou ser o prefeito - ele dizia confiante -, e vocês vão me respeitar e parar de me tratar desse jeito! E quando esse dia chegar muita coisa vai mudar, dattebayo!

–Hunf! - Já que não podia falar, Sasuke apenas bufou.

–Mas até que isso aconteça, você vai continuar me obedecendo, Naruto - Tsunade suspirou monótona e cansadamente.

–Teme! - O Uzumaki virou-se, mostrando os punhos para o Uchiha - Quando eu me tornar o prefeito, a primeira coisa que vou fazer será acabar com esse...

–NARUTO!!! - A loira, repentinamente, pulou a mesa, agarrando a gola da camisa dele e aproximando-se perigosamente - Eu acho que mandei você fazer alguma coisa, não é mesmo? - Ela falou entre dentes e com um olhar assassino.

–H-Hai, obaachan! É claro. - Ele suava frio - Hehehe... E-Eu só...

Tsunade o encarou por mais alguns segundos e o soltou, assentando-se novamente.

–Tsc! Droga!... - Naruto resmungou enquanto lia a lista de tarefas.

Ele então escolheu as três que julgou serem menos pesadas e cansativas e saiu reclamando do escritório.

–E vocês?! O que ainda estão fazendo aqui? - A prefeita virou-se para o moreno e a rosada - Já os mandei ir embora, não? Querem trabalhar também? A lista é enorme. Ei! Eu estou falando com vocês dois! RESPONDAM!

–A senhora mandou que não falássemos nada - Sasuke respondeu friamente.

–Não quero desculpas e nem quero saber! Quando eu perguntar algo, vocês podem estar com uma bomba na boca, mas tratem de responder! Imediatamente!

–H-Hai - Sakura gaguejou.

Tsunade assentiu e voltou a carimbar a infindável pilha de relatórios. Já o casal, continuou parado à sua frente, a observando.

–Tá legal. - A loira suspirou rendida - O que vocês querem?

O Uchiha não deu nem tempo e começou a falar:

–Ontem a Sakura desistiu do acordo. Ela disse exatamente as palavras: "Eu, Haruno Sakura, desisto desse contrato idiota e dessa brincadeirinha de ser marido e esposa! Pronto! Você venceu! Está satisfeito?". Acho que mais claro do que isso é impossível, então eu a quero longe de mim.

–Sakura?! - A prefeita ergueu uma sobrancelha - Isso é verdade?

–Hai! - Apesar de não olhar para sua mestra, mas para o chão, ela respondeu com firmeza e determinação - Eu sei que perdi, e, de acordo com as regras que ele impôs, eu agora estou, oficialmente, longe da vida dele, mas... Eu fiz isso porque não aguentava mais! Não aguentava mais ser humilhada e usada como um brinquedo no jogo maldoso dele. Eu peço, por favor, Tsunade-sama, que cancele tudo. Ambos estamos... De total acordo...

Apesar de tentar parecer forte, os outros dois sabiam que a rosada estava lutando ao máximo para não começar a chorar. Tsunade então ergueu uma sobrancelha e voltou a carimbar os papéis, como se não tivessem dito nada.

–Não. - Ela disse seriamente - Minha resposta é não. Agora sumam!

–O quê?! - O Uchiha e a Haruno perguntaram em uníssono - Por que não, Tsunade-sama?

A loira parou com o que estava fazendo e apoiou os cotovelos na mesa, juntando ambas as mãos à frente do rosto, num gesto muito seu. Ela os encarou por um tempo, até que suspirou demoradamente.

–Eu não sei, Sasuke, se a Sakura lhe contou mas, isso, para ela, não é mais apenas um acordo. Virou um castigo no dia seguinte ao que vocês o assinaram.

–Castigo? Por quê? - Ele ergueu uma sobrancelha.

–Por nada! Isso é assunto meu, Uchiha Sasuke! - Sakura respondeu rápida e friamente.

–Bem, de toda forma eu disse a ela que não iria cancelar o contrato, pois essa seria sua punição devido a um - ela olhou significativamente para a discípula - pequeno incidente. Realmente, eu podia ter acabado com tudo naquele dia, afinal, como você bem sabe, ela estava com perda de memória, mas castigo é castigo! A Sakura está apenas cumprindo com o acordo porque essa foi a punição que eu escolhi para ela.

–Mas, Tsunade-sama, onde está justiça nisso? E eu? Como fico? Vou ter que continuar aturando essa garota irritante?

–A punição é dela, mas você está envolvido, então não tem outro jeito.

Sasuke cerrou os punhos enquanto suas narinas se inflavam de cólera e seus olhos negros adquiriam um brilho letal. Ele olhou a rosada pelo canto do olho e percebeu o sorriso cínico e debochado que ela exibia, como se estivesse se segurando para não cair na gargalhada.

"Nunca, em toda a minha vida, odiei Haruno Sakura como odeio agora!".

"Nunca, em toda minha vida, fiquei tão feliz em deixar o Sasuke-kun irritado. E acredite. A vingança é deliciosamente doce".

–Quanto tempo isso vai durar? - Ele perguntou friamente.

–O tempo estipulado no contrato, ora. Um mês! A única coisa que muda é que agora não é mais uma aposta, e sim um castigo. Vocês vão continuar convivendo juntos e cumprindo com o que lá foi imposto! Quando o prazo estipulado chegar ao fim, vocês estarão livres, mas se a relação de vocês dois continuar do mesmo jeito, será do modo como falei: Vocês vão agir como pessoas maduras e civilizadas! Ou se acertam por bem ou se acertam por mal! Konoha e seus habitantes precisam de paz. Eu preciso de paz! Até porque já não aguento mais as confusões de vocês e, como o Naruto mencionou, as inúmeras reclamações sobre seu comportamento violento, Sakura!

Sakura bufou e cruzou os braços.

–Tsunade-sama, eu não vou nem contestar, afinal é um fato eu bater nas pessoas, mas se elas gastassem o tempo fazendo outras coisas ao invés de me irritarem ou ficarem fofocando sobre a minha vida, eu com certeza não agiria dessa forma!

–Você me irrita o tempo todo, e nem por isso eu fico te batendo - O moreno a olhou e ergueu uma sobrancelha.

–Isso é verdade. - Tsunade concordou - Sakura, ou você dá um jeito nessas suas atitudes... Ou eu faço isso por você! - A loira tinha um ar sombrio e ameaçador.

A rosada arregalou os olhos assustada. Ela conhecia sua mestra bem o bastante para não querer vê-la tomando partido em seus problemas.

–H-Hai! Vou me esforçar!

–Ótimo! Agora...

–Tsunade-sama - Sasuke a interrompeu. Ele tinha urgência na voz -, já que isso é uma punição para a Sakura, me livre desse acordo. Olha, se quiser eu faço trabalho comunitário na vila, mas, por favor, me tire dessa confusão!

As sobrancelhas da prefeita tremeram. Imediatamente seus punhos desceram violentamente à mesa.

–UCHIHA SASUKE, VOCÊ É SURDO? - O berro de Tsunade o fez dar um pulo devido ao susto - Eu já disse que o castigo é da Sakura, mas você está envolvido diretamente. Não tem como livrá-lo disso! Aliás, você voltando a tocar nesse assunto me lembrou: A partir de agora isso é uma punição para você também!

–Como é que é?! Por quê? - Ele socou a mesa da prefeita - Você está fazendo isso apenas para que eu fique preso à esse contrato idiota no fim das contas!

–Bem, pense do modo que quiser. - A loira encostou-se na cadeira enquanto o encarava - A decisão é minha. Apenas acate-a!

–Hihihi - A rosada ria como se aquilo fosse a melhor coisa do mundo.

Instantaneamente Tsunade lhe lançou um olhar mortal.

–Haruno Sakura, hoje é o último dia da sua "folga". Pelo que percebi, e de acordo com os relatos da Shizune, você não se empenhou em melhorar!

–É verdade... - Ela abaixou a cabeça envergonhada - Gomenasai...

–Escute bem, se amanhã você voltar com a mesma incompetência de antes, pode saber que estará na rua! Você é uma aprendiz da qual me orgulho muito, mas não quero serviço porco no hospital! Fui clara?

–P-Perfeitamente, Tsunade-sama! Eu sei que não fiz muito esforço em...

–Ótimo! - A loira a cortou - Meus assuntos com você estão terminados! FORA DAQUI!

Sakura arregalou os olhos e a ordem não precisou ser repetida duas vezes. Ela saíra correndo porta a fora.

Sasuke apenas ergueu uma sobrancelha. E quanto a Tsunade, ela voltou a juntar as mãos à frente do rosto.

–Como eu dizia, Sasuke, pense como quiser sobre isso, mas a razão pela qual estou te punindo é a seguinte: Você disse que a Sakura desistiu da aposta. Em apenas quatro dias ela entregou os pontos. E isso está errado! A Sakura que eu conheço é muito mais forte que isso! E não me refiro á força física. Enfim, o que eu estou dizendo é que, se você conseguiu fazê-la se render tão rápido, quer dizer que usou de "golpes baixos" e métodos não ortodoxos para atingi-la. Provavelmente a maltratou e a humilhou além da conta. Eu não quero saber o que você fez, porque como eu já disse, vocês homens devem tratar bem as garotas e... Se eu continuar falando disso vou acabar te batendo!

–Mas Tsunade-sama, num jogo tudo é válido - Ele sorriu ironicamente.

–Roubalheira e golpe baixo não são!

–Não acredito que a senhora está me punindo apenas porque a Sakura não aguentou o desafio e pulou do barco!

–ERRADO! Estou te punindo por causa do modo como a tratou e as coisas que fez para fazê-la entregar os pontos assim tão rápido.

–A senhora sabe o que eu fiz?

–Não. E a menos que queira acabar apanhando, acho melhor que eu nem saiba! No dia em que vocês vieram me perturbar com esse acordo eu avisei para que a tratasse bem, caso contrário você sofreria as consequências. Pois bem! Aí está! Não é o castigo que eu queria, porque na verdade eu adoraria te dar uma boa surra, mas uma hora a dor iria passar, então não adiantaria muito, porém esse mês de "tortura" deve servir. - Ela exibiu um sorriso maldoso - Principalmente agora que vi o quanto você está doido para se livrar disso tudo ficará mais interessante e prazeroso. Você não acha?

Sasuke apertou os punhos e contou até dez para não fazer alguma bobagem.

–Posso me retirar, Tsunade-sama? - Ele disse entre dentes. O autocontrole era bem perceptível em sua voz.

–Só mais uma coisa... Todo mundo na vila está comentando sobre a festa que você deu no bairro do seu clã há alguns dias.

–E daí? É algum tipo de crime eu dar uma festa em minha própria casa? - Ele ergueu uma sobrancelha, como se a desafiasse.

–Você dar uma festa? Não, não é. Agora, dar uma festa com sakê liberado e não me convidar? É IMPERDOÁVEL!

–Tsunade-sama, já pensou em se tratar? Seria terrível se a senhora morresse de cirrose.

–Por um acaso está me insultando, Uchiha Sasuke? - A voz dela era ameaçadora.

–De forma alguma! - O moreno exibiu seu sorriso irônico - Com a sua licença...

Tsunade assentiu de má vontade, e quando ele havia aberto a porta, ela falou:

–Aliás, parabéns ao novo casal. - A voz dela era divertida, como se ver a infelicidade de Sasuke a agradasse - Todo mundo já está sabendo sobre o casamento de Uchiha Sasuke e Haruno Sakura. Mas eu pensei que a Sakura não quisesse que isso se tornasse público...

–Pois é. Agradeça à Haruno Kin-san, minha adorável sogra - Ele disse secamente e bateu a porta.

***

Sakura estava fora da prefeitura, sentada na rua e abraçando os próprios joelhos.

–O que você está fazendo aqui? - Sasuke perguntou com irritação na voz ao vê-la.

–O que estou fazendo aqui? Bem, a Vila da Folha é meu lar. Isso é motivo suficiente para você?

Ele bufou e começou a andar, se afastando dali. A rosada imediatamente levantou-se e correu atrás dele.

–Eu estava indo embora - ela explicou -, mas enquanto andava, as pessoas ficavam me encarando, rindo e cochichando. Se eu continuasse aturando isso ia acabar batendo em todo mundo, então eu decidi te esperar. Já que elas vão falar de nós, vamos dar o motivo. Até porque, tenho que controlar esse meu comportamento violento...

Ele apenas bufou e continuou andando.

–Sasuke-kun... Agora que você sabe que, para mim, isso não é apenas uma aposta, mas uma punição, você não precisa mais me aturar 24 horas por dia. Não era isso que você queria? - Ela tentava manter a voz firme e displicente - Eu apenas tenho que continuar morando do Bairro Uchiha, e ao fim do mês, precisamos pelo menos fingir que nos damos bem, no mais...

–Não posso! - Ele a cortou bruscamente - Você ouviu a Tsunade-sama dizer que isso agora é uma punição para mim também. Tenho que continuar cumprindo com as regras. De um jeito ou de outro estou preso à isso até o fim! - A cada palavra que falava, ele parecia se enfurecer mais.

–Bem, seja lá o que ela falou com você depois que eu saí, deve ter sido bem ruim, não? Você parece mais irritado que o normal... Quero dizer, você costuma ser sarcástico e irônico, que é pior do que vê-lo irritado. Você fica mais maldoso quando isso acontece, mas... Enfim, ela te explicou o motivo pelo qual está sendo castigado?

–Eu não quero falar disso, Sakura. Esse assunto me irrita. Assim como você!

A rosada sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Ela diminuiu o passo, arregalando os olhos assustadamente, mas quase que imediatamente lembrou-se de que dissera que seria fria e que não deixaria se abalar. Respirou então profundamente e voltou a segui-lo em silêncio, mas com a cabeça erguida.

"No fim das contas meus esforços para me ver livre da Sakura foram em vão. Droga! Agora as pessoas acham que estamos casados e eu terei que aturá-la até o final!" – Sasuke pensou irritado - "Bem, continuar a irritá-la para fazer com que desista não adianta mais, mas isso não quer dizer que eu não possa me 'divertir', certo?" – Um sorriso malicioso se formou em seus lábios.

O casal caminhava em silêncio pelas ruas da aldeia, mas isso não queria dizer que a população de Konoha também fazia o mesmo. Desde que saíram do Bairro Uchiha, a fofoca e os olhares os seguiam incansavelmente, e ali, numa área tão movimentada da vila, não seria diferente:

–Então é verdade. - Um homem comentou - Eles estão juntos mesmo. No fim das contas a obsessão dela por ele deu frutos.

–E isso é ótimo! - Outro homem falou - Agora que finalmente o Uchiha não está mais disponível, as garotas passarão a prestar mais atenção em nós!

–É, mas você se esqueceu do irmão dele, aquele Uchiha Itachi? As garotas são loucas por ele também, e pelo que fiquei sabendo ele está solteiro. Não temos muita sorte, meu amigo...

–Argh! Esses Uchiha são detestáveis! Se acham melhores que nós! Tomara que a doida da Haruno Sakura lhe dê bastante dor de cabeça com aquele seu comportamento violento e explosivo!

Em outro lugar duas garotas também cochichavam:

–Não acredito que a Sakura conseguiu fisgar o Sasuke-kun! - Uma delas choramingou - Como isso pôde acontecer? O garoto mais lindo e cobiçado da aldeia foi se interessar logo pela Sakura!? E eu? Como fico? Perder é normal, mas perder para Haruno Sakura?! É inaceitável!

–Pare de reclamar, Inori-chan! - A outra garota ralhou - É triste ver que o lindo e charmoso Uchiha Sasuke já não está mais ao nosso alcance, mas deveríamos estar gratas!

–Ah é? E por que, sua sabe-tudo?

–Pelo que fiquei sabendo, eles se casaram no dia 15, e aquela festa que ele nos convidou foi no dia 17.

–Grande descoberta - Inori revirou os olhos.

–Nossa, você é muito lerda! Você se esqueceu que o Sasuke-kun e a Karin se beijaram na festa? E eles nem tiveram a decência de esconder. A Sakura-san estava lá e eles se beijaram bem na frente dela. Mal se casou e já recebeu um par de chifres... Então fique grata! Nos livramos de um homem infiel.

As narinas da rosada se inflaram. As fofocas já eram terríveis, e as fofocas que não eram verdade eram piores ainda, afinal ela e o Uchiha não estavam casados de verdade. Ele era livre para fazer o que bem quisesse.

Ela então apertou os punhos, se segurando ao máximo para não bater nas garotas. Já Sasuke, que até então pouco se importara com a fofoca, ao ouvir aquilo, quase que foi, pessoalmente, dar um jeito nas duas.

Um pouco mais distante, outras pessoas fofocavam:

–Olhe a barriga dela. Está vendo algum volume por baixo da blusa? - Um garoto disse enquanto curvava a cabeça para ver de um ângulo melhor - Fiquei sabendo que ela está grávida...

–Mas é claro que está! É por isso que se casaram. Ninguém se casa aos dezoito a não ser que esteja esperando um filho - Uma garota que conversava com ele revirou os olhos, como se sua constatação fosse algo óbvio.

–Mas isso é estranho... - Outra garota, aparentemente mais velha que os demais, falou - O físico dela não mudou em nada...

–Ahn? Como assim? - Perguntou a primeira - Você está se referindo ao fato de ela quase não ter peito? Ah isso é verdade! Os seios dela não cresceram nem um centímetro. Me pergunto como o Sasuke-kun foi se interessar por ela desse jeito... Até eu tenho mais peito...

O garoto, que imaginava os seios da colega, imediatamente colocou as mãos no rosto para evitar que elas vissem seu sangramento nasal.

–Tsc! Não estou falando disso! - A mais velha impacientou-se - Vocês estão dizendo que ela está grávida, mas isso não faz sentido... É bem fácil descobrir se uma mulher é virgem ou não, basta olhar o quadril delas. Mulheres que já tiveram experiência sexual têm o quadril largo, mas vejam o da Sakura-san... Ela continua igual à última vez em que a vi...

O garoto e a primeira garota se entreolharam de modo cético e desinteressado, como se o que a outra dissera não fizesse o menor sentido.

–Então vai ver que o Sasuke não tem comparecido - Ele desatou a rir debochadamente.

–Mas ei, o que será que dá a mistura de um Uchiha com uma Haruno? - A primeira garota perguntou, rindo também - Provavelmente o filho deles será uma criança insuportável de tão arrogante e violenta.

Sasuke e Sakura já estavam estressados. Além de terem que aguentar calados toda a fofoca, ainda tinha as risadinhas e as insinuações. Ambos estavam se segurando para não partir para a porrada, quando ouviram uma gritaria:

–SASUKE!!! - Uma voz fina, particularmente manhosa e irritante se aproximava.

Os dois viraram-se e viram uma cabeleira vermelha se esvoaçando com o vento. Era ninguém mais ninguém menos do que a "ruiva quatro olhos".

–Kar...!? - O moreno não teve chance de falar, pois Karin pulara em cima dele, derrubando-o no chão.

Sakura assumiu uma expressão assassina ante aquela cena. Se ela fosse um touro, suas narinas estariam fumegando.

–Sasuke, me diga, é verdade que você e a Sakura se casaram? - Ela passou os braços ao redor da cintura dele, agarrando-o - Por favor, que seja mentira!

–Karin, me larga! - Ele tentava empurrá-la, mas ela parecia uma criança manhosa com seu brinquedo novo.

As pessoas que estavam por perto, naturalmente, pararam para ver o barraco que provavelmente se seguiria, e os fofoqueiros se calaram enquanto esperavam o desenrolar da confusão.

–Agora o circo vai pegar fogo! Sakura vs Karin? Isso é épico! - Um homem comentou.

–Não gosto de nenhuma das duas, mas eu vou escolher a Karin. Tomei ódio da Sakura no momento em que ela ficou com o Sasuke-kun! - Inori falou.

–Apesar de a Sakura-san ter conseguido o Sasuke-kun antes de nós, vou torcer por ela. - Outra garota disse - Mas apenas porque ela é uma cidadã da Folha. A Karin nem é daqui de Konoha...

Sem muita cerimônia Sasuke empurrou a ruiva com violência e levantou-se do chão limpando a roupa. Ela, imediatamente, agarrou a perna dele.

–Sasuke!... Você não negou. Então é verdade? Mas... Mas...

Ele tentava sacudir a perna e empurrá-la, mas ela segurava com mais força.

–Por favor, Sasuke! Largue a Sakura e fique comigo!

Antes que ele falasse alguma coisa, a rosada, que até então apenas assistia a cena, manifestou-se:

"Não é isso que esse bando de fofoqueiros e curiosos querem? Tudo bem, que seja feita a vontade do povo!" - Karin, se não soltar o Sasuke-kun agora, você vai sentir os punhos de Uchiha Sakura acertarem a sua cara! - A voz dela era perigosamente ameaçadora.

As pessoas que estavam acompanhando a confusão ficaram surpresas ante as palavras dela, Sasuke principalmente. Ele parou de empurrar Karin e ergueu uma sobrancelha. Ele com certeza não esperava por isso.

A ruiva também ficara surpresa. Ela soltou o Uchiha e arrumou os óculos. Levantou-se do chão e encarou a rosada com suas íris vermelhas.

–Uchiha Sakura? - Ela exibiu um sorriso irônico - Sabe, Sakura, eu estava pensando... Isso deve estar sendo tão vergonhoso para você... Você, uma enfermeira, sempre nos orientando a sermos cuidadosos, não pôde seguir os próprios conselhos. Isso é hipocrisia, você não acha?

A Haruno apertou os punhos e emitiu um som estranho, como um rosnado. Ela estava se segurando para não bater na ruiva, mas Karin estava pedindo por aquilo. Ah, e como estava...

–Eu e o Sasuke sempre fomos muito cuidadosos. Sempre nos preveníamos... Nunca precisei me tornar uma Uchiha por causa de um descuido, se é que me entende. - Ela riu debochadamente - E quanto a você? Tão desesperada que agora está grávida. Se você fizes...

Karin não pôde concluir o que estava falando. Sakura lhe dera um soco na cara que a mandou longe.

Algumas pessoas ficaram com os olhos arregalados, algumas começaram a incentivar a briga, e outras recomeçaram as fofocas e especulações. Sasuke, porém, tinha um ar indiferente, como se pouco se importasse com as duas garotas ali brigando por sua causa.

–O que é, Uchiha Sakura? - A ruiva zombou enquanto se levantava - A verdade é dolorosa de mais? Se fosse mentira, você negaria, mas se você perde a razão com uma simples provocação, é porque é realmente verdade.

–Muito pelo contrário! Eu te bati porque o que você está dizendo é mentira. Eu. Não. Estou. Grávida! - Ela disse em alto e bom som, encarando todos os curiosos que estavam na rua - E mesmo se estivesse, isso não seria da conta de nenhum de vocês! Não a quero caluniando o meu nome, Karin. Portanto, se continuar com isso, eu vou te dar um soco de verdade da próxima vez!

A ruiva exibiu outro sorriso irônico. Ela estava prestes a falar alguma coisa, mas Sasuke fora mais rápido:

–Já chega disso! Vocês duas são irritantes! Tsc! Sinto muito, Karin, mas eu não posso fazer nada por você, e quanto a você, Sakura, vamos embora. Agora - Dizendo isso ele enfiou as mãos nos bolsos e saiu andando.

Sakura assumiu uma expressão de choque e espanto. Ela não esperava que ele fosse dispensar a ruiva daquele jeito, sem no mínimo lhe dar um beijo, e muito menos dar uma de "o macho dominante da relação". Ela então o seguiu, até porque, se continuasse ali, iria bater em Karin novamente e nas demais pessoas, afinal as fofocas haviam recomeçado.

***

–Ah, agora quer dar um de marido superprotetor. Mas você é um descarado mesmo! Desde quando você manda em mim, Sasuke-kun? - A rosada perguntou com certa irritação.

–Desde quando você acha que pode dar uma de esposa ciumenta e ameaçar a minha amante? - Ele perguntou rindo irônica e debochadamente.

–Hunf! Olha aqui, eu não estou boa com você! Não fale comigo! - Ela disse e saiu andando na frente. "Amante? Precisava jogar na cara? Eu... Eu... Acalme-se Sakura! Não se abale com isso e nem comece a chorar! Você não disse que ia ser fria e insensível?".

–Será um grande prazer.

O casal então continuou andando em silêncio e aturando os olhares e a fofoca por onde passavam.

Ao chegarem ao Distrito Uchiha não fora diferente. Continuaram sem se falar como se fossem duas pessoas que se detestavam, mas que eram obrigadas a conviver juntas. E ei! Era exatamente isso. Mais ou menos.

Eles passaram a área comercial do bairro e se dirigiram para a casa em que estavam morando. Instantaneamente, assim que abriram a porta, uma mulher de olhos verdes pulou, sacudindo as mãos e gritando "Bu!". Os dois assustaram-se e assumiram uma expressão de quem é pego em flagrante fazendo algo errado.

–O-Okasan?! - A rosada tinha os olhos arregalados.

–Sasuke-kun! Sakura-chan! - Kin os cumprimentou rindo - O que vocês estão fazendo aqui?

–Acho que sou eu quem deveria perguntar isso - O Uchiha murmurou e ergueu uma sobrancelha.

–Nós... Nós moramos aqui, ora - Sakura respondeu tentando soar natural.

–Ah, claro. É verdade. - A Sra. Haruno assentiu e sorriu com travessura - Bem, bem... Eu vim aqui por que queria pedir uma coisa... Sasuke-kun, você poderia me emprestar a receita de dangos do Itachi-san? Eu sei que seria muito mais fácil se eu comprasse naquela loja em que a Anko-san vai quase todo dia, mas não faz sentido gastar meu dinheiro sendo que eu mesma posso fazê-los, você não acha? E como eu sei que seu irmão é viciado em doces, é bem provável que ele a tenha.

"Como é que é?! Você veio aqui apenas para isso?" - Kin-san - Sasuke começou, tentando não demonstrar sua irritação -, não acho que isso seja possível.

–E por que não?

–É, Sasuke-kun. Por que não? - A rosada ergueu uma sobrancelha e exibiu um sorriso debochado, provocando-o.

–Primeiro porque, apesar de sermos irmãos, não acho certo que eu mexa nas coisas dele sem sua presença e seu consentimento. E segundo porque, como você mesma disse, meu nii-san é viciado em doces, então ele provavelmente decorou a receita, sem ter se dado ao trabalho de anotá-la.

–Ah, ele tem sim, e com certeza não vai se importar. Eu copio rapidinho e guardo de volta.

–Kin-san... Eu acho que...

–A receita está na cozinha, em cima do armário! - Ela disse decidida, parecendo uma criança fazendo birra.

–O quê?! Como você sabe?

–Eu vi, ora.

–Você viu? Quer dizer que esteve na casa principal? - Ele ergueu uma sobrancelha - Então porque não copiou de uma vez?

–Eu vi... Acabei de ter uma visão dos céus me dizendo que ela está lá. - Ela corrigiu-se rapidamente - Por favor, Sasuke-kun. Você não vai fazer essa desfeita com a sua sogra, vai?

–É verdade Sasuke-kun. Você não pode fazer isso. - A rosada ainda ria zombeteiramente - Você tem que tratar bem a minha okasan. Esqueceu de que se não fosse por ela eu nem teria nascido? Se isso não tivesse acontecido você não teria tido a sorte de me ter como sua esposa.

"Eu realmente queria ter tido essa sorte, Sakura. E sogras são irritantes, só para constar." - Ah, tudo bem. - Ele suspirou - A Sakura e eu apenas íamos namorar um pouco. Talvez até arrumar um neto para você, um novo membro do clã Uchiha. Mas isso pode esperar, não é mesmo Sakura?

–S-Sasuke-kun...?!

–Mas mais tarde... - Ele sorriu ironicamente - ... você não me escapa.

Era impossível dizer quem estava mais vermelha: Sakura ou Kin.

"Ah meu Kami! Por favor, me leve! Já estou pronta para me encontrar com o Senhor" - Sakura pensava enquanto tentava, desesperadamente, esconder o rosto atrás do cabelo.

–Ah, bem... - Kin limpou a garganta, tentando agir naturalmente - Isso é muito importante, claro, mas deixem para depois. Agora, pegue a receita para mim, por favor?

Ele soltou outro suspiro demorado e assentiu, andando em direção à casa principal. Imediatamente Kin puxou a filha e o seguiu.

–Okasan?!

–Você não precisa ficar aqui sozinha. - A Sra. Haruno sorriu - Vamos conversando no caminho.

***

Kin, que havia soltado a filha, vinha caminhando atrás mais lentamente enquanto contava casos diversos e ria sozinha. Ela provavelmente sabia que o casal à sua frente não estava ouvindo uma palavra sequer, mas isso não parecia incomodá-la.

Assim que sua mãe soltou sua mão, Sakura foi até Sasuke, que andava mais na frente com um ar assassino. Chegar perto dele naquele momento talvez não fosse boa ideia, mas ela não se importou.

–Que ideia é essa de falar aquilo para minha okasan? - Ela reclamou com a voz baixa - Agora ela acha que sou uma ninfomaníaca!

–O que você está tramando, hein Sakura? - Ele perguntou entre dentes e com a voz baixa também - Como você pretende se vingar de mim convidando sua okasan para vir aqui no bairro?

–COMO É QUE É!? EU NÃO FIZ NADA! - A rosada gritou irritada, mas instantaneamente tampou a boca. Ela virou-se para trás lentamente e olhou por sobre os ombros.

–... e aí ela disse: "Mas que garoto mais sem vergonha é esse seu filho!" Eu concordei, claro. E acredita que ela foi pessoalmente... - Kin, completamente alheia ao casal, contava a história animadamente, como se alguém realmente estivesse escutando.

–Eu não fiz nada, Sasuke-kun! - Sakura diminuiu o tom da voz - Sei tanto quanto você: Nós saímos, e quando voltamos, ela já estava aqui. Pronto! A não ser que você...

–Não! - Ele a cortou - Já tenho problemas de mais! Não preciso de mais nenhum. Então, considerando que o fato de você não saber nada sobre isso seja verdade, e hipoteticamente falando...

–Hipoteticamente - Ela disse.

–Você acha que ela está aprontando alguma coisa? Hipoteticamente.

Sakura lançou mais um olhar à sua mãe e gemeu.

–Hipoteticamente? Ah sim. Ela com certeza está! Meu Kami! Será que ela descobriu que é tudo uma farsa e chamou a Tsunade-sama aqui para obrigá-la a nos livrar disso?

–Hunf! - Sasuke revirou os olhos - Primeiro: Por mais persuasiva que Haruno Kin seja, ela não conseguiria e nem poderia obrigar a Tsunade-sama a fazer qualquer coisa. A Tsunade-sama é a prefeita, e tudo o que ela fala é lei! Pelo menos aqui na Vila da Folha. Gostemos ou não, infelizmente temos que obedecer. - Ele tinha uma nota de ressentimento e irritação na voz - E segundo: Se por algum milagre de Kami isso acontecesse, seria uma verdadeira benção, pois estaria me livrando de você - Ele disse e sorriu com ironia.

–Baka. - A rosada murmurou - Então o que você sugere, Grande Uchiha Sasuke?

–Bem, depois que sua okasan copiar a tal receita, que sabe-se lá por que ela quer isso logo hoje, inventamos qualquer coisa e a dispensamos. Fim de papo!

Sakura lançou outro olhar à sua mãe, a qual agora estava rindo sobre algo relacionado ao filho da vizinha que caíra do telhado.

–Vamos usar a sua ninfomania como desculpa para dispensá-la. - O moreno disse naturalmente - Diremos que você está desesperada. Praticamente subindo pelas paredes.

–O QUÊ!? VOCÊ FICOU DOIDO?

Antes que ela gritasse mais alguma coisa, Sasuke, que já estava com a mão na porta, correu-a para o lado, abrindo-a.

A primeira coisa foi uma irritante musiquinha de casamento que ecoou na casa principal do Clã Uchiha, seguido de um "Surpresa!" que várias pessoas, até então escondidas, gritaram em uníssono.

"Kami... Por que não desconfiei logo?" – Sakura tinha uma expressão que era algo entre o choque e o desapontamento.

"Ah claro. A cada minuto a situação só tende a melhorar" – Sasuke, que já estava irritado, ao ver aquilo, desejou ardentemente que Tenten estivesse por ali para que pudesse pegar emprestado com ela uma de suas armas.

E para melhorar, Kin começou a fazer chover arroz em cima deles enquanto ria entusiasmadamente.

–Pensaram mesmo que eu iria deixar isso passar batido? Ah não. Mas é claro que não.

Sem parar com a chuva, ela empurrou os dois para dentro da casa.

***

Até onde o casal conseguiu ver, praticamente todos os seus amigos e os familiares deles estavam ali.

Shino, seu pai, Aburame Shibi, e algumas outras pessoas de seu clã estavam num canto mais afastado. Com seus óculos escuros, metade do rosto escondido pelo casaco e as mãos nos bolsos, eles observavam a tudo silenciosa e misteriosamente. Os Akimichi estavam tão ocupados comendo seus salgadinhos, que era impossível saber se sorriam para os "recém-casados" ou para os lanches.

Inuzuka Hana e seu irmão Kiba, que estava sentado em cima de seu enorme cão, Akamaru, riam para os dois, e Tsume puxava a orelha de Jun para que ela ficasse quieta. Do Clã Hyuuga estavam apenas Hinata, com seu sorriso tímido e gentil, e Neji, com seu ar superior, acompanhado de sua namorada, Tenten.

Os Nara estavam todos ali. Shikaku sorrindo encorajadoramente e fingindo ouvir as reclamações de sua problemática, Yoshino, e Shikamaru, com as mãos nos bolsos e um sorriso preguiçoso, acompanhado da sua problemática, Temari, a qual exibia um sorriso irônico e orgulhoso.

Lee não se encontrava ali. Provavelmente ficara em casa, sofrendo por sua amada Sakura, a qual, agora, não se passava de um sonho distante e impossível.

E por último os Yamanaka. Inoichi estava perto de seu amigo, Shikaku, sorrindo, batendo palmas e fazendo algazarra como a maioria. Ino estava com os braços cruzados e um sorriso sarcástico, numa expressão de "Admita! Sou melhor do que você. Agora se abaixe e beije o chão que eu pisei". E Sai estava ao lado dela, com seu sorriso falso.

O fato de o barulhento e cabeça oca Uzumaki Naruto não estar ali não foi surpresa para o "casal Uchiha", afinal ele estava cumprindo as ordens de Tsunade.

Sakura não sabia onde enfiar a cara. Já era ruim algumas pessoas saberem daquele casamento falso, e agora, que toda Konoha sabia, era pior ainda. Ter seus amigos ali, a parabenizando por uma farsa, era constrangedor e... deprimente.

E Sasuke... Bem, para ele, aquilo tudo não se passava de uma grande palhaçada. E, já que pegar algumas armas com Tenten estava fora de cogitação, a ideia de fugir dali lhe passou pela cabeça. Fugir para bem longe de preferência. Talvez para a Aldeia da Areia, no País do Vento. Sim, era uma boa ideia. Ele pediria asilo à Gaara, assim como Temari pedira à Tsunade.

Parado à porta que fazia divisa entre a sala e um corredor, estava Haruno Souma, com os braços cruzados e uma expressão neutra. A rosada, ao vê-lo, sorriu levemente e sentiu-se um pouco mais aliviada, porém ainda tinha muita vergonha.

Ela então caminhou até ele. Ou tentou. Na medida em que andava, os convidados a cumprimentavam, abraçavam, parabenizavam, desejavam um casamento feliz, duradouro e cheio de amor e todo aquele clichê.

Eles não faziam por mal, mas se soubessem o quanto aquilo a estava irritando, com certeza parariam.

Sasuke, não vendo outra opção, suspirou e a seguiu. Era um verdadeiro saco, mas já que fora ele quem começara com aquilo, só lhe restava terminar.

"Definitivamente eu me odeio!" – Ele pensou ressentido enquanto era abraçado e parabenizado pelas pessoas - "Se eu soubesse que a Tsunade-sama iria me manter preso à isso no fim das contas, eu não teria contado aos Haruno sobre esse casamento falso. Agora tenho que aturar essa bobagem...! Sou um idiota completo!".

Quando conseguiram passar a muvuca e os abraços, Ino, que estava mais distante da confusão, os puxou para um canto mais reservado.

–Circulando! Circulando! - Kin começou a gritar enquanto fazia movimentos giratórios com as mãos - Todos lá pra fora onde organizamos a festa! Esta sala está muito cheia e apertada. Não quero ver ninguém aqui! Todos para os fundos da casa! Andando meus queridos! Andando! E ei! Onde estão os noivos? Alguém viu a Sakura-chan?

–Ela já está lá fora! - Ino disfarçou a voz e gritou.

–Ah, claro - A Sra. Haruno assentiu e continuou conduzindo as pessoas para o quintal dos fundos.

–O que é agora? - Sasuke perguntou irritadamente.

–Vou lhes dar um resumo dos fatos. - A Yamanaka explicou simplesmente - Vocês devem estar confusos.

–Bastante - A Haruno admitiu.

–Mas e essa lombriga anêmica?... - O Uchiha apontou para Sai - Por que ele está aqui? Desde quando vocês se dão bem, Ino? E por que ele insiste tanto em mostrar essa barriga!?

–Lombriga... Anêmica? O QUÊ!? - A loira irritou-se - Sasuke-kun, eu não permitirei que você fale mal do Sai-kun assim! E nem da barriga dele!

–Sasuke-kun, não há motivo para toda essa animosidade. - Sai continuava com seu sorriso falso - Eu estou apenas ajudando a Ino.

–Ajudando? Ajudando em quê? - Sakura ergueu uma sobrancelha desconfiada.

–Sakura - Ino começou -, eu tenho que te dizer... Sua okasan é doida! - Ela arregalou seus olhos azuis.

–Depois de hoje cheguei à mesma conclusão.

–Escuta - Sasuke as interrompeu -, o dia hoje está sendo uma porcaria e eu realmente estou irritado com tudo isso. - Ele cruzou os braços e falou com arrogância - E você, Ino, me "sequestrando" de uma festa que, só para constar, eu não gostaria de estar, não ajuda em nada, então seja lá o que você tem para falar, desembuche logo!

A rosada revirou os olhos e Sai fez uma careta. Eles deviam ganhar um prêmio por aturar tanta arrogância vinda de uma pessoa só.

–Ei, Ei! Não aja como se mandasse em mim! - A loira reclamou - Estou lhe fazendo um favor, portanto cale a boca e escute! - Ela o encarou duramente, e logo em seguida suspirou como se estivesse se acalmando - Hoje, de manhã cedo, Kin-san me ligou. E quando digo cedo, é realmente cedo. Às 06:00h mais especificamente. Ela queria saber o porquê de eu não tê-la contado sobre o "casamento" de vocês. Eu, que havia acabado de acordar, não estava com meus sentidos muito aguçados. Até tinha me esquecido de que isso era falso, daí eu perguntei: "Que casamento? Eles se casaram?". Foi o Apocalipse! Não sei como não fiquei surda depois de tanto falatório. Sakura, tenho que te falar... Não sabia que sua okasan tinha um pulmão de ferro! Depois de um infindável discurso daqueles, era impossível eu não acordar...

–A versão resumida, por favor - O Uchiha a interrompeu impacientemente.

–Já mandei calar a boca! Apenas escute! Como eu dizia... Quando eu já estava um pouco mais acordada, comecei a entender do que se tratava. Se quer saber, fiquei bem surpresa ao saber que vocês haviam contado isso à ela. Pensei que fosse segredo...

–E era! - Sakura disse entre dentes - Cortesia do Sasuke-kun - A voz dela era acusatória.

O Uchiha revirou os olhos. Ino e Sai trocaram olhares, como se tivessem andado fofocado sobre o casal.

–Certo, mas agora parem de me interromper! - A loira reclamou - Bem, bem... Assim que eu consegui "acalmar" sua okasan, ela começou a despejar uma torrente de tarefas sobre mim. Eu disse: "Kin-san, do que você está falando?". Ela soltou uma risada como se fosse algo óbvio e falou: "Ora, Ino-chan! Já que não fiquei sabendo do casamento, vou surpreendê-los com uma festa. Tem que ser uma festa de casamento decente, e você vai me ajudar!". E, bem, aqui estou eu. - Ela sorriu - Kin-san ficou vigiando vocês. Assim que saíram, ela começou com a arrumação e me mandou convidar as pessoas e comprar as coisas. O Sai-kun me ajudou, é claro.

–Ino, ultimamente o Sai tem estado sempre com você, então isso não seria surpresa - Sakura revirou os olhos.

–Calada, Testuda! Eu ainda estou irritada com você por causa de anteontem, mas mesmo assim estou aqui colaborando com vocês, portanto fique grata!

A rosada bufou e cruzou os braços numa expressão de desdém, como se Ino fosse uma criança irritante, e aturá-la fosse um sacrifício.

–Certo, escutem, nós temos que voltar agora ou a Kin-san vai começar a pirar ou fazer sabe-se lá o que - A Yamanaka advertiu enquanto encarava o casal à sua frente.

Sakura tinha uma expressão de desapontamento e Sasuke tinha um ar irritado enquanto "fuzilava" o chão com seu olhar mortal. Provavelmente estava se auto flagelando por ter contado sobre o "casamento" aos Haruno, ou praguejando contra Tsunade por ela não tê-lo livrado daquilo.

–Movam-se! - Ino gritou.

As narinas de Sasuke se inflaram e seus olhos brilharam de ódio. Aquele dia, definitivamente, estava ganhando o prêmio de "O dia que começou bom, mas virou uma verdadeira porcaria". Ele então emitiu um barulho estranho, como se estivesse rosnando.

–Ei, ei! Se você não queria passar por isso, não deveria ter contado à sua "sogra". Agora aguente! - Dizendo isso, ela empurrou os dois para fora do "esconderijo", indo para os fundos da casa.

O quintal fora meticulosamente arrumado para uma festa de casamento.

Havia mesinhas e cadeiras distribuídas pelo local, decorações típicas para a comemoração - nas quais predominavam o branco, o preto e o prata -, uma banda tocando músicas lentas e românticas, pessoas transitando pra lá e pra cá, rindo, conversando e comendo, e no centro, sobre uma mesa de mogno, coberta por um forro branco com bordados prateados, não podia faltar: O bolo.

Três andares com grossas e exageradas camada de glacê - que com certeza deixariam qualquer um acamado por desidratação, devido às infindáveis idas ao banheiro que a dor de barriga iria provocar - nos sabores baunilha, coco e morango, uma em cada andar e, é claro, dois bonequinhos no topo representando os noivos. Um com o cabelo preto e a outra com o cabelo rosa.

A bonequinha, em um vestido branco, estava ajoelhada e com as mãos juntas à frente do corpo, como se implorasse e o bonequinho, com um terno preto, tinha os braços cruzados, a sobrancelha erguida e um sorriso irônico (Sakura não achou a menor graça).

A mesa do bufê fora colocada ao lado da porta, por isso os quatro, ao passarem por ela, se depararam com Chouji e seu pai, Akimichi Chouza, atacando as variedades.

–Ah! Achei vocês! - Kin suspirou aliviada ao ver sua filha e seu "genro" parados à porta. Ela tinha dois embrulhos nas mãos enrolados com papel pardo. Logo em seguida dirigiu-se à loira: - Ino-chan, onde esteve? Te procurei em toda parte!

–Ahn... Bem, Kin-san, eu... - A Yamanaka gaguejou.

–Não importa. Escute, já que você está me ajudando na festa, comece a servir os convidados antes que Chouza-san e o filho comam tudo.

–O QUÊ!?

–Ora, achou que seria assim tão fácil? A felicidade dos convidados antes da nossa, é o que eu sempre digo.

–Você nunca diz nada disso - Ino e Sakura resmungaram.

A Sra. Haruno sorriu, fingindo não ouvir e continuou:

–E como o Sai-kun ajudou o dia inteiro, ele não vai te decepcionar logo agora, vai? - Ela entregou um pacote para a Yamanaka e o outro para Sai.

–O que é isso, Kin-san? - Sai perguntou enquanto apertava o embrulho macio e fofo - Li num livro que quando você recebe algo, quer dizer que você é muito querido pela pessoa que o presenteou.

–Bem, você é querido por mim, é verdade. Mas nesse caso, isso são seus uniformes. Quero que essa festa seja perfeita, e quem trabalha nela tem que estar impecável. Agora vamos, vamos! Vão se trocar. Há muitos convidados e não quero enrolação! No meu plantão não - Dizendo isso ela empurrou os dois de volta para casa para que se trocassem, e puxou o Uchiha e a Haruno.

***

Sem qualquer chance de protesto, a Sra. Haruno os fez sentar à uma mesa que estava longe do bufê. Assentou-se também, de frente, para eles e ficou encarando-os com um enorme sorriso.

O casal trocou um olhar desconfiado, como se dissessem "Ela está em seu juízo perfeito?".

Repentinamente, Kin pulou a mesa, abraçando a filha e rindo sem parar.

–Sakura-chan...! Eu estou tão orgulhosa de você!

"Como é que é?!" - A-Arigato, okasan... - Ela murmurou meio sem jeito. Talvez por estar sendo sufocada - Mas... Mas... E ontem? P-Por que essa mudança repentina? Até ontem você estava irritada comigo...

–Ah, bobabem! - Ela a soltou e ajeitou-se na cadeira - Eu estava estressada com a situação. Vocês chegando com uma notícia bombástica, seu otosan ameaçando atirar no Sasuke-kun... Uma confusão. Sem falar que eu fiquei sabendo por último sobre o casamento de vocês. Sabe o quanto isso me enfureceu e chateou? Mas como não adianta chorar o leite derramado, levei na esportiva. E já que não pude participar do casamento, decidi dar uma festa. Queria fazer uma surpresa. - Ela riu - Tcharan!

–É... Que surpresa - A rosada murmurou.

–Mas da próxima vez que tiverem uma novidade para contar, me avisem com antecedência para que eu organize uma festa melhor. Organizei tudo hoje pela manhã, às pressas. Foi uma correria e não saiu bem como eu queria...

Sasuke e Sakura olharam em volta com uma sobrancelha erguida. Se aquela mulher organizara aquilo tudo em uma manhã, em cima da hora, imagina que tipo de festa seria se ela tivesse tido mais tempo para se planejar.

–Não precisava ter se preocupado com isso, okasan. Nem gastado seu dinheiro. Isso tudo deve ter ficado caro.

–Tsc! Deixe disso. Você é minha filha e merece o melhor. E sabe, se não fosse a Ino-chan e o Sai-kun para me ajudar eu não teria conseguido.

Naquele momento Ino passou ali perto, bufando e com uma bandeja em mãos. Ela trocara seu habitual conjunto roxo por um vestido preto acima das coxas com uma anágua bastante volumosa, avental branco de babados, meias brancas na altura dos joelhos, sapato preto fechado e uma tiara branca. O tal uniforme parecia roupa de empregada, daquelas que se vê em filmes, mas Sakura achou melhor não comentar.

–Eu ia organizar a festa na casa de vocês, é claro - Kin continuou -, mas estava uma sujeira, uma bagunça que até pensei "Não acredito que eles moram aqui. Não tem cabimento". Quase parei para limpar, mas eu estava com pressa, então fui em outra, e adivinha: Estava um chiqueiro também! Em todo lugar havia copos, pratos, restos de comida, garrafas de bebida... Fiquei chocada!

–Ah, sim... O Sasuke-kun inventou de dar uma festa lá outro dia - Sakura disse entre dentes enquanto encarava o moreno.

–Pois é. - Ele concordou - Você, Kin-san, que adora uma festa deveria ter vindo. Esqueci de te convidar e isso é imperdoável! Você realmente perdeu... Estava muito boa. - Ele sorria ironicamente para a rosada - Não é, Sakura?

–Hunf! Maravilhosa - A Haruno tinha os olhos crepitando de ódio. Ela queria meter a mão na cara daquele Uchiha. Ah! Como queria.

–Fiquei sabendo dessa festa. Dizem que foi mesmo muito boa. Todo mundo andou comentando. - Kin deu pouca importância ao fato - Bem, como eu dizia... No fim decidi fazer a festa aqui. Como já disse, estava em cima da hora, então eu...

–Kin-san. - Sai a interrompeu. Ele tinha uma bandeja cheia de copos à mão e vestia camisa preta de manga comprida com botões brancos de cima a baixo, calça preta e sapato também preto. Ele se parecia com aqueles homens que trabalham em hotéis carregando as malas dos hóspedes. E ao contrário de Ino, não parecia tão furioso com a situação - Precisamos da sua ajuda. Os Akimichi estão comendo praticamente tudo, não deixando nada para os demais. Sem falar que a Ino e eu não estamos dando conta de servir a todos sozinhos. E ela já está bem irritada.

–Ah, pois bem... - A Sra. Haruno suspirou e levantou-se - Eu queria conversar mais, mas o dever me chama. Espero que se divirtam.

Ela saiu reclamando com Sai por ele não ter tomado uma providência e encomendado mais comida.

–Eu, definitivamente, estou começando a não gostar tanto de Haruno Kin-san como antes. - O Uchiha falou duramente - Agora está explicado o porquê de você ser tão irritante.

Sakura não reclamou. Ela se limitou a abaixar a cabeça sobre a mesa, soltando gemidos de frustração. Aquela festa fora uma péssima ideia.

–É... Não tem outro jeito. - Sasuke suspirou - Vamos ter que entrar no espírito e fingir. Quem sabe assim ela vai embora mais rápido? - Ele sugeriu.

A Haruno levantou a cabeça extasiada. Uchiha Sasuke propondo aquilo? Que novidade.

***

Os dois levantaram e começaram a circular pela festa. Ou tentaram. Mal caminharam alguns metros e seus amigos aglomeraram em volta deles falando todos ao mesmo tempo. Estavam apenas esperando que Kin se afastasse do casal.

A falação, a perguntação, as risadas e os gritos histéricos - a maioria vindos de Tenten - não tinham fim.

Sakura mal respondia a uma pergunta de Temari e já vinha Neji insinuando alguma coisa. Sasuke mal forçava um sorriso, tentando fingir felicidade por estar "casado" com a rosada, quando outra torrente de perguntas se iniciava.

Todos queriam saber a mesma coisa: Quando se casaram; por que mantiveram segredo; até quando Sakura negaria a gravidez e por aí a fora.

Quando a situação se acalmou um pouco e ela conseguiu convencer a todos de que não estava grávida, novamente tudo se repetiu, mas dessa vez com os familiares de seus amigos e os demais convidados. Todos queriam saber, perguntar, ou simplesmente ter motivo pra falar mal da vida alheia.

A notícia de que estava havendo uma festa de casamento no Clã Uchiha correu tão rápido pela vila que até quem não fora convidado apareceu por lá para xeretar e filar a bóia.

A casa principal do clã estava abarrotada de gente, e quando o casal conseguiu acalmar a todos, responder todas as perguntas, rir e fingir com todo mundo já eram 16:35h.

Eles estavam esgotados, então foram até a mesa comer alguma coisa.

–Sasuke! Sakura-chan! - Naruto gritou de repente.

–O quê?! - O casal assustou-se ao ver o loiro parado na porta.

–Como é que uma coisa dessas pode estar acontecendo e eu nem fiquei sabendo? - Ele riu e começou a servir-se também.

Sakura pegou o que iria comer e tratou de escapulir dali antes que Naruto começasse a fazer perguntas intimas, sem escrúpulos e que no fim resultariam na surra que ela daria nele.

–O que está fazendo aqui, dobe? - O Uchiha perguntou sorrindo ironicamente enquanto bebia sakê - Por acaso já terminou de fazer o que a Tsunade-sama mandou?

–Ah! Para os cocos com aquelas tarefas! - Ele reclamou - Ei, por que a Sakura-chan fugiu?

–Pra não ter que te aturar, provavelmente.

–Hunf! De qualquer forma, ainda não terminei de fazer aquelas coisas para a obaachan. E nem vou terminar, 'ttebayo! Ao menos não hoje. Tenho que prestigiar meus amigos. - Ele riu - Eu estava varrendo a rua e percebi que estava tudo calmo demais. Foi aí que ouvi umas garotas falando sobre essa festa. Você, hein? Nem para me contar... Bem, isso é algo inesperado, levando em conta que você não a suporta. Ou costumava não suportar. - O loiro deu de ombros e riu - Vai entender. É assim que o amor funciona - Ele disse enquanto olhava para Hinata, que estava sorrindo e conversando com Sakura, Temari e Tenten.

–Ah, cala a boca Romeu - O Uchiha riu descontraidamente.

Ele não queria admitir, mas por mais que ele e Naruto vivessem brigando, eram melhores amigos, e tê-lo ali como companhia fazia com que a festa se tornasse menos chata.

O Uzumaki, que tinha começado a se afastar, estacou no lugar e voltou até Sasuke. Ele tinha um sorriso sacana e mexia as sobrancelhas como se tentasse seduzi-lo.

–O que você está fazendo, dobe? - O moreno perguntou com repulsa na voz.

–Eu estava pensando, Sasuke. - Ele começou a cutucá-lo com o cotovelo. O sorriso pervertido não lhe saía da cara - Se vocês estão casados, quer dizer que já... hum... Ku, ku, ku... Como foi a primeira vez com a Sakura-chan?

O Uchiha arregalou os olhos enquanto seu cabelo e todos os pêlos de seu corpo se eriçavam.

–O quê!? - Na mesma hora ele deu um soco na cara do amigo, derrubando-o no chão.

De uma vez só várias cabeças se viraram para ver a cena: Sasuke chutava e pisava no loiro.

–Eu deveria saber! Vindo de um pervertido que espia as garotas nas termas...! - Ele deu um último chute antes que alguém - Kin - fosse até lá impedi-lo.

–Eu só perguntei, dattebayo. - Naruto gemeu enquanto se levantava - Não era pra tanto, teme. Hunf!

Sasuke lhe lançou um olhar frio, e logo em seguida fez o mesmo com os curiosos. Na mesma hora a festa voltou a seguir normalmente, como se nada houvesse acontecido. Ninguém era doido o suficiente para contrariá-lo.

–É por isso que a Tsunade-sama te castiga. Você só tem lixo nessa sua cabeça! - O moreno suspirou - Aliás, deixa só a Hinata ficar sabendo dessas coisas... Eu sei que não passa de amizade, mas ainda assim ela gosta de você, e você aprontando desse jeito só vai magoá-la.

–Ah claro. Quando eu precisar de dicas românticas já sei a quem recorrer. E você ainda me chama de Romeu... Hunf!

–Então tá. Deixa eu ir lá contar para ela que você andou espiando umas garotas hoje.

Na mesma hora o loiro ficou vermelho e sua temperatura aumentou.

–O-O quê?! N-Não, por favor, não vai não. S-Se a Hinata descobre que eu a vi nas termas, ela nunca mais fala comigo.

–O quê?! Você estava espiando a Hinata? A Hyuuga Hinata?

–H-Hai. O Konohamaru me contou que ela ia se banhar hoje cedo, então eu fui conferir. Ela tem um corpinho tão lindo... E o jeito que ela prendeu o cabelo foi tão... Tão... - O Uzumaki suspirava apaixonado.

–Ah, mas você não tem medo do perigo mesmo! Eu já deveria saber... Se o Hiashi ou o Neji descobrirem, você está no sal, Naruto!

–E quando ela foi experimentar a temperatura da água... Ela tem um pezinho tão delicado... - Ele continuava suspirando, alheio ao que Sasuke dissera - Acho que eu estava cego por não a ter percebido antes... Mas é sério. Acho que estou apaixonado...

–Tá. Já entendi. - O Uchiha revirou os olhos - E quando foi a parte em que a Tsunade-sama te pegou no pulo?

–O-O quê?! Ah não. Não foi a obaachan. Eu estava agachado em cima do telhado, mas meu cabelo ficou aparecendo, daí uma garota me viu e gritou "Mulheres! Tem um homem aqui! Um pervertido!". E sabe aquela garota, a Aoi? Pois é. Ela correu atrás de mim e não descansou até me pegar, 'ttebayo. Levei uma surra, claro, e depois ela me arrastou até a obaachan. Por sorte, na correria, a Hinata, com medo de ser vista, desesperou-se e saiu correndo sem olhar pra trás. Fui salvo, dattebayo. Se ela tivesse me visto...

–Você não tem jeito mesmo... - O moreno riu e virou o resto da garrafa.

***

Após algum tempo, quando os ânimos haviam esfriado um pouco, e estavam quase todos explodindo de tanto comer e ficando surdos devido às musiquinhas irritantes, Kin pediu para que a banda parasse - o que fizeram com muito prazer, indo atacar as comidas logo em seguida - e que todos se ajuntassem no centro.

Como numa festa de casamento convencional, ela não se conformou em deixar tudo passar em branco, e não se aquietou enquanto não fez seu discurso, desejando felicidade aos noivos, dizendo palavras de incentivo, histórias de quando Sakura ainda era pequena, obrigou outras pessoas a fazerem o mesmo e propôs um brinde ao casal.

Sasuke já estava mais do que furioso com toda aquela situação, e Sakura também estava indo pelo mesmo caminho. Mas o que se podia fazer?

Kin queria "eternizar" o momento, ela então contratou um pintor - o porquê de um pintor ao invés de um fotógrafo ninguém nunca soube.

Em meio aos protestos do casal, os quais de nada adiantaram, o pintor os posicionou perto do bolo. Sasuke atrás, segurando a cintura de Sakura, e ela, colada ao seu peito com as mãos sobre as dele.

–Eu acho que eles deveriam aparecer se beijando na pintura. - Kiba sugeriu, rindo maliciosamente - Seria mais romântico. Até porque estou doido pra presenciar isso.

–E você não é o único. - Ino, que havia parado de servir os convidados sorria zombeteiramente - A ideia dele é excelente, Sakura. Você não acha?

"Vou te matar, Ino-vadia!" – A rosada rangia os dentes.

–Não! - Sasuke sibilou - Quero dizer, isso não é necessário.

–É, não precisa - Sakura exibia um sorriso amarelo tentando contornar a situação.

–Ah, mas a sugestão de seus amigos é maravilhosa! - Takumi, o pintor, riu empolgado - Vamos, vamos! Vou pintá-los primeiro na posição de antes e depois de vocês se beijando.

–Não. - O Uchiha era categórico - Até por que isso vai demorar uma eternidade.

Kin então começou a descabelar-se e a brigar com Souma por ele não ter a aconselhado sobre fotografias serem mais rápidas e práticas que pinturas.

–Ah, mas nós ainda queremos ver o beijo! - Kiba insistiu.

Ino então começou a fazer algazarra, gritando "Beija! Beija!" e batendo palmas, sendo seguida por Kiba, Naruto, Tenten e no fim por todo mundo.

A rosada tinha uma expressão de cansaço e culpa, e o moreno de ódio.

–Tudo bem. - Ele rosnou e a beijou na testa - Satisfeitos?

–O quê!? Você chama isso de beijo? - A Yamanaka gritou - Que homem mais mole! Queremos um beijo de verdade!

–Você vai ter que me beijar - A Haruno murmurou entre dentes, de modo que apenas o Uchiha escutasse.

–Beija! Beija!

–Não - Ele murmurou de volta.

–Sabem como se beija? Encostem os lábios um no outro, abram a boca e...

–Então invente uma desculpa bem convincente para não fazê-lo.

–Beija logo caramba!

Sasuke emitiu um barulho estranho e suspirou. Aproximou-se da rosada e lhe deu um selinho.

–Ah não! Beije-a direito. Com vontade! - Jun, que estava de mãos dadas com Hana, reclamou - Seu fracote.

"Cale a boca pirralha" – Os dois pensaram a mesma coisa.

–Ui, ui Sasuke-chan! - O Uzumaki debochou - Tudo isso é vergonha? Vergonha do quê, Coelhinho?

–Olha aqui, Sasuke! Eu vou jogar essa pedra na sua cabeça! Mostre serviço! - Gritou o Inuzuka.

Não tinha mais jeito. Sasuke então a beijou novamente, e dessa vez fora de verdade.

Ele aproximou seu rosto e roçou seus lábios contra os dela, beijando-a calmamente logo em seguida.

Naquele momento Sakura esqueceu a raiva que estava sentindo do Uchiha. Apesar de ser meramente uma encenação, ela realmente queria aquilo, então é claro que ela permitiu o beijo; entreabriu os lábios, dando passagem para que a língua dele explorasse todos os cantos de sua boca.

Não parecia mais apenas uma brincadeira. Pareciam estar levando realmente a sério - até mesmo o moreno -, pois a intensidade do beijo era tanta que eles moviam o rosto para tentar acompanhar o ritmo um do outro.

O beijo estava tão "caliente" que a rosada sentiu-se impelida a passar os braços ao redor do pescoço dele, enfiando os dedos entre seu cabelo macio e sedoso, e ele, a segurá-la possessivamente na cintura.

O alvoroço foi geral naquela casa, juntamente com os latidos de Akamaru.

–Tá bom! Chega! Já deu!

–Não precisa engoli-la, meu filho!

–Querem mais privacidade? Vão para o quarto!

–Calma aí, Sasuke! Quê isso? Tá tentando arrancar a roupa dela?

Eles então se separaram e ficaram se encarando por alguns segundos com a expressão confusa, como se não acreditassem no que haviam acabado de fazer.

Rapidamente Sakura desviou os olhos.

***

Após isso, não teve jeito. Eles foram obrigados a ficar parados para que Takumi os pintasse. Quando terminou já era por volta das 20:00h - Kin lhe deu uma gorjeta extra para que andasse mais depressa.

A banda voltara a tocar. O bolo fora partido por Sakura e o primeiro pedaço amassado na cara do Uchiha.

Ela literalmente fizera isso. Cortara uma fatia, e ao invés de colocar na boca dele, a amassou no seu rosto enquanto ria inocentemente. Ele também fez o mesmo, sujando não apenas o rosto dela, mas seus braços e roupas também, pois ela tentara fugir dele.

Mais ao fim da festa, quando os xeretas, intrometidos e algumas pessoas começaram a ir embora, Kakashi, o Capitão Yamato, alguns policiais, Shizune e Tsunade apareceram por lá.

Os policiais, Kakashi e o Capitão Yamato desejaram felicidades, zoaram um pouco, comeram alguma coisa e foram embora dizendo que passaram ali rapidinho apenas para prestigiá-lo, pois precisavam fazer a ronda, perseguir bandidos e coisas do gênero.

–Aguardamos sua volta, Sasuke. O que passou, passou. - Yamato disse sorridente - Só espero que suas atitudes não se repitam.

Com Shizune fora a mesma coisa. Ela dissera que fora ali apenas para dar apoio á Sakura, mas deveria ir embora imediatamente, pois era responsável pela gestão do hospital, e sem ela por lá os demais médicos e enfermeiros deixariam tudo de cabeça pra baixo.

Quanto á Tsunade, sua história não fora diferente da dos demais:

–Eu sou a prefeita, é verdade - ela dizia enquanto bebia seu amado sakê -, mas isso não quer dizer que eu não possa dar uma rápida passada por aqui.

–É claro, Tsunade-sama - A rosada murmurou.

–Kami, este sakê é maravilhoso!

–Acho que ainda tem comida na mesa - Chouji, que passava por ali naquele momento, falou.

–Beleza! - Naruto, que o acompanhava, gritou empolgado - É bom que vamos poder comer o... Tsunade-obaachan!?

–Naruto?! - Tsunade arregalou os olhos, cuspindo a bebida.

–Escuta, obaachan, o que você me mandou fazer... - Ele não terminou e saiu correndo - Parabéns Sakura-chan!

–Aquele moleque...! - A prefeita sibilou - Não terminou de fazer o que eu mandei! Já deveria saber que ele estaria aqui!

Ela então saiu correndo atrás dele, mas não sem antes beber mais sakê e intimidar o Uchiha:

–Estou de olho em você, Sasuke. Cumpra com o combinado honrosamente, porque se você voltar a aprontar, nós vamos nos entender. E a punição que vou lhe dar não será nada comparada com a de agora.

–Tsu-Tsunade-sama?! - Ele riu descontraidamente, mas ao mesmo tempo com cautela.

–Sim, eu sei que você andou agarrando a Karin. Se não dá valor à sua vida, faça isso de novo enquanto estiver preso à esse acordo e verá o que acontece.

***

As demais pessoas começaram a despedir-se, agradecer pelo convite e ir embora.

Os amigos do casal, porém, ainda queriam fazer uma última coisa antes de partirem. Eles então se reuniram em volta dos "noivos".

–Sakura-san e Sasuke-san - Temari começou -, antes de irmos, gostaríamos de dar-lhes algo. Normalmente, os convidados dão presentes aos noivos, mas não são presentes, na verdade. São apenas pequenas lembranças. Coisas simples. - A loira segurava uma caixa fina e comprida - Deveria ser algo para vocês dois, mas acredito que apenas você, Sakura-san, irá usar. Este é meu e do Shikamaru - Ela entregou a caixa à rosada.

–Temari-san, não precisava. De verdade.

–Bobagem. É apenas uma coisinha à toa. - Ela riu - E se você insistir em repetir isso, vai se cansar, pois todos nós vamos lhes dar uma coisa.

O "casal Uchiha" olhou para seus amigos e viu que cada um tinha um embrulho diferente em mãos.

–Tsc! Foi muito problemático achar alguma coisa pra eu mesmo dar, e como fiquei com preguiça de procurar melhor, aceitem isso como sendo meu também - Shikamaru, que tinha as mãos nos bolsos e um sorriso preguiçoso, murmurou.

A Haruno assentiu rindo enquanto abria a caixa. Dentro havia um leque branco com desenhos pintados em vermelho e dourado.

–Arigato - O Uchiha agradeceu secamente por ele e por Sakura. "Até quando isso vai demorar?".

Os dois então foram embora, mas os presentes continuaram.

Tenten deu um pequeno pergaminho e um canivete, dizendo que aquela fora a menor, menos perigosa e mais simples arma que conseguira arrumar. Neji deu um livro com a árvore genealógica e toda a história do Clã Hyuuga - Como se alguém realmente estivesse interessado em saber disso.

Chouji, com dor no coração, deu um saco grande de batatas fritas. Hinata dera uma caixinha de música que, ao abri-la, dois bonequinhos começavam a valsar. Logo em seguida entregou dois hashis envoltos por um laço vermelho.

–E esse é do... do Naruto-kun. - Ela explicou - Antes de fugir da Tsunade-sama ele pediu que eu lhes entregasse. Ele... Ele disse que é para vocês comerem bastante rámem e... - Ela sorriu timidamente - E que quando tiverem filhos... Levem-nos bastante ao Ichiraku. Foi o que ele disse.

Quando fora a vez de Kiba, o casal teve uma "estranha" vontade de matá-lo. E como já era de se esperar, ele lhes deu um cachorro. Um filhote de pastor alemão de pelagem acinzentada e olhos castanhos.

O Inuzuka entregou o animal à rosada, e ela rapidamente o passou à Sasuke, desferindo em seguida um violento golpe em sua cara.

As poucas pessoas que continuavam ali ficaram horrorizadas. Jun começou a chorar assustada, Hana deu de ombros dizendo que seu irmão apanhou porque mereceu, Tsume gargalhou como se aquilo a divertisse, Akamaru ganiu e Souma e Kin decidiram fingir que não tinham visto nada.

Kiba, que tinha voado na mesa do bolo, levantou-se desorientado.

–Você me bateu só porque sugeri que se beijassem? Meu Kami!

–Ah, não. Não só por isso. - Sakura exibiu um sorriso falso - Isso foi por andar fazendo propaganda negativa a meu respeito pra sua prima, a Jun.

–Tsume-obasan!* Hana-neesan! Vamos embora! Por favor! - Jun berrava - Aquela garota doida vai me bater também!

–O que esperava que eu fizesse? Você acabou de me bater sem motivo. Eu apenas disse a verdade. Você é péssima influência!

–Quer apanhar de novo, Kiba?

Em seguida fora a vez de Ino e Sai - ambos receosos de apanhar também.

Previsivelmente, Ino dera um buquê de flores diversificadas e Sai um pergaminho, pincel e tinta.

O último que faltava era o silencioso, misterioso e esquisito Shino. Ele dera um insetário cheio de borboletas coloridas.

–Pensei em dar outros insetos, mas decidi não fazê-lo. Por quê? Porque vocês provavelmente ficariam com nojo e os matariam.

–Provavelmente. - A Haruno murmurou - Mas agradecemos o gesto.

–Todo mundo já deu presentes? Ótimo! - Sasuke já estava impaciente - Agora vocês irão emb...?

–Uma última coisa. - Shino o interrompeu - Vocês não deveriam se esquecer dos seus amigos. Por quê? Por que eles pensarão que não são queridos e ficarão chateados com vocês.

–Ahn? Do que você está falando?

–Todo mundo está comentado sobre a festa que vocês deram aqui no Bairro Uchiha. Eu não fui convidado e isso me deixou chateado. Por quê? Por que pensei que não gostavam de mim e não me queriam por perto.

–Ai, até hoje você está bolado com isso? - Kiba reclamou. Ele estava sentado no chão enquanto Akamaru lambia o glacê de seu corpo - Ele vai remoer isso até a morte.

***

Quando todo mundo finalmente foi embora, era 00:00h. É claro que Kin queria prolongar a festa e ficar até mais tarde, mas Sakura fora categórica. Afinal, ela e Sasuke estavam esgotados!

–Certo, mas amanhã eu volto com o pessoal da limpeza, porque senão o Itachi-san enlouquece quando ver a casa nesse estado - A Sra. Haruno ria animadamente.

–É claro, okasan - Sakura murmurou cansada e a empurrou pra fora dali.

Assim que a casa ficou vazia, Sasuke apagou as luzes e a trancou. Eles então caminharam em silêncio até a casa em que estavam morando - cheios de presentes em mãos e com o cãozinho latindo incansavelmente.

–Kiba! Aposto que ele nos deu o cachorro mais barulhento que tinha. Vou matá-lo! - Sasuke sibilou enquanto colocava tudo sobre a mesa da sala.

–O cachorro?! O quê?! Não!

–Não, Sakura. Eu vou matar o Kiba. - Ele respondeu lentamente, como se ela fosse idiota - Apenas faça esse bicho calar a boca. E de preferência livre-se dele amanhã.

A Haruno não contestou. No instante em que ganhara o bichinho, ela já começara a pensar em como se livrar dele. Além do mais, estava exausta, e tê-lo ali latindo e mastigando tudo não ajudaria.

Ela então o pôs no quintal dos fundos e fechou a porta. O cachorrinho ficou latindo e chorando, mas antes do lado de fora do que lá dentro.

Quando subiu para o quarto, Sasuke já estava desmaiado na cama, e provavelmente nem tomara banho - ao menos ele lavara o rosto, pois não havia mais rastros de glacê. A não ser que tenha limpado a cara nos lençóis, sem o conhecimento de sua "esposa".

Apesar da raiva que ele a fazia passar, Sakura ficou com pena de acordá-lo e mandá-lo dormir no sofá. Ela então tomou um banho rápido, e no segundo em que deitou ao seu lado e fechou os olhos, apagou de vez.

oOo

Oh meu Deus! Enquanto escrevia esse capítulo fiquei o tempo todo cantando uma musiquinha... Ela grudou na minha cabeça e toda hora me pego cantarolando a bendita! Ela é infantil e acho que todos conhecem. É assim ó:

Row, row, row your boat

Gently down the stream

Merely, merely, merely life is but a dream

Row, row, row your boat

Gently down the stream

If you see a crocodile

Don't forget to scream