Convivência Por Contrato escrita por cellisia


Capítulo 6
Capítulo 6 - Dia Três: 18/05




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A festa só foi terminar na manhã do dia seguinte.

No decorrer da madrugada, vários convidados foram embora, mas quando o sol raiou no Distrito Uchiha, ainda havia pessoas bêbadas jogadas pelos cantos. Isso sem falar nos restos de comida e bebida, pratos e copos sujos espalhados pelo chão, e a música que ainda tocava escandalosamente.

A ressaca e o cansaço eram tão grandes que as pessoas dormiam tranquila e pesadamente, como se o som não as incomodasse.

Em algum momento da noite, Sakura escapuliu da bagunça e foi para seu quarto, mas o barulho era tão intenso, que ela mal conseguira dormir. Já Sasuke não aparecera por lá.

Talvez por ter virado a noite na gandaia, talvez para vigiar e manter a ordem no bairro de seu clã, ou talvez, por não querer ver a cara da rosada depois da briga, dormira na casa principal ou em outro lugar.

O fato é que, quando levantou, Sakura desligou o som e pôs todo mundo pra correr. Ela não se importou com que as pessoas a vissem ali, de pijama, e nem se fariam especulações sobre o porquê de Haruno Souma e Haruno Kin a terem deixado ficar fora a noite toda.

Algumas pessoas foram fáceis de acordar, e elas, quando perceberam, rapidamente foram embora. Outras, que eram a maioria, estavam tão bêbadas, que era impossível estabelecer uma conversa, no mínimo, civilizada. Sakura então começou a chutá-las e a gritar.

Quando ouviram a gritaria, e por já conhecerem seu comportamento violento, mesmo com a ressaca e a dor de cabeça, trataram de dar o fora.

Depois que conseguiu expulsar todo mundo, a rosada encontrou Sasuke jogado em uma escada com uma garrafa de sakê em mãos. E para sua infelicidade, Karin também estava lá. Roncando com uma verdadeira bêbada.

A rosada estremeceu e sentiu raiva e ciúme ao pensar no que eles poderiam ter feito depois que ela fora dormir.

Ela então olhou pro céu. A partir da posição do sol, estipulou ser 07:00h.

"Sinto muito Sasuke-kun. Você me irritou muito ontem, então não posso perder a chance de me vingar." — Sakura pensou enquanto se afastava dali, voltando pra casa - "Já que essa sua ressaca parece ser tão brava, provavelmente, você só vai acordar de tarde. É bom que você se atrasa pro trabalho e ainda leva um sermão do Capitão Yamato. Sinceramente, eu não queria estar na sua pele".

Quando chegou ao quarto, deitou-se novamente e fez o que não pode fazer a noite toda: Ela dormiu.

 

***

 

Ao meio dia, Sakura acordou novamente. Apesar de ter dormido o suficiente, ela ainda se sentia cansada, doída e com os olhos pesados.

Continuar deitada estava fora de cogitação, sendo que estava sendo um incômodo. Ela então se levantou e tomou um banho relaxante. Arrumou-se e desceu.

Por instinto dirigiu-se à cozinha, mas se lembrou de que, exceto o quarto e o banheiro, tudo estava inabitável e intransitável. Ela então saiu de casa.

A casa em que estava morando era distante da qual Sasuke dera a festa, por isso ela não pôde ver se ele e a ruiva continuavam dormindo. Ela nem se importou, na verdade. Queria preencher a cabeça com outras coisas, pois as lembranças da noite anterior, a raiva que passou, o ódio e ciúme que sentiu faziam sua cabeça doer.

Sakura mudou o rumo de seus pensamentos e começou a andar, saindo do bairro fantasma.

Já que não havia comida naquela casa, ela teve que comer fora novamente.

"Tsc! Desde que fizemos esse acordo eu só gasto com comida." — Ela pensou frustrada enquanto entrava num pequeno restaurante. Pediu uma tigela de arroz e alguns bolinhos de bacalhau - "Tenho que dar um jeito de economizar, porque senão vou empobrecer antes mesmo de voltar ao hospital. Preciso voltar a trabalhar l... Kami! Me esqueci da Shizune-san!"

A rosada já estava prestes a se levantar e sair correndo, mas o que ela pediu havia acabado de chegar.

Ela comeu rapidamente, pagou e saiu correndo.

"Espero que ela não esteja muito furiosa comigo".

 

***

 

Shizune tinha acabado de sair de uma sala. A placa de identificação acima da porta dizia "Operação Finalizada".

A morena usava roupas do bloco cirúrgico, e em uma de suas mãos, trazia consigo uma maleta branca e vermelha.

Ela vinha andando pelo corredor vagarosamente, porém com determinação. Tinha uma expressão cansada e frustrada, e vez ou outra parava, encarando o chão.

Quando fazia isso, mordia o lábio inferior e franzia a testa, numa expressão do tipo "Não acredito que isso aconteceu!"

—Oi, Shizune-senpai... - Sakura a cumprimentou - Ahn... Eu... Eu... Me perdoe! Ontem eu perdi a hora. Não me lembrei do nosso combinado. O Sasuke-kun deu uma festa lá no bairro e... - Ela se curvou respeitosamente - Não é que eu não me importe, mas é porque eu só lembrei hoje à tarde. Desculpa...

—Sakura-san... - Shizune falou fria e automaticamente, como se não tivesse ouvido nada que a rosada falara. Ela simplesmente continuou andando.

—Ahn? Shizune-senpai?! Por favor, não me ignore! Eu sei que você está brava, e eu mereço isso, mas, por favor, não me castigue assim. Grite comigo, me obrigue a fazer tarefas estranhas, as quais ninguém quer ou qualquer coisa, mas não me ignore. Eu sei que ultimamente eu não tenho me empenhado muito e pareço não me importar, mas...

—Sakura-san - a morena a interrompeu e parou de andar -, se eu me disponibilizo a lhe ajudar, e você não faz o mínimo de esforço, isso só mostra que você não se importa com a sua carreira. Você não tem que se desculpar. Se você, que precisa da minha ajuda, não demonstra interesse em melhorar, eu não posso fazer nada.

—Shizune-senpai! - Os olhos de Sakura encheram de lágrimas - Por que você está dizendo isso?

—Você deveria pedir a Tsunade-sama para lhe tirar do cargo, assim você não terá que se preocupar com mais nada - A morena disse duramente. Ela não olhava a rosada nos olhos. Mantinha-os fixos em um ponto qualquer - Tsc!...

—Shizune-senpai, que crueldade! Eu quero melhorar sim! É claro que quero. Eu adoro ajudar as pessoas, mas...

—Tenho que ir Sakura-san. Não posso perder tempo! - Shizune falou e voltou a andar - Preciso levar estes... Estes órgãos.

Sakura ficou lá olhando sua senpai se afastar.

"Shizune-san... O que está acontecendo? Você não é assim..." - Shizune-senpai! - Ela gritou e correu atrás dela - O que houve? Por que você está tão frustrada? Parece que a qualquer momento vai desabar. Olha, se você quiser, pode falar comigo. Serei uma ótima ouvinte.

A morena continuou andando em silêncio, até que suspirou rendida.

—Meu paciente faleceu hoje - Ela parou de andar e assentou no chão, encostando a cabeça na parede.

A rosada fez o mesmo.

—Quem era o... o paciente? - Ela perguntou cautelosamente - Eu o conhecia?

—Sim. Sakura-san, Takashi-san faleceu hoje às 10:42h.

—O-O quê!? Mas ele estava tão bem! Você disse que lhe daria alta naquele mesmo dia. - A rosada estava trêmula - Shizune-senpai...

O senhor Takashi era um paciente cardiopata e estava há três anos a espera de um transplante. Durante esse tempo em que esteve acamado, Shizune desenvolveu grande afeto por ele, considerando-o não apenas como um paciente, mas como um avô.

Sakura estava abalada. Apesar da vez em que tentara dar-lhe um soco, ela também desenvolvera grande afeto e respeito pelo idoso. Ela não podia acreditar. O senhor que era sempre gentil e simpático, sempre tentando ver o melhor lado da sua delicada situação estava agora morto.

—Foi um A.V.E. isquêmico. Ele tinha risco de trombose. - A voz de Shizune falhava na medida em que ela falava - Um coagulo pode ter se formado em função da cirurgia e se deslocado até o cérebro. É um processo rápido. - Ela falava mais pra si do quê para Sakura, como se estivesse revendo todos os passos, tentando entender o que fizera de errado - A cirurgia foi um sucesso, mas não sei por que eu não pensei nessa complicação - Ela começou a chorar.

—S-Senpai... - A voz de Sakura também falhava.

—Essa não é a maior sacanagem que você já viu? - Ela riu ironicamente entre as lágrimas - Ele estava esperando um coração há três anos... E quando finalmente consegue, morre três dias depois. Não é ridículo? Agora estou levando os órgãos dele para outra pessoa... Uma ironia atrás da outra.

—Escuta, Shizune-senpai, a culpa não foi sua. Você não pode ficar se martirizando. O que você poderia ter feito afinal?

—Se eu tivesse pensando nessa possibilidade... Se eu tivesse revisado tudo... Eu estava tão feliz por ele que não pensei em nada.

Elas não falaram mais. Shizune apenas chorava e Sakura tentava confortá-la.

—A esposa dele já sabe? - A rosada perguntou após algum tempo.

—S-Sim. Foi ela quem autorizou a doação dos órgãos dele. Ela disse que ele iria gostar disso. De ajudar as pessoas...

—Ei, então por que tudo isso? Realmente é triste, mas o Tak...

—Eu sei o que você vai dizer, Sakura-san, e você tem razão. - A morena secou os olhos e exibiu um sorriso fraco - É por isso que eu não posso mais perder tempo. Há pessoas que terão uma nova chance graças à ele. Preciso ir. - Ela levantou-se - Sakura-san, quanto ao que eu disse antes... Não foi intencional. Era toda essa pressão e esse sentimento de culpa, você sabe. Desculpa. E obrigada também. Eu precisava mesmo desabafar.

Sakura sorriu e balançou a cabeça positivamente.

—Hoje eu tenho que ficar de plantão, mas se você quiser, eu peço alguém pra me cobrir e eu poderei supervisionar seu treinamento.

—Não. Não se preocupe Shizune-senpai. Você tem razão. Eu não estou me empenhando e nem dando valor à minha carreira. Não posso fazer você perder seu tempo comigo. Eu sou um caso perdido - A rosada riu divertida, tentando elevar os ânimos.

—Não diga isso!

—Hehehe! Não se preocupe. Eu vou tomar jeito. Obrigada, mas eu preciso fazer minha parte sozinha.

—Tem certeza? Eu posso...

—Como eu já disse, não se preocupe com isso. Agora vá! Você tem pessoas para salvar. Semana que vem, quando eu voltar, não serei mais um peso. Serei atenta e competente e poderei te ajudar.

—Isso é ótimo, Sakura-san. - Shizune sorriu - Bem, caso precise...

A rosada assentiu e se despediu.

A Haruno saiu do hospital decidida a se esforçar e começar seu treinamento imediatamente. Já que estava proibida de ir à biblioteca, pensou em pedir emprestado os livros de Tsunade.

Ela estava andando em direção a prefeitura, quando se deparou com uma garota de longos cabelos preto-azulados e olhos perolados.

Hyuuga Hinata estava parada, semi-escondida atrás de um poste, como se estivesse vigiando algo ou alguém. Suas bochechas estavam levemente coradas e um sorriso bobo estava em seus lábios.

—Hinata?! - Sakura a chamou.

A Hyuuga deu um pulo, como se tivesse sido pega fazendo alguma coisa errada.

—S-Sakura-san! - Ela estava vermelha feito um tomate - Você... Quando...

—O que está fazendo? - A rosada ergueu uma sobrancelha desconfiada.

—Eu? N-Nada. Estava apenas... Apenas...

—Hahaha! - A gargalhada estridente de Naruto foi ouvida - E aí? O que aconteceu?

—Que pergunta, Chefe! - Konohamaru falou como se fosse óbvio - Até parece que você não conhece aquela doida da Aoi. É lógico que ela bateu nele!

—Ah, então está explicado! - A Haruno exibiu um sorriso malicioso - Mas por que está escondida? Vai lá falar com ele!

—O quê?! E-Eu não posso. - Hinata sorriu timidamente enquanto batia um dedo no outro - Não tenho... Coragem...

—Por que não? O primeiro encontro foi tão ruim assim?

—P-Primeiro encontro? Que encontro?

—Como assim que encontro? - A rosada cruzou os braços - O Naruto me disse que te convidou pra comer rámen. Ah, mas eu te entendo. E não te culpo. Deve ter sido bem ruim mesmo. Comer rámen no primeiro encontro... Quem faz isso? Só aquele baka mesmo!

—Sakura-san... Por favor, não fale assim do... Do Naruto-kun. - Ela pediu com uma voz quase inaudível - Quanto ao que você perguntou... Bem, nós ainda não fomos...

—Ahn? Por que não?

—Ainda não marcamos um dia...

—O QUÊ?! Como assim? Ele te convida pra sair, mas nunca mais toca no assunto? Deixa do jeito que tá pra ver como é que fica?

—N-Não Sakura-san. Você entendeu tudo er...

Hinata não pôde terminar de falar, pois Sakura não se encontrava mais ali. Ela corria furiosa e com os punhos preparados em direção ao Uzumaki.

—NARUTO!!!

—Sakura-chan! - Ele acenou sorridente ao vê-la.

—COMO OUSA?!

—O quê? S-Sakura-chan, acalme-se. - Ele pediu, vendo que ia acabar apanhando - O-O que eu fiz?...

—Você acha que pode brincar... - A Haruno deu um soco na cara dele - COM OS SENTIMENTOS DA HINATA?

—Chefe!

—Naruto-kun!

O loiro foi jogado em direção à uma barraca de frutas. A barraca logicamente foi destruída, as frutas saíram rolando pela rua e Naruto ficou vendo estrelas.

—Minha barraca! - O dono berrou desesperado - O quê...!?

—Garota, você é doida? - Konohamaru gritou furioso - Você vive batendo no Naruto-niichan sem motivo! Vou chamar a polícia pra você! Não, vou ligar pro manicômio! Você é um perigo pra vila!

—Cale a boca e não se meta moleque! - A rosada tinha um olhar maníaco e a voz fria e cavernosa - Se não quiser apanhar também é melhor sumir da minha vista.

De repente o pequeno Sarutobi havia desaparecido. Já Hinata tinha saído de trás do poste e corrido em direção ao garoto semi-inconsciente. Ela ajoelhou ao lado dele e segurou seu corpo mole contra o peito.

—Naruto-kun... Você vai ficar bem... - Ela choramingava enquanto acariciava a testa do loiro - Sakura-san... Por que... Por que fez isso?

Sakura bufou e cruzou os braços.

—Ele precisa aprender uma lição!

—S-Sakura-chan... - O Uzumaki gemeu com uma voz de quem acabara de acordar - Po-Por que você me bateu?

—N-Naruto-kun?! - Hinata assustou-se e o soltou repentinamente, fazendo com que ele batesse a cabeça no chão.

—Ai!

—Me perdoe - Ela pediu timidamente e levantou-se.

—Minha barraca! Ai meu Kami! Que prejuízo! - O dono se descabelava.

Sakura chegou perto do loiro, agarrou a gola de sua blusa e o puxou do chão bruscamente.

—Escuta aqui, que tipo de homem é você? - Ela o sacudia violentamente - Você ainda não aprendeu que não se deve brincar com o coração de uma garota? Principalmente quando essa garota ama você?!

—Sakura-san! - A Hyuuga ficou vermelha.

—S-Sakura-chan, d-do que você está falando?

—Não se faça de desentendido, seu pilantra! A Hinata é minha amiga, então não deixarei que a magoe!

—Sakura-chan... Pare de me sacudir... Estou ficando enjoado... Acho que o rámen que eu comi...

Rapidamente a rosada o soltou e se afastou a uma distância segura. Naruto pôs uma mão na boca e outra sobre o estômago.

—Estou bem. Foi um alarme falso - Ele disse depois de um tempo e exibiu um sorriso fraco.

—Isso é bom, Naruto-kun... - A morena sorriu aliviada.

—Não, Hinata. Não o proteja!

—Minha barraca! Minhas frutas!

—Sakura-chan, eu não sei do que você está falando - Ele coçou a cabeça confusamente.

—Você, seu sem vergonha, fica dando falsas esperanças à Hinata. Se você não está disposto a corresponder os sentimentos dela, não a iluda e nem brinque com seu coração! Ela é muito doce e gentil pra dizer, mas tenho certeza que ela está chateada com você! Você a convida para um encontro, que provavelmente não será nada romântico, e depois não fala mais nada?! - Sakura virou-se para a amiga, sorriu e mostrou o dedão positivamente. Hinata, por outro lado, estava vermelha e com a cabeça abaixada, quase beijando o chão.

—Mas Sakura-chan, isso não é verdade.

—Hunf! Tentando esconder a culpa não é? - Sakura falava com tanta convicção e arrogância que até parecia estar certa e os envolvidos, Naruto e Hinata, errados - Pois me escute bem, baka! Você vai se arrepender quando ver a nova Hinata! Escreva minhas palavras! Quando a ver novamente vai pensar "Por que eu a deixei escapar?". Mas aí será tarde de mais!

A Hyuuga soltou um gemido de frustração, e o Uzumaki fez uma expressão confusa.

—Vem Hinata. - A Haruno foi até ela e a puxou pela mão - Vamos mostrar a ele!

—S-Sakura-san, isso não é... - Hinata tentava fazer força para não ser puxada pela amiga.

—Não, não. Sem desculpas! Ah, e quanto a barraca, você, Naruto, vai arcar com os prejuízos! - Ela disse por sobre os ombros com um sorriso irônico.

—O QUÊ!? - O loiro berrou.

O dono da barraca suspirou aliviado e foi até ele fazendo cobrança.

—Meu dinheiro... - Ele choramingou enquanto abria a carteira de sapinho - Minhas economias...

E quanto à rosada e a morena, já estavam longe. Sakura puxando a amiga com determinação, e Hinata tentando resistir.

 

***

 

—Sakura-san, me escute, por favor. - Hinata pedia enquanto se agarrava à um poste - O Naruto-kun não tem culpa de nada! Eu fiquei muito contente por você me defender, mas o que você fez a ele não foi certo. Você deveria... Pedir desculpas...

—Jamais! - Sakura segurou a cintura da amiga e a puxou pra trás - Ele teve o que mereceu! Hinata, por que está relutando? Solte esse poste! Estou tentando lhe ajudar a ficar linda e sexy e humilhar o Naruto. Colabore comigo!

—Mas é exatamente isso que eu não quero! Sakura-san...

Em questão de força, Sakura era, obviamente, a mais forte. Ela apenas puxou Hinata com mais determinação e a desprendeu do poste. Logo em seguida a arrastou pela vila.

—A primeira coisa a fazer é cuidar da sua pele, por isso nós vamos às fontes termais. O vapor da água quente irá desentupir seus poros e relaxar seu corpo.

—Por favor, Sakura-san, isso não é necessário.

—Que nada! O que foi? É dinheiro? Escuta, eu vou pagar. Hoje o dia será dedicado a você!

A Hyuuga ficou corada e sorriu timidamente.

—Não quero que gaste dinheiro comigo. Realmente não é necessário. Sakura-san, se você parar e me ouvir um minuto...

—Não. Não quero ouvir você defender o Naruto - A Haruno sorriu e puxou o braço da amiga.

A morena suspirou frustrada enquanto era empurrada pra dentro do vestiário feminino.

Hinata ficou sentada esperando a rosada voltar. As garotas que ali transitavam a olhavam como se ela fosse doida, tipo "Nós estamos em uma fonte termal! Por que ainda está vestida?"

"Ai Sakura-san... Suas intenções são boas, acho. Mas você poderia ser menos... Cabeça dura e me ouvir..." — A morena suspirou e encostou a cabeça à parede.

—Hinata! - Sakura a chamou, tirando-a de seus pensamentos - Ei! Por que ainda está vestida? Vamos, vamos tire a roupa!

—S-Sakura-san...! - A Hyuuga ficou corada.

—Escuta, eu comprei um pacote pra nós duas com direito a tudo. Massagem, limpeza facial, manicure e pedicure. Você vai ficar maravilhosa! Vamos fazer o Naruto sofrer! - Os olhos da Haruno brilhavam de empolgação.

Hinata suspirou frustrada. A rosada não queria saber de choro nem vela, apenas fazer o coitado do Uzumaki comer o "Pão que a Sakura amassou".

—Sakura-san, eu estou pensando... As fontes femininas e masculinas são uma ao lado da outra... E se os garotos ficarem nos espiando? Talvez seja uma boa ideia irmos embora agora...

—Não, não. Nada disso! - Falou Sakura determinada enquanto se despia e se enrolava na toalha - Não use isso como desculpa! Até porque já comprei tudo. Não tem mais volta! Quanto aos pervertidos nos espiando, bem, eu darei uma surra neles se isso acontecer. Agora, se arrume e vamos.

A Hyuuga soltou um gemido baixo e fez o que ela mandou. Depois que se enrolou na toalha, fez um coque no cabelo e sorriu para a rosada. Sakura, por outro lado estava com uma expressão horrorizada e as mãos sobre os seios.

—O-O que foi?

—As pessoas têm razão. Eu sou despeitada... - Ela abaixou a cabeça, como se carregasse o peso do mundo.

—Sakura-san... - Hinata suspirou.

 

***

 

As duas garotas se dirigiram às fontes quentes. Apesar da pequena crise sobre a sua "genética ruim", Sakura estava bem calma e relaxada aproveitando a deliciosa água. Hinata, apesar de não querer admitir, também estava sentindo o mesmo.

Depois que saíram, Sakura puxou Hinata para o próximo item da lista: Limpeza facial, logo em seguida massagem e por último manicure e pedicure.

Quando deixaram o spa, já eram 15:30h. As duas estavam com um sorriso de orelha a orelha, e Hinata sentiu um pouco de culpa por causa disso.

—Obrigada, Sakura-san. Foi muito agradável. Não se preocupe, eu vou pagar por tudo que você gastou comigo. - Ela sorriu agradecida - Agora eu já vou.

—O quê? Nada disso! Ainda não terminamos! Isso foi só a fase 1. Agora vamos á próxima fase. Fase 2: Dieta balanceada. E deixe de bobeira! Eu já disse que vou pagar, portanto apenas aproveite!

—T-Tudo bem, mas você vai me ouvir?

—É sobre o Naruto e esse encontro estranho que ele planejou, mas que não pôs em prática?

—S-Sim.

—Então não. Como eu já disse, não quero ouvi-la defendendo aquele baka!

—Sakura-san... - Hinata choramingou.

Sakura ignorou os protestos dela e a levou até um restaurante.

—S-Sakura-san... Aqui é muito caro... - A morena murmurou ao entrarem no estabelecimento.

—Bem, aqui se prepara a melhor comida, então... Agora sente aí! - A rosada ordenou e começou a ler o cardápio.

Quando se decidiu chamou o garçom e fez o pedido.

—Para manter a boa forma e a boa aparência, é preciso comer coisas saudáveis. Portanto nada de frituras, massas ou álcool. Se você comer muito carboidrato vai inchar e engordar, e nós não queremos isso, então precisa de proteína nesse corpo para mantê-lo lindo e definido.

—Quanto ao álcool, eu não bebo então não se preocupe. Massas e frituras... Eu só como por causa do... Do Naruto-kun. - Ela sorriu timidamente e abaixou a cabeça, escondendo o rubor da face - Ele gosta muito de... De rámen... Você sabe...

Sakura cruzou os braços e balançou a cabeça concordando.

—Sakura-san - Hinata continuou -, eu não quero ser rude, mas esse tipo de dieta só surte efeito se for seguido á risca e por um longo período de tempo. Um dia só não funciona...

—Eu sei, mas isso é apenas para te incentivar. Se quiser continuar linda e maravilhosa, esbanjando saúde e sedução e... Esnobando o Naruto, vai ter que continuar a fazer isso sozinha.

—M-Mas eu não quero... Isso... Esnobar o Naruto-kun... - Hinata sussurrou.

—O quê?! Hinata, eu não ouvi.

A Hyuuga não repetiu novamente, pois o garçom chegara com o pedido.

Ele colocara à frente da morena uma tigela de sopa de lentilhas, um prato cheio de vegetais diversificados, dois pedaços de shushi e chá verde. Para a rosada duas garrafas grandes de leite.

—S-Sakura-san - Hinata a chamou enquanto olhava pasma para a quantidade de coisas à sua frente -, isso é muito pra mim. Toma, pegue um pouco.

—Se você tem tempo pra reclamar, tem tempo para comer. Não reclame. Coma! - Sakura ordenou e virou uma garrafa de uma vez.

—D-Demo... Tudo bem... - Ela se rendeu - Hum... Por que você está bebendo tanto leite?

—Ouvi dizer que ajuda a crescer os peitos - A Haruno respondeu esperançosa.

—Você vai ficar complexada...

—Já estou. Agora coma!

Após mais alguns protestos, a Hyuuga se deu por vencida, até porque a rosada não a deixaria sair de lá enquanto não tivesse terminado tudo.

Depois que a conta foi paga, elas deixaram ao restaurante e Sakura a levou à floricultura dos Yamanaka.

—Escuta, Sakura-san, eu sei que tudo o que fizemos hoje fez algum sentido, mas no que as flores da Ino-san ajudariam? - A morena perguntou enquanto olhava para a porta da loja.

—Bem, essa é a etapa 3: Cabelo e maquiagem. Vou pedir a Ino que me ajude a arrumá-la. E não me venha com desculpas e nem tente fugir, ok? - Sakura disse sorrindo descontraidamente.

Hinata ficou em silêncio e foi empurrada pra dentro da floricultura.

Ino se encontrava na mesma posição do dia anterior. Os cotovelos apoiados sobre o balcão e as mãos segurando a cabeça. A única diferença era que ela não parecia entediada. Muito pelo contrário. A Yamanaka encarava o nada com um sorriso bobo nos lábios e soltava vários suspiros apaixonados. Ela parecia não ter notado a entrada das duas.

—Yo Ino-san... - Hinata acenou gentilmente.

—Escuta, Ino. - Sakura foi direto ao ponto - Eu preciso da sua ajuda. Já são 17:00h, e quero que tudo esteja pronto no máximo até às 19:30h! No máximo, ok? Pode ser?

—Ah... - A loira suspirou como se vários coraçõezinhos dançassem à sua frente.

—INO! - A rosada gritou e deu um soco no balcão, o qual abriu uma pequena rachadura.

Ino pulou assustada ao ver suas amigas ali.

—O quê?!... Quando vocês cheg... AH! O meu balcão! Sakura, o que você fez?

—Estou tentando chamar sua atenção! Você ao menos ouviu uma palavra que eu disse?

—Não precisava fazer isso, sua exagerada! Não me faça ter que te proibir de vir aqui. Você sempre destrói as coisas!

—Como é?! Ino-vadia.

—Exatamente o que você ouviu! Testuda.

As duas se encararam e as faíscas voaram.

—Oi, oi! Sem brigas. Por... Por favor - A Hyuuga pediu com sua voz fina e fofinha.

As outras garotas pararam de se encarar e olharam a morena, exibindo um sorriso em seguida. Era impossível não gostar da fofa e meiga Hyuuga Hinata.

—Hinata! - Ino a cumprimentou - Por que você está andando com essa doida da Sakura? - Ela riu sarcasticamente.

—Não abuse da sorte, Ino! - A rosada disse entredentes, depois lhe explicou a situação.

—Bem, eu adoraria ajudar, até porque aquele Naruto precisa aprender uma lição!

—I-Ino-san! Até você? O Naruto-kun não fez nada de errado...

—Tipico dela defender aquele baka - A rosada sussurrou para a loira, a qual balançou a cabeça concordando.

—Bem, como eu dizia - Ino continuou -, eu adoraria ajudar, mas quem vai tomar conta da loja? O Sai-kun ainda não voltou... - Ela suspirou perdidamente apaixonada.

—Sai? - Sakura ergueu uma sobrancelha e sorriu ironicamente - Desde ontem que vocês estão se dando bem, não é? Bem até de mais... Estão passando muito tempo juntos, você não acha?

—Ah... Ah sim. - A Yamanaka corou - Nós nos entendemos, devido aquele episódio de assedio sexual, você sabe.

—Ino-san! - Hinata arregalou os olhos horrorizada.

—Eu pedi desculpas e fizemos as pazes. Agora estamos progredindo na nossa amizade.

—Isso é bom, eu acho. Mas, Ino, você não precisa se preocupar com isso. Nós podemos ficar aqui. Eu arrumo o cabelo dela e você cuida da maquiagem, e aí quando o Sai chegar, você pede pra ele cuidar de tudo e nós terminamos de arrumar a Hinata lá nos fundos. Não tem desculpa!

—Hum... Tudo bem, eu acho. Mas onde estão as coisas?

—Que coisas?

—Como assim que coisas? Você quer que eu a maquie usando mágica? - Ino foi sarcástica.

Sakura exibiu um sorriso amarelo.

—Ai meu Kami... - A Yamanaka suspirou - Sorte sua que eu me previno."Vai que surge uma situação inusitada, e eu precise ficar linda para o Sai-kun? Nunca se sabe...”

A loira tirou uma bolsa de trás do balcão e o entregou à rosada. Foi nos fundos da loja, pegou uma cadeira e empurrou Hinata para que se sentasse.

—Sakura-san... Ino-san... Por favor, isso não é necessário! Por que vocês não me escutam? O Naruto-kun não fez nada... - A Hyuuga tentava se levantar.

—Exatamente, Hinata! - Ino disse enquanto pegava tudo que iria precisar - Ele não fez nada! Agora, fique bem quietinha, senão vou te borrar. E, Testuda, quanto ao meu balcão, você vai dar um jeito nele!

—Trabalhe mais e fale menos, porquinha!

Em meio à relutância e aos protestos da morena, elas conseguiram fazer algum progresso. Como o cabelo de Hinata já era liso, Sakura não fez muito. Apenas o penteou e o prendeu num coque alto, exótico e inovador, porém bonito. Ino, por outro lado, demorou mais um pouco. Ela estava deixando a Hyuuga parecida com uma gueixa de tão branco que estava seu rosto e tão vermelho que estavam seus lábios.

O problema é que ela não terminou o que começara, pois Sai havia voltado de sabe-se lá onde.

—Ino! - A rosada reclamou.

—Depois eu termino isso, Sakura. - Ela disse sem dar muita importância - E então, Sai-kun? Você achou a tinta que queria?

—Ah sim. - Sai exibiu seu sorriso falso - Além de ela ser de ótima qualidade, estava na promoção, então eu comprei dois potes.

—Que ótimo! Agora seus quadros saíram mais lindos do que já são. Você é um excelente artista, Sai-kun!

—Pare de se fazer de babaca, Ino. Isso enche o saco! - Sakura murmurou enquanto praticamente subia em cima de Hinata para fazê-la ficar quieta.

—Enche o saco?! Cale a boca, Testuda!

—Testuda?! Ora, sua...

Antes que as duas começassem a brigar, novamente, Sai falou:

—Como sobrou dinheiro, eu comprei isso pra você, Ino. - Ele estendeu uma pequena caixa de papel dourado para a loira - O vendedor disse que todas as garotas adoram, e como você é uma garota, acho que vai gostar.

A Yamanaka ficou estática e com uma expressão idiota enquanto olhava a caixa em suas mãos. Sakura semicerrou os olhos desconfiada.

—Puxa, que gentil - Hinata sorriu docemente para a loira.

"O Sai não faria isso, faria? Seria muito repentino... Bem, eu não estranharia muito já que ele é meio sem noção e ultimamente está muito intimo da Ino, mas..." — A Haruno observava a cena com uma sobrancelha erguida.

—O-O que foi? Você não gostou? - Sai perguntou preocupado enquanto procurava algo nos bolsos, até que tirou um livro - Neste livro diz que as garotas adoram receber presentes e se sentem muito especiais quando isso acontece, mas você é uma excessão à regra? Tudo bem, vou anotar isso aqui pra me lembrar futuramente, e quem sa...

—Sai-kun, para de falar um minuto! - Ino conseguiu murmurar - É claro que eu gostei. Na verdade eu adorei! - Ela riu e pulou nele para lhe dar um abraço, mas acabou derrubando-o chão.

—Mas você nem abriu pra saber o que é. Como pode ter gostado?

—Sai-kun, eu iria adorar qualquer coisa que você me desse. Mesmo que fosse uma pedra eu guadaria com carinho.

—Qualquer coisa? Até... Uma pedra?

—Cuidado com o que você fala, Ino! O Sai leva tudo ao pé da letra - A rosada a advertiu.

—Calada, Sakura! - A Yamanaka rosnou - Agora, me deixe ver o que eu ganhei.

Dentro da caixa havia uma grande trufa de chocolate. Era tão grande que parecia ser do tamanho de um punho fechado.

—Ah! Sai-kun! Eu adoro chocolate! - Ela gritou e o abraçou novamente - Obrigada!

—T-Tudo bem - ele riu -, mas você está me s-sufocando...

—Desculpa!

—Ah, é isso? Pensei que fosse outra coisa - A Haruno falou sem dar muita importância e voltou sua atenção à Hinata.

—O que você pensou que fosse? - Os demais perguntaram em uníssono.

—Pensei que fosse um anel. Pensei que o Sai fosse te pedir em casamento, Ino.

—Ahn? - Sai ergueu uma sobrancelha confusamente.

—O-O quê?! - As outras duas exclamaram, não acreditando no que acabaram de ouvir.

—Testuda, quem é que dá uma aliança numa caixa de papel? - A loira enfureceu-se - Você está chamando o Sai-kun de pobre?

—Casamento?! Mas por que eu pediria a Ino em casamento? - Sai continuava confuso - Ela é minha... Amiga.

Sakura deu de ombros, já a Yamanaka sentiu-se incomodada e um pouco chateada.

—Ah, é... É claro. - Ela forçou uma risada - Somos... Amigos... Apenas isso. "Afinal o que eu esperava? Que o Sai-kun admitisse que me ama? Hunf! Você não vive num conto de fadas, Yamanaka Ino!"

O clima então ficou pesado na floricultura. O ar parecia mais frio e o silêncio era incômodo.

—Hum... Eu... Eu tenho que ir agora. - Sai falou rapidamente e exibiu seu sorriso falso - Talvez eu volte amanhã, Ino... Ja ne, Sakura-san e Hinata-san - Ele despediu-se formalmente e correu dali. "Bem, acho que me livrei de uma baita enrascada. Um sorriso é realmente a melhor maneira de lidar com as situações. Mesmo que ele seja falso"

Assim que o moreno desapareceu porta a fora, os olhos de Ino encheram-se de água.

—Olha só o que você fez, Sakura! Está feliz agora? Por que você sempre fala o que não deve? - Ela gritou entre as lágrimas - Eu sei que você e o Sasuke-kun não se dão bem, mas só porque a sua vida não é um mar de rosas, você tem que destruir a minha também? Como você pode ser tão egoísta? Eu pensei que você me considerava ao menos um pouco sua amiga - Dizendo isso ela correu pros fundos da loja.

—I-Ino-san... - Hinata murmurou. Logo em seguida olhou para a rosada - Sakura-san...? - Ela assustou-se ao ver que a Haruno também estava com os olhos marejados.

"Por que eu não consigo fazer nada certo? Por que eu sempre atrapalho?" — Sakura se autoflagelava.

—Sakura-san... Talvez seja melhor irmos embora agora... - A morena começou a levantar-se da cadeira.

—Não, ainda não. - A rosada secou os olhos e sorriu encorajadoramente - Me deixe terminar isso aqui primeiro.

Hinata suspirou frustrada e rendida enquanto sua amiga terminava a maquiagem.

 

***

 

Quando terminou o que estava fazendo, Sakura guardou as coisas de Ino, saiu da loja e ficou esperando Hinata do lado de fora.

—Sakura-san - a morena disse quando saiu da floricultura e fechou a porta atrás de si -, você deveria ao menos ter se despedido da Ino-san. E... Ter se desculpado também...

—Não. A Ino está irritada comigo. Ela não me perdoaria. Ao menos não agora... "Ela tem razão. Eu sou uma egoísta. Como eu posso ser tão estúpida? Tudo bem que nós vivemos brigando por coisas idiotas e ridículas, mas ainda assim... Ela é a minha... Melhor amiga... Tsc! Por que eu sou sempre um peso na vida das pessoas?"

Hinata franziu as sobrancelhas numa expressão de pena e condescendência. Logo em seguida percebeu que o ceu já estava escuro. Devia ser entre 18:30h e 19:00h e ela ainda não chegara em casa.

—Escuta, Sakura-san... Eu preciso ir agora. A experiência de hoje foi divertida, pena que fora por motivos errados...

—Ahn? Nada disso! - Ela disse repentinamente - Agora vamos à fase final: A roupa adequada. Vem, vamos até sua casa escolher um kimono deslumbrante!

—N-Não... Eu realmente preciso ir embora, mas não será pra escolher uma roupa - A Hyuuga correu e agarrou-se ao poste que ficava do outro lado da rua, para que não fosse forçada e arrastada.

—Não, não. Vamos logo com isso! - A Haruno a puxava - Não faça meu trabalho ter sido todo em vão! Colabore Hinata! Você vai estragar suas unhas e seu cabelo.

Hinata então se irritou de verdade. Aquilo já se prolongara mais que o suficiente, e agora, Sakura a ouviria! Quer fosse por bem, quer fosse por mal.

—JÁ CHEGA DISSO! - Ela gritou furiosa.

A rosada a soltou assustada. Ver a meiga e gentil Hyuuga Hinata perdendo as estribeiras não era algo que se via todo dia.

—H-Hinata?!

—Sakura-san, o dia inteiro você me arrastou por essa vila, ignorou meus protestos e se recusou a me ouvir. Você cismou com essa ideia de querer que eu me vingasse do Naruto-kun quando ele realmente não tinha culpa de nada! - A morena falava com tanta determinação que não parecia a doce e tímida Hinata de sempre - Mas agora, me escute: Até hoje, eu e o Naruto-kun não saímos juntos simplesmente porque eu não quis!

—O-O quê?! Porque você não quis?...

—Hinata-sama! - Alguém a gritou de longe.

A Hyuuga virou-se e viu quem a chamava: seu primo Hyuuga Neji.

—Aqui, Neji-niisan! - Ela acenou e sorriu.

Sakura olhava a tudo sem entender nada, mas de repente ela começou a se sentir como uma completa idiota. Neji correu até as duas, já sem fôlego.

—Hinata-sama... - Ele estava ofegante - Finalmente te encontrei! Procurei por você o dia todo! Todo lugar em que passei... Ou não a tinham visto, ou você tinha acabado de sair. Mas agora que está tudo bem, vamos indo. Hiashi-sama a está chamando.

—Sim. Só espere um momento. Por favor...

—Hum... Tudo bem, mas não se demore muito - Ele assentiu e se afastou, encostando-se à porta da floricultura.

—Desculpa, Sakura-san. O dia todo eu tentei lhe falar, mas você não quis me escutar. Hum... Bem, não sei se você sabe, mas, apesar de eu ser a mais velha, meu otosama acha que eu não sou apta para liderar o clã Hyuuga, por isso ele escolheu a Hanabi-neechan, mas até que isso aconteça, eu continuo pertencendo ao ramo principal da família, e isso faz com que eu, consequentemente, tenha muitas obrigações. Ultimamente nós estamos cheios de tarefas para fazer no clã, por isso eu pedi ao Naruto-kun que esperasse até que as coisas se acalmassem um pouco, pois não estou com muito tempo disponível. Bem, essa é a verdade, Sakura-san.

—O quê?! Espera - A ficha da rosada finalmente caiu.

—E, hum, quanto a minha gritaria... Bem, eu não queria ser grossa. Por favor, não pense mal de mim, mas era o único jeito de fazer você me ouvir...

—Você está dizendo que eu gastei meu tempo e meu dinheiro à toa? - Sakura começou a fazer cena.

—Sakura-san! - Hinata parecia ofendida - Eu disse que vou pagar por tudo que gastou comigo...

—Eu gastei tempo e dinheiro, fiz papel de idiota e me empenhei em algo que fora um completo desperdício? - A rosada parecia um disco arranhado.

—Hunf! - Neji bufou - Não sei o que está acontecendo, mas precisamos ir agora Hinata-sama - A voz dele era dura.

—S-Sim! Perdão, Sakura-san, mas eu realmente tentei te explicar... - A morena falou timidamente - Tchau...

—Adeus, Sakura-san - Neji disse formalmente e saiu andando, seguido pela prima - Hinata-sama, isso são assuntos do clã Hyuuga! Como você os divulga assim? - Ele a repreendeu com um sussurro.

—Eu não falei nada de mais, Neji-niisan. Por favor, não se preocupe com isso - Ela o seguia com a cabeça abaixada.

Após alguns minutos, a Haruno saiu de seus devaneios e percebeu que estava sozinha.

—É impressão minha ou eu consegui perder minhas duas melhores amigas em apenas um dia? "Parabéns Sakura! E pra fechar a noite com chave de ouro, você acaba de receber o troféu Miss Estupidez! Até quando você vai ser a garota retardada, ignorante e irritante? O Sasuke-kun tem toda razão em não te suportar. Nem eu mesma te suporto"

Ela então se agachou no chão e começou a chorar. De raiva, dor, frustração... Todo tipo de sentimento que ficara guardando.

As pessoas que passavam na rua, ao reconhecê-la, paravam e perguntavam o porquê de ela estar chorando, o porquê de ela estar sozinha na noite, se seus pais não estariam preocupados, e perguntavam se estava tudo bem. Sakura, porém, não respondia. Continuava chorando como se não ouvisse nada.

A rosada ficara bastante tempo chorando. Quando parou, assustou-se ao perceber que o céu estava mais escuro que antes. Ela secou os olhos e levantou-se do chão.

"Tenho que ir embora. Meus pais devem estar preocupados." — Sakura começou a correr em direção a sua casa, até que se lembrou de que, temporariamente, morava em outro lugar - "Hunf! Até parece que o Sasuke-kun se preocuparia comigo. Se eu não aparecesse por lá ele daria graças a Kami e ainda diria a Tsunade-sama que eu não estou cumprindo com os combinados. Tsc! Que droga..." — Ela voltou por onde viera e se dirigiu ao Distrito Uchiha.

Como já era de se esperar, a única coisa que havia naquele bairro fantasma era a escuridão, a bagunça e o barulho dos animais, mas na medida em que se aproximava de casa, ela sentiu o delicioso cheiro de comida recém preparada.

"Isso deve ser a minha mente me pregando peças... Esse cheiro... Impossível!" — Ela pensou desconfiada.

Mas assim que entrou na casa, suas suspeitas se confirmaram. O delicioso aroma vinha exatamente dali.

Ela então foi pra cozinha, e quase caiu pra trás com a cena que viu: Sasuke havia feito uma pequena limpeza no cômodo e na mesa de jantar. Ele estava em pé ao lado da bancada organizando, metodicamente, a comida em dois pratos.

—S-Sasuke-kun?!

—Yo, Sakura! - Ele a cumprimentou sem parar com o que estava fazendo - Está com fome?

—O que você está fazendo? - Ela ergueu uma sobrancelha desconfiadamente.

—Achei que fosse óbvio, mas tudo bem. Nesse momento estou servindo a mim e a minha esposa. Ela aceitaria jantar comigo?

—Não, claro que não! - A voz da rosada estava alterada.

—Por que não? - Ele colocou os pratos na mesa. Depois colocou uma jarra de suco e dois copos - Não se preocupe. Eu lavei tudo antes de usar. Você sabe, não seria agradável comer poeira, mofo e cocô de rato.

Sakura bufou e cruzou os braços.

—Acha mesmo que eu vou cair nessa, Sasuke-kun? Essa pequena experiência que estamos vivendo me abriu os olhos pra uma coisa: Sempre desconfiar de você e de suas intenções.

—Ah, qual é Sakura! A geladeira está inativa e eu não consigo comer tudo. Se você não jantar comigo, serei obrigado a jogar as sobras fora. Que desperdício!

—EU JÁ DISSE QUE NÃO! - Ela gritou e correu para o quarto.

Sasuke suspirou pesadamente e assentou.

—Itadakimasu - Ele murmurou e pegou um sushi.

Após alguns minutos, Sakura voltou e parou na porta da cozinha.

—O que você está tramando, Sasuke-kun?

—Estou jantando, ora!

—Não estou me referindo a isso! Quero saber por que você está sendo legal e educado assim tão de repente. Nós não estamos competindo? Escuta, hoje o dia não está bom pra mim, então eu...

—Você tem razão. - Ele a interrompeu - Mas neste momento eu decidi dar uma pequena pausa. Por um momento não ser o homem que está preso a um contrato idiota. Não ser Uchiha Sasuke, aquele que ignora e despreza constantemente a sensível Haruno Sakura.

A rosada franziu o cenho.

—Ser apenas um homem normal e civilizado jantando com sua companheira de casa - Ele sorriu.

—Muito bonito o discurso, mas acha que eu não sei?

—Sabe do que?

—Que está envenenado, ora! Qual a quantidade que você colocou? O que você pôs, aliás? Ópio? Heroina?

—Não pus nada. - Ele respondeu simplesmente - Acha que eu comeria algo desse tipo? Não sou um drogado!

—Eu não acredito em você! - Ela disse veementemente e saiu da cozinha, até que sua barriga começou a roncar. Então ela voltou - Você sabe que eu sou enfermeira - Parecia mais uma ameaça do que um simples comentário.

—Perfeitamente.

—Eu consigo discernir quando a composição de alguma coisa foi alterada devido a influência de drogas. Sei também reconhecer o tipo de droga que foi aplicada.

—Olha! Você fez a lição de casa.

—Pode brincar com a sorte, Sasuke-kun, mas se tiver alguma coisa nessa comida, depois que o efeito passar, juro que eu mesma vou te envenenar! De preferência com uma bem violenta, que te mate lentamente por dentro, prolongando ao máximo seu sofrimento, e fazendo-o definhar até a morte. - Ela assentou na cadeira de frente pra ele - Será tão doloroso e violento, que você não saberá o que o atingiu.

—Sakura, eu prefiro que você coma ao invés de tagarelar - Sasuke disse monótona e despreocupadamente.

—É só pra você saber o que te espera. - Ela sorria ironicamente enquanto o encarava - Itadakimasu.

Enquanto comiam, ficaram se encarando em silêncio, como uma espécie de competição ou como se esperassem que o outro fizesse algum movimento suspeito pra revidar logo em seguida.

—E então, Sakura, como foi seu dia? - Ele perguntou enquanto se servia novamente - Fez alguma coisa agradável?

—O que você está tramando seu sem vergonha? - Ela levantou-se num supetão - Eu deveria desconfiar...

—Desconfiar do quê? Estou apenas querendo saber o que você fez hoje. Já que você não quer falar, deixe que eu faço isso. Meu dia foi bem... Interessante. - Ele sorria descontraída e ironicamente - Vamos, sente-se. Beba um pouco de suco e relaxe. A narrativa talvez seja longa.

Ela o encarou com desconfiança.

—Sakura - ele suspirou -, eu apenas quero compartilhar algo com você. O que poderia acontecer? Aliás, o que eu estaria fazendo de suspeito? Conversar é normal. Francamente...

—Sim, absolutamente normal. Quando vindo de uma pessoa normal e confiável que não pretende sabotar a garota que mora com ele. Hunf! Você, me tratando bem e agindo como um ser civilizado? Tenho mais é desconfiar!

—Sakura...

—Olha aqui, se você aprontar alguma coisa... - Com certa relutância ela assentou-se novamente.

Sasuke revirou os olhos.

—Quando acordei - ele começou -, vi a Karin jogada no chão. Eu a chamei e a mandei embora...

—Só isso? Simplesmente a acordou e a mandou embora?

Ele ergueu uma sobrancelha inquisitivamente.

—Não, porque vocês podem ter feito algo mais como se beijarem ou... Ui! Não quero nem pensar! - Ela riu descarada e debochadamente - Se vocês têm a coragem de fazer isso na minha frente, quanto mais nas minhas costas. E ainda tem a cara de pau de me chamar de esposa... Obrigada, mas não quero o título de esposa traída.

—Vai me deixar continuar?

Ela sorriu com ironia e fez um gesto com a mão permitindo-o prosseguir com a narrativa.

—Como eu dizia, mandei a Karin embora e voltei pra cá. Enquanto eu andava, percebi que não tinha mais ninguém por aqui. Confesso que fiquei satisfeito com o fato. Até pensei "Já que a Sakura expulsou todo mundo não tenho que me preocupar com isso. Vou tomar um banho e voltar a dormir". Como eu não te achei, pensei que você tinha saído cedo. Foi então que eu olhei as horas. Quase caí pra trás quando vi que eram 13:30h. Me arrumei mais rápido que um relâmpago e corri para a Força Policial. Até aí tudo bem. Quando cheguei, logicamente, recebi um sermão do Kakashi e do Capitão Yamato.

"Sasuke-kun...! Logo hoje que eu não estou nem um pouco a fim de conversar você decide abrir seu coração? O que você está aprontando...?" — Sakura pensou desolada.

—Ei, Sakura! - Ele estalou os dedos na frente dela - Está me ouvindo? Quero que você saiba de todos os detalhes.

—Ain Sasuke-kun... Sabe o que é? É que meu dia não saiu mui...

—Não, não! Sem desculpas! A parte boa já vai chegar! - Ele falava com enorme convicção. Aquilo deveria ter levantado mais suspeitas na rosada.

—A parte boa?! - Ela gemeu e abaixou a cabeça na mesa.

—Bem, onde eu parei? O capitão Yamato e o Kakashi me passaram um sermão e... Ah sim! Já que ultimamente a vila está bem calma, não tem muito o que fazer, eu então fui pra minha mesa e fiquei a toa. Foi aí que eu ouvi umas risadas. Quando virei pra trás, alguns policiais, que eu não convidei ontem, estavam inventando histórias, dizendo que durante a festa, eu estava abusando de você e da Karin sexualmente...

Sakura levantou a cabeça repentinamente e arregalou seus olhos verdes.

—O-O quê? - Ela até esqueceu que estava deprimida.

—Exatamente o que você ouviu. - Ele ergueu uma sobrancelha e sorriu ironicamente - Eles estavam inventando coisas sem nexo... Disseram que estávamos fazendo orgias, sacrifícios e invocações aos espíritos do meu clã. Enfim, como eu disse, invenções. É a intriga da oposição, você sabe.

—Bem que eu sempre desconfiei! Todos os policiais são pervertidos! É muito raro ter um que preste.

—Obrigado pelo elogio.

—Eu não me referia a você. Na minha opinião, você está na característica dos depravados - Sakura disse séria e naturalmente - "Shanaroo! Toma essa Sasuke-kun!"

—Hunf! - Sasuke revirou os olhos - Bem, é claro que eu não podia deixar que continuassem a falar aquele monte de besteiras. Estavam difamando a mim e a meu clã, e isso é imperdoável! Eu então parti pra violência. Levei alguns socos, logicamente, mas o quanto eu bati não está na história! - Ele contava o fato com um sorriso que era sádico e ao mesmo tempo orgulhoso.

—S-Sasuke-kun...!

—Meu ódio e minha fúria eram tanto, que eles serviram como um estopim. Eu quebrei os braços de um, desloquei a mandíbula de outro e o último, bem, ficou irreconhecível e deformado. Vai precisar de plástica, acho. Eu teria batido mais, mas os outros policiais me impediram.

—Você acha?! - Sakura gritou - Sasuke-kun, você...

—Você, Sakura, não pode falar nada. - Ele colocou as mãos atrás da nuca e começou a gangorrar na cadeira - Você bate em todo mundo por motivos mínimos e ridículos. Já o meu motivo era bem razoável! O fato é que os três foram parar no hospital, e eu recebi outro sermão. Mas como eu ainda estava muito irritado, eu parti pra cima do Capitão Yamato e dos que tentaram me segurar.

—SASUKE-KUN!

—Quando conseguiram me parar, o Capitão Yamato disse que eu fedia a bebida, por isso meus olhos estavam avermelhados e meu comportamento alterado, e que além de ter chegado atrasado, cheguei violento e de ressaca. Disse também que eu não estava apto a continuar no trabalho.

—E-Ele te demitiu? - Sakura se preocupou.

—Não. Apenas me afastou temporariamente.

—Por quanto tempo? - Ela ergueu uma sobrancelha.

Ele exibiu um sorriso maldoso.

—Essa é a melhor parte: Por tempo indeterminado. Ou seja, enquanto durar esse meu afastamento, sua vida será uma chateação. Pra não dizer inferno.

—Ai meu Kami! Eu sabia que deveria desconfiar!

—Bem, ninguém disse que as coisas são fáceis e justas.

A rosada deu um pulo da cadeira com os olhos arregalados.

—Ah, mais uma coisa! Não se preocupe Sakura. Não estou bravo por você não ter me chamado quando acordou. Você está jogando pra ganhar, certo? Usando seus meios e métodos... Tudo bem. Graças a você, ganhei um descanso indeterminado e a certeza de poder azucrinar a sua vidinha desprezível - Ele exibiu seu sorriso arrogante.

Rapidamente a rosada saiu da cozinha.

"Essa Sakura..." — Ele riu divertido.

 

***

 

Assim que deixou a cozinha, a Haruno se trancou no quarto. Aquele dia estava definitivamente ganhando o prêmio de O Pior Dia de Todos.

Além de conseguir chatear suas duas melhores amigas, recebera do garoto que mais amava a "comunicação" de que sua vida seria um inferno.

Ela então se jogou na cama e voltou a chorar. Seu peito subia e descia descontroladamente.

"Isso dói tanto, mas tanto, que eu não consigo respirar direito" — Ela pensou em meio aos soluços.

Sakura estava tão deprimida e abatida que nem se importou por não tomado banho. Aliás, ela nem percebeu quando se cansou de chorar e dormiu.

 


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Notas finais do capítulo

Hey! O que acharam? Eu sei... Quase não teve SasuSaku, mas "há males que vêm para bem", então...
De qualquer forma, espero que tenham gostado. Me digam, ok?!