Algumas horas antes...

(Nuri's POV)

Fiquei muito aliviada por ter conseguido encontrar Chaerin. Não daria muito certo se eu fosse chamada para tocar juntamente com IU. Se tivesse que cantar as coisas seria totalmente diferente, mas como este não era o caso...

Eu nunca tinha trocado de roupa tão rápido assim, havia quebrado meu tempo recorde e Chaerin também. Teríamos sido mais rápidas se ela não tivesse reclamado que as roupas estavam suadas. Assim que mostrei a sala de treino para a mais nova caminhei lentamente até o quarto.

– Ei, você! – ouvi uma voz grossa dizer. Automaticamente vire-me para ver quem era.

Deparei-me com um segurança. Ele era bem alto, usando um terno preto, óculos escuros e seu cabelo negro estava todo para trás. Dava para notar que ele havia gastado um bom tempo passando gel no cabelo para que ficasse daquela forma.

Não entendo uma coisa. Os seguranças estão sempre de óculos escuros tentando passar um olhar de mal para as outras pessoas. Usam até mesmo quando está de noite ou não estão em um lugar com bastante iluminação, neste caso o corredor. Acho isso um pouco estranho, mas o pior era que me dava vontade de rir daquele segurança. Isso tudo por causa de seu cabelo que parecia ter sido lambido.

– Quem é você e o que está fazendo aqui? –Ele perguntou cruzando os braços e enrijecendo os seus músculos... Algo que ele realmente não tinha. Ele era um homem magrelo.

– Ahn, eu sou uma trainee. – respondi rapidamente.

– O que está fazendo aqui? Volte logo para sua sala de treino. Não pode ficar andando pelos corredores da SM.

– Mas meus treinos acabaram. – Aquela era a melhor resposta que eu pude pensar. Ter que bolar respostas em pouco tempo e ainda estando sobre pressão é algo difícil e complicado.

– Pare de mentir mocinha e volte logo para sua sala. Conheço todos os horários e sei que nenhum treino acaba agora.

Por essa eu não esperava. Olhei seriamente para o segurança e vi que ele não me deixaria passar assim tão facilmente. Terei que tomar algumas medidas drásticas.

Respirei fundo e lancei um rápido olhar para o segurança. Ele parece não gostar de correr, pensei alto. Quando ele ia agarrar meu braço para que eu fosse arrastada para alguma sala de treino, consegui me esquivar de suas mãos finas e sai correndo pelos corredores da Sm.

–Yah! Volte aqui! – Ele gritou. Dava para ouvir os seus passos pesados sendo ecoados pelos corredores.

Por causa disso dava para saber se ele continuava a me seguir ou não. Como eu era menor que ele e tinha um preparo físico melhor – já que eu estava aguentando correr e ele não –, acabei conseguindo despistá-lo e chegar inteira até o quarto do dormitório. Só pude me sentir aliviada e respirar normalmente depois de ter trancado a porta.

Fui logo para o banheiro tomar um bom e demorado banho. Já estava sentindo meus músculos ficarem doloridos por causa da longa aula de dança. Vai ser pior amanhã quando acordar. Talvez nem consiga me mover devidamente, mas terei que me acostumar com isso.

Assim que sai do banheiro sentei-me na cama e estiquei meus braços enquanto me espreguiçava. Enquanto fazia aquilo notei algo que não havia notado antes, ou melhor, não estava ali mais cedo. Na outra cama havia uma bolsa grande e preta, que obviamente não era minha nem de Chaerin. Aquilo só podia significar que haviam encontrado uma pessoa para dividir o quarto. Eles haviam conseguido rápido demais e isso não era nada bom. Ainda não havia pensado nessa possibilidade. Pensei que ainda teríamos mais três dias, uma semana no máximo.

Tinha que dar o fora dali. Não sabia que horas o treino acabaria, mas o quanto antes eu saísse melhor seria. Coloquei o capuz e sai do quarto. Havia me esquecido de pegar os óculos, então andava mantendo os olhos no chão para que ninguém visse o meu rosto e me reconhecesse. Não aconselho ninguém a andar pelos corredores de uma empresa famosa com seus olhos presos ao chão.

Quando já estava chegando ao elevador, faltando somente virar no final do corredor, acabei dando de cara com alguém que me fez cair no chão por causa da minha falta de atenção. Para meu azar era o segurança.

– Finalmente te encontrei! –Ele dissera me erguendo do chão pelos braços.

Aquilo era muito ruim, tinha que pensar em alguma coisa rapidamente. Enquanto eu pensava em algo ele literalmente me arrastou em direção às salas de treino, mas quando já estava chegando, algo veio a minha mente.

Fechei meus olhos fingindo desmaiar tornando um peso morto para o segurança, o fazendo me colocar sentada no chão com as costas apoiadas na parede.

–Ei? Tudo bem com você? – O ouvi perguntar enquanto cutucava meu ombro direito.

Aproveitei daquele seu momento de distração para me levantar e pisar com toda a minha força em seu pé. Ele gritou de dor enquanto eu saia correndo, mas não demorou muito para ele vir atrás de mim.

O que me surpreendera fora que eu me vi correndo em direção as escadarias. Algo não muito agradável, mas por hora era o único lugar que eu podia recorrer. Se continuasse perambulando pelos corredores, algum trainee poderia aparecer e me reconhecer, mas o pior de tudo seria que eu estaria sendo vista fugindo de um segurança magrelo. Mais uma vez digo... Nada agradável.

Não sei até que andar subi, só abri a primeira porta que vi pela frente. Ainda ouvia o barulho dos passos do segurança. Continuava sendo seguida, mas ele parecia ter se cansado e se perdido pelos lances de escada, já que havia passado por muitos. Até mesmo eu me perderia.

Olhei ao redor tentando descobrir onde eu estava e procurei por um lugar para me esconder. Logo a minha frente havia duas portas, uma de cada lado, com duas plaquinhas em cima delas. Uma dizia vestiário
masculino e o outro feminino.

Nunca pensei em toda a minha vida, fazer aquilo, mas como ultimamente as coisas andam de cabeça para baixo, achei que uma coisa daquelas faria muita diferença. Por isso corri para o vestiário masculino.

Se segurança viesse para este andar, olharia primeiramente no vestiário feminino. Nem pensaria que eu estaria no masculino. Nem mesmo na época que eu estava no colégio, eu pensava em entrar em um banheiro masculino, mas minhas amigas já fizeram isto.

Lembro-me de quando as garotas de meu antigo colégio entraram no banheiro masculino para se vingarem, porque eles haviam invadido o banheiro das garotas somente para descobrirem o porquê de nós sempre irmos para lá em grupo. A resposta para isso, claro que é um mistério, porque nem mesmo eu sei o porquê. É algo que simplesmente fazemos.

Quando as meninas descobriram que eles haviam inventado de entrar lá, elas ficaram morrendo de raiva e até mesmo me chamaram para entrar no banheiro deles e fazer a zona. Ouvi dizer que elas escreveram no espelho deles com batom, sumiram com o papel higiênico, entupiram a pia... Fora engraçado a reação dos meninos quando entraram, mas depois a diretora punira todo mundo. Até mesmo eu que não tinha nada a ver com a história.

Este vestiário não tem nada em comum com o banheiro masculino do colégio, principalmente porque este aqui tem dez vezes o tamanho. Este é bem grande, tendo diversos armários vermelhos que ficam enfileirados formando pequenos corredores. Um armário é separado do outro por meio de bancos baixos de madeira. Há um corredor mais longo que liga a área dos armários, com os boxes onde se pode tomar banho.

Sentei-me em um dos bancos que ficavam mais para o fundo. Os armários me escondiam por completo e se alguém entrasse não me veria, de certa forma eu estaria camuflada. Qualquer coisa era só correr para dentro de uma daquelas cabines e ficar sentada em cima da tampa do vaso com as penas cruzadas. Então se alguém olhasse por de baixo – algo que provavelmente não aconteceria – não veria nada.

Por um momento senti que havia voltado a ser criança e estava brincando de pique-esconde uma brincadeira que eu era realmente péssima, sempre era a primeira a ser encontrada, o que me fazia odiar aquela brincadeira.

Não sei por quanto tempo fiquei ali, mas comecei a me sentir uma autista que fica que nem uma estranha olhando para o nada. Era nessas horas que eu sentia falta de meu precioso celular. Não era somente pelo fato de poder entrar na internet com ele, ou possuir todas as minhas músicas preferidas, mas sim por causa dos joguinhos que eu costumava ficar jogando. Se bem que já fazia um tempo que eu estava com vontade de ouvir musica, principalmente uma banda de rock conhecida como Royal Pirates que costuma fazer covers de k-pop. Eles fizeram muito sucesso cantando Tell me your wish das Girls’ Generation e Sorry Sorry do Super Junior.

Mas, acho que ele nem estaria funcionando, porque quando esbarrara com Kai em frente à entrada do prédio da SM, ele caíra dentro de uma possa de água. Provavelmente deve ter dado problema em seu sistema. Se nesse momento a pessoa que roubou minha mochila estivesse tentando acessar meus dados pelo celular, não conseguiria. Senti vontade de rir, porque nem sempre consertando consegue resolver.

Fiquei um tempo sentada no banco, balançando as minhas pernas e cantarolando Tell me your wish na versão do Royal Pirates. Enquanto a barra ainda não estivesse limpa, teria que ficar ali, cantarolando e esperando o tempo passar. Não ter dinheiro é muito ruim.

No exato momento em que me levantei para sair, porque já estava ficando cansada e sufocada de estar dentro de um vestiário masculino, ouvi algumas vozes se aproximando e a porta se abrindo. Sai correndo para a primeira cabine que vi pela frente.

– Ah! Estou cansado! – Reconheci a voz de Chanyeol.

– Pelo menos acabou por hoje. - Ouvi Kai dizer.

– D.O o que você vai preparar para a gente? Estou morto de fome! Faça algo bem gostoso, senão terei que tomar conta da cozinha. – Se não me engano aquela era a voz de Baekhyun.

– Não sei. Farei uma surpresa – ouvi D.O dizer em tom pensativo, mas rapidamente ele completou em tom de deboche - Se eu deixar você fazer isso, vai acabar colocando fogo no nosso dormitório inteiro.

Houve algumas risadas, mas logo eles ficaram em silêncio.

– Então Kai, nos conte mais? – Ouvi o líder Suho perguntar. – Qual delas?

– Qual delas o que?

– Omo! Não me diga que são as duas?! – Chanyeol perguntou soltando uma risada no final.

– Aish, eu não estou entendendo nada!

– Você está mais tapado do que eu. - D.O comentou entrando na risada juntamente com Chanyeol.

– Hyung, o que todos nós estamos querendo saber, é com qual das duas você já ficou – disse provavelmente Sehun acabando com todo o mistério das perguntas sem sentido.

Eu engasguei com meu próprio ar e comecei a tossir que nem uma louca, mas só não fui flagrada ali, porque Kai também começara a tossir.

– P-por que vocês estão perguntando isso? – Kai perguntou depois de ter conseguido acalmar a tosse.

– Kai você nunca nos contou de sua primeira namorada e você é amigo de infância das meninas. O que nos leva a pensa que...

– Tudo bem eu digo! Mas eu fui rejeitado.

– Por quem?

– Pela... Chaerin. Eu a beijei uma vez, mas na segunda vez recebi um tapa... – dissera Kai, o que me fez instantaneamente levar meu indicador esquerdo até meus lábios.

Eu me lembrava muito bem daquilo e quem havia dado um tapa nele havia sido eu e não a Chaerin. Ah... Para variar Kai havia nos confundido, e para piorar tudo ele havia roubado o meu primeiro. Lembro-me de ter passado aquele dia inteiro morrendo de raiva dele, porque eu não esperava por aquilo. Mesmo estando acostumada com o fato dele se declarar para mim, pensando que eu fosse minha irmã, mas não esperava que ele fizesse isso.

Depois eu teria que esclarecer aquela história a ele. Porque tenho certeza de que se o Kai tivesse beijado a menina certa, tenho certeza que ele e a Chaerin estariam namorando até hoje. Não acredito que isso tudo estava acontecendo por minha causa.

– Pensei que você seria rejeitado pela Nuri. – Ouvi Baekhyun comentar. – Chaerin não tem cara de rejeitar alguém.

– Talvez sim... – comentou o líder Suho, em tom pensativo, mas logo seu tom de voz mudou para o sério, era quase como uma bronca que ele dava no oppa - Kai você tem aprender a diferenciar as irmãs.

– Por que está dizendo isso? – retrucou o acusado inocentemente.

– Quando as meninas estiveram lá no nosso dormitório, Nuri comentou comigo que você não consegue fazer isso.

– Cara, até eu consigo. – Chanyeol disse com aquela sua voz grossa.

– Vamos mudar de assunto, por favor!?

Os outros integrantes riram do nervosismo de Kai e logo começaram a conversar sobre outras coisas, mas eu já não estava mais conseguindo prestar atenção no que eles diziam. Ainda estava com aquela lembrança em minha mente.

“O sinal do término das aulas havia tocado, e eu estava muito impaciente para chegar em casa. Iria lançar um novo episódio de minha série americana preferida, e eu estava muito apressada. Então corri para pegar as minhas coisas do armário e guardar os livros que não precisaria. Fora naquele momento que senti a mão de Kai pousar sobre meu ombro, me fazendo virar. Bem no momento em que me virei, seus lábios se encostaram-se aos meus sem que eu pudesse fazer nada ou ter uma devida reação. Fiquei paralisada por um tempo, mas quando os sentidos voltaram a mim, eu o empurrei e dei um forte tapa em seu rosto. Bati com força a porta no armário e sai marchado dali. Por causa daquilo nem consegui prestar atenção na série.”

Eles já estavam saindo e eu tinha que dar um jeito de falar com Kai, nem que eu tenho que raptá-lo... Isso já é um exagero.

Abri a porta da cabine e sai me esgueirando pelos armários. Para a minha sorte Kai estava andando mais para trás sozinho. Pelo visto minha onda de azar estava acabando.

Esperei que os membros saíssem para entrar parando na frente da porta impedindo que Kai saísse. Antes de entrar eu havia notado que a porta do vestiário abria para dentro e se alguém quisesse sair ou entrar teria que passar por cima de mim.

– O que você...

– Não se preocupe, vou fingir não ter ouvido nada. – Falei vendo o mais velho ficar com seu rosto enrubescido. – Tenho que falar com você... Em algum lugar que não seja este vestiário.

– Ah... Tudo bem.

O mais velho esperou um pouco antes de me puxar pelo pulso em direção a uma sala de treinos. Só que ela não ficava no andar que nós estávamos. Tivemos que pegar o elevador para chegarmos à sala. Estou começando a achar que todas as salas de treinos são iguais.

– Quando eu era trainee, costumava treinar muito aqui, e não se preocupe que há essa hora ninguém vem para cá. O que você queria conversar?

– Quem te dera o tapa não foi a Chaerin. Fui eu. – Falei mantendo os meus olhos no chão. Por alguma razão não estava conseguindo fazer um contato visual com o mais velho.

– O que?

– Você roubou meu primeiro beijo, é claro que eu te daria um tapa. Já estava acostumada com você dizendo que gostava de mim, mas não esperava que você nos confundisse tanto a ponto de beijar a pessoa errada.

– Me desculpe...

– Não adianta, você não vai devolver meu primeiro beijo... Mas, você pode me ensinar alguma dança. Prometi a alguns meninos do SuJu que aprenderia alguma coreografia.

– Você os conheceu?

– Somente Shindong, Eunhyuk e Donghae. Mas, eu não estava sozinha. Algumas outras trainees estavam comigo.

– Tudo bem... Que coreografia você quer aprender.

– Sei lá... – Mas, então me lembrei do MV que eu havia visto dos meninos do Exo-K. Eu não havia os visto dançando direito, mas havia gostado da musica. – Me ensina a coreografia daquela música que vocês ficam repetindo a palavra MAMA toda hora.

– Ela é um pouco difícil, mas vou te ensinar.

Ele dissera que me passaria à coreografia passo a passo sem a música e de forma mais lenta, para que eu pudesse aprender com mais facilidade e rapidez, mas primeiramente eu me sentei no chão e observei o mais velho dançar. Daquela forma era mais fácil ver a coreografia toda, porque o MV que normalmente passava, não mostra toda a dança... Como eles dizem, não é um Dance Version.

Eu sempre soube que Kai gostava de dançar, mas nunca parara para prestar atenção nele dançando. Sei que ele já fizera apresentações de dança no colégio e Chaerin sempre ia, mas não lembro o que acontecia, mas eu nunca aparecia porque era show de talento, e eu não gostava desse tipo de coisa. Principalmente porque se eu cantasse deixaria minha irmã um pouco triste.

– Kai... Você dança muito... - Comentei quando a musica acabara.

–Eu sei. – Ele disse abrindo um sorriso de convencido.

Então ele começara a me ensinar. Consegui pegar tudo numa boa, até o refrão chegar. A partir dali eu não conseguia fazer mais nada. Não que fosse difícil, mas eu simplesmente não estava conseguindo fazer direito.

– Na parte que cantam saranghaji aneulka mexa mais o quadril, como se estivesse querendo desenhar um circulo no ar. – O mais velho dissera demonstrando mais uma vez.

Tentei copia-lo, mas não consegui.

– Nuri, é assim... – Ele dissera colocando as mãos na lateral de meu quadril.

– Kai! – Quase que tive um ataque. Fiz com que o mais velho se assustasse dando um passo para trás. Eu havia me esquecido que maioria das vezes ele agia por impulso e inocentemente. – Não faça isso, por favor...

– Me desculpe.

Depois que aquilo aconteceu me esforcei para fazer os passos certos, não queria nada daquilo acontecendo novamente. Isso porque tenho certeza que ele ainda gosta de minha irmã e ela ainda gosta dele. Sinto-me culpada... É por minha causa que eles não estavam juntos.

– Kai... Sei que você ainda gosta da minha irmã. Por que não a chama para sair? Sei que ela vai gostar. – Comentei depois de já termos esgotados todas as nossas energias dançando. Agora estávamos sentados no chão da sala, encostados na parede. Já não aguentávamos o peso de nossos próprios corpos.

– Você acha?

Nem consegui responde-lo. Estava tão cansada que acabei adormecendo.