Anjo da Música escrita por Valentinnes


Capítulo 6
Capítulo 6




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Algumas horas antes...

(Chaerin's POV)

Como havia dito para unnie, eu procuraria um emprego, pois passar o dia trancada em um quarto não era o tipo de coisa com o qual estava acostumada e jamais me acostumaria. O movimento, o sol, o calor, a brisa fresca, tudo que propiciasse o movimento, lá estava eu o adorando. Assim que a mais velha deixou o quarto, segui para o banheiro e dei uma boa olhada em meu reflexo. Minha pele parecia um pouco pálida, mas não me importei, simplesmente coloquei de volta os óculos escuros e o casaco com orelhinhas fofas para deixar a área dos dormitórios. Andar pela SM ainda era algo complicado, mas pedindo gentilmente informações para os ajusshis e as ahjummas que ao meu lado passavam, consegui sair do prédio sem ser reconhecida.

Seoul, uma metrópole maravilhosa, a cidade dos meus sonhos. Sempre sonhei em morar na capital, escutar todos os dias o barulho dos carros e passar por diversas faces desconhecidas que um dia me reconheceriam. Tirando meu óculos escuro, abri um gracioso sorriso para a cidade e sai perambulando pelas ruas. Havia tanta coisa para ser vista e tantas pessoas para me verem, mas embora eu me encantasse com o movimento intenso em plena manhã, eu não podia desfocar da minha procura, eu precisava encontrar um emprego. Era impossível não me derreter nas vitrines de lojas de roupas e acessórios, pelo menos elas me motivavam a encontrar um emprego, mas por mais que eu andasse, não havia nada indicando que precisavam de uma vendedora ou algo semelhante.

Até entrei em algumas lojas, mas a resposta era sempre a mesma 'não precisamos de nada, mas nos deixe um curriculum caso apareça uma vaga' e curriculum que era bom, eu não o possuía e nem fazia ideia de como fazê-lo. Na minha antiga cidade não tinha isso, geralmente quando se precisava de emprego era só falar com o vizinho, que ele falava com o amigo, que falaria com o primo, que era dono de um supermercado, mas eu não desistiria, não tendo colocado a Nuri unnie em uma situação como aquela, eu precisa ser útil e forte. Faltando pouco tempo para o horário do almoço, minha barriga estava roncando alto e eu não fazia ideia de onde estava. Voltar para a SM sozinha seria difícil, mas por ser uma grande empresa, achei que qualquer pessoa poderia me indicar o caminho, por isso caminhei mais um pouco, procurando alguém que exibisse um sorriso amigável e percebi que havia parado na frente de uma bonita cafeteria.

- Händel and Gretel... - li aquele nome franzindo o cenho, pensativa.

Aquele nome me era familiar e aquela simples fachada de granito acompanhada do letreiro sutil, de quatro portas de vidros que provavelmente abriam todas juntas em dia de movimento intenso e enormes placas indicando fumegantes e deliciosos alimentos, me fez caminhar para ela. Minha barriga roncando também impulsionou meus pés e quando me dei conta parei defronte com o caixa observando encantada a cafeteria que possuía as paredes revestidas por madeira em um tom bonito e lustroso de dourado.

- O que vai querer? - perguntou educadamente o jovem atendente, tirando-me da minha observação.

Fitei ao rapaz e abaixei os olhos pensando em uma forma de falar aquilo. Eu não tinha dinheiro para pagar, mas minha barriga estava roncando, e ele parecia tão gentil com aquele seu encantador sorriso juvenil, que criei forças para falar.

- Oppa, estou com fome e sem dinheiro, então você poderia me dar uma refeição simples em troca de alguém para lavar a louça? Ou eu posso limpar a cafeteria, até mesmo servir aos clientes se você quiser, mas é que minha barriga está com muita fominha e acabei de chegar de viagem sem uma nota de won para gastar, mas logo encontrarei um emprego, e poderei pagá-lo, pagarei dobrado! – falei tentando ser firme, mas era inevitável não sentir minhas bochechas queimarem pelo constrangimento.

Em momento algum da minha vida eu me imaginava pedindo comida em troca de favores, mas além da fome, minhas pernas precisavam descansar um pouco, ao menos ficarem paradas elas mereciam. O coreano alto e sorridente usava seu cabelo negro arrepiado e não parecia ter mais que vinte anos. Seu enorme e fofo óculos de grau, também lhe davam ar juvenil e as maçãs salientes de sua face, faziam-no parecer um bebê apertável. Eu já havia visto aquela face antes, não conseguia me lembrar de onde, mas ela me era familiar.

- Você está procurando emprego dongsaeng? - perguntou ele fazendo-me assentir prontamente com a cabeça – Pois bem, tenho algo para você – disse ele abrindo um sorriso grandioso em minha face – É que a noona que trabalhava conosco de garçonete vai se casar e deixou o emprego ontem, então não tivemos tempo de anunciar que precisamos de uma nova garçonete, mas se você se sair bem, eu posso contratá-la... Espera, você tem onde dormir dongsaeng? - perguntou o coreano parecendo preocupado.

- Tenho sim oppa, eu sou... Quer dizer, minha irmã é trainee da SM e por enquanto irei morar com ela no dormitório, mas assim que eu arrumar um emprego bom vou procurar um lugar para ficar. E desculpe minha falta de educação oppa, eu me chamo Lee Nuri – disse fazendo uma polida reverência.

- Aigo! Sua irmã entrou na SM? - perguntou ele sorrindo surpreso. Apenas assenti com a cabeça – Meu irmão mais velho também trabalha lá – disse ele todo contente, mas repentinamente ficou sério – Isso é tão óbvio – falou ele para si mesmo balançando a cabeça negativamente em forma de repreensão.

Foi então que me lembrei.

- JongJin oppa? - perguntei surpresa.

- Sim, e é um prazer conhecê-la Nuri dongsaeng – disse ele fazendo uma reverência menor, mas quase me fazendo ter um ataque. O irmão do lindo e talentoso do Yesung estava me fazendo uma reverência, pensei engolindo em seco - Venha aqui pra trás do balcão colocar o uniforme, quero começar o seu teste, se você não passar pelo menos a refeição você ganha – disse ele me indicando a entrada lateral.

Praticamente corri até ele e corei quando o oppa cuidadosamente me ajudou a colocar o avental vermelho em meus braços. Ele pediu que eu me virasse e fez um bonito laço na parte de trás. Quando voltei a me virar para ele, ele pôs a mão em minha cabeça e bagunçou meus cabelos sorrindo.

- Você está muito bem Nuri – disse ele sendo seguido por uma voz que veio da cozinha, avisando que o pedido da mesa dois estava pronto. Ele olhou para a bandeja e novamente para mim – Como você acabou de chegar, vá servir os pedidos, se você se sair bem nisso, deixo você anotá-los, mas talvez seja melhor você dar uma olhada no cardápio antes para não confundi-los... Vá de uma vez à mesa dois e quando voltar conversamos – disse ele me indicando uma mesa ocupada por três jovens.

Concordei sorrindo e me apressei até a bandeja. A bandeja circular não parecia tão pesada, pois havia apenas três pratos de sanduíches e três copos grandes de cappuccino. Para que minha mão direita ficasse livre, apoiei todo o peso da bandeja no centro de minha mão esquerda e caminhei normalmente até a mesa. Quem sabe com um pouco de prática, eu pudesse correr até as mesas, mas por enquanto o importante era não derrubar os pedidos.

- Bom dia – desejei sorrindo aos clientes, que apenas me olharam de canto de olhos – Quem pediu sanduíche de frango? - perguntei abaixando um pouco a bandeja para que eles vissem a comida. Calmamente o da esquerda ergueu o indicador dizendo ser ele – Aqui está – disse de modo fofo, enquanto pousava delicadamente o prato à frente, juntamente com a bebida que era igual para os três. Dei a volta pela mesa sempre servindo pela direita dos jovens. Eu não sabia onde havia visto aquilo, mas sendo o certo ou o errado eu só queria causar boa impressão. Assim que terminei, parei no mesmo lugar do início e coloquei a bandeja na vertical próxima ao meu corpo para que eu não acertasse ninguém acidentalmente – Vocês precisam de mais alguma coisa? - perguntei recebendo negativas com a cabeça – Então tudo bem, se precisarem de mais alguma coisa é só chamar. Boa refeição – desejei sorrindo e caminhei de volta para o balcão de onde JongJin oppa me observava.

- Você já trabalhou em restaurantes ou lanchonetes antes? Tem alguma experiência nesse ramo da comida?

- Não oppa, mas eu aprendo rápido e prometo que darei o meu melhor – falei sorrindo otimista.

- Então faremos o seguinte, se servir o maior número de clientes possível até o fim do horário de almoço e todos eles saírem felizes, o emprego é seu, mas senão ganhará apenas sua refeição – propôs ele com um sorriso gentil, me esticando um bloco de notas em branco, juntamente com uma caneta e o cardápio da cafeteria.

- Pedido da mesa quatro – falou o cozinheiro deixando uma nova bandeja sobre o espaço de comunicação entre a cozinha e o balcão.

- Tudo bem oppa, darei o meu melhor – falei sorrindo e guardei o bloquinho de notas, a caneta e o cardápio no bolso do avental. Ainda ostentando meu sorriso gentil, peguei a bandeja cheia, deixando a vazia no lugar e fui servir a mesa quatro.

Realmente eu nunca havia trabalhado servindo coisas antes, mas houve uma época onde trabalhei em uma papelaria próxima a minha casa, para juntar dinheiro para comprar um bonito vestido para o baile da escola, então ao menos atender as pessoas eu sabia. Os minutos foram passando e o sorriso não saia de minha face, mas confesso que pela falta de costume de carregar tanto peso em apenas uma mão, meu braço começou a ficar dormente, comecei a sentir um desconforto.

- Você está com fome? - perguntou JongJin quando eu voltava pela trigésima vez ao balcão com um novo pedido.

- Estou bem oppa, posso trabalhar a tarde inteira – menti escutando minha barriga reclamar pela fome, mas eu precisava mostrar disposição senão minhas chances de conseguir o emprego cairiam bruscamente.

- Tudo bem Nuri, daqui para frente eu me viro. Agora vá pegar seu prato – disse ele indicando sutilmente com a cabeça para o local onde os pedidos prontos eram deixados.

- Omo! Não serei contratada? - perguntei voltando meus olhos tristonhos para o chão. Eu havia dado tão duro e não me importaria de passar o resto da tarde ali, ainda mais na companhia ilustre do irmão do Yesung, então era óbvio que aquilo me entristecia.

- E por que não seria? - perguntou ele sorrindo – Só não quero que desmaie de fome, agora vá, coma um pouco e assinaremos seu contrato, está com sua identidade? - perguntou ele.

- Não oppa – disse lembrando-me que não havia levado nada, mas completei em um sobressalto lembrando-me que agora eu era Nuri – Na verdade eu fui roubada quando cheguei aqui oppa, não tenho documentos.

- Como foi isso? Você fez um boletim de ocorrência?

- Foi na rodoviária oppa, mas não o fiz, estava ocupada demais para pensar nisso – disse fazendo beicinho de criança manhosa e recordei de outra coisa que estava me esquecendo, eu precisava achar o carregador do meu celular, se é que eu havia o levado, e ligar para o Taeminnie oppa.

- Então faça o boletim hoje de tarde e depois volte... Espere, você é maior de idade? - questionou o oppa novamente, enquanto eu apenas forçava um leve sorriso, mas minha maior vontade era correr para o meu sanduíche.

- Não oppa.

- Então as coisas complicam um pouco, de qualquer forma te contratarei, não acho que minha mãe vá se opor em contratar uma garçonete menor de idade, você pode muito bem entrar como aprendiz, essas coisas, o importante é que você trabalha bem, mas por favor Nuri, não deixe de ir polícia depois que almoçar, você não pode ficar desfilando por ai sem documentos.

- Tudo bem oppa – respondi alegremente e corri saltitante para o meu sanduíche.

Me alimentei rapidamente, para não tomar mais tempo do JongJin oppa e agradeci por sua gentileza. Ele me recomendou que eu fosse de uma vez e pediu que eu voltasse uma da tarde no dia seguinte para assumir meu cargo.

- Voltarei oppa e darei meu melhor – completei com uma reverência e deixei a cafeteria calmamente.

Eu não fazia ideia de que horas acabava o meu turno e também não estava ligando a mínima para isso, tudo o que eu queria era me distrair um pouco, não ficar trancada em um quarto e ganhar dinheiro para não ter que depender da caridade dos outros. Isso sem contar que ainda tinha minha unnie, que provavelmente se animaria em trabalhar lá também, porque querendo ou não, eu precisava ir pelo menos nas aulas de canto para tentar aprender algo. Novamente perdida e sem um mapa para me guiar em Seoul, perguntei a um guarda de trânsito onde ficava a polícia. Ele indicou que eu deveria pegar o metrô que passava ali perto e descer na segunda estação. O resto do percurso poderia ser feito a pé, mas como eu não possuía dinheiro tive que fazer o percurso inteiro dessa maneira. Quando cheguei à polícia minhas pernas estavam bambas, mas não hesitei em entrar. Em pouco menos de vinte minutos o boletim de ocorrência estava pronto e depois eu teria que tirar uma identidade nova, mas com minha falta de coragem, apenas perguntei ao policial onde ficava o prédio da SM.

Foi mais uma hora de caminhada de volta ao prédio da SM. Há poucos metros de uma entrada discreta pelos fundos do prédio, coloquei o disfarce e entrei como se fosse uma trainee qualquer. Pelo menos se quisessem me impedir, era só mostrar meu rosto e... A cada minuto a mais, mais meu cérebro se confundia entre ser Nuri e Chaerin e embora o mérito por entrar na empresa fosse inteiro de Nuri, eu não podia me esquecer de uma coisa, era meu nome que estava no contrato com a SM.

- Um nome em um contrato... Grande coisa - resmunguei para mim mesma fazendo beicinho.

Eu atravessava vagarosamente o corredor indo em direção ao meu quarto quando a porta do mesmo foi aberta bruscamente. Paralisei prendendo a respiração, mas ao notar que era minha irmã com expressão de afobamento, soltei um curto suspiro e voltei a me arrastar para o quarto.

- Vamos Chaerin! Precisamos ser rápidas! - disse ela agarrando minha mão direita com força e me puxando bruscamente com ela.

Minhas pernas ameaçaram fraquejar, mas corri para tentar alcançar a mais velha que literalmente me arrastava corredor adentro. Entrei no quarto quase caindo e fui obrigada a me encostar da parede para recuperar o fôlego, mas enquanto eu estava ali, praticamente morrendo de cansada, a unnie tirava sua blusa branca apressada.

- Omo! O que aconteceu unnie? - perguntei ofegante.

- Não temos tempo para explicações, simplesmente troque de roupa comigo e corra para a aula de música – disse ela me ajudando com o vestido.

- Mas unnie, suas roupas estão suadas - disse fazendo beicinho, mas seu olhar mortal calou-me. Nunca troquei de roupa tão rápido na minha vida. Em poucos segundos eu estava pronta, mas ainda confusa sobre tudo aquilo - Estou bem unnie? - perguntei sorrindo inocentemente.

- Vamos - falou Nuri apressada, colocando os óculos escuros que a pouco eu usava, e saiu me arrastando em direção a sala para que eu não me atrasasse.

Fiz beicinho pela falta de elogio, mas nada disse, apenas corri com ela para o local indicado. Parando no início do corredor, ela me indicou a sala e fez sinal com as mãos pedindo que eu fosse de uma vez. Voltando a fazer beicinho de criança manhosa, caminhei apressadamente até a sala e abri a porta com toda a calma do mundo, evitando ao máximo fazer barulho. Assim que fechei a porta atrás de mim, duas garotas fizeram sinal para que eu fosse até elas. Fiz uma careta sem entender, mas notando que o lugar vazio mais próximo que havia era ao lado delas, caminhei até onde estavam e sentei ao seu lado da jovem de cabelos claros e compridos.

- Onde foi? - perguntou à loira.

- Omo! Por que devo lhe dizer? - respondei novamente fazendo beicinho de criança mimada e olhei para frente tentando ver quem estava dando a aula de música.

Uma jovem de traços pequenos e meigos tocava violão perfeitamente ao lado de um jovem de cabelos espetados que tentava sem muito sucesso acompanhá-la, mas ele estava se esforçando bastante e era possível perceber isso pela sua expressão concentrada e seus olhos vidrados no violão. A jovem cantava de modo doce e encantador. Eu sabia que já havia a visto antes, mas não me lembrava de onde, minha memória era tão ruim que eu precisava andar com uma caneta no bolso para anotar as coisas mais importantes na mão. A música acabou dando lugar aos aplausos e finalmente pude saber de quem se tratava.

- Obrigado IU – disse um homem de terno fazendo uma curta reverência para a jovem que respondeu do mesmo modo. Enquanto isso o jovem deixava a cadeira ao seu lado, deixando o violão em um apoio no chão – Pode escolher o próximo trainee – disse ele a cantora.

Engoli em seco, então era por isso que Nuri estava tão afobada? Pensei alto passando os olhos pensativos pelo chão, mas eu também nunca tinha tido aula de violão, eu só tinha... Sorte? Na verdade era mais culpa da minha perspicácia que só se aplicava a instrumentos musicais. Geralmente apenas por ouvir uma música eu conseguia captar perfeitamente todos acordes que estavam sendo usados em determinado instrumento, era como se aquilo tivesse sido me ensinado em alguma parte de minha infância e eu havia simplesmente esquecido e agora ele voltava aos poucos me surpreendendo com tal habilidade fora do comum, mas Taemin que me virá crescer e sempre esteve comigo acabou com minha teoria dizendo que não, que eu não gostava de instrumentos musicais, preferia pegar o controle da televisão ou uma escova de cabelo e usar de microfone. Pensando em Taemin, lembrei-me da ligação, se ao menos eu tivesse avisado a Nuri... Meus olhos vagavam pelo local quando encontraram os de IU. Minha respiração pesou por ser observada e um sorriso formou-se nos lábios róseos da jovem.

- Você, venha até aqui – disse ele apontando para mim ou quase.

A jovem de cabelos curtos e escuros, mas com mechas loiras, que mais parecia um garoto e estava sentada do lado esquerdo da loira apontou o polegar para si mesmo e perguntou se era com ela. IU assentiu. Fiz uma careta desapontada, mas repleta de aegyo, ao perceber a oportunidade perdida, se bem que tocar violão na frente de todos não seria tão bom assim, então me contentei a cruzar os braços enquanto a garota de cabelos curtos caminhava sorrindo à frente da sala.

- O que aconteceu com você? - perguntou a loira que ficará em um sussurro discreto.

Franzi o cenho sem entender o porquê de tanta intromissão e apenas dei de ombros me concentrando no que as duas tocariam.

- Qual é seu nome? - perguntou à bonita IU sorrindo daquele modo fofo.

- Amber – respondeu a jovem tomando o violão em mãos e sentando-se na alta banqueta.

- Escolha uma música e comece.

Amber assentiu com a cabeça e voltou os olhos para as cordas do violão, pensativa. Notei que ela disse algo em sussurro para IU, que assentiu com a cabeça sorrindo, e começou a tocar. Eu reconhecia aquele ritmo de algum lugar e quando Amber começou a cantar com sua bela voz tive certeza da música. Era Promise do grupo fictício A.N.Jell. Aquela música era muito boa, melhor tocada em uma guitarra é claro e se tive acompanhamento dos outros instrumentos... Sendo uma viciada em doramas como sempre fui, logo comecei a sorrir e movimentar involuntariamente os dedos da mão direita como se tocasse o instrumento. Quando a música acabou as brilhantes garotas foram saudadas por palmas, que inclusive fiz questão de reforçar com as minhas próprias.

- Obrigada – disse Amber sorrindo e fazendo uma curta reverência não só para os trainees como para IU.

- Eu que agradeço – respondeu a jovem – E a propósito, como se chama a garota morena que está ao seu lado?

- Ao meu lado? - perguntou Amber passando seus olhos pelo local vazio, sendo acompanhada por todos os outros olhares curiosos. Do seu lado esquerdo estava um rapaz e ao direito a loira que havia tentando falar comigo.

- Ao lado da loira - corrigiu IU abrindo um sorriso torto.

- Chaerin - respondeu Amber – Ela chegou hoje.

- Chaerin, venha até mim – pediu a cantora gentilmente e agradeceu novamente a Amber que seguiu para o seu lugar.

Ainda surpresa pela minha sorte, me erguido do meu lugar e segui para frente do palco. Quando passei ao lado da jovem de cabelos curtos ela me ergueu os polegares desejando-me sorte em sussurro e continuou a caminhar. Gentilmente assenti com a cabeça e parei somente próximo a banqueta onde os trainees sentavam-se.

- Seja bem-vinda dongsaeng, sente-se por favor – pediu a unnie indicando a banqueta com os olhos. Minhas mãos tremiam involuntariamente de tão nervosa que eu estava, mas tomando fôlego, sentei no lugar indicado e peguei o violão que estava novamente no apoio – Qual música quer tocar? - perguntou ela apoiando o braço direito sobre o seu violão.

- Omo! Eu gosto muito do K.Will – disse abrindo um entusiasmado sorriso ao lembrar-me do oppa – Podemos tocar Present.

- É uma boa música para o piano – comentou ela sempre tão gentil – Comece.

Assenti com um doce sorriso e puxei o ar pesadamente para os pulmões, soltando suavemente pela boca. Coloquei a perna direita sobre a esquerda, para que o violão ficasse mais alto e comecei a dedilhar suavemente o instrumento. Após uma sequência calma de notas o doce ritmo ganhou o acompanhamento da voz de IU. Aquela combinação era bela, não tão bela quanto o próprio K.Will cantando, mas ficará muito boa também. No momento do rap, IU pediu que eu cantasse, mas apenas balancei a cabeça negativamente, fingindo estar muito concentrada para cantar e acabamos ganhando um segundo trainee, de voz espantosamente grossa e afinada, para cantar o rap. O trainee era bem alto, possuía olhos grandes para um coreano e cabelos compridos, escuros e repicados. Quando a música acabou houve uma salva de palmas como das outras vezes.

- Como você toca bem – elogiou a cantora – Há quanto tempo faz aula?

- Eu nunca fiz – respondi com um doce sorriso adornando minha face.

- Omo! Como alguém pode tocar tão bem sem nunca ter feito aula? Isso é um talento especial.

- Talvez... - respondi fazendo uma careta angustiada, eu queria mesmo era ter um talento especial com o vocal, mas minha vida era irônica demais para as coisas saírem como eu queria. Eu estava me levantando do assento quando ela pediu que eu ficasse.

- Não vá ainda Chaerin dongsaeng, quero ver o tamanho de seu talento, sabe tocar uma música mais animada como Sorry Sorry? - perguntou ela me lançando um olhar desafiador.

- É claro que eu sei unnie – respondi com um pouco de arrogância, mas imediatamente sorri, para aliviar meu tom. Voltando a minha posição antiga, arrumei uma daquelas braçadeiras para violão na sexta casa e dedilhei as cordas para ter certeza que o som havia ficado do modo como eu queria.

- No três – disse IU trazendo-me de volta ao instante presente – Um, dois, três – disse ela começando junto comigo.

Nunca me imaginei tocando violão com IU, muito menos com qualquer outro k-idol, mas confesso que aquilo foi divertido. Ainda toquei Gee com a sunbae, sempre evitando cantar, mas a partir do segundo refrão de Sorry Sorry nem foi mais preciso evitar, pois os trainees começaram a cantar todos juntos. Ao fim de nossa parceria voltei para o meu lugar com um enorme sorriso na face, mas dentre tantos trainees animados com a presença de IU, notei uma que ficou me encarando com os olhos semicerrados e os braços cruzados. Essa trainee não aparentava ter mais que dezessete anos, seus cabelos longos e lisos, estavam em um tom de castanho diferente, diria até um pouco mais claro que o chocolate. Sua face era pequena, um pouco arredondada, mas seus traços delicados e bochechas rosadas lhe davam ar meigo, a não ser é claro, por ela me encarar com um olhar mortal. Fiz um bico confuso e apressei meus passos em direção ao meu lugar.

- Omo! Você podia ter nos dito que era melhor em instrumentos musicais do que na dança – disse a jovem de cabelos curtos assim que me sentei ao lado da loira, fazendo-me franzir o cenho intrigada. Elas haviam me visto dançar? Questionei confusa, só então me recordei de um pequeno detalhe.

- Eu tenho os meus momentos – disse com um sorriso forçado em meus lábios, lembrando que Nuri havia assumido meu papel durante a manhã.

E pensando com um pouco mais de calma, cheguei à conclusão que teríamos que conversar sempre que trocássemos de papel para que uma não desse um fora como eu havia dado. Além do mais tínhamos que conversar sobre meu... Quer dizer, nosso emprego. Talvez fosse melhor para ela ficar nas aulas de instrumentos musicais e dança que eram coisas que ela não dominava tanto assim e eu com o canto, mas e se pedissem para ela tocar algo como eu havia feito e ela não conseguisse? Eu realmente precisava falar com ela.

A aula se arrastou até por volta das nove horas, quando finalmente fomos liberados para o jantar. Como eu não sabia qual era o grau de intimidade que a unnie possuía com aquelas garotas, me limitei a segui-las um pouco afastada pelo corredor, mas uma voz fina chamando por meu nome, me fez parar e olhar para trás. De dentro da sala saía trainees e mais trainees, mas entre eles apareceu IU que sorria e acenava.

- Chaerin! - chamou ela novamente – Espere um pouco dongsaeng.

- O que você quer unnie? - perguntei saindo do caminho dos trainees esfomeados que seguiam para o refeitório.

- Eu realmente fiquei impressionada com sua performance hoje, você entrou aqui tocando algum instrumento?

- Não unnie, na verdade foi cantando – disse abaixando a cabeça em meio uma careta para que minha face se escondesse na sombra dos meus cabelos, mentir era algo tão terrível e mentir para alguém fofa como a IU tornava as coisas mais horríveis ainda – Mas eu tive ajuda unnie, Kai oppa estava comigo – falei em um sussurro para que os outros trainees não ouvissem.

Minha irmã tinha muito talento e eu reconhecia aquilo aponto de atribuir-lhe todos os créditos de minha entrada, meu complemento era apenas para fugir de um interrogatório e também de um pedido que eu cantasse.

- Oh! Então você é a amiga do Kai que se juntou a nós... - comentou ela surpresa. Como as notícias corriam rápido, pensei alto – O Kai dongsaeng é tão fofinho, você como sendo amiga dele, sabe se ele gosta de alguma noona? - perguntou ela de modo altamente sugestivo, fazendo minha respiração cessar. Creio que devo ter terminado de empalidecer tamanho era o meu desespero latejante, que só não fazia algo, pois não conseguia movimentar meus músculos – Deixa pra lá – disse IU movimentando a cabeça negativamente – Mas pode ter certeza que eu o escolheria no SBS Inkigayo. Até mais dongsaeng, ainda quero tocar com você algumas vezes e na próxima você vai cantar também – completou ela acenando e me deixou sozinha no corredor.

- Omo! Como posso superar alguém como ela? - questionei pousando meus olhos tristonhos no chão.

Podia ter passado anos e meu reencontro com Kai ter sido um pouco conturbado, mas eu conseguia me lembrar como se fosse ontem de um fragmento de nossa infância, um fragmento esquecido, mas que foi de suma importância para mim e com a reaproximação do mais velho, ainda mais agora trabalhávamos para a mesma empresa, eu sentia que meu coração voltava a bater de forma diferente.

“Era apenas mais um sábado ensolarado no qual eu estava sem nada para fazer. Nuri tinha suas próprias ocupações assim como Taemin, e sem ser novidade alguma, minha mãe estava em sua academia de balé. Em meus sete anos, vesti um rodado vestido rosa claro, que ia até os joelhos, coloquei uma presilha de laço bem fofa no lado esquerdo da minha cabeça prendendo uma porção de cabelo para que ele não escondesse minha face e me aproveitei daquele momento sozinha para ir ao campinho de futebol. Ele ficava na saída da cidade e era inteiramente gramado. Depois dele se encontrava uma floresta calma que era povoada por muitas flores e esse era meu objetivo. Sem temer a nada, por estar acostumada a andar por aqueles lados, adentrei a floresta e comecei a recolher as flores que via pelo caminho. Um sorriso encantado não saia de minha face enquanto eu pegava as mais diferentes e coloridas espécies. Embora não soubesse, eu estava sendo observada por um garoto de mesma idade por quem eu nutria um grande e sincero carinho. Quando dei meu buquê de flores por completo, virei-me para o campinho e voltei a caminhar em pequenos saltos entusiasmados, mas a passos do campo, fui surpreendida pelo meu amigo.

- Chaerin – falou Kai saltando detrás de uma árvore e me sorrindo de modo doce.

- Kai oppa, há quanto tempo está ai? – perguntei fazendo beicinho.

Sua face corou.

- Não muito – respondeu ele gaguejando – Me desculpe por não dizer nada antes – suas mãos se esconderam atrás das costas, enquanto seus olhos vasculhavam ao chão desconfortavelmente.

- Tudo bem Kai oppa – disse me aproximando com um sorriso – Tome, acabei de colhê-las – falei lhe entregando meu ramo de flores.

- Oh! Como são bonitas, mas por que está me dando? – perguntou o mais velho franzindo o cenho intrigado, enquanto seus olhos voltavam a minha face. Normalmente eu lhe dava uma flor ou outra e isso era mais quando ele me pedia, mas por algum motivo que até eu desconhecia, havia feito aquilo.

- Omo! Por que eu gosto de você oppa, então fique com as flores – disse sem pensar direito e assentindo levemente com a cabeça.

O mais velho voltou a enrubescer.

- Você gosta de mim? – perguntou ele com os olhos brilhantes, esperançosos, só então percebi o peso daquelas palavras, o que me deixou ligeiramente confusa e constrangida.

- Aigo oppa! – resmunguei fazendo um beicinho manhoso e busquei o chão com os olhos.

Embora o som da minha respiração houvesse se tornado absurdamente alto, escutei o som dos passos do mais velho se aproximarem e senti no mesmo instante meu coração acelerar. Aquela estranha sensação de inquietude era algo que eu não sentia com frequência, o que tornava tudo mais caótico. Kai parou defronte comigo, mas não me atrevi a desviar os olhos de seus tênis.

- Chaerin – chamou ele sereno fazendo-me erguer a cabeça para que pudesse fitá-lo. Como ele era mais alto, fiquei com a cabeça levemente voltada para cima. Calmamente um sorriso torto e inocente se abriu nos lábios pequenos do oppa – Eu também gosto de você.

Meu coração se acelerou de vez. Meus músculos pararam de responder e eu simplesmente não sabia o que fazer. Eu gostava tanto do Kai, gostava de um modo diferente, especial e aquela declaração fizeram minhas bochechas arderem. Calmamente ele se aproximou com um mimoso sorriso no canto dos lábios. Ofeguei sem perceber, esquecendo-me de tudo a minha volta, das árvores, dos sons da floresta e até mesmo do vento. Sutilmente o oppa inclinou-se para mim, parando com sua face séria frente a minha. Abrindo um tímido sorriso, pousei minhas mãos em seus ombros e fechamos os olhos nos aproximando cada vez mais. Ainda pude sentir a respiração descompassada do oppa em minha face antes que a distância entre nossos lábios fosse selada com um beijo. Embora fosse apenas um encostar de lábios, minha perna direita se ergueu involuntariamente e todas as coisas a minha volta pararam de fazer sentido. Até mesmo o vento, que dançava com meu vestido no ar, parou naqueles preciosos segundos. Kai oppa se afastou sutilmente com um sorriso tímido na face, enquanto minha perna voltava a tocar o solo, mas minhas bochechas queimavam pelo constrangimento. Calmamente abriu meus olhos podendo observar ao mais velho.

- Omo! Eu te beijei de verdade – falou ele abrindo um enorme sorriso, enquanto levava as mãos à boca – Eu te beijei – disse ele então me encarando constrangido – Aish! Preciso ir para casa, nos vemos depois Chaerin – disse o mais velho fazendo uma reverência desajeitada e saiu correndo.

Ainda abobalhada e surpresa, levei minha mão esquerda aos lábios e sorri”

Eu voltava a caminhar suspirando pelos corredores, quando um coreano robusto apareceu no início do corredor acompanhado de uma jovem de corpo esguio e longos cabelos castanhos. Observando melhor aquela garota eu podia ter certeza de algo, ela havia me espreitado com os olhos durante a aula de música.

- Lee Chaerin, eu estava lhe procurando – disse o homem formalmente, fazendo minhas pernas bambearem.

- Por quê? - perguntei inocentemente.

- Arrumamos uma colega de quarto para você – disse ele abrindo um sorriso entusiasmado e apontando a jovem ao seu lado, que em contrapartida abriu um sorriso presunçoso para mim.

- Co-co-colega de quarto? - perguntei me engastando com o ar.

Uma colega de quarto arruinaria completamente meus planos com a Nuri unnie.


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Notas finais do capítulo

Capítulo monstro para compensar a demora -nn. De qualquer forma, espero que a leitura tenha sido bem proveitosa. Dicas, críticas, dúvidas, opiniões, sugestões, ameaças de morte e afins, é só falar. Não percam o próximo capítulo ;D
by: Mc =]



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