Anjo da Música escrita por Valentinnes


Capítulo 4
Capítulo 4




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(Chaerin's POV)

- Fãs! - exclamou o mais alto maravilhado, levando as mãos à face de modo incrivelmente fofo. Suas feições eram doces e inocentes, parecia mais uma criança, seu cabelo castanho brilhava com a luz do corredor e estava incomumente cacheado, mas ele não deixava de ser fofo e o óculos de grau que ele usava, apenas reforçava tudo o que foi dito.

Sorri em resposta para o garoto, mas Nuri ao meu lado não estava nem um pouco animada e se levantou primeiro, me erguendo pelo pulso logo em seguida.

- Não somos fãs – retrucou ela franzindo o cenho indignada para o maior – Precisamos falar com você – agora ela fitava a Kai, que recuou um passo acuado, mas Nuri fez questão de agarrá-lo pelo pulso e saiu o puxando pelo corredor.

Ainda acenei para o garoto que achava que éramos suas fãs em meio a um sorriso entusiasmado e sai correndo para alcançar minha irmã que entrava na saída de emergência. De volta as escadas? Ela estava falando sério? Pensei alto fazendo uma careta desanimada, mas não tive como contestar.

- Você é o único que pode nos ajudar Kai – escutei Nuri afirmar para o oppa assim que adentrei ao abafado lugar.

- Com o que? - perguntou ele acuado. Ele parecia ter um medo extremo de Nuri, o que não era de se admirar, mas considerando sua altura e seu bom preparo físico, era um tanto estranho vê-lo de tal forma.

- Você precisa colocar a Chaerin na SM – disse ela fazendo meu coração acelerar. O que ela queria com aquilo? Eu havia sido recusada uma vez, qual diferença Kai faria? O mais velho fez uma careta confusa, provavelmente pensando a mesma coisa que eu.

***

O plano de Nuri unnie era tão bom que não acreditei que eu não havia pensado nele antes, era bom, mas me dava arrepios. E se descobrissem nossa farsa? Kai também ficou desconfiado, temeroso, mas depois de muita insistência ele aceitou, mas havia um porém em todo o nosso plano.

- Você tem certeza que hoje não terá audições? - perguntei franzindo o cenho aflita – Para mim havia audições todos os dias – completei fazendo um leve bico contrariada, mas tudo que o oppa fez, foi entortar os lábios em meio a uma careta desconfortável.

- Isso é ruim, eu sei, ainda mais considerando que vocês estão sem dinheiro, mas não sou eu que faço os horários, além do mais, é um domingo, poucas pessoas trabalham em um domingo. Mas me respondam, vocês vão mesmo esperar até amanhã?

- Não temos escolha – respondeu Nuri erguendo-se do degrau onde estava sentada.

Acompanhei-a com os olhos tristonhos. Ela não parecia confortável com aquela situação, e quem estaria? Só de pensar que eu havia colocado minha unnie naquela situação, eu me entristecia, mas realmente não tínhamos escolha. Passei os olhos pela face cabisbaixa de Kai e entortei os lábios sentindo-me derrotada no meio de tudo aquilo. E se o plano de Nuri não desse certo? Kai podia ser um cantor da SM, mas ele havia debutado a tão pouco tempo... Eu não queria esperar por nada.

- Vamos Chaerin – chamou Nuri seguindo em direção as escadas.

Forcei um sorriso para Kai, que culpa alguma tinha em tudo naquilo, e a segui, mas antes de chegássemos ao quarto degrau, escutei o oppa me chamar.

- Chaerin! - disse ele parando no topo da escada – Eu não posso deixar vocês dormirem na rua, então venham comigo – disse ele abrindo um sorriso torto e seguiu de volta para o corredor.

Sorri para Nuri que exibia uma expressão surpresa e o segui para longe daquelas escadas intermináveis. Minhas pernas agradeceram quando entramos no elevador. O alívio estava estampado em minha face, o que fez com que Kai abrisse um majestoso e inocente sorriso. Só naquele momento eu conseguia me recordar da nossa infância, bela infância devo reforçar. Éramos tão felizes, tão livres e sem qualquer tipo de preocupação. Sonhar com um futuro brilhante era nossa maior ocupação, sonhar e compartilhar sonhos. Sorri com uma lembrança boba e quando olhei em volta, o elevador abria no térreo. Eu não sabia ao certo quais eram as intenções de Kai. Eu sempre era a última a saber das coisas, mas também não fiz questão de questioná-lo, simplesmente o segui.

***

Kai nos levou a uma lanchonete pequena e não muito distante dali. Suas paredes eram repletas de azulejos brancos e vermelhos até a metade e o espaço que sobrava até o teto, era pintando sutilmente de branco. As mesas de metal e vidro estavam dispostas pelo local. As mesas maiores ganhavam confortáveis sofás de estofado vermelho, mas ficamos em uma pequena e quadrada mesa.

- O que vão pedir? – perguntou a atendente parando ao lado de nossa mesa.

- Espera, iremos almoçar? – perguntou Nuri franzindo o cenho confusa, enquanto eu me focava em dar uma olhada no cardápio que estava disposto sobre a mesa.

- Eu tenho alguns compromissos de tarde, então... – disse o mais velho fazendo uma pausa dramática e sugestiva – Eu quero um cheeseburger e um copo grande de coca-cola – pediu Kai abrindo um curto sorriso para a garçonete.

- Qual deles vem com brinde? – perguntei abrindo um sorriso bobo e animado, mas com a resposta negativa da garçonete, fiz um pequeno bico e passei os olhos mais uma vez pelo cardápio - Eu quero o mesmo que ele e mais uma porção pequena de batata frita.

- Oh! Claro – comentou Nuri revirando os olhos sozinha e pegou o cardápio de minhas mãos – Um sanduíche de frango, um copo de suco de laranja e uma porção pequena de batata frita – pediu a mais velha e depositou o cardápio sobre a mesa.

Soltei um curto e torto sorriso para minha unnie, mas ela não parecia tão animada assim. Na verdade em momento algum ela tirou seus olhos amendoados da mesa. Ela parecia preocupada.

- Hey, Nuri – chamei a unnie tocando suavemente o dorso de sua mão esquerda. Ela me fitou com o canto dos olhos – Vai ficar tudo bem – falei abrindo um sorriso otimista.

Houve um ensaio de sorriso por parte da mais velha, mas novamente ela voltou a se concentrar na mesa. Esfreguei sua mão com delicadeza, apenas para representar que ela podia contar comigo para qualquer situação, e calmamente trouxe minha mão de volta para o meu lugar.

Nossos pedidos não demoraram a chegar e rapidamente saboreei meu cheeseburger. Como a vida era bela, pensava a cada mordida do delicioso lanche. Assim que terminamos, Kai escreveu um endereço em um guardanapo e me entregou juntamente com um pouco de dinheiro e uma chave.

- Por favor – implorou ele – Não toquem fogo no meu dormitório – e agora ele passava seus olhos excepcionalmente pela face indiferente de Nuri.

- Você tem um dormitório só seu? - perguntei com os olhos brilhando, a ideia de ser uma trainee da SM estava se saindo melhor do que eu pensava, mas rapidamente o oppa acabou com minha bonita ilusão.

- Não é só meu, eu divido com os outros membros do EXO K – respondeu o mais velho fazendo uma leve careta, enquanto levava sutilmente a mão direita à nuca – Então um segundo pedido: – disse coçando suavemente sua cabeleira castanha – Fiquem escondidas no meu quarto ok? Até as sete vocês podem ficar andando pelo dormitório sem problema algum, mas depois desse horário entrem no meu quarto e não saiam de lá de maneira alguma, porque eu ainda não conversei com os outros membros e não quero que eles cheguem e deem de cara com duas garotas pela casa.

- E como saberemos qual é o seu quarto? - perguntou Nuri entediada.

- Está escrito na porta – respondeu Kai oppa levemente constrangido. Não pude deixar de achar aquilo completamente fofo – É só pegar o metrô da linha 435 e descer no segundo terminal que vocês chegaram ao meu dormitório. Espero que cheguem bem a ele – desejou o oppa abrindo um sorriso tímido.

- Certo Kai oppa, não nos perderemos e a propósito, obrigada pela ajuda, você realmente é um amigo inestimável – disse levando minhas mãos as mãos do oppa, para um aperto carinhoso e gentil. Só de pensar que no dia anterior eu havia sido rude com ele, e agora ele estava sendo tão bom comigo e com minha irmã, me partia o coração. Suas bochechas coraram levemente e antes que aquele ato se tornasse constrangedor, recuei lentamente soltando suas mãos.

- Vamos Chaerin – chamou Nuri saindo na frente.

Despedi-me do mais velho com um sorriso tímido e segui a mais velha que deixava a lanchonete apressada.

***

Um pouco perdidas e desorientadas conseguíamos chegar ao endereço do dormitório, que na verdade era um apartamento. O prédio onde ele se localizava era relativamente baixo, de sete andares ao todo e um total de quatro apartamentos por andar. Um prédio não muito grande e simplista, mas com uma fachada muito bela nas cores branco, verde escuro e verde claro. Subimos pelo elevador social até o andar indicado no guardanapo e paramos defronte com a grossa porta de madeira. Nuri que no momento carregava minha mochila virou de costas para mim, para que eu pudesse pegar a chave e assim feito, destranquei a porta e a empurrei sutilmente para trás.

A primeira coisa em que reparei, foi na opacidade do piso de cor clara, que demonstrava claramente o seu baixo teor de limpeza. Na curta parede da esquerda havia uma grande porta na cor branca, mas preferimos atravessar o hall de entrada. Assim que o estreito corredor acabava havia um espaço vazio seguido da comum sala de estar. Realmente não havia nada de especial na sala, a não ser pelo sofá de três lugares verde musgo e uma poltrona de tom mais claro. A cortina de cor creme escondia a sacada e um grande tapete cinza aquecia aos pés. A televisão mediana estava em cima de uma estante baixa e de madeira escura, mas não havia apenas ela, havia também um vídeo game, DVD, filmes, revistas e mais outras coisas que tornavam o lugar pesado e desorganizado. Ao lado esquerdo do ‘espaço vazio’ ficava a sala de jantar, que acomodava uma mesa de seis lugares de madeira rústica, mas com seu charme.

E então vinha um corredor. Quatro portas ao todo. A primeira da direita trazia os nomes Kai e Sehun e sem delongas corri para esse quarto. Com uma animação incomum, agarrei a maçaneta e a forcei para baixo, enquanto sutilmente empurrava para trás, mas quase cai ao ver tamanha bagunça.

- Eu entrei no quarto certo? – perguntei recuando alguns passos.

- Ele é um garoto, não se esqueça disso Chaerin – retrucou Nuri me empurrando sutilmente para frente, para que eu lhe desse a passagem.

Assim que passou por mim, ela tirou minha mochila de suas costas e a depositou na cama da direita, onde se aproveitou para sentar-se e retirar o calçado. Fazendo um pequeno bico, soltei da porta e toquei o grande guarda-roupa que havia ao lado dela. Todas as portas estavam fechadas, mas eu conseguia ver metade de uma roupa para fora da primeira porta dupla. As camas também estavam desorganizadas e reconheci metade de um sanduíche do lado do abajur que estava sobre um criado mudo que separava as duas camas de solteiro. Comecei a respirar com dificuldade e instintivamente levei a mão esquerda no peito, em uma tentativa de acalmar meus batimentos cardíacos, mas eles não queriam obedecer.

- Chaerin, você está bem? – perguntou Nuri me analisando com sua face curiosa, exatamente igual a minha.

Ainda arfei alguns segundos antes de dar minha resposta final.

- Nós temos que arrumar isso aqui – disse de uma vez, quase tendo um ataque por dentro.

Uma coisa que eu nunca suportei foi bagunça e com certeza aquele quarto precisava de uma luz divina. Começamos arrumando as roupas e depois passamos para o quarto em si. Por causa disso acabei conhecendo a cozinha e a área de serviço, ambas pequenas como de qualquer apartamento, mas como tínhamos tempo de sobra fomos limpar o resto da casa. Primeiro arrumamos tudo o que estava fora do lugar, segundo varremos o apartamento, depois passamos um pano úmido. Por fim passamos o aspirador de pó nos três tapetes que encontramos. Um estava na sala de jantar, outro na sala de estar e mais um no quarto do Kai. Provavelmente havia também nos dois outros quartos, mas não quisemos entrar neles, ou melhor, Nuri achou melhor que mantivéssemos distância dos outros quartos, por não saber qual seria a reação dos outros garotos. Por estarmos acostumadas a fazer a limpeza de nossa casa, já que nosso irmão Taemin trabalhava o dia inteiro e nossa mãe parecia só ter vida para sua academia de balé, terminamos a tempo de assistir um pouco de televisão.

Por volta das sete e dez, Nuri me alertou sobre o pedido de Kai e fomos para o seu quarto. Fiquei deitada na cama da esquerda, comendo solitariamente uma caixa de pepero, enquanto Nuri se manteve debruçada sobre a janela, observando a paisagem do quinto andar. Não demorou muito para que escutássemos o som da porta e vozes masculinas invadirem ao ambiente exterior. Fiquei particularmente ansiosa para conhecer os outros membros do grupo, mas a unnie não representou nada.

Antes de qualquer coisa, guardei a caixa vermelha e vazia em minha mochila, para só então sentar na cama com a postura perfeita e esperar com um sorriso entusiasmado que a porta fosse aberta, mas devido demora, fiz um leve bico com os lábios e observei a mais velha. Seu espírito parecia tão calmo debruçado sobre a janela, que me perguntei inúmeras vezes se devia fazer uma pergunta, mas minha ansiedade e tagarelice falaram mais alto.

- Como você acha que eles vão... – antes que eu concluísse minha pergunta, escutei o barulho da porta ser empurrada e voltei meus olhos rapidamente para o local, esquecendo-me completamente da minha linha de pensamentos.

- Nossas fãs – exclamou o mais alto maravilhado, levando novamente as mãos a sua face. Não tinha como confundi-lo, era o mesmo jovem que pela amanhã havia nos chamado de tal forma.

Imediatamente abri um sorriso encantada por tamanha fofura e dei alguns passos em direção a porta, mas escutei Nuri bufar alto, provavelmente revirando os olhos pelo tédio.

- Não somos fãs – retrucou ela acabando com o sorriso do garoto de cabelos cacheados.

- Mas poderíamos virar - completei voltando a abrir um sorriso na face do maior.

- Antes que isso se torne mais estranho... – disse Kai empurrando gentilmente o mais alto de lado e parando ao meu lado – Nuri e Chaerin, esse é o ChanYeol – disse ele apontando para o mais alto que acenou animado – E aquele é o líder Suho – completou ele indicando outro jovem que até então estava escondido atrás do ChanYeol.

- Boa noite – disse o líder completamente sem graça, saindo sutilmente de trás do mais alto.

- Boa noite oppa – respondi prolongando o ‘oppa’ de modo doce e infantil.

Nuri também cumprimentou ao líder de modo mais entusiasmado, mas nada que se comparava a mim. Kai nos explicou que havia conversado com o líder e que ele havia concordado que passássemos apenas uma noite ali, então podíamos nos reunir com os outros membros. Assim conhecemos o excêntrico Baekhyun, o inocente D.O e o mal-humorado do Sehun, que teria que dormir com os outros membros, já que eu e Nuri dormiríamos em seu quarto com o Kai.

- Qual cama você pegou? - perguntou um jovem alto e com feições semelhantes ao do ChanYeol, pelo menos eu achei, assim que cheguei a sala de estar e fui apresentada, juntamente com minha irmã, a todos os membros do grupo.

- Qualquer uma... - falei franzindo o cenho confusa, eu não esperava por aquele tipo de pergunta, mas pensando um pouco mais, recordei-me que desde o começo Nuri havia pego a cama da direita, então eu provavelmente dormiria na cama... – Da esquerda – respondi abrindo um sorriso torto, ainda sem conseguir ver sentido naquela pergunta.

- Omo! Por que a minha cama? Você não tem uma cama para dormir? - perguntou o jovem de pele alva e franja castanha bem escura, quase preta, em meio a uma careta indignada, mas quem realmente estava indignada naquela história era eu.

Era óbvio que eu não tinha uma cama para dormir, senão eu não estaria no dormitório dele, mas antes que eu conseguisse transformar isso em palavras que não fossem rudes, até porque eu estava ali de favor, ChanYeol interferiu.

- Maknae! Não trate nossas fãs mal! - ordenou ele sério e abriu um grande sorriso para mim – Venha dongsaeng, vamos escolher nosso jantar – disse ele passando em frente a estante da televisão para pegar um panfleto de uma pizzaria qualquer e jogou-se no sofá verde musgo.

- Temos que nos alimentar bem dongsaeng – disse o líder, que usava um gracioso topete, tomando o panfleto das mãos do meu ídolo. Ele separou os lábios para continuar, mas foi interrompido por uma pergunta animada.

- Quem quer comida chinesa? - perguntou Baekhyun erguendo ambas as mãos com um enorme sorriso adornando-lhe a face.

Depois de muitas discussões e votações acabou decidido por comida chinesa. Como passaria um programa com participação do EXO M na TV, nos reunimos em volta da mesma para assistir ao programa. Um pouco exótico, eu sei, mas a saudade e o tempo livre, faziam deles garotos temporariamente normais. Como não cabiam todos no sofá, ficou distribuído assim: Chanyeol, eu, Sehun e Baekhyun todos esmagados no sofá de três lugares, Suho na poltrona verde claro e D.O, Kai e Nuri sentados no tapete cinza.

Confesso que quando Kai chamou Nuri para sentar ao seu lado, não me importei, até porque não tinha mais lugares vagos, mas em dado momento da entrevista, passei os olhos pelos dois e reparei que eles estavam conversando e rindo. Minha respiração no mesmo instante falhou. O par de hashis que eu erguia até a boca, pesaram de tal maneira, que caíram dentro da caixa de comida chinesa. Era tão estranho vê-los tão próximos, não mais estranho do que sentir meu estômago revirar em uma mistura de repulsa e tristeza. Prestando mais atenção em seu diálogo, reparei que Kai contava a ela sobre seu momento pré-debut, no qual estavam todos reunidos, e embora a conversa fosse sobre algo simples e não íntima como eu havia pensado, ainda me incomodava vê-los tão próximos. Franzindo o cenho como uma criança manhosa e fiz uma das coisas mais bobas que eu podia ter feito. Ergui minha comida para derrubar em Kai, mas no mesmo instante Sehun fez um movimento brusco com a perna direita e o macarrão acabou por cair em seu colo.

- Oh! - falei fazendo uma careta assustada e recebendo toda a atenção – Desculpa!

- Sua, sua... - resmungou Sehun sem saber se jogava o macarrão na cabeça de Kai que estava sentando aos seus pés ou se me chamava por nomes feios – Omo! Tome isso sua ladrona de camas! - exclamou Sehun enchendo sua mão desajeitadamente de macarrão e arremessou em mim.

Meu lábio inferior pesou ao sentir aquela massa úmida acertar minha face. Ele não era capaz de tanto, aquilo devia ser uma ilusão de ótica, um acidente, pensei tirando o macarrão com as mãos, mas notando o sorriso vitorioso do maknae, eu me estressei de vez.

- Aigo, então tome isso – retruquei jogando um punhado de macarrão em sua face, mas ele se agachou e acabou acertando o pobre do Baekhyun oppa, que ficou tão horrorizado quanto eu – Desculpa oppa, desculpa – implorei sentindo a culpa, mas a risada alta de Sehun fez-me esquecer de tudo.

Eu dormiria na rua, mas ele ia pagar por aqui, pensei cerrando os dentes com força. Sem aviso prévio, peguei minha caixa de macarrão e esfreguei na face do maknae. O susto comoveu a sala inteira e quando Sehun se deu conta do que eu havia feito, ele ameaçou jogar seu macarrão em mim, mas Baekhyun foi mais rápido e acertou meu cabelo.

- Ei! Vocês! - berrou o líder irritado – Parem com isso! – ordenou ele inflando as narinas com força e velocidade, diversas vezes consecutivas, mas Sehun que estava todo revoltado por eu ter esfregando macarrão em sua face, jogou a comida no líder e uma verdadeira guerra começou.

Quando a guerra acabou, sobrou para mim e o maknae limpar a sala, mas depois que todos a deixaram, ele simplesmente me ordenou que limpasse tudo sozinha, alegando que eu estava ali de intrusa, e correu para a cozinha. Como eu não desejava mesmo sua companhia, não me importei em limpar a sala sozinha, mas ele ainda me pagaria por sua petulância.

Depois de deixar a sala brilhando, ou quase, segui para o quarto do Kai. Meus braços estavam doloridos pela força que eu havia empregado esfregando o tapete e o sofá, então simplesmente afundei meu corpo no colchão e encarrei o teto. Tão branco, tão sem graça, mas era melhor que ter que esfregar um tapete, pensei fazendo uma careta. Depois de alguns instantes, voltei meus olhos calmamente para Nuri e encarrei suas costas. Sim, ela estava bem acomodada na cama de Kai, acomodada até demais. Metade de sua face estava escondida no macio travesseiro e seu corpo estava encolhido embaixo do cobertor. Talvez sentisse frio, pensei sem mais nem menos, mas quando ela não estava encolhida em si mesma? Pensei mais alto. Meus pensamentos foram substituídos pelo barulho da chuva. A água batendo contra o concreto. Aquele som não era o melhor, mas aos poucos o tédio e o cansaço foram me vencendo e deixei com que minhas pálpebras fechassem.

***

Acordei com Nuri agitando meu corpo e me mandando acordar. A preguiça me dominava completamente, então sem abrir os olhos, entrelacei meus dedos e estiquei meus braços para cima. Escutei o doce som do estalar dos meus dedos e só após forçar bem meus músculos, desfiz a posição e me sentei bocejando e piscando os olhos diversas vezes para me acostumar com a claridade solar que adentrava pela janela e aquecia em especial a cama de Kai, onde Nuri havia dormido.

- Bom dia Nuri – desejei a mais velha abrindo um sorriso torto e preguiçoso.

- Vamos, se apronte, faremos a audição agora pela manhã e vamos de carona com os meninos – respondeu minha gêmea caminhando em direção a porta.

Concordei com a cabeça contrariada e assim que ela deixou o cômodo afundei meu corpo novamente no macio colchão.

***

Após tomar um banho quente e rápido, coloquei um meigo vestido rodado na cor azul bebê, acompanhado de uma faixa branca com um fofo laço mediano e calcei uma delicada sapatinha preta que eu havia levado na mochila para combinar com qualquer roupa, já que no momento de minha fuga eu não podia levar minhas inúmeras sapatilhas. Segui então para a cozinha onde os outros tomavam o café da manhã. A cozinha havia se tornado menor ainda com oito pessoas dentro dela, mas não me importei com todo aquele calor humano e me esgueirei até a bancada onde um prato com muitas torradas descansava.

- Tome Chaerin – disse Chanyeol me entregando a faca de passar geleia com um sorriso gentil.

Fiquei admirada por ele não me confundir com a Nuri, mas nada disse, apenas correspondi seu sorriso, enquanto tomava a faca delicadamente em mãos. Arrumei um copo de leite e me encostei no beiral da porta. Suho, que estava encostado na geladeira, parecia potencialmente animado, mas Sehun, que estava de braço cruzados e encostado no fogão, estava com a expressão fechada, isso porque eu havia limpado a sala sozinha, imaginar como ele estaria se tivesse me ajudado, me causava dores nas têmporas. Todos ali vestiam roupas simples e leves. Regatas se sobressaiam, regatas e moletons, afinal, eles estavam indo para o treino, mas no meio de tantas calças de malha leve, reconheci um jeans. Subi a visão franzindo o cenho e semicerrei os olhos ao notar de quem se tratava.

- Você vai de jeans? - peguntei indignada a Nuri, que estava mais preocupada em devorar sua torrada repleta de geleia de uva.

- Algum problema? - retrucou a mais velha parando subitamente sua mastigação.

- Jeans é bonito, eu sei, mas com essa camiseta roxa não dá Nuri, vista pelo menos uma bata branca ou rosa, eu tenho algumas roupas legais na minha mochila – completei abrindo um sorriso entusiasmado, mas tudo o que recebi de volta foi um suspiro entediado.

- Olha Chaerin, esse seu vestido é bonitinho, mas é aegyo demais, você precisa mesmo de tudo isso? - perguntou a unnie franzindo levemente o cenho, abafando um pouco das conversas paralelas que pairavam no ambiente – Eu vou desse modo, eu me sinto melhor assim, e pelo menos assim não corro o risco de ser confundida com você.

- Mas é esse o objetivo criatura – disse deixando minha torrada e meu copo sobre a bancada de coloração branca – Venha, vamos mudar essas roupas – falei agarrando seu pulso fortemente e sai a arrastando de volta para o quarto de Kai.

Convencer Nuri a vestir uma delicada bata branca com babados em estilo vitoriano foi mais fácil do que eu pensei, mas o vestido lilás, o único que ainda estava limpo, ela não aceitou vestir de modo algum. Acabei trocando minha sapatilha com ela, que queria ir de coturno, e lá fomos nós para a SM na van do EXO K, porque para carregar seis meninos em um carro, só sendo van mesmo.

Embora eu não fosse fazer o teste, eu tremi o percurso inteiro. Meu coração estava batendo a mil e minhas mãos geladas não queriam parar quietas. Em alguns momentos eu sentia até mesmo minha testa umedecer. Eu estava mais nervosa do que dá vez que eu fui fazer o teste e não sabia explicar o porquê de tal reação. Minha irmã era super talentosa, então porque o medo? O nervosismo? Eu me perguntava o tempo inteiro, mas naquele momento, eu sentia que o destino nos pregaria uma peça. Nossa vida inteira havíamos sido confundidas, até mesmo nossa mãe às vezes cometia esse erro. Na verdade a única pessoa que conseguia notar nossas diferenças – se é que elas existem –, mesmo quando estávamos vestidas iguais – coisa que sempre acontecia por causa do uniforme escolar – era Taemin. Ele sim era um irmão dedicado e só de pensar no quão preocupado ele devia estar, meu coração se comprimia implorando para voltar.

Pensando em Taeminie oppa, abri minha mochila repentinamente e busquei por meu celular. Ele devia ter ligado inúmeras vezes e eu nem me lembrava mais daquela forma de comunicação, mas quando o tomei em mãos, notei que ele estava desligado. Ainda tentei ligá-lo, mas a bateria estava descarregada. Praguejei a bateria em pensamento e rezei para que eu tivesse pegado o carregador, mas quando afundei minha mão direita nas inúmeras caixas de pepero para procurá-lo, o veículo estacionou. Sem perceber havíamos chegado ao nosso destino.

Relutantemente guardei o celular e peguei minha blusa de frio com orelhinhas e o óculos de sol que eu havia usado no dia anterior. Nuri podia desfilar livremente pela SM, mas eu estava ali de enturmada, ninguém não podia ao menos imaginar que eu e ela possuíamos a mesma aparência.

Despedi-me dos meninos do EXO K, ou pelo menos parte dele, já que Sehun ainda estava bravo comigo, e segui com Nuri e Kai para a sala onde estava sendo realizado as audições. Pelo horário, havia apenas um garoto acompanhado de sua mãe e uma adolescente que aparentava ter seus quinze anos. Kai foi direto falar com a secretária e quando voltou, se direcionou especialmente a Nuri.

- O próximo será nós – anunciou ele, fazendo meus músculos enrijecerem novamente, mas tentei não demonstrar minha tensão.

Ficamos os três esperando pacientemente até que uma jovem de estatura pequena saísse chorando da sala. Nuri que se mantinha forte e serena o tempo inteiro, olhou para mim arregalando os olhos, enquanto Kai se moveu desconfortavelmente ao nosso lado.

- Ainda dá tempo de desistir – disse ela, sendo seguida pela secretária que pediu que o Kai entrasse.

Ignorei as pessoas a nossa volta e até mesmo a experiência ruim que eu havia tido. Recuperando momentaneamente o controle do meu corpo, parei de tremer e abri um encantador sorriso para Nuri, que exibia um olhar amedrontado.

- Você tem talento Nuri – disse tomando suavemente sua face em minhas mãos - Você vai conseguir, não apenas por você, mas por nós. Agora vá lá e mostre a eles o que é cantar de verdade – completei com um enorme sorriso e soltei sua face dando alguns passos para trás.

Nuri abriu um sorriso torto e assentiu levemente com a cabeça. Voltando-se para Kai, ela soltou um longo suspiro e o acompanhou para a tenebrosa sala.

- Boa sorte Nuri – desejei em um sussurro antes que a porta se fechasse atrás dos dois.


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Notas finais do capítulo

Omo! Será que a Nuri conseguirá entrar para a SM? Dicas, críticas e sugestões serão sempre bem-vindas. Fighting Nuri õ/
by: Mc =]



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