Lá estava Harry Potter. Sujo e manchado de sangue, como sempre. Nossos olhos se encontraram e o silencio se instalou no salão. Ótimo, como se a situação já não fosse delicada sem aquele bando de gente olhando. 

Harry sorriu para mim e eu não resisti. Saí correndo em sua direção. Ele soltou uma risada quando eu me joguei em cima dele. Felizmente, ele me segurou, porque eu certamente teria caído caso contrário. 

Enrolei meus braços em volta do pescoço dele e apertei-o com muita força. Mais força do que Nagini havia me apertado, um tempo antes. Olha só, o afeto sempre me surpreendendo. 

Sem aviso, eu comecei a chorar. 

 - Lizzie... - Harry sussurrou - Está tudo bem agora...

 - Como você conseguiu fazer aquilo comigo, seu cabeça oca? - sussurrei

  - Aquilo o quê? - ele perguntou - Terminar com você, fingir que não estava apaixonado por você ou te mostrar toda a verdade e sair para me matar?

  - Tudo isso. - eu disse socando suas costas 

  Ele suspirou. 

  - Podemos conversar sobre isso... - ele disse 

  Desci do seu colo e o empurrei. 

 - Como. Você. Pôde? - murmurei ainda empurrando ele

 Todo mundo no salão parecia confuso. Rony ria. 

 Ha-Ha, parece que não vai ser agora o beijo que vocês tanto esperam. 

  - Lizzie. - murmurou Harry, me imobilizando - Vamos lá pra fora. 

  Assenti. 

  Harry me pegou no colo e me levou pra fora do salão e para fora do castelo. 

  Fomos em direção à grande ponte onde Voldemort havia passado com o suposto cadáver de Harry, mas uma coisa chamou minha atenção. 

  Voldemort em si. Deitado no chão. 

  - Ei - sussurrei para Harry - Posso chegar perto? 

 Ele me mudou de posição para que eu visse seu rosto. 

 - Tem certeza? - ele perguntou - Digo, cadáveres nunca são muito agradáveis de se ver. 

 Assenti. 

  - Está tudo bem. - eu disse

  Ele passou a mão na minha bochecha, limpando o sangue seco. 

 - O que aconteceu aqui? - ele perguntou 

  - Ah, não foi nada. - murmurei - Você devia ver o outro cara. 

  - Que no caso era...? - Harry sorriu

  - Nagini - bufei

  Ele riu.

  - Vocês duas são as melhores amigas. 

 - Éramos. - eu murmurei - Descanse em paz, parceira. 

  - Você a matou? - ele perguntou

  Neguei. 

  - Neville. - eu disse - Ela estava me matando, para falar a verdade. 

  Sua expressão ficou preocupada. 

  - Ela te mordeu? - ele perguntou

  - Não. - murmurei - Só quase me estrangulou mesmo. 

  Bufei e ri. 

  - Isso não é engraçado. - ele disse

  - É claro que é! - ri - Eu estava numa guerra mágica e ia morrer estrangulada por uma cobra! 

  - Era uma cobra mágica! - ele disse tentando controlar o riso

 - Que ia me matar da mesma forma que uma cobra normal me mataria! - protestei - Veneno e asfixia!

  Harry riu e beijou minha testa. 

  - Tudo bem então, Lizzie. - ele disse - Da próxima vez, vamos achar uma forma mágica para você morrer. 

 Ri. 

Ele me colocou no chão e fomos até Voldemort. 

  Ali, deitado, eu conseguia ver o pouco que havia restado de seus traços adolescentes. Eu nunca havia o visto com uma expressão tão tranquila, embora ele já estivesse até mais pálido que o normal. Ele estava descalço e pude observar seus pés. Constatei que eram horríveis.

  - Como foi? - perguntei

  - Estranho. - Harry disse 

  Ri e passei a mão pela sua bochecha, fazendo-o sorrir.

  - Você acha que devemos enterrá-lo? - perguntei a ele

  Harry observou o corpo por um segundo e eu o observei pelo mesmo segundo. 

  Esse tal de Harry Potter era muito bonito. Era difícil de acreditar que uma criatura bonita daquele jeito estava apaixonada por mim. Quero dizer, ele era realmente muito bonito. Tipo, bonito de morrer. 

Mas eu ainda estava muito brava, só para deixar claro. 

  - Acho. - ele disse me tirando do meu transe - Mas não agora. 

  Assenti. 

  Ele segurou minha mão e nos dirigimos para a ponte novamente. 

  - Então... - disse Harry

  - Então... - eu ri

  Harry riu. 

  - Eu não me preparei para essa conversa. - disse Harry - Quero dizer, eu morri para escapar dela.

  Soltei um muxoxo. 

  Harry me puxou para perto e tirou o cabelo do meu rosto, colocando-o preso em minha orelha. 

  - Você pode me perguntar qualquer coisa agora. - ele disse - Eu prometo que eu vou te explicar tudo o que sei, quantas vezes forem necessárias. 

  Com o canto do olho, vi Rony e Hermione se aproximando. 

 - Vamos deixar esse papo pra outra hora. - murmurei 

 Harry pareceu confuso, mas logo percebeu a presença dos dois e assentiu. 

  Rony e Hermione pararam a alguns metros de nós, mas fiz um movimento com a cabeça os encorajando a se aproximarem. Harry me soltou com um beijo na testa. Ele fez menção de segurar minha mão, mas eu fingi que nem percebi. Ele percebeu e riu.

Rony virou-se para trás para observar Voldy.

— Olha só. Você conseguiu mesmo. - disse ele

Harry riu.

— Pois é. - ele disse - Impressionado? Perdeu muitas apostas?

Rony deu uma gargalhada.

— Várias. - disse ele

Os dois se abraçaram.

— Você deu um baita susto na gente, Harry. - disse Mione o abraçando, quando Rony o soltou.

Harry sorriu.

— Acreditem, o maior susto foi o meu próprio. - disse ele

Mione riu.

— Isso é tão absurdo. - disse ela - Digo, não temos absolutamente nada para fazermos agora! Nada pra achar, nenhuma escola para ir, nenhum vilão para derrotar…

Ri.

— Você tem livros para ler e Ronys para beijar. - eu disse

Ela deu uma risadinha.

— Isso vai ser fácil. - ela disse

Sorri.

— Eu acho que vou tirar férias vitalícias a partir de hoje. - disse Harry - Não quero nenhum problema nunca mais.

Rimos.

— O que me lembra… - ele disse tirando uma varinha do bolso das vestes.

Não uma varinha. A varinha. A Varinha das Varinhas.

Suspirei.

Eu não queria que Harry tivesse aquela varinha. Era uma boa varinha, mas também era uma varinha que só trazia sofrimento e morte. Ele não teria uma vida calma se a possuísse.

— Uma varinha para todos governar. - murmurei

Harry sorriu e com um aceno de sua mão, minhas coisas vieram voando para mim. As coisas que estavam no escritório de Dumbledore.

— Por que? - perguntei, confusa

Ele abriu minha bolsinha e tirou sua varinha quebrada lá de dentro.

— Reparo— ele disse

A varinha de pena de fênix de Harry se juntou em uma novamente. Ela lançou pequenas faíscas vermelhas ao se juntar.

— Você acha que vai funcionar? - perguntei

— Só há um jeito de descobrir. - ele sorriu

Ele apontou a varinha para mim.

— Você vai testar sua varinha nova em mim? De novo? - ri

Ele abaixou a varinha.

— Só vou chamuscar suas sobrancelhas. - ele disse

Ri.

Ele apontou para uma pedra no chão e a levitou. Depois a destruiu.

— Está ótima. - disse Hermione

— Nesse caso… - ele disse quebrando a Varinha das Varinhas

Rony ficou boquiaberto.

— Você é demente? - ele perguntou - Por que fez isso? Era uma Relíquia da Morte!

Harry riu.

— A varinha não vale a confusão que ela provoca. - ele disse - Já tive problemas para uma vida inteira.

Rony assentiu.

— Agora… quem reconstruir Hogwarts primeiro é o campeão! - Harry exclamou, segurando minha mão e saindo correndo, rindo, em direção ao castelo.