Hesitate To Fall escrita por Anna C


Capítulo 5
Boas Intenções




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As estufas nunca me pareceram tão aconchegantes. Por alguma razão, aquele dia de outono estava mais gelado que o normal. Realmente, só faltava nevar.

A Sonserina ganhava pontos atrás de pontos graças aos conhecimentos acima da média de Albus sobre Herbologia. Ele era um orgulho para o Professor Longbottom, que o elogiava com entusiasmo cada vez que acertava alguma pergunta. Já minha amiga, ela estava tendo alguns problemas com a tarefa dada.

– Penny, cuidado com as folhas – disso o professor.

– Desculpe, pai – Penny disse timidamente, desfazendo um feitiço que teve um resultado infeliz.

– Não tem problema – ele apoiou a mão no ombro dela, dando-lhe um sorriso tranquilizante.

Ela acenou positivamente, mas dava para ver que ainda se torturava pelo erro.

– Não esquenta, foi coisa boba – eu disse, tentando acalmar seus nervos.

– Classe dispensada. Ótimo desempenho, Albus – nem dava para saber quem era o queridinho do professor, imagine só...

Todos nos enfileiramos para sair da estufa, rumo ao ar congelante que nos esperava do lado de fora. Virei-me para Penny. Ela continuava cabisbaixa.

A verdade era que ela já andava assim há algum tempo. Ela sempre fora bem quieta e na dela, mas não comigo. Ah, aí tinha coisa!

– O que foi, Penny? – perguntei.

A loira nem me olhou.

– Estou bem – murmurou.

– Não, está esquisita.

Desta vez, sequer respondeu. Manteve-se calada.

– Você quem sabe – eu disse.

Ao chegarmos à porta de vidro, Penny resolveu dizer algo.

– Preciso ver uma coisa com o Professor Hagrid, a gente se vê no jantar.

A essa altura, nem estranhei que ela estivesse me dando uma desculpa para sair fora.

– Tudo bem.

– Tchau – ela saiu na ventania.

Enquanto a observava se distanciar, ficava pensando em quando as coisas haviam se transformado. O que havia mudado na nossa amizade? Porém, o frio não permitiu que eu concluísse minha linha de raciocínio.

– Brrr... Minhas mãos estão congelando – eu soprava ar quente nas mãos para ver se as esquentava. Minhas articulações mal dobravam.

– Pegue isso então – um par de luvas praticamente surgiu a minha frente.

Ao erguer o rosto, vi que era Malfoy que oferecia. Acho que corei um pouco, pois senti as bochechas e as orelhas ficarem mais quentes.

– Anda – ele insistiu. – Não vai doer, prometo.

Hesitei, mas acabei por vestir as luvas verdes escuras.

– Você não precisa ser legal, sabia? – falei.

– Eu não estava usando e você parecia com frio. Foi só isso.

– Por que de repente começou a falar comigo?

– Ah, tem que marcar hora? Quando fica bom para você?

Revirei os olhos.

– Você me entendeu.

– Eu não sei o porquê. Deu vontade.

– Assim, simplesmente? Você acordou um dia e pensou "É, acho que vou virar amigo daquela menina que me odeia, a Rose Weasley. Que bacana que ela é..."! Honestamente, Malfoy, conta outra.

– Só pensei que, como andamos conversando feito duas pessoas normais ultimamente, eu já tivesse intimidade para emprestar minhas luvas.

Bufei.

– Ok, tanto faz.

– Não se preocupe, não precisa agradecer.

Eu ri com escárnio.

– Quem disse que eu ia?

– Bom, é o que geralmente fazem quando pegam algo emprestado. Agradecem – ele deu os ombros.

Malfoy tinha razão, por mais que doesse admitir.

– Mas eu entendo que como você me despreza, seria pedir demais de você.

Ele estava duvidando de mim?

– Malfoy, eu sou superior. Eu tenho capacidade de agradecê-lo, por isso, obrigada – dei dois tapinhas no braço dele e comecei a me afastar.

– Do que você tem tanto medo?

Até parei de andar. Pensei ter escutado mal, mas quando o vi ali ainda parado, me fitando soube que não se tratava da minha imaginação.

– Desculpe, o que disse? Você acabou de dizer que eu tenho medo de algo?

– É a única resposta possível, eu acho – pôs as mãos nos bolsos. – Por que me trataria desse jeito, se não por medo? Por que teme tanto que eu me aproxime? Claramente, está ficando sem razões para implicar comigo.

Abri a boca, mas o som não saiu. Caramba, será que era isso? Talvez meus motivos para embirrar com ele estivessem ficando mais escassos, desesperados e até mesmo meio patéticos.

– Por que você não tenta parar? Podíamos até ficar amigos. Deixar os desentendimentos no passado, o que me diz?

Será que toda a minha aversão pelo sonserino se resumia a medo? As dúvidas embaralhavam meu cérebro. Apesar disso, a teimosia se sobressaía no momento.

– Continuo não convencida, Malfoy. Você é ainda insuportável ao meu ver, imagine ter que passar tempo com você por escolha própria. Nem em sonho!

– Você nunca poderá ter 100% de certeza se não der uma chance.

Pelo jeito, ele também era um pouco teimoso quando cismava com algo. Não estava me forçando a nada, mas falava de maneira desafiadora. Só havia um caminho para por um ponto final naquela história de uma vez por todas.

– Um dia, Malfoy. Nada mais. Você tem um dia para provar que eu estou enganada. Será um dia jogado no lixo, mas enfim... – propus.

Malfoy sorriu largamente. Ele tinha dentes bonitos – não que importasse, ainda me causava uma sensação incomum vê-lo sorrir.

– Sábado, às duas horas, no Três Vassouras – o loiro ia dando passos para trás.

– Ei, ei! Você que decide tudo?

– Tem algo pra fazer nesse dia e hora?

– Não, mas...

– Ótimo. Nos vemos lá então.

– Quê? Mas...

Não concluí a frase, pois ele já havia partido.

Por Merlin, o que eu havia acabado de combinar?

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Eu não sabia nem como conseguia caminhar em linha reta de volta a sala comunal. Minha cabeça estava tão cheia que chegava a pesar e pender para os lados. Fred dava em cima de mim sempre que tinha chance, Penny não falava direito comigo, Malfoy resolveu querer ser meu amigo, ou sei lá, e...

– AHHH! – dei um gritinho agudo quando fui puxada para um corredor escuro, me desviando da rota original.

Um pouco assustada, eu ofegava e procurava a pessoa que me trouxera para lá. Só via os quadros sinistros nas paredes, de gente carrancuda que não devia receber muitas visitas.

– Vamos direto ao ponto.

– AHH! – gritei novamente, me virando para trás.

Era Pandora Zabini.

– Pare de gritar! Quer chamar atenção? – ela me dava uma bronca.

– Na realidade, quero sim. Antes que você jogue um feitiço da memória e me deixe pirada.

– Não vou fazer isso. Você se provou leal nos últimos dias, então vou deixar suas lembranças intactas.

– Ufa... – meu alívio era mais do que nítido.

– Além disso, eu sempre quis uma amiga! – os olhos de Zabini brilharam de excitação. – Vem, vou mostrar minha coleção secreta a você.

Ela agarrou minha mão e me arrastou até as masmorras, mais rápido que se eu dissesse "Quadribol". Subimos até seu dormitório e ela o trancou.

– Senta aí! – ela me empurrou na cama e foi procurar uma coisa dentro de um armário.

– Você divide o quarto com a minha prima Dominique?

– Sim, e outras duas. Ela é um horror.

– Verdade.

Zabini pegou uma pequena arca e sentou-se ao meu lado. Tirou do pescoço uma correntinha com uma chave de pingente. Ao destrancar o cadeado, pude ver como ela era fissurada em Albus. Minha nossa, que obsessão insana!

– Isso aqui é a passagem do Expresso de Hogwarts do terceiro ano do Albus. Foi um sacrifício para consegui-la – Zabini me mostrava o pedaço de papel.

– Hum... – eu não sabia o que dizer diante de uma situação daquelas.

– Essa pena o Albus usou para escrever o dever de História da Magia semana passada. Ele tirou a quarta melhor nota da classe!

– É mesmo? – perguntei, mas não estava interessada. Eram coisas tão irrelevantes da vida cotidiana do meu primo que eu não entendia a empolgação.

– Tenho um álbum de fotos também se quiser ver e... Ah! Você sabia que ele fala dormindo?

– Como você poderia saber disso?

– Ora, o quarto dele é logo ali. E eu sou muito boa com o Feitiço da Desilusão, ninguém nunca me vê.

Meu Deus, que garota doida!

– Zabini...

– Me chame de Pandora, somos amigas agora – ela sorria, ainda eufórica.

– Pandora... Não acha que está levando essa paixonite pelo Albus muito longe?

– O que quer dizer com "muito longe"? – seu sorriso ficava gradualmente menor.

– Bom, é normal possuir curiosidade sobre a pessoa de que se gosta... Querer descobrir sobre seus hobbies e interesses... Mas o negócio para por aí, entende? Digamos que é meio incomum ficar observando os outros enquanto dormem, guardar um guardanapo usado... Sabe, isso assusta um pouquinho.

– Você não entende! Desde a primeira vez que o vi, quando ele estava sendo selecionado, eu soube que éramos destinados um ao outro.

– Quê? Você tinha onze anos!

– Mas agora tenho dezessete e ainda creio nisso.

– Não é desse jeito que funciona. Olha Pandora, se você quer ter alguma chance com ele, tem que largar o binóculo e a câmera, e começar a agir.

Pandora deitou-se, parecendo exausta.

– Não posso.

– Por que não?

– Porque ele nem deve saber meu nome.

Ela não tinha acabado de dizer que eram destinados um ao outro? Irônico, não? Segurei a vontade de comentar.

– Ele deve saber sim. Até eu sabia! Quer dizer, aposto que se inscreveu em todas as aulas que ele está.

– Não é suficiente. Nunca trocamos uma palavra.

– Vocês podiam conversar, oras. Ele é um doce de pessoa.

– E eu diria o quê?

– Você sabe de tudo que ele gosta e não gosta! Impossível não terem assunto.

– Não dá, sinto que se o ouvisse dizendo meu nome, iria desmaiar!

Dramático, mas dela eu não duvidava.

Eu havia tido uma ideia. Talvez me meter naquela história não fosse uma boa, mas eu só conseguia enxergar vantagens. Pandora parava de perseguir meu primo e conseguia o que tanto queria, e Albus se curaria de sua mania de perseguição e, de quebra, ganhava uma namorada. Na pior das hipóteses, Pandora ficaria desiludida e o deixaria em paz.

– Acho que posso ajuda-la.

Ela ergueu os olhos esverdeados para mim.

– Como?

– Albus é meu primo e somos bons amigos. Se andar perto de mim, vai acabar tendo que falar com ele. Posso apresenta-la no dia que quiser, se preferir acelerar o processo. Ajudaria a se enturmar.

– Você faria isso por mim? – sua euforia retornava.

– Sim, mas com uma condição.

– O que quiser! – ela parecia disposta a me dar todos os galeões do mundo.

– Pare de vigiar cada passo que o pobre garoto dá. Dê-lhe um tempo ok? Vai ter que parar se quiser que isso gere resultados.

Pandora fez que sim com a cabeça.

– Certo – falou.

Ai ai, eu estava fora de mim hoje.

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A hora do jantar era uma das minhas preferidas do dia – duh, tinha comida lá. Porém, hoje estava menos satisfatória. Não era culpa dos elfos da cozinha, a comida estava maravilhosa como sempre. O problema era a companhia.

Penny estava mais parada que Malfoy, antes de seu surto de "vamos ser amiguinhos".

– Come um pouco, Penny. Se você não pegar logo a torta de frango eu vou devorar o resto hein – ameacei com o intuito de fazer uma brincadeira.

– Pode pegar – ela disse simplesmente.

Então, Hugo apareceu e se sentou à minha esquerda.

– Rose, você tem que me ajudar. Estou ficando uma pilha por causa do jogo de domingo e, para piorar, a Lily não larga do meu pé!

– Como assim?

– Ela acha que está me ajudando e incentivando, mas só está me deixando mais nervoso... Ah droga! Lá vem ela – Hugo cobriu o rosto numa inútil tentativa para a ruiva não reconhecê-lo.

Nem um segundo depois, Lily surgiu, segurando uma garrafinha na mão.

– Huguito, aqui está o seu tônico. Assim você vai ficar bem forte e disposto até o jogo de estreia! – ela sorria daquela forma meio ingênua e alegre.

– Lily, eu não preciso disso tudo. Na verdade, talvez seja melhor eu descansar um pouco, acabamos de treinar.

– Nada disso, você tem que se levantar e usar um "PAF"! Depois, um "PUF"! E "BUM"! Acabar com a Lufa-Lufa! – Lily parecia estar demonstrando golpes de kung fu, socando e chutando o ar para todos os lados. Alguns alunos até começaram a rir.

– Pare com isso, está passando vergonha – Hugo a repreendeu.

– Eu não ligo para o que acham, desde que eu esteja motivando você – ela parou numa pose digna de um herói de quadrinhos.

– Lily, você me acordou com um megafone às sete da manhã. Megafone! Sete da manhã! – repetiu, temendo não estar sendo claro o suficiente.

Eu sabia que isso aconteceria, era só questão de tempo. Lily derrubou a garrafinha com tônico no chão, que estourou, espirrando a bebida em todos em volta.

– Mas eu só queria ajudar – e ela abriu o berreiro.

Nesse ponto, todo mundo no salão estava observando a cena.

– Calma, eu... – Hugo ia se levantando, mas escorregou na poça de tônico, caindo sentado no chão.

– Aff, mas que idiota – um cara da nossa casa disse.

– Você viu o que ele falou para ela? É um grosso mesmo... – duas garotas falavam entre si, próximas a nós.

Lancei um olhar significativo ao meu irmão, que pôs-se de pé com dores nas costas.

– Conserte isso – sussurrei.

Hugo deu alguns passos para trás e eu genuinamente pensei que ele fosse fugir pela grande porta. Porém, me enganei.

– Iáááá! – Hugo deu um soco rápido que atravessou o ar.

Franzi o cenho, incrédula. Ele havia enlouquecido? Meu irmão ficou fazendo movimentos e ruídos de ninja, até alguém especificamente dar uma risada. Lily gargalhava como uma criança, entre as lágrimas e os soluços. Então, entendi as intenções dele com aquele espetáculo ridículo.

– Nossa, Lily, quem diria que sentar no tônico era muito mais eficiente que bebê-lo? – Hugo perguntou, fingindo estar impressionado.

O salão inteiro começou a rir e eu estava convencida de que Hugo estava completamente fora de si.

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Notas finais do capítulo

N/a: Passando rapidex por aqui... Levei um pouco mais de tempo que o habitual com esse aqui, sorry everybody. Preciso de mais inspiração pra essa fic, hunf... Perdi o embalo. Bom, esperemos que logo volte... Todo mundo legal? Espero que sim, todo tipo de coisa pode acontecer em um espaço de tempo desses, certo? Não me abandonem, amores da minha vida, ainda tô por aqui :) Doida e desesperada com a minha vida pré-vestibular, mas tô sim haha!
Beijitooooooos!
P.S.: Amanhã reviso melhor o capítulo em busca dos errinhos básicos na digitação hehe