Hesitate To Fall escrita por Anna C


Capítulo 11
Contratempos de um Jogo


Notas iniciais do capítulo

BOA NOITE, SÃO FRANSCISCO!!! Ou... Boa tarde, bom dia, seja onde for '-' Nos últimos capítulos de Hesitate to Fall...
Jack: EU SOU O REI DO MUNDO!
Rose: Eu estou voando, Jack! Eu estou voando!
*Pausa a fita*
Er... Casal de ruiva e loiro errado. Pelo menos o nome da principal também é Rose, né...? Não? Ok.
Deixando a Celine Dion de lado, espero que curtam este que, como eu avisei há alguns capítulos, também vai ter um draminha. O próximo também. E o depois dele. Mas o outro não :D Nem o seguinte! Er, ok, vou nessa.



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– Malfoy? - eu o chamei. Era uma tarde como qualquer outra. Albus fazia seu dever do outro lado da mesa, mas percebi quando ergueu o olhar rapidamente, curioso. Hunf, até quando ele insistiria naquela história de 'feitos um para o outro'?

– Rose - Malfoy enfim me olhou, deixando a pena que usava de lado.

– Já faz algum tempo que eu queria perguntar... Por que você é da Sonserina?

O loiro ficou me encarando, mudo. Senti necessidade de me explicar melhor.

– Ah, você sabe. O Albus tem características de sonserino, a Dominique também, mas você? Francamente, até eu tenho mais jeito de sonserina.

De repente, o garoto ficou aflito. Sério, eu nunca havia visto seu rosto tão pálido ou uma expressão tão perturbada.

– Ei, gente! Vocês conseguiram fazer a lição de Runas? - meu primo nos interrompeu de um jeito tão repentino que foi até estranho.

– Não, Al. Agora deixa o Malfoy me responder – fui logo dizendo.

Malfoy desviou seu olhar de mim e começou a revirar seus pergaminhos com anotações.

– Putz, Al, eu ainda não fiz essa. Está muito difícil, é? – falou o loiro, ignorando-me completamente.

Bom, é óbvio que eu não deixaria passar. Meu temperamento nunca foi dos melhores.

– EI! Eu estou falando com você! - ralhei com ele. Tentei maneirar no tom por causa dos outros alunos por perto que estudavam, mas mesmo assim havia sido meio alto.

– Pois é, mas acho que se a gente olhar no capítulo três do livro, dá para fazer. – Albus continuou com aquela conversa, como se eu nem estivesse ali.

– Falando nisso, o exercício sete de Aritmancia está acabando com os meus neurônios! Você já fez?

– Ah verdade, estava dose esse... Mas eu consegui. Você quer ver?

– Pode ser. Já entregou o trabalho de Poções? O meu só deu dois palmos de pergaminho...

– Mesmo? Eu já entreguei com os cinquenta centímetros e tudo.

– Mas o que dava mais para escrever sobre a Terceira Lei de Golpalott?

Aquilo era insuportável. Estavam fazendo de propósito e eu odiava.

– Vocês querem me escutar!? Que coisa mais chata! – berrei, com os nervos à flor da pele.

– NÃO INTERESSA POR QUE, ENTENDEU!? - Malfoy se virou inesperadamente, furioso. Seu rosto estava todo vermelho e seus olhos nunca demonstraram tamanha irritação.

Eu fiquei absolutamente aterrorizada, com os olhos tão arregalados que só faltavam saltar das órbitas e o corpo trêmulo. Ele tinha acabado de gritar comigo? Espere, ele estava zangado? Quando é que aquele garoto se zangava para valer com alguma coisa? E havia sido uma pergunta inocente, eu jamais esperaria uma reação daquelas.

Percebendo sua exaltação e provavelmente minha expressão de puro terror, Malfoy inspirou fundo para se controlar. Ficou encarando seu material por algum tempo, bagunçando os cabelos com uma mão.

– Desculpe – murmurou. Nem um segundo depois, recolheu todos os seus pertences e se retirou.”

Albus não me disse nada depois daquilo, apenas prosseguiu com seus estudos, apesar de minhas perguntas.

Eu não sabia no que havia mexido, mas era forte. Afinal, tinha que ser algo muito poderoso para provocar aquela reação absurda (se tratando de Malfoy). Era difícil decidir se eu insistia, ou se deixava de lado. Eu estava morrendo de curiosidade para saber qual era o ponto fraco do loiro, porém, ao mesmo tempo, tinha medo que falar de novo naquele assunto fosse magoá-lo.

E lá estava eu, importando-me com aquele garoto que três meses atrás eu desprezava com fervor.

Talvez Albus tivesse razão, talvez eu não conseguisse mais me afastar de Malfoy. Admitir aquilo me incomodava menos a cada dia. Eu passava mais tempo com meu primo e com o loiro do que com a minha melhor amiga ultimamente. Tudo bem que Penny estava ocupada com seu novo “lance” - ainda que ela não tivesse de fato confessado que ela e Thomas tinham mesmo algo –, mas eu não enxergava os dois sonserinos como uma segunda opção. Eu apenas ficava com eles a maior parte do dia descompromissadamente. Era quase que... Natural. Isso mesmo, como se fosse o “certo”.

Peguei-me numa noite pensando nos meus primeiros meses em Hogwarts, no primeiro ano. Lembrava-me de como eu e Albus estávamos animados no trem da ida, de como prometemos estar sempre unidos pelos anos que se seguiriam. Foi então que o destino nos separou.

Após a seleção, eu estava na mesa da Corvinal e ele na da Sonserina. Antes que eu pudesse ficar triste, meu primo veio até mim e jurou que apesar de sermos de casas diferentes, continuaríamos os amigos de sempre, que salas comunais distantes não acabariam com o nosso elo. Fiquei tão aliviada com aquelas palavras. Eu não conhecia ninguém na Corvinal e estar sozinha me parecia um pesadelo. O juramento permaneceu verdadeiro por várias semanas, até que ele surgiu na vida de Albus.

Quanto mais tempo meu primo ficava na companhia de Malfoy, menos tempo ficava comigo. Como em praticamente qualquer criança, o ciúme e o egoísmo falavam mais alto dentro de mim. Afinal, o que aquele tal Malfoy tinha de tão legal para o Albus ficar tão amigo dele e tão “do nada”? Só comecei a prestar atenção em Malfoy depois que começou a andar com meu primo. Ele era sempre tão quieto nas aulas, basicamente só falava com Albus. Quando os outros tentavam se aproximar, ele não demonstrava interesse. Sempre aquela expressão apática. Aquela maldita expressão apática.

– É verdade que o Albus ficou amigo do Malfoyzinho? - papai indagou um dia durante um jantar nos feriados de inverno.

Eu já nutria um desgosto por aquele loiro havia algum tempo. Apenas precisava da oportunidade para expôr aquilo. E aquela era a tal oportunidade.

– É sim, consegue acreditar? O pior é que aquele garoto é um chato! Só sabe fazer aquela cara de morto-vivo – fiz uma careta, tentando enfatizar o que dissera. - Eu não sei o que o Al viu nele. O moleque é um tédio só...”

Pronto. Eu havia declarado desprezo eterno a Scorpius Malfoy. Infantil assim.

O mais engraçado é que eu não analisei meus motivos para não gostar dele depois. Nunca houve uma reconsideração, jamais parei para rever meus conceitos. Era simplesmente algo que eu devia sentir, isso era tudo de que eu me recordava.

Mas agora... Eu me sentia estranha. Havia me dado conta de uma coisa que antes nunca me passara pela cabeça. Quem sabe Malfoy nunca foi o garoto entediante que sempre preguei? Ele podia ser somente tímido. Talvez não fosse desinteressado, apenas pouco apto a se socializar. A expressão apática... Teria ele dificuldade em mostrar seus sentimentos? Meu Deus, agora estava tudo tão claro! O quão injusta eu fora durante os últimos cinco anos?

Devia ser por isso que estar com os dois parecia tão certo. Nunca houve razão para eu não estar lá, eu havia criado um caos desnecessário. Se não fosse meu drama de criança, poderia ter tentado conhecer Malfoy antes e descoberto que ele não era nada do que eu imaginara.

Aquela informação toda era esclarecedora, mas também incômoda.

O que eu deveria fazer? Tentar remendar o passado? Assar um bolo de desculpas?

“Siga seu instinto.” algo me dizia.

Nesse caso, eu sentia que bastava ser eu mesma e continuar a fazer o que estava fazendo.

Tudo se desenrolaria naturalmente.

x-x-x-x-x

Muuuuito bem-vindos a mais um jogo de Quadribol, meus caros torcedores!” Neil Jordan, um grifinório filho de um amigo de Tio George, havia sido convocado para narrar a partida. “Estão animados!?”

Um misto de aplausos e gritos de animação foi sua resposta.

É isso aí, pessoal! Hoje teremos uma disputa épica entre Sonserina e Grifinória!”

As arquibancadas foram à loucura. Eu fazia parte da multidão entusiasmada, mas não estava torcendo para nenhum dos times visto que eu possuía entes queridos em ambos.

E aí vêm os jogadores! Albus Potter entra com sua equipe de serpentes e parece determinado. Derek Flint e Katsuya Takagi como batedores, Samantha Bletchey como goleira, Stanley Pritchard, Rufina Berrow e Lydia Boyle são os artilheiros, e é claro, Potter é o encarregado de pegar o pomo... Do outro lado estão os leões, mostrando que têm garra para detonar os verdes e...! Desculpe, Professor Longbottom. Fred Weasley surge com seus jogadores, todos muito dispostos! Hugo Weasley e Wally Thomas estão prontos para rebater os balaços, Ariana “Gata Selvagem” Wyatt defendendo os aros, Hunter Corner, Bryce Banks e Angelica Lewis preparando-se para fazer muitos gols e o melhor, incomparável Fred Weasley competindo com o primo para agarrar os cento e cinquenta pontos! Ah, professor, até que eu fui imparcial, não precisa brigar...”

– Ai, Rose. Eu espero que o Huguito se saia bem! Ele fez um ótimo trabalho naquela partida contra a Lufa-Lufa, talvez meu tônico e meu incentivo tenham ajudado. – comentava Lily ao meu lado. - Acha que o Al vai ficar muito bravo se eu torcer pela Grifinória?

– Como? É claro que não, é a sua casa, afinal! - eu respondi, rindo.

A ruivinha riu também.

– Tem razão, prima. É que estou tão feliz que Hugo esteja tendo um desempenho bom no time... Ele treinou pra caramba nas férias.

– Verdade, era o que ele mais queria esse ano.

Hugo voou para o nosso lado da arquibancada, parecendo tomado pela adrenalina.

– Oi, garotas! – ele disse.

– Hugo! - Lily exclamou. - Que bom que veio nos cumprimentar antes do jogo começar! Não tive oportunidade de desejar boa sorte mais cedo.

Hugo ficou ruborizado.

– Não tem problema.

– Nervoso?

Ele mordeu o lábio inferior, ponderando.

– É, um pouco. Foi assim da última vez também.

– Pois não fique, Huguito! Você é o melhor batedor desse campo. E se alguém disser que não, vou dar um pontapé nele!

Hugo começou a rir da ameaça inofensiva de Lily.

– Obrigado.

A relação dos dois era tão adorável, não tinha como negar. Lily era a única que fazia Hugo relaxar e rir daquela forma. A dedicação que tinham um pelo outro também era comovente. Sempre cuidando um do outro.

O apito soou.

– Em suas posições! - a professora de voo ordenou.

– Tenho que ir – meu irmão anunciou, virando a vassoura na direção oposta.

– Ei, Hugo! - Lily o chamou. O garoto se voltou, curioso. - Para você – ela beijou a ponta dos dedos e soprou na direção do moreno. - Boa sorte.

Como se tivesse sentido o beijo chegar até si, Hugo colocou a mão sobre o rosto e deu um sorriso de lado. Sem dizer mais nada, ele foi para o seu lugar no campo.

– Eu não sei, não, Rose... - Penny sussurrava para mim. - Mas eu acho que o Hugo tem um “precipício” pela Lily.

Eu dei uma ligeira risada, pensativa.

– Você acha?

Penny fez que sim, sorrindo como se tivesse contado uma grande fofoca.

– Hugo afim da Lily? Mesmo? - tive que perguntar mais uma vez, observando meu irmão caçula tomar sua posição. Que aura de felicidade e energia era aquela que o cercava? Nossa.

– Abra os olhos, Rose – ela disse.

Hum... Interessante.”

Eu havia convidado Malfoy para ficar conosco também, mas ele disse que eu estaria cercada por muitos grifinórios raivosos que gostariam de arrancar seu couro caso a Sonserina fizesse algum ponto. Acho que isso foi um sutil “não”. Na verdade, uma escolha sábia, pois ele provavelmente tinha razão.

Após as instruções de sempre, a professora apitou novamente.

E começou! A posse da Goles está com a Grifinória! Hunter Corner desvia do balaço de Takagi, voa por baixo de Berrow e passa para Bryce Banks. Banks vai como um jato na direção dos aros com sua Firebolt 200, dá um giro de 360 graus e... MARCA! Dez pontos para a Grifinória!”

Bryce acenava para as arquibancadas como se fosse da realeza. Hunf, aquele “mortal” na vassoura devia ter sido por pura exibição. Hunter passou voando bem perto do colega de time e deu um tapa em sua nuca, ação que provocou a risada geral e uma cara feia de Banks.

E assim foi rolando a disputa. Goles vai, Goles vem, o jogo estava bem equilibrado. Após uns quarenta minutos, os sonserinos ganhavam por uma vantagem de quarenta pontos. Não era uma diferença tão preocupante, mas os grifinórios ficavam um pouco receosos.

A professora de voo apitou.

– Falta! - ela indicou Angelica Lewis e depois Lydia Boyle. - Arremesso para a Sonserina!

A multidão se dividia entre vaiar e comemorar.

Lydia Boyle vai para a posição... Ela se apronta e... Dez pontos para a Sonserina! Pelos calções de Merlin, o que aconteceu, Wyatt? Cadê sua gata selvagem interior?” Ariana fez um gesto obsceno com a mão às palavras de Neil Jordan. “Tudo bem, parece que a fera está tendo um mau dia...”

– Eles são bons mesmo – sussurrou Lily. Ela parecia nervosa como seus colegas de casa.

Antes que eu pudesse dizer algo, fui desencorajada pelos berros de Penny. Sim, Penny Longbottom estava usando todo o ar dos pulmões para se fazer ouvida.

– CHAMA ISSO DE DEFESA? MINHA BISAVÓ AUGUSTA FAZ MELHOR QUE ISSO! WALLY, TRATE DE MIRAR DIREITO ESSES BALAÇOS OU EU TERMINO COM VOCÊ!

Eu apenas piscava os olhos assustada para ela. A loira notou o meu olhar e ergueu uma sobrancelha.

– O quê?

A princípio, tentei segurar o riso, mas falhei completamente.

– Penny, você está se revelando nesse jogo, hein?

Ela corou, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

– Ah, como se não estivesse muito óbvio que estávamos juntos... E eu posso gritar, não é? Isso é um jogo de Quadribol, pelo amor de Deus! É sobre torcer e se empolgar, certo?

– Relaxa, Penny. Não estou criticando, aliás, muito pelo contrário... Não sei o que o Thomas fez, só sei que tem um efeito incrível sobre você. Vai em frente, amiga! - ergui um punho no ar parecendo um herói de quadrinhos.

A corvinal deu uma risada meio apreensiva, mas logo voltou a fazer o que fazia.

Parece que Fred Weasley está pedindo por um tempo ali.” Vi Fred fazendo um “T” com as mãos e o jogo parou em seguida. Pelo jeito, o capitão da Grifinória estava preocupado e queria rever as táticas com o resto do time.

James, sendo o assistente, passou recolhendo a Goles e os balaços, enquanto as duas equipes se reuniam.

Bom, como uma torcedora do Chuddley Cannons, eu não via a situação dos leões como algo desesperador. As pontuações não estavam tão distantes assim, fala sério. Ok, talvez os Cannons que representassem bem o significado de desesperador – não que eu jamais admitisse isso.

Após uns cinco minutos de pausa, os dois grupos se deram por prontos e foram recebidos de volta com palmas e assobios.

Os times se arranjam novamente no campo... Com o apito, a Goles é lançada pela segunda vez! E a partida recomeça com a posse da Sonserina, que avança para o ataque! Rufina Berrow segura firme a Goles embaixo do braço e... O que tem de errado com aquele balaço?” Todos os olhares se redirecionaram para meu primo Albus que parecia estar sendo perseguido por um balaço mais veloz que o normal. Oh-oh, Potter está enfrentando sérios problemas ali, isso não deve ajudar muito em sua busca pelo pomo...”

Na busca pelo pomo com certeza não, mas ajudar a causar um acidente sério eu estava certa de que sim. Naquele momento, veio-me à memória uma velha história de quando Tio Harry passou por uma situação bem parecida em seu segundo ano. A diferença era que eu duvidava muito que um elfo doméstico com boas intenções estivesse intervindo à favor do “bem estar” de Albus.

Será que Potter poderá desviar por muito tempo? Aquele balacinho parece bem insistente e... OUCH! Isso deve ter doído!” O impacto da bola contra o ombro de Albus foi tão forte que doeu até em mim. O que estava acontecendo? Será que ninguém podia intervir? O perigo era errar o feitiço e acertar o Albus. Eu estava me descabelando ali.

Se a situação continuar assim, ele vai cair da vassoura! Professor, não acha melhor fazer alguma coisa? Esperem! Katsuya Takagi está vindo para a defesa de seu parceiro de time! Takagi voa para o meio do caminho, prepara o braço... Acertou para fora do campo! Merlin, essa foi por muito pouco! Epa, mas ele está voltando, o balaço está voltando...” Antes que o objeto pudesse voltar a seguir meu primo, despedaçou-se em mil pedaços. Lydia Boyle estava com a varinha apontada para o “confete de balaço”.

Ouviu-se o apito. Da varinha da professora de voo saíram faíscas vermelhas.

– Está expulsa!

A torcida da Sonserina toda vaiou a decisão. Acho que destruir um dos balaços durante o jogo não era exatamente um movimento válido... Entretanto, eu dava crédito àquela garota por ter salvado meu primo. Ela devia saber que isso aconteceria, mas fez mesmo assim.

E Boyle está fora! Agora, a Sonserina terá que prosseguir com apenas dois artilheiros...”

A tal Lydia Boyle não contestou sua expulsão, mas ao descer para o solo do campo, foi direto falar com James. Com agressividade, devo acrescentar. Aí vinha confusão, pensei.

– Já volto – disse para minha prima e para minha amiga.

“Lá vai você se meter em história que não é sua...” minha consciência martelava. Dessa vez, senti que minha presença era necessária. Que de alguma forma, eu precisava me enxerir. Bem, ou talvez eu só fosse meio intrometida mesmo.

Enquanto eu descia as escadas das arquibancadas, já podia ouvir as pessoas voltarem a torcer, indicando que o jogo havia se normalizado.

Quando enfim cheguei ao chão arenoso do campo, vi que a discussão continuava. A garota berrava com James, que berrava de volta. Olhei para o camarote dos professores e alguns pareciam tentados a descer para resolver o problema. Então, Boyle empurrou meu primo com força. Aquilo fora demais. Corri para a dupla afim de solucionar o conflito.

– O que está acontecendo?

– Cai fora, Weasley! Isso aqui é assunto nosso! - a garota respondeu rispidamente.

Encolhi-me um pouco, mas James entrou em minha defesa.

– Não fala assim com ela, entendeu? E você está doida, Boyle! Não está falando coisa com coisa!

– É mesmo, Potter? Pois eu acho que a culpa foi sua!

– A culpa foi minha!? Por Merlin, tirem essa pirada daqui!

– Do que ela está falando, Jay? - perguntei, não gostando nada do tom acusatório de Boyle.

– Ela acha que eu adulterei o balaço, vê se pode!

– Será que é tão impossível? Eu vi quando o Albus te deu uma prensa antes do jogo. Ele – ela olhava para mim, mas apontava para James. - queria jogar pela Grifinória, acredita nisso? Precisou o irmão ir falar com ele pra desistir – a sonserina deu uma risada de deboche.

James ficou um pouco constrangido e corado.

– Não foi bem assim! A Angelica Lewis não estava se sentindo bem, eu apenas sugeri...

– Você não é aluno! Vê se enxerga, Potter! E ainda ficou todo bravinho que Albus te repreendeu... Maior confusão nos bastidores antes da partida.

Eu realmente conseguia acreditar que James tivesse feito aquilo mais cedo, porém, atentar contra o próprio irmão? Nunca.

– Olha, mesmo que isso seja verdade, o James nunca enfeitiçaria um balaço contra o Al. É o irmão dele, francamente! - eu disse.

– Mas ele foi o único que teve acesso as bolas do jogo no intervalo. Quem mais poderia ter feito isso?

Aquela era uma boa pergunta.

– Ela tem um ponto, Jay – concordei sem animação.

– Eu juro pela vida da minha mãe...

– Não mete a Tia Ginny nisso.

– Tá certo, eu juro pela minha vida que não fui eu!

– Mas então como alguém pode ter tocado na bola se você estava presente o tempo todo? - questionei.

James coçou a nuca, parecendo um pouco sem graça. Aquele sim era um James Sirius se sentindo culpado. Cruzei os braços, prevendo o que vinha pela frente.

– Bem... Talvez eu tenha dado um pulo ao banheiro...

– O quê?! - gritou Boyle. - Você deixou o equipamento sozinho durante uma partida? Isso é uma falta gravíssima! Todo mundo sabe que o equipamento deve ser supervisionado a todo momento!

– Ela tem razão, James – assenti com pesar. - O erro foi seu.

– Mas foi só por uns quarenta segundos!

– É tempo suficiente, Jay. Devem ter aproveitado sua brecha para adulterar o balaço.

– Alguém pode esclarecer que discussão é essa em pleno jogo? - Diretora McGonagall apareceu, acompanhada por outros dois professores.

James e Boyle começaram a explicar, porém eu fiquei quieta, pensando. Quem poderia querer o mal de Albus? Ele não tinha inimigos. Aliás, muito pelo contrário, ele tinha... Espere.

Algo capturou meu olhar e me deixou alheia a conversa que acontecia logo ao lado. Havia alguma coisa a vários metros de nós numa das saídas do campo. Ou melhor, não uma coisa, mas alguém. A silhueta não estava nítida, porém eu estava certa de que nos observava.

– Ei! - eu gritei. O vulto tornou-se consciente da minha presença e fugiu. - Volte aqui!

Fui correndo em direção àquela saída, mas o barulho excessivo provocado pela multidão e Neil Jordan me impediu de ir em frente. Olhei para cima para ver o que acontecia.

Albus Potter deu a volta por cima e, apesar de sua contusão, trouxe a vitória para as serpentes! O placar final ficou 370 a 170! Sonserina ganhou!”

Meu primo erguia o pomo dourado como prova de seu triunfo. Recolheu a mão brevemente quando sentiu uma fisgada no ombro, mas sem deixar o sorriso murchar.

Fiquei lá olhando a cena com um sorriso bobo, até me lembrar do que fazia havia um minuto. Droga, a pessoa já estaria longe... Sorte a dela. Ou será que eu que tivera sorte de não cruzarmos?

x-x-x-x-x

A Sonserina festejava em sua sala comunal, porém não Albus. Ele estava na Ala Hospitalar recebendo os cuidados da curandeira-chefe, a já idosa Madame Pomfrey. O lugar estava lotado, pois lá havia alguns dos jogadores da Sonserina, eu, Malfoy, Lily, Hugo e James.

– Ele vai ficar bem, não vai nem precisar dormir aqui – dizia Madame Pomfrey. - Só vai demorar um pouco mais que o normal, pois eu tive que improvisar uma poção de cura. Estava em falta no estoque. Por isso, nada de entulhar minha enfermaria! Apenas duas pessoas podem ficar, o resto fora!

Os jogadores de Albus lhe desejaram melhoras e foram os primeiros a sair. Lily abraçou o pescoço do irmão deitado na cama.

– Alzito, você vai sobreviver! Eu prometo! - ela disse e depois se aconchegou embaixo do braço de Hugo.

– Do jeito que você fala, ele vai pensar que está pra morrer – Hugo riu do exagero da prima.

– Ele vai morrer? - a ruiva perguntou, aterrorizada.

– Não, Lily. Não vai – meu irmão a apertou contra si, tentando animá-la. - Vamos comer alguma coisa. Fica bom logo, Al.

Os dois saíram, deixando apenas a mim, Scorpius e James como visitantes.

– Bom, maninho, melhor eu ir também – falou James. - A diretora e a professora de voo querem falar comigo.

Albus ficou com um semblante preocupado.

– Você está muito encrencado?

– Vamos descobrir. Vê se melhora – James deu dois tapinhas amigáveis no ombro enfaixado do irmão.

– EI!

– Ops, desculpe. Eu esqueci – riu sem jeito. - Vou nessa.

E assim fez James. Eu e Malfoy fomos deixados com nosso amigo.

– Por que será que tentaram te machucar? - perguntou Malfoy, intrigado.

– Eu sei lá! Não faço mal a uma mosca – foi dizendo Albus.

– Sem essa de se santificar, Al – eu disse, revirando os olhos. - Mas é muito estranho mesmo. Ninguém tem motivos para querer te atingir...

De repente, a porta da enfermaria foi aberta com um alto ruído, fazendo com que nós três olhássemos para lá.

– Mas o quê... O que você faz aqui? - eu perguntei.

Pandora estava lá parada com os olhos muito vermelhos. Ela olhou para nós surpresa, mas mesmo assim se aproximou com passos rápidos.

– Eu não pensei que teria mais alguém aqui, vi tantos saindo e... - a sonserina parou com suas explicações ao ver o tronco enfaixado de Albus. Ela caiu de joelhos ao lado da cama. - Fui eu! Eu fiz isso com você! Eu que enfeiticei aquele balaço para acertá-lo!

Eu e Malfoy recuamos alguns passos, assustados com os berros da garota.

– Mas logo você? Achei que você o adorasse! - eu disse, espantada com a confissão.

– S-sim – ela dizia aos soluços. - Eu o adoro mais que tudo. Porém, a ideia de que ele me detestasse era uma tortura! Eu dediquei tanto tempo da minha vida e ele não me suportava, não era justo. Fiquei morrendo de raiva! En-então, quis me vingar e provoquei aquela confusão. Mas eu me arrependi no momento em que vi o balaço o acertando – ela mirou novamente o ferimento de meu primo. - Me senti imunda, horrível... Oh eu não mereço estar no mesmo mundo que alguém tão maravilhoso... Tem toda a razão em me odiar! Eu preciso ser punida, preciso ser expulsa! Espera, isso não é o suficiente. Eu devo morrer! - Pandora sacou a varinha e apontou para o próprio pescoço.

Dei um grito de espanto e Malfoy segurou meu braço quando ameacei me aproximar.

– Não faça isso – ele sussurrou como se soubesse de algo que eu não sabia.

Então, Albus agarrou o pulso de Pandora com firmeza. Ela o encarou de olhos arregalados e com o rosto todo encharcado.

– Por favor, me deixe... - Pandora suplicava.

– Não – Albus disse, inabalado. - Não vou deixar.

– Por quê? Eu mereço, eu mereço!

– Porque eu não a detesto, não quero o seu mal. E não, você não merece.

Pandora chorou mais, se é que era possível. Agarrou e abraçou o braço de Albus como se dependesse daquilo.

– Você é tão bom, tão gentil! Não sou digna!

– Pare – ele disse sério, desvencilhando-se da sonserina. A garota readquiriu o olhar assustado.

Albus apenas suspirou e limpou o rosto dela coberto pelas lágrimas com a mão.

– Não quero que chore, está bem? Você fica bem mais bonita quando não está chorando – ele deu um sorriso bondoso a ela. - Pandora, eu não sou um ídolo a ser adorado, sou só um cara normal. Tenho problemas, vontades e deveres como todo mundo. Não sei por que você em algum momento achou que eu fosse superior ao resto, mas isso não passa de um fruto da sua imaginação, entende? Eu sou só Albus Severus Potter, um sonserino do sexto ano. Assim como você ou o Scorpius... Apenas isso. Será que não vê? Exatamente como um garoto qualquer, não fui melhor em momento nenhum, estou a fazendo chorar, não é? Perfeição não existe e, se existir, eu não poderia estar mais distante dela.

Pandora soluçou mais algumas vezes, mas conteve o pranto. Levantou-se e se recompôs. Nossa, ele tinha mesmo uma grande influência sobre ela.

– E-eu sinto muito por tudo que causei. Não só pelo balaço, mas também por aquela história de te perseguir nos últimos cinco anos e tudo mais... - ela disse de cabeça baixa.

– Tudo bem, já está esquecido – ele sorriu de novo. Seu sorriso a contagiou e logo ela o retribuía. - Nossa, muito melhor!

Pandora riu timidamente. Limpou melhor a face e depois colocou as mãos atrás das costas.

– Eu acho melhor me entregar para a McGonagall agora, senão seu irmão pode se dar muito mal. Eu meio que usei um Confundus para distrai-lo... – Pandora corou ao dizer aquilo. - Tchau, Albus. Ah, tchau para vocês dois também.

Ela deu um rápido aceno com a mão e se retirou. Não foi surpresa que os olhares recaíssem em Albus imediatamente após aquilo.

– Não tenho certeza do que aconteceu aqui, mas... Wow! - disse Malfoy.

– Aquela garota pode ter as ideias meio confusas, mas não é sem solução. Pode deixar, Rose, que a partir de agora eu assumo – disse Albus.

– Tem certeza? Quer dizer, eu quem...

– Sim, eu tenho, prima. Você não precisa carregar o fardo de todo mundo, sabia?

– Eu sei, eu sei – respondi, dando tapinhas de repreensão na minha própria testa. - Juro que um dia paro de me intrometer na vida dos outros.

– Ei, Rose. Por que não deixamos o Al descansar um pouco? Foi um dia bem cheio para ele... - sugeriu Malfoy.

– Verdade, vamos deixá-lo – assenti. - Vai ficar legal, né Al?

– E quando é que eu não fico?

Sorri para ele.

– Até depois, então.

– Até.

Sem aviso prévio, Malfoy segurou minha mão e me puxou para fora do local. Fiquei um pouco atordoada com sua ação, apenas sentindo o rosto queimar. Eu caminhava ao seu lado sem coragem de olhá-lo, afinal, eu correria o risco de ele me olhar de volta. Caso aquilo acontecesse... Bom, a cena seguinte era incerta.

O toque de sua mão era confortável e por esse motivo eu não queria soltá-la. Normalmente, apesar disso, eu seria áspera e me afastaria. Perguntaria quem ele pensava que era para tanta intimidade, quem sabe até daria um tapa de indignação em seu braço.

Bom, eu nunca mais faria aquilo.

Ele poderia ficar zangado às vezes como naquele dia em que estudávamos juntos, tudo bem. Ele poderia ser doce como agora e me guiar pela mão, não havia problema também. Eu estava tão tolerante, porque algo havia dado um click dentro de mim. Algo estava mudado.

Estávamos para entrar no corredor principal, então todos poderiam nos ver de mãos dadas. O que pensariam? O que diriam? Não tive tempo de entrar em pânico, pois Malfoy me soltou. Dei um discreto suspiro de desânimo. Eu não sabia bem por que aquilo me entristecera, apenas sentia o que sentia.

– Então, Rose... Quais são os seus planos para o Ano Novo?


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Notas finais do capítulo

N/B: Olá pessoas lindas maravilhosas que nunca vi na vida real, para quem nao sabe sou a Dreamy, a nova beta da Anna ;)
Agora, sobre o capítulo... Preciso dizer que adorei o momento Palbus? *----* Sim, eu digo Palbus .-. Acho o nome do ship tao estranho quanto Pandora que é até digno, entao acostumem-se bitches (ok, parei). Mas falando sério, o momentos deles é tao fofo. Nem sei se eles realmente funcionariam como casal, afinal comecar a se apaixonar por uma stalker louca é demais, mas ao mesmo tempo, até que eles sao fofos juntos! AHH, estou tendo um conflito comigo mesma!!! E sim, Rose, Hugo tem uma queda por Lily, qualquer um pode ver isso!!! Mas quem nao poderia ter uma queda por uma garota inocentemente fofa? *---* Huly (Ou Ligo?) é um casal tao fofo gente, como nao resistir?
Rose minha querida, eu recomendaria você deixar o pobre Scorpius em paz. Ele nao quer falar sobre o assunto deixe quieto. Se você ficar cutucando a ferida ele vai explodir de vez ;P
Apesar que, Rose sendo Rose... nao sei nao, ela provavelmente irá querer saber cada detalhe sobre Scorpius e como ele entrou na Sonserina. Ihhh, vai dar confusao.
Bem, vou ficar quietinha porque a nota ficou grande demais, hehe. Beijos pessoas maravilhosas
N/a: Olááá, tudo bom, gente? Primeiramente queria dar as boas-vindas oficiais a minha nova e queridíssima beta Dreamy *-* *palmas, gritos e assobios* YAAAY! Estou super feliz que tenha aceitado meu convite ^^
Agora, sobre o capítulo, eu espero que tenham gostado. Deu pra ver que sou meio negação com jogos de Quadribol né? Mesmo assim, eu sempre gosto de incluir ao menos um nas histórias (fala sério, Quadribol é provavelmente o único esporte que eu jogaria lol). Agora, estamos bem perto do fim... No próximo capítulo, acontecerá o Natal e algumas situações inusitadas básicas, para não perder o costume haha
Beijooooooooos!



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