Good Day Sunshine escrita por Nowhere Unnie


Capítulo 7
Capítulo 7 - Segredos




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Peguei minha bicicleta e não demorei muito a chegar na casa de Richard porque, além de ser perto, eu estava pedalando o mais rápido que podia e isso ajudava bastante a espantar aquele tal George da minha cabeça. Tia Elsie estava sentada em um banquinho de pernas curtas cuidando do jardim e, quando viu que alguém estava no portão, levantou os olhos e sorriu ao me ver.

— Olá Megan, o portão está aberto, pode entrar!

— Obrigada, tia! O Rick tá aí? — Entrei e me dirigi até ela, a cumprimentando com um abraço.

— Não, ele mal acabou de almoçar e aquele garoto... Como ele se chama mesmo? Ah, Edward... Veio aqui chamá-lo. Dessa vez eles devem ter ido fazer aquela barulheira toda na casa dos Miles! Ainda bem, porque agora esses dois estão aí quase toda tarde! Eu falei para o Harry que não era uma boa ideia dar uma bateria a esse garoto, mas ele me ouviu? Não, claro que não! Ele tem um coração mole e faz tudo que esse menino pede... Agora ele fica por aí só fazendo barulho e estudar que é bom, nada! Não sei onde ele vai parar desse jeito, não sei mesmo!

Eu tentava não rir do modo como ela falava, se dependesse do Richard, ele ia mesmo só tocar bateria e nem teria voltado a estudar. Mas sua mãe insistiu que ele voltasse a estudar quando sua saúde finalmente havia ficado estável e então ele foi para a minha escola. Como ele, era bem mais velho que todos na classe e eu era a única criança que ele conhecia ali, acabamos nos tornando ainda mais amigos e inseparáveis como somos hoje.

— Não se preocupa, tia, ele é o menino mais inteligente da turma, sabia? Até roubaram ele de mim no último trabalho de grupo, você acredita?! — Depois da pequena mentira, eu falei aquilo indignada, com as mãos na cintura.

— Mesmo? Isso é bom! Quer dizer, não a parte de terem roubado ele de você... — Ela riu e voltou a atenção para sua jardinagem, continuando a falar já de cabeça abaixada. — Se você quiser, pode entrar e ficar esperando...

— Não precisa, tia, eu vou lá na casa do Eddie e trago ele de volta porque a gente precisa estudar...

Contei uma pequena mentira mais uma vez e fui pedalando até a rua do Edward Miles, que ficava a dois quarteirões dali. Eu não deveria ter dito aquilo sobre roubarem meu melhor amigo, porque me fez lembrar mais uma vez do George, mas dessa vez eu não fiquei muito perturbada com isso porque estava mais preocupada em prestar atenção para não ser atropelada enquanto atravessava a avenida movimentada com a qual a rua dos Miles fazia esquina.

Quando cheguei lá, eles ainda estavam na calçada da casa do Eddie, conversando com mais alguns garotos que eu não conhecia. Apoiei minha bicicleta no muro e me aproximei deles, que pararam de conversar para me cumprimentar. Eu estava ao lado de Richard, que passou um braço em volta da minha cintura e beijou minha bochecha.

— O que anda aprontando, pra estar de bicicleta por aqui, hein? — Ele perguntou sorridente.

— Eu, aprontar? Nunca faço isso, tá bom? — Respondi brincalhona. — É que eu tinha passado na sua casa e sua mãe disse que você veio com o Eddie.

— Na minha casa, assim tão cedo? Aconteceu alguma coisa? — Ele me olhava com certa preocupação, ainda sem ter tirado o braço dali, porque sabia que eu sempre cochilava, ou melhor, entrava em sono profundo depois de comer e ainda mais nesse primeiro dia de volta às aulas.

— Não, tá tudo bem, eu só... Não queria ficar em casa, sabe? Não tem nada pra fazer lá...

Eu poderia conseguir mentir para o mundo inteiro, mas ele sabia que alguma coisa estava errada e, mesmo não dizendo nada, só me puxou para mais perto dele e eu senti meu rosto corar quando ele apertou suavemente minha cintura e começou a deslizar seus dedos discretamente pela minha barriga. Não que eu não estivesse acostumada com isso, mas é que havia gente estranha ali e eu não podia deitar minha cabeça no seu ombro para ficar mais à vontade porque também sentia vergonha por eles estarem olhando.

— Você pode assistir o nosso ensaio se quiser, Megan. — Eddie disse enquanto um dos garotos dava tapinhas nas costas dele parq se despedir e saiu andando pela calçada, seguido pelos outros.

— Sério? Eu vou adorar! — Respondi animada. — Achei que esses garotos fossem tocar com vocês também...

— Não, eles são só uns vizinhos do Eddie, mas a gente vai formar uma banda logo, logo! — Richard explicou e logo entramos, ficando por lá até o fim da tarde.

No caminho de volta, ele apoiava a mão no meu ombro enquanto eu caminhava em silêncio, carregando a bicicleta ao meu lado. Assistir o ensaio foi bastante divertido e eu já tinha me esquecido de todas aquelas sensações confusas, até que ele quebrou o silêncio entre nós.

— Eu sei que você tem alguma coisa pra me falar... Então vai dizer agora ou é melhor esperar chegar em casa?

Eu estava disposta a confessar tudo para ele ali mesmo, mas por algum motivo estranho, só então eu percebi que esse era um assunto difícil de se comentar, até mesmo com meu melhor amigo, de quem eu nunca tinha escondido nada. Não sabia nem por onde começar, mas eu sentia que iria explodir se não contasse isso para alguém, então decidi criar coragem até chegar na casa dele e respondi:

— Deixa, eu falo em casa...

— Tá bem, então.Richard afagou brevemente meu ombro e continuamos andando em silêncio, mas eu diminuía cada vez mais o ritmo dos meus passos, tentando lidar com essa outra nova situação de não me sentir a vontade para falar sobre alguma coisa com ele.

Quando finalmente chegamos na casa dele e entramos, nos jogando no sofá quase ao mesmo tempo, sua mãe apareceu pelo corredor de braços cruzados.

— Então você foi chamá-lo de volta para estudar, Megan? Estou vendo que grande aplicação essa de vocês, passando o dia inteiro na rua!

— Mas a gente tava estudando, tia! Sabia que o Eddie é muito bom em matemática? Ele tava ensinando algumas coisas pra gente e... — Ela interrompeu minha desculpa cínica enquanto Richard ria, sabendo que eu nunca havia conseguido enganar sua mãe ou qualquer outro adulto, porque eu simplesmente não sabia dar desculpas convincentes para eles.

— Não quero saber de mais desculpas esfarrapadas! Daqui a pouco o jantar está pronto e você vai ficar para comer, antes que sua mãe ache que você passou o dia inteiro aqui com fome, telefone para me dar uma bronca e eu seja obrigada a contar que vocês dois fugiram dos estudos! — Ela sentenciou em um tom de voz brincalhão.

— Tá bem, já que a senhora insiste... — Respondi com o acréscimo de algumas risadas antes que ela se retirasse, desaparecendo pelo corredor em direção à cozinha.

Em seguida, Richard puxou minha mão, como sempre fazia, me convidando a deitar a cabeça em seu colo. Pode parecer besteira, mas eu sempre me sentia melhor quando me deitava assim e fechava os olhos, sentido seus afagos em minha cabeça. Eu já estava me sentindo mais à vontade quando ele começou a me fazer cafunés, ainda que não estivesse completamente segura se deveria mesmo contar como eu me sentia e apenas olhava para ele, que ainda não tinha parado de rir.

— Você nunca vai aprender, né?

— O quê?

— Que você não consegue inventar histórias...

— Eu consigo sim, tá bom? — Me senti um pouco ofendida e franzi o cenho.

— Ah é? Me diz uma só vez que você tenha conseguido... — Ele me desafiou com um sorriso sarcástico no rosto

— Hum... Não lembro de nenhuma vez agora, mas já consegui muitas vezes!

— Claro, claro... Muuuuuitas vezes! — Me respondeu e voltou a rir, não sei bem se era da minha expressão facial emburrada, ou se do fato de eu nunca ter conseguido mesmo.

— Mas você sabe que eu te amo de qualquer jeito... — Ele depositou um beijo em minha testa e parou de rir. Também não precisou dizer nada para que eu entendesse que havia chegado o momento apropriado para dizer o que tanto me incomodava.

— Rick... Você já... Não sei bem como dizer, mas você já sentiu alguma coisa estranha? Porque você é mais velho que eu né, então deve entender dessas coisas... ESabe quando, de repente, você sempre... É... Tem vontade de matar todo mundo o tempo todo... E tem aqueles garotos que são chatos e irritantes, mas aí você percebe que assim, do nada, tem um que é diferente dos outros e você não sabe muito bem o porquê, mas... É... Não como explicar... Eu nem tô falando coisa com coisa, né? É, eu sei que não, mas... Ai, isso confunde minha cabeça toda assim mesmo!!

Ele me escutava pacientemente, com a expressão mais séria do mundo e, só quando eu terminei de falar, ele respondeu:

Estamos falando de garotos, é isso mesmo? — De repente, ele começou a rir e a me fazer cócegas. — Megan passou a gostar de garotos? Não acredito nisso!!

— Não, para!! Paaaaraaaaaa!! — Comecei a rir contra a vontade e me sentei, tentando me livrar das cócegas. — Richard, para já com isso!! — Eu ria descontroladamente, quase com falta de ar.

— Tá bem, tá bem, eu paro! — Ele teve compaixão de mim e logo me encarou com uma expressão de admiração forçada. — Minha bebê está crescendo!

— Deixa de ser besta, Richard! — O repreendi com muita raiva. — Você não entende que isso não é engraçado? — Completei bufando e ele me abraçou, começando a falar ternamente:

— Desculpa Megan, é que... É tão engraçado te ver assim, mas tudo bem, vou parar de rir... E quer saber? Eu sei como você se sente.

— Sabe? — Perguntei surpresa, porque achava que se ele gostasse de alguém ou algo parecido, também iria me contar, porque ele nunca me escondia nada.

— Pois é, eu nunca falei isso pra ninguém antes, mas eu sei bem como é você, assim do nada, perceber que gosta de alguém de um jeito que... Você nunca gostou de ninguém antes...

— Mas por que você nunca me disse nada? Eu achei que fosse sua melhor amiga! — Eu estava um pouco ressentida por ele ter escondido algo de mim e tentei me soltar daquele abraço, mas ele firmou os braços e não deixou que eu me afastasse.

— Eu sei, mas... Ah, não é assim tão fácil de se falar, tá bom? Você sempre foi tão... criança. Só aconteceu uma coisa dessas com você agora e olha como é confuso... Se eu te contasse isso antes, acho você não ia entender...

— Tá, talvez não entendesse mesmo, mas também nunca fui assim tão criança a ponto de não entender as coisas e eu não ia ser idiota como você foi, zombando da minha cara!

— Não mesmo? — Ele me perguntou em um tom desafiador.

— Não! Tá, eu acho que ia fazer exatamente igual... — Revirei os olhos e ri, vencida.

Ele também riu e, como eu ainda estava entre os seus braços, recostei a cabeça em seu peitoral e ficamos ali abraçados durante muito tempo. Talvez tenham se passado muitos minutos, porque eu perdi as contas de quantas batidas do seu coração conseguia escutar ao pé do ouvido e já estava quase cochilando quando, de repente, senti seu coração bater mais forte e me afastei assustada. Mas antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa, ele segurou o meu queixo, levantando suavemente minha cabeça até que meu olhar sonolento encontrasse o dele.

— Megan...

— Hm?

— Sempre te contei segredos meus e eu acho que... Você deveria sabe esse também...

Seja lá qual fosse aquele segredo, seu olhar parecia sério demais e eu me obriguei a ficar acordada o suficiente para ouvir o que ele tinha a dizer. Mas ele aparentava não ter muita certeza se deveria mesmo me contar, ou talvez estivesse só escolhendo cautelosamente quais palavras usar e eu apenas esperei pacientemente em silêncio, o que não era muito comum em uma situação de curiosidade como aquela, mas eu não queria correr o risco de que ele desistisse de me contar aquilo e eu nunca mais soubesse do que se tratava.


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