Mais uma vez Damon tentou forçar Isabella tomar o sangue de seu pulso. Na 15° vez ela conseguiu engolir e acordar tossindo, sufocada.

- Graças a Deus.—Damon exclamou e apertou Isabella contra seu peito. – Eu achei que você não acordaria, nem que eu a encontraria.

Damon havia passado mais de 30 horas procurando por Isabella embaixo da água. E mais de duas horas tentando fazê-la acordar.

Porém Bella não estava completamente sã. Sua mente vagava para a morte de Katherine e de como ela era culpada por isso. Ela matou a própria irmã.

Damon continuou apertando Isabella contra si, beijando a cabeça dela hora ou outra, segurando sua mão fria e se reconfortando de que ela estava ali.  Porém Isabella não estava realmente ali.               Estava longe, distante. Presa no momento em que havia matado a própria irmã.

Damon esperava que isso passasse logo. Só não contava que Isabella ficaria nesse estado deplorável e depressivo por mais de dois anos.

Mas o que é dois anos quando se tem a eternidade?

(...)

  Nesses dois anos em que se passou, Damon não havia largado Isabella. Mesmo que ela ficasse apenas encolhida em um canto, olhando para o nada e sem fazer nada, Damon continuava ali. Obrigando-a tomar banho e tomar sangue. Porém ela não fazia nada, mesmo que Damon tentasse até na hora do banho, ela não ligava.

Ela estava morta.

Bem, era como se estivesse.

Damon havia passado dois anos inteiros dentro do quarto, ao lado de Isabella. Dormindo ali, abraçando ela, servindo sangue que Ever trazia e muitas vezes do próprio pulso. Mas de nada adiantava, Isabella estava presa no momento em que matou sua irmã.

Damon havia conseguido entrar em sua mente por ela estar fraca demais. E viu que, a única coisa que ela via era o momento em que arrancou o coração de sua irmã após o esmagar, e passavam-se horas enquanto a mesma frase se repetia “Você matou sua irmã, você matou sua irmã, você matou sua irmã, você matou sua...” até que a imagem de Katherine morrendo voltasse.  

Ever procurou bruxas, feitiços, a cura para isso, para essa tortura psicológica que Bella passava. Mas não tinha nada.

Então após quase completar três anos, Damon entendeu que o que Bella passava era a forma que ela havia encontrado para ainda ter a irmã presente.

Por mais que Bella ficasse em seu estado de zumbi, ela não havia chorado. E isso deixava Ever agoniada.

A primeira vez que Damon saiu do quarto foi para procurar Ever, que estava preparando um copo com sangue para Isabella.

- Ever.—Damon chamou baixo, estranhando como se falava. Ele havia se perdido no silencio de Isabella que nem sequer havia percebido que ainda podia falar.

- Sim?—Ever se virou devagar.

- Você tem... Hum... Algo de Katherine? Pegou o colar?

- Hã... Sim, por quê?

- É que... Bem, eu acho que se Bella encontrou uma forma de ficar ligada a Katherine e foi a pior forma, ela pode... Ter algo melhor.

- Bem, está em meu quarto.—Ever correu. Damon a seguiu e logo segurou o colar. Damon suspirou e voltou para o quarto escuro de Bella. A onda de tristeza bateu nele com força total, porém ele aguentou e se sentou ao lado de Isabella.

- Hey... —a chamou de leve, mas Bella não respondeu.

Desistiu de chamar e tirou o colar dela, ela ficou parada. Ele colocou o colar de Katherine e então Bella moveu o pescoço para baixo, encarando o colar em seu pescoço. Ela sabia que era de Katherine.

- Isso pode ser a melhor solução... —Damon disse em seu ouvido, Isabella estremeceu.

Afastou-se um pouco e isso encheu Damon de esperança. Então, os olhos da vampira brilharam e uma lágrima caiu, lágrima que Damon secou.

E então ela começou a chorar.

Chorou até não lhe restar mais lágrimas, chorou até desmaiar. Chorou tudo que precisava durante todo o tempo de vida. Chorou o máximo que pode para poder se aliviar. Manchou a camisa, a calça de Damon e o lençol da cama. Chorou parecendo um bebezinho, uma criança indefesa. Porém Damon estava ali, prendendo seu cabelo, a abraçando, beijando seu rosto, tentando em vão secar as lágrimas, apertando sua mão, os braços em seus ombros. Ele estava lá para ela, isso que importava.

Após algumas horas chorando Isabella dormiu. E após 74 horas dormindo, acordou se sentindo renovada, sentindo-se melhor. Olhou confusa para onde estava. Queria saber como havia chegado á aquele quarto que não era dela, por que a cama estava mais macia e queria saber também de quem era esse travesseiro que se movia.

Após erguer o rosto, percebeu que o ‘travesseiro que movia’ era o peito de Damon, que acordou assim que Isabella ergueu a cabeça.

- Hey,--Damon a chamou.

  Bella não respondeu, olhou confusa ao redor e encarou Damon novamente. Perguntando em silencio tudo que precisava saber.

- Este é o quarto de Ever.—disse.— Você está aqui ha quase três anos desde que te salvei no Paraguai. Lembra-se?

  Isabella assentiu levemente, depois moveu o pescoço para se alongar.

- Você ficou parada aqui, que nem notou nada. Nem sei mais como é o por do sol.—Damon riu de leve, mas Bella não ligou.— Fale alguma coisa.—pediu.

- Hum...—Bella resmungou. Damon se sentou e beijou a testa dela. Um beijo demorado, que demonstrava o quão preocupado ele estava.

- Quer descer um pouco? Ever irá ficar feliz em saber que você acordou.

- Não.—sua voz saiu rouca. Damon suspirou e a abraçou. Isabella deixou-se ser abraçada e ficou ali por longos minutos, sentindo-se segura ali, enquanto Damon acariciava seus cabelos.

- Você... Hum... Quer alguma coisa?

- Água. Nunca imaginei que sentiria falta de água.

- Nunca imaginei que sentiria falta de sua voz.—Damon beijou o rosto de Isabella de novo.—Ever.—Damon a chamou dali. Logo Ever apareceu no quarto com uma garrafa de água. Bella sorriu de leve e logo sentiu os braços de Ever ao seu redor. Damon segurou a garrafa de água antes que caísse.

- Tome, sua água.—Ever tomou a garrafa de Damon, Bella apenas sorriu e bebeu direto da garrafa, só um pouco. Depois se deitou novamente.— Vou estar lá embaixo, qualquer coisa...

- Tudo bem.—Bella deu um pequeno sorriso. Ever saiu meio hesitante, só se sentiu segura ao olhar de Damon.

O vampiro se deitou na cama e olhou bem para a morena em sua frente. Pensando em o que dizer á ela, em como dizer, como explicar. Ele não sabia qual seria o comportamento dela.

- Você está inquieto.—Isabella cortou o silêncio.— Seu coração bate forte demais, sua veia na testa está bem visível e seus olhos não ficam em um lugar só, sempre desviando e pensando, pensando, pensando...—cutucou a testa de Damon, onde a veia grande latejava. Ele se arrepiou com o toque e sorriu.

- Eu não sei o que dizer a você...

- Não diga.—simplesmente deu de ombros.— Não quero ouvir.

- Mas precisa entender.

- Que disse que para entender tenho que ouvir? E se eu fosse surda? O que você faria para me fazer entender o que quer que eu entenda?

  Damon parou para pensar, seus olhos se fecharam e sua mão procurou a de Isabella na cama.  Porém ela ficou parada.

- Katherine morreu...—Bella disse aquilo com pesar.— Isso lhe afeta?

- Deveria?—Damon continuava de olhos fechados.

- Não sei...

- Não afeta. A única coisa que me afeta é que você quase morreu com ela.

- Teria tanta importância minha morte?

- Para mim sim.—seus olhos se abriram, sua mão subiu lentamente para o pulso de Isabella. - Eu não a deixaria morrer.

- Por quê? Se você a escolheu? Para vingar talvez?

- Não há o que se vingar. E eu não escolhi Katherine. A atração foi maior e eu estava revoltado por ser ignorado por você. Você só pensava em matá-la. Pense pelo lado positivo, eu ajudei, de certa forma, a matar a vadia.

- Por quê?

- Eu amo você. –a voz de Damon mal foi escutada. Ever arfou no andar de baixo e entendeu que aquilo era uma deixa para ela. Ela precisava cair fora antes que a situação no andar de cima ficasse quente demais que ela derreteria.

E então o silêncio reinou na casa. Após a declaração de Damon. Isabella aproveitou o resto de forças que lhe sobrava para procurar sobre qualquer mentira de Damon, qualquer trapaça.

Nada.

Ele estava sendo sincero com ela, o que a assustou mais.

- Por quê?

Damon riu fraco.

- Está mesmo me perguntando por que te amo?

- Sim. Por quê?

- Eu não sei ao certo. Talvez por você ser apaixonante. Eu sempre a amei, e tive épocas que eu não estava apaixonado por você. Sei que teve o mesmo.—sorri convencido.

Isabella ficou em silêncio, olhando para a parede.

- Eu sei que você me ama.—Bella apenas riu e Damon continuou.— Sentiu ciúmes de Katherine comigo e isso lhe deu forças para matá-la. Você me ama.

- Não é um bom momento Damon…

- E por que não.—Damon se deitou em cima de Isabella, que arfou.—você voltou. Passei dois anos e meio tendo que suportá-la e um silêncio terrível que me deixava agoniado, vendo-a olhar para um lado, mas não olhava nada. Tive que suportar você tentar morrer afogada mesmo sendo uma vampira... Porque não?

- Eu deveria estar em estado de recuperação de minha depressão, não.—os dedos da vampira se enroscaram nos cabelos negros.

- Não acho que precise. Teve tempo demais para isso e eu sei que você já está recuperada.

  Os lábios estavam mais próximos ainda.

- Eu não vou fazer isso.—Isabella se afastou um pouco.— Você irá me deixar cair novamente que eu sei.

- Não a deixarei afundar de novo. Ou se afundar... Estarei pronto para pular atrás de você e lhe salvar. Sabe bem que vampiros odeiam nadar e para te encontrar foi difícil. Obrigado por escolher justo dias de tempestades.—Damon soou irônico no final. Bella riu.

Sem resistir mais, eles quebraram a distância e se beijaram. Ever foi certa em sair cedo dali, o fogo dominava tudo, a casa parecia em chamas e o quarto foi completamente destruído. Mas ao menos o fogo dessa vez era bom, não era um fogo que ódio, raiva, vingança, era um fogo de amor, paixão e luxúria, desejo.

O fogo ali era a recompensa de Isabella, que foi sufocada pelas águas que Katherine a empurrara. Katherine mesmo morta havia afundado Isabella em um mar de tristeza e dor, a vida toda. Agora que morreu e Damon estava vivo, ele podia compensar Isabella por todas as águas que ela teve que afundar para conseguir finalmente sair e encontrar a liberdade.