Life Is For Living. escrita por Jones


Capítulo 1
I don't wanna live it alone.




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Now, I never meant to do you wrong, that's what I came here to say.

– Atende a droga da porta! – Eu esmurrei a porta. – Eu vim me desculpar. Você queria que eu me desculpasse certo? Eu vim me desculpar!

Continuei a bater na porta, mas ela não abria.

Não respondia minhas cartas desesperadas e não atendia minhas ligações naquele treco trouxa que tinha na casa dela. Nada.

Ela tinha dito que era melhor se ficássemos sem nos falar por um tempo e, na hora, meus lábios desaforados concordaram com a proposta nervosa que aqueles olhos lacrimosos fez. Eu não deveria ter concordado, eu não deveria ter virado as costas... Eu não deveria ter ido embora.

Ela não deveria ter batido com a porta na minha cara.

Acho que ela não deveria ter brigado comigo para início de conversa. Eu sei que eu sou mestre em falar as coisas erradas em horas mais erradas ainda, mas eu não sei o que fiz dessa vez.

Mas eu vim dizer que eu nunca planejei ou quis fazê-la mal.

Eu nunca quis. Eu não quero. Nunca vou querer.

A verdade é que às vezes eu o faço sem ver e se foi o que aconteceu dessa vez, eu preciso dizer que não foi minha intenção. Porque eu não consigo ficar sem falar com ela, eu não consigo ficar sem beijá-la ou abraça-la, não consigo ficar sem olhar para aqueles olhos castanhos quentes e não me sentir o cara mais sortudo sem merecer do mundo.

Talvez esse fosse o problema.

Eu não a mereço.

Mas eu não consigo ficar sem ela.

– Senhor e Senhora Granger, se os senhores estiverem aí também, me desculpem por esmurrar a porta. Não foi nada legal da minha parte. – Falei olhando para minhas mãos vermelhas de tanto bater na porta e tocar a maldita campainha. – Eu sei que Hermione está provavelmente os envolvendo nesse joguinho de deixar o Rony do lado de fora, então desculpa aí.

Sentei-me na soleira da porta, com a cabeça entre os joelhos.

Talvez ela estivesse ali atrás da porta escutando tudo aquilo que eu estava dizendo e não foi assim que eu ensaiei que as coisas seriam. É isso que eu faço, estrago tudo, e provavelmente ela está me odiando tanto que não quer mesmo abrir a porta pra mim, e isso não é legal, significa que ela vai passar mais que três dias sem falar comigo.

– Hey, Hermione, se você estiver me ouvindo... – Falei, com a voz branda, sentado rente a porta. – Escuta, eu nunca quis te fazer mal, talvez por isso demorei tanto tempo em tomar alguma atitude em relação a... Nós dois... E a isso que eu sinto por você, esse negócio que eu ainda não consegui explicar, e que talvez nem tenha explicação.

Suspirei.

Se eu fosse falar tudo o que eu deveria dizer, mas está entalado na minha garganta, ficaria ali a noite inteira. Mas quem sabe ela abriria a porta?

– Mas da mesma maneira que eu não consigo mais controlar minhas mãos quando estou perto de você ou a vontade de te beijar ou me beliscar para acreditar que estou realmente com você; eu não consigo controlar o que sai dessa boca maldita, só sabe falar merda e dizer coisas... Inapropriadas. – Falei abraçando minhas pernas. – Senhor e Senhora Granger, perdão mais uma vez pelas palavras sujas. Apesar de ‘maldita’ e ‘merda’ não serem bem palavrões né?

Por um segundo me senti muito idiota por estar conversando com a porta, mas a esperança cega que ela estivesse me escutando ali do outro lado me incentivava a continuar falando.

– Droga, você pode abrir essa porta? Eu quero falar com você! – Frustrado, toquei a campainha novamente. – Por favor, se eu estava errado, então me desculpe... Eu prometo tentar não deixar esse negócio no nosso caminho.

– Eu nem acredito que já fazem seis meses que estamos juntos... Quer dizer, eu fiz algumas besteiras, mas você continua comigo e isso é inacreditável. – Eu sorri para a porta como se ela fosse a minha namorada, talvez eu estivesse com sono. – Quer dizer, tenho vontade de te levar para uma daquelas capelas vinte e quatro horas e me casar com você só para ter certeza de que você não vai mudar de ideia em relação a nós. É claro que existe aquele negócio de se separar e etc... Mas eu gostaria que você não mudasse de ideia.

Me senti mais idiota ainda por estar falando sobre casamento com a porta.

Nunca tinha falado sobre casamento ou amor antes, Hermione me fazia sentir vontade de falar sobre essas e outras coisas perigosas. Eu só nunca consegui.

Talvez o medo de perder Hermione me fazia discorrer sobre assuntos piegas com facilidade. Talvez nada. Era exatamente isso. O fato de ela mexer com tudo em mim na mesma proporção que me deixava sem fala, me fazia querer falar sobre tudo o que eu sempre senti mas nunca tive coragem de dizer.

– Eu acho que eu sempre fui apaixonado por você. – Confessei para a porta. – Ao mesmo tempo em que te achava chata te achava linda, acho que se apaixonar é isso. Não é? Isso e aquele lance de sentir ciúmes o tempo inteiro e conversar com portas...

Encostei a cabeça na porta, e me cobri com o casaco que estava pendurado nos meus ombros; estava um pouco frio e a chuva fraca começava a aumentar.

– Acho que agora eu me arrependo de não ter feito nada a respeito antes, quer dizer, me arrependo de ter deixado você sair com o Krum, ou não ter percebido os sinais. Me arrependo de ter saído com a Lilá... – Foi aí que percebi. – Ah! Você está brava por causa disso! Porque eu falei da Lilá. Mas eu não gosto da Lilá, nem um pouco ok? Considere a Lilá um treino... Aprendi a beijar com a Lilá... Pera aí! Isso saiu errado... Mas era só isso, era só curtição e essas coisas.

Bati a mão na testa para me repreender das idiotices que eu falo.

– Não que eu não curta estar com você. É claro que eu curto. – Eu me apressei em me justificar. – Mas eu não tinha com a Lilá o que eu tenho com você, não tinha nem um quinto do que tenho com você. O que eu tenho por você é... Amor. Amor, tá legal?

Não me imaginaria nunca falando de amor com uma porta.
Mas era o que eu estava fazendo.

– Eu ensaiei mil vezes como eu diria que te amava pela primeira vez e nenhuma delas incluía uma porta entre nós. – Falei decepcionado. – Será que você pode abrir a porta, por favor?

Mas não houve resposta.

– Eu te amo, juro mesmo, e eu estava bem confuso sobre isso, mas faz todo o sentido do mundo agora. Eu te amo até demais. – Falei olhando para as minhas mãos. – Deve ser por isso que eu vivo metendo os pés pelas mãos e não é fácil pra mim, ficar aqui falando essas coisas sentimentalistas. Eu não sou sentimental, eu não ligo para as coisas... Eu ligo para você. Só para você, por mais dependente e esquisito que isso possa soar.

Eu não tinha medo de morrer sozinho até me apaixonar por Hermione.
Isso pode não fazer nenhum sentido para a maioria das pessoas se eu o disser em voz alta. Mas eu sei que se nos separarmos eu nunca vou conseguir ficar com outra pessoa, porque ninguém nunca vai ser melhor que ela e na minha opinião ninguém jamais será mais bonita, inteligente e delicada. E, cara, ninguém ganha na loteria duas vezes.

Então se eu perdesse Hermione, eu morreria sozinho.

Mas, mais triste que morrer sozinho seria viver sozinho. E dizem por aí que a vida é para ser vivida, mas eu não quero vivê-la sozinho.

‘Cause in the end, there’s only love!

Eu não sei em que parte da noite caí no sono, mas dormi ali, na porta da casa de Hermione, aliviado por ter dito as coisas que sempre quis ter dito e irritado por mesmo assim ela não ter aberto a porta.

Quer dizer, eu tinha aberto o meu coração, custava ter feito o mesmo com a porta?

Mas não tinha como ela abrir a porta já que ela não estava em casa.
Só fui perceber isso quando ouvi os sussurros no outro dia de manhã cedo.

– Shh, filha, fica aí, tem alguém dormindo na nossa porta. – O senhor Granger disse longe, e eu fiquei sem ação.

– Calma pai, deve ser alguém querendo comida ou algo assim. – Ela disse. – Tem algum alimento aí?

Ok. Hora de comprar roupas novas. Fui confundido com um mendigo.

– Não é um mendigo. – Ela disse se aproximando. – É o Rony. Ronald. O que você está fazendo aqui?

Ela me sacudiu, e eu abri os olhos espantados. Meus olhos piscaram até conseguirem focalizar aqueles olhos castanhos preocupados, abaixo das sobrancelhas erguidas e da testa franzida. Ela estava linda.

Vi o Senhor Granger fazer uma careta confusa e sumir de vista depois de dizer que ia tirar um cochilo e que era para ela chama-lo se acontecesse algo. Ou alguma coisa assim.

– Eu vim pedir desculpas e acabei pegando no sono. – Falei com a voz ainda mole pelo sono. – Eu... Me desculpe.

– Você passou a noite aqui? – Ela perguntou naquele tom preocupado de sempre e eu encolhi os ombros.

– Talvez, mas não importa. Me desculpe. – Repeti agora um pouco mais acordado, a encarando até ela sorrir. – Isso quer dizer que sim?

– Isso quer dizer que você deveria tomar um banho e dormir um pouco. – Ela disse beijando minha testa.

– Eu conversei bastante com a sua porta ontem, você deveria perguntar a ela algumas coisas, ela vai te dizer com detalhes. – Falei, me deixando ser carregado porta adentro por Hermione. – Onde você estava afinal?

– Na hospital com a minha avó, ela está um pouco doente. – Ela disse, me acomodando no sofá e me cobrindo com um cobertor. – Agora dorme, Ron e a gente conversa mais tarde.

– Aham... Eu só queria dizer uma coisa... Pela primeira vez. – Eu levantei minha cabeça até conseguir sentir a respiração dela perto da minha. – Na verdade pela segunda, já que a porta me ouviu ontem.

– Não pode esperar? Você está cansado... E ontem estava frio, não quero você doente. Você não pegou chuva, ou pegou? Que ideia! Podia ter vindo hoje de dia. – Ela falou e eu apenas sorri.

– Você faz as coisas que são difíceis de serem ditas ficarem mais fáceis. – Eu falei e ela franziu o nariz antes de suas bochechas corarem. – Eu te amo.

– Você o que?

– Eu te amo. – Repeti agora um pouco mais confiante. – De verdade.

– Eu não sei o que dizer...

– Eu não sei o que eu fiz para você me achar de alguma forma atraente, então não precisa dizer nada. – Falei antes de fechar os olhos e encostar a cabeça no sofá.

– Sempre imaginei o dia em que você me diria isso. – Ela confessou, se deitando ao meu lado no sofá. – Nunca me imaginei sem fala após isso. Mas não é novidade para você que eu te amo.

– É sim. – Eu abri meus olhos novamente, sem conseguir conter o sorriso. – Não faz sentido, mas me deixa feliz.

– Faz todo o sentido e eu me sinto feliz também. – Minha namorada sorriu, antes de fechar os olhos e afundar a cabeça no meu peito. – Eu te amo.

– Eu também te amo.

Deitado no sofá a assisti pegar no sono. Os cabelos castanhos armados espalhados no meu suéter vermelho, seu perfume me trazendo a paz que faltava nas minhas últimas três noites mal dormidas. Ela me ama.

Talvez eu não precisasse dizer todas aquelas palavras que disse para a porta, talvez um dia eu chegue a confessar minha devoção por ela e que penso em me casar e ter filhos bonitos como ela. Talvez. Mas por hora eu disse o que eu precisava dizer a ela. E ela me ama.

No final só há o amor.


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