Oi, meu nome é Mariana, ah algum tempo eu morava na Espanha, fui morar lá por uns tempos, e em todo esse tempo lá eu amadureci e encorpei bastante. Mas a vida lá acabou, voltei para o Brasil a pouco tempo, logo começão as aulas, senti falta de alguns colegas e amigos.

– Pegou todos os materiais, Mariana?

– Sim - Sai com pressa e dei um beijo na bochecha da minha mãe - Tchau, mãe, tchau pai - Disse com pressa, estava realmente ansiosa para ver os meus colegas

– Até logo, querida - Disse o meu pai sem desgrudar a cara do jornal

Fui logo ao ponto de ônibus, tudo parecia meio estranho desde que voltei, a cidade tinha até mais árvores, e onde eu costumava brincar quando era pequena, tinha uma floresta com muitas árvores, poderia tudo ter mudado tanto em apenas dois anos?

– Olá, Mariana. Veja com você cresceu... - Disse Sílvio, o motorista

- Ah, oi, Sílvio - Fui logo para o fundo do ônibus, estava um pouco com vergonha das pessoas daqui, faz tanto tempo... Logo que cheguei ao fundo do ônibus não pude deixar de reparar em um rapaz, parecia muito conhecido, mas ao mesmo tempo estranho. Eu conhecia aquelas feições, mas não aquele rosto sem expressão, ele estava lindo, mas muito pálido.

- Olá.. Gabriel? Gabe? - Me surpreendi logo que o reconheci, ao mesmo tempo surgiu um sorriso bobo no meu rosto. Ah, Gabriel, meu doce amigo, ele tinha mudado tanto, que chegava a ser irreconhecível

- Oi, Mariana – Foi muito estranho o jeito que ele disse isso, o Gabriel me tratava tão bem antes, logo percebi que as coisas tinham mudado mais do que pensei.

- Tudo bem? - Perguntei tentando reconhecer meu amigo naquele rosto.

- Se importa? Leve isso como resposta: Estou levando – Disse ele de forma amargurada. Eu realmente me importava, mas ele parecia não estar nem ai, não ia tolerar ser tratada assim pelo meu melhor amigo, ou ao que parece, ex-melhor amigo.

- Por que está falando comigo desse jeito? O que eu fiz pra você?

- Não fez nada, mas agora está fazendo, me incomodando – Ele colocou os fones de ouvido no volume máximo, dever ter dado para ouvir lá da frente, ele estava escutando Slipknot, ao que parece. Meu Deus, o que aconteceu com ele? Cadê o garotinho com quem eu costumava brincar nos dias de feriado? Sinceramente, não aguentei, sai de perto daquele ignorante.

- Tudo bem então – Sai de lá e me sentei em um banco da frente e eu nem reparei quem estava lá, olhei para trás e vi que ele tinha ficado um pouco triste com a minha reação. Será que o venho Gabriel estava de volta? Será que era o Gabe que aos cinco anos de idade começava a chorar quando eu o tratava mal, será... Todas as minhas ilusões acabaram quando ele percebeu que eu estava olhando para ele, fechou a cara e começou a me encarar, virei rapidamente a cabeça para ao lado, encontrei uma venha amiga..

- Lúcia? Lucinha? - Fiquei realmente feliz a reconhecer aquelas sardas vermelhas na ponta do nariz

- Mariana! - Exclamou Lúcia com a mesma felicidade do que eu, ela abriu um enorme sorriso, e para minha decepção não eram aqueles mesmos dentes amarelados e tortos da minha velha amiga, aquele velho sorriso tinha sido substituído por um sorriso confiante que saia de dentes perfeitos e brancos que chegavam brilhar – Ah, Maria – Disse ela me abraçando forte – Senti tanta a sua falta, Mariana.

Eu também senti muito a sua, Luci – De alguma forma, ela percebeu que eu estava um pouco triste, para disfarçar eu olhei para o fundo, encontrei o Gabriel e meu sorriso acabou totalmente, quando ela percebeu que eu estava encarando-o ela logo me disse:

- Ah sim, o Gabe mudou tanto... - Percebi que até ela tinha ficado triste com isso

- O que aconteceu, Luci? - Perguntei um tanto curiosa

- Longa história, ele se envolveu com algumas coisas ai... Ah, Mari. Vamos falar de outra coisa, como era lá na Espanha? - Reparei que a Lúcia queria logo mudar de assunto, estava na cara que ela também se preocupava com o Gabriel, mas também não queria falar disso, isso a magoava, e ela deve ter reparado que me magoava também. Luci foi minha melhor amiga desde quando não sabíamos escrever ainda, e estava na cara que não ia acabar agora, né? Estou no 2º ano do ensino médio, ela também.
Logo que o ônibus parou nós saímos, fui recebida com abraços de alguns velhos amigos. A Carolzinha, estava muito mais magra, alta, estava bem diferente. O Jake estava mais alto, musculoso, mas ainda me deu aquele velho abraço de criança.

- Nossa, gente. Como senti a falta de vocês – Nos abraçamos em grupo, como fazíamos antes, mas estava estranho, sem o Gabe.

Ah, Mary, como sentimos sua falta – Disse a Carol me abraçando novamente. - Como você está linda!

- Obrigada, Carol, faz tanto tempo... - Disse meio sem jeito, estava com um pouco de vergonha com eles, realmente fazia muito tempo.

- Cadê o Lucas? - Perguntei olhando para os lados

- Você sabe, né Mari? O Lucas sempre detestou química, deve estar matando aula em uma lan house qualquer - Disse Jake

Não pude deixar de querer perguntar o que tinha acontecido com o Gabriel, mas ao que parece, ninguém queria comentar sobre isso, logo reparei que aquele era um assunto que ninguém gostava de tocar. E ao que parece, estavam todos felizes demais com a minha presença para quererem falar disso, não quis estragar o nosso momento de reencontro, mas, sabe, nunca fui de andar com muita gente, geralmente eram só nós seis: Gabe, Luci, Carol, Jake e eu. Tá, pode ser que você ache que seja muita gente, mas agora somos apenas 5, Gabriel não anda mais conosco. Ele agora fica geralmente num canto da escola ou da sala ouvindo músicas no seu MP3, mas eu ainda vou descobrir o que aconteceu com ele. Perguntei a Bianca, sempre foi uma garota simpática, sempre andou com outras meninas e era minha amiga. Parece que até para ela aquilo era difícil de se falar, Gabe era querido por todos, ela desconversou dizendo “Ele se envolveu com umas coisas perigosas depois que a mãe morreu, todos ficamos preocupados com isso, mas ele nos ignorava” Ah não, a senhora Salon tinha morrido? Nossa, fiquei muito triste. Tinha muita coisa para descobrir, e como disseram outros garotos “Ele tinha se envolvido com o jogo do perigo”, e eu vou tirar-lo dessa. Ele não vai continuar assim, ele não vai ir para o chão. Isso só por cima do meu cadáver. Não vou deixar a minha pequena paixão de pré-adolescência acabar assim. Eu ainda gostava dele, quando fui embora, fui com os sentimentos embaralhados, sem saber se era amizade ou amor, lá tudo clareou, ele é e sempre foi o amor da minha vida, e isso não vai acabar assim, não vai mesmo.