Abri meus olhos, mas tudo estava claramente embaçado. Minha cabeça doía e eu sentia algo molhado nela. Falei alguma coisa que soaram como gemidos.

  "Não se mexa." -Alguém disse.

 Olhei em volta, mas algo me forçou delicadamente para baixo.

  "Eu falei para não se mexer." -A voz persistiu.

  "Vovó?" -Perguntei.

  "Não."

 Meu coração disparou. Não tinha sido um sonho, eu estava ainda na quela casa. Me levantei, no que parecia uma cama, mas minha cabeça doeu tanto que quase desmaei de novo.

  "Você é tão teimosa assim?" -A voz disse.

  "Me deixe ir." -Gemi.

 Lágrimas escorriam pelo meu rosto. Eu queria ir para casa, ver minha avó, ficar com ela e comer alguma coisa; eu estava com tanta fome. Meu estomago gemeu por causa da inanição, abracei minhas pernas e puis a mão na cabeça para ver se eu tinha me machucado muito.

  "Você não intende? Não posso deixar você ir."

  "Por que não." -Minha voz estava fraca por causa do choro.

  "Não posso." -Ouvi passos se afastando. Quando me virei estava sozinha de novo. O quarto, dessa vez, era outro e estava mais iluminado, mesmo com as janelas vendadas.

 Me sentei na cama e causei meus sapatos, peguei o cobertor e me cobri com eles. Caminhei zonza até a porta e olhei pelo corredor. Não sei por que, mas a casa estava mais clara agora. Deveria ser cedo. Desci as escadas segurando firme no corredor, mas a sala estava escura e fria. Respirei fundo e fui até a porta.

 Minha cabeça começou a doer tanto que eu tive que me ajoelhar no chão e esperar um pouco.

  "Qual é o seu problema?" -Ele gritou.

  "Por favor, me deixe ir." -Chorei- "Eu juro... Juro não contar." 

 Meus soluços ecoavam pela casa.

  "Não acredito em você."

  "Por que eu contaria?" -Perguntei cansada- "Eu.. Eu não tenho tantos amigos e moro com minha avó." -Recuperei fôlego- "Eu só quero ir para casa."

 Silêncio total. Segurei no corrimão e me levantei. Limpei meu rosto molhado e olhei em volta. Corri até a porta mas ela parecia estar tão longe. Segurei na maçaneta mas ele segurou minhas mãos e as levantaram no ar me jogando contra a porta. Gritei quando minha cabeça bateu na madeira sólida.  

  "Não!" -Gritei.

 Senti meu corpo sendo empurrado de novo contra a porta. Tentei soltar meus braços, mas eles estavam presos na parede. Joguei minha perna contra o nada e acabei acertando alguma coisa que gemeu de dor. Soltei minha mão e abri a porta. Nesse momento um raio de luz entrou revelando a escuridão.

 Por rápidos três segundos consegui ver seu rosto deformado. Seu cabelo de um lado era castanho e curto, do outro repicado, como se tivesse sido cortado por uma criança. Uma cicatriz que vinha do canto da testa atravessava seu rosto passando pelo olho e indo até o pescoço. Marcas e cortes antigos tomavam conta do seu rosto. Seus olhos brilharam quando a luz bateu; eram de um verde escuro incrível. Tirando a quelas imperfeiçoes ele deveria ser um garoto bonito.

 Ele percebeu que eu o vi e me empurrou para fora da casa. Acabei caindo na varanda. Olhei para a rua e algumas pessoas me olharam assustadas. Me levantei e arrumei meu vestido. Atravessei o jardim e parei na rua. Olhei para a grande casa, ela escondia tanta coisa. 

 Percebi uma movimentação na janela, mas quando olhei direito não era nada; eu acho. Caminhei até em casa, minhas pernas e cabeça doíam tanto que a casa passo parecia que eu ia desmaiar de dor. 

 Sabe a quela sensação de ter alguém te seguindo?